sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Um dia sombrio

Nunca a F1 ficou tão tensa devido a algo extra-pista como naquele 16 de setembro de 2001. Na terça-feira anterior, os Estados Unidos era atacado ao vivo e a cores para todo mundo, chocando o planeta e a previsão para o futuro próximo era sombrio. Haveria uma nova guerra de dimensões mundiais? Haveria mais ataques?

Ninguém sabia e uma corrida de F1 era a menor das prioridades para a população mundial naqueles dias. Com várias limitações quanto à circulação de aviões em todo o mundo, o cancelamento do Grande Prêmio da Itália chegou a ser cogitado durante a semana, mas Bernie Ecclestone não apenas confirmou a tradicional corrida em Monza, como também garantiu a corrida seguinte, no traumatizado Estados Unidos, dali a quinze dias. Quando a F1 chegou à Monza, não faltaram homenagens, bandeiras americanas e pedidos de paz. A Ferrari foi ainda mais longe e tirou todos os patrocinadores do seu carro e pintou o bico do seu bólido de preto, em sinal de luto.

Havia uma tristeza no ar e um minuto de silencio foi respeitado na sexta-feira em respeito as vítimas do atentado e um acidente de Mika Hakkinen na curva de Lesmo durante um treino livre causou um susto maior do que a notícia da aposentadoria do finlandês, que seria substituído pelo compatriota Kimi Raikkonen. Após o treino classificatório que mostrou a superioridade da Williams-BMW em circuito de altas velocidades, a F1 sofreria um abalo ainda mais forte. Alessandro Zanardi tinha corrido na F1 dois anos antes e mesmo sem ter conseguido bons resultados, o italiano era muito querido no paddock.

Alguns quilômetros ao norte, Zanardi sofria um dos acidentes mais assustadores já acontecidos no automobilismo e com as duas pernas arrancadas pelo impacto, lutava pela sua vida naquele momento. A notícia do acidente de Zanardi caiu como uma bomba no paddock da F1, particularmente na cabeça de Michael Schumacher. O alemão já tinha deixado bem claro que estava chocado com os acontecimentos no outro lado do Atlântico e com o acidente de Zanardi, amigo pessoal de Schumacher, o piloto da Ferrari estava disposto a não correr em Monza, mesmo sendo a casa da Ferrari.

Os boatos corriam soltos e diziam que Schumacher só daria duas voltas em respeito aos torcedores e depois recolheria seu carro. Durante o briefing, Schumacher chegou a colocar um tratado de não-agressão aos demais pilotos durante a primeira volta, onde ninguém atacaria ninguém e completariam a primeira volta praticamente em fila indiana. Jacques Villeneuve foi o primeiro a discordar, dizendo que estava ali para correr. Corria a lenda que havia um documento com a assinatura de todos os pilotos (menos Villeneuve), mas logo Fisichella e Button, correndo pela Benetton, retiraram o apoio ao documento, ameaçados por Flavio Briatore, dizendo que eles não assinariam nada. Sem o pacto de não-agressão, Schumacher foi a todos os pilotos, ainda no grid, pedir que tivessem cuidado na primeira curva. “Que todos os adversários fossem como um companheiro de equipe,” era o que dizia o alemão.

A largada se deu sem grandes incidentes, apenas (quanta ironia...) as Benettons se enroscando na primeira curva. Passaram-se duas voltas e Schumacher não recolheu o carro aos boxes, mas o alemão continuava num obscuro quarto lugar. Schumacher diria mais tarde que não subiria ao pódio naquela corrida de jeito nenhum e por isso correu apenas para ser quarto. Lá na frente, Barrichello tentava enfrentar a potências das duas Williams na estratégia, mas um erro da Ferrari durante um pit-stop fez com que o brasileiro fosse apenas segundo colocado, atrás apenas de Juan Pablo Montoya, que conquistava sua primeira vitória na F1. No pódio, Montoya sorria amarelo. Ralf Schumacher, que fora companheiro de equipe de Zanardi, estava com cara de choro, enquanto Barrichello diria mais tarde que não se importou muito em perder aquela corrida. Naquele dia em Monza, ninguém estava muito animado para muita coisa mesmo...

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