Fernando Alonso tem aquele negócio que tudo o que deseja,
ele acaba conseguindo. Claro, com muito trabalho e competência, mas também com
sua dose de sorte. Depois de levar oito décimos de Hamilton nos treinos, o
espanhol falou que lutaria unicamente pelo pódio, pois não tinha chances de
enfrentar a McLaren e a Red Bull de Sebastian Vettel. Ainda antes de levar tudo
isso de Hamilton, o piloto da Ferrari apontou para o inglês como seu rival mais
perigoso. Pois com a corrida nas mãos, Hamilton viu um enorme zero no meio do
seu volante indicando a quebra do seu câmbio e a vitória acabou caindo nas mãos
de Vettel, que foi o mais rápido nos treinos livres e era realmente o mais
veloz com os pneus macios. E Alonso, se aproveitando de mais uma quebra do azarado
Maldonado, conseguiu o que queria e diminuiu o prejuízo frente a Vettel, que
provavelmente seria o único a ter chances de impedir a vitória de Hamilton.
Quando digo que Cingapura tem sua cara, foi provado hoje. A
corrida estourou em uma volta o limite de duas horas de prova. Os pilotos saíam
dos carros suando em bicas pelo forte calor, mesmo a prova sendo realizada à
noite. E vários incidentes, principalmente no pelotão intermediário, marcaram a
corrida de hoje, que trouxe, como sempre, o safety-car. Hamilton dominou a
primeira parte da corrida até ter o câmbio quebrado e seu movimento de mãos era
como se dissesse a si mesmo ‘Porque comigo?’, enquanto Vettel tomou o bastão de
piloto dominante no país asiático e venceu com enorme facilidade, mesmo tendo
que se preocupar com duas relargadas e Button algumas vezes lhe fungando no
cangote. O jovem alemão venceu pela segunda corrida consecutiva em Cingapura,
mas a Red Bull vem mostrando um desempenho irregular neste ano, saindo de
corridas excelentes para outras medíocres, particularmente em circuitos
rápidos, como o de Suzuka na próxima quinzena. Quem também se mostra irregular
é Mark Webber, que após sua vitória em Silverstone se tornou o piloto
burocrático do ano passado e teve que se contentar com a décima posição, atrás
de Daniel Ricciardo, que marcou pontos novamente com a Toro Rosso. Do jeito que
vai, Webber terá que engolir ser o escudeiro de Vettel até o final do ano, pois
o alemão ainda não tem situação fácil no campeonato.
Alonso fez uma corrida discreta e se aproveitando de
problemas mecânicos de pilotos que vinham à sua frente (Hamilton e Maldonado),
conseguiu seu objetivo no final de semana: o pódio. E quase que o espanhol
ainda conseguia algo mais quando na primeira relargada, Button quase encheu a
traseira de Vettel. A McLaren tem o melhor carro, mas a agressividade de
Hamilton está tirando mais do carro do que a delicadeza de Button, que muitas
vezes de aproximou de Vettel, mas faltou o instinto assassino, como diria Damon
Hill em referência à Ayrton Senna, para atacar o alemão. E este instinto sobra
para Hamilton, mas o inglês não teve nada o que fazer e a McLaren poderá
perde-lo, pois Hamilton parece cansado de sempre morrer na praia com a McLaren
e os Euros da Mercedes, fora a perspectiva de melhoria da equipe, lhe parecem
agradar bastante. Felipe Massa teve um início de corrida altamente negativo e
até a entrada do safety-car, o brasileiro parecia ter um dia daquelas, mas
ajudado pela entrada do Mercedes pilotado por Bernd Maylander, Massa protagonizou
a manobra da corrida ao ultrapassar Bruno Senna com o carro totalmente
desequilibrado, na parte mais estreita da pista. Massa ainda teve tempo de
passar Ricciardo e encostrar em Grosjean, mas teve que se conformar com a
oitava posição. Contudo, por tudo o que aconteceu com o brasileiro no começo da
prova, estes pontos podem ser comemorados, mesmo não ajudando Alonso, que hoje
é o principal objetivo de Massa.
Quem irá comemorar hoje é Paul di Resta, que conseguiu um
ótimo quarto lugar em sua melhor posição na F1 e o que foi melhor, com méritos
próprios e sem atacado pelo quinto colocado Nico Rosberg, quando na verdade, o
escocês estava mais próximo de se aproximar de Alonso. Já Hulkenberg tentou uma
estratégia diferente e acabou se dando mal pela sequencia de safety-car e um
toque em Kobayashi, que furou seu pneu já no final da prova, mas lhe garantiu,
com pneus supermacios, a melhor volta da corrida. Rosberg fez uma prova
anônima, mas garantiu bons pontos para si e para a Mercedes com o quinto lugar,
ao contrário de Schumacher, que cometeu um erro grosseiro no mesmo em que
também encheu a traseira de Petrov. Em 2012, a vez foi de Jean-Eric Vergne.
Schumacher até recuperava aos poucos sua reputação com boas atuações, mas esse
erro em Cingapura poderá trazer novas críticas e a pergunta: Não está passando
da hora de se aposentar? Pérez não conseguiu o milagre da multiplicação de
voltas com um mesmo set de pneus e não marcou pontos, enquanto Kobayashi errava
no final e fazia Peter Sauber reclamar de outro bico quebrado. Koba é
agressivo, mas de mitológico, sinceramente, não tem nada e digo isso faz tempo.
A Williams foi a grande perdedora do dia. Maldonado fez uma
largada limpa e tranquila, mesmo perdendo duas posições para Vettel e Button.
Tudo o que o venezuelano não precisava era um acidente com os líderes do
campeonato. Depois, Pastor fez uma corrida limpa, andando no ritmo dos líderes
da prova e sem ser muito pressionado por Alonso, mas um problema hidráulico o
fez perder rendimento, foi atacado fortemente pela Ferrari de Alonso e a
Williams, como é tradicional, errou na estratégia antes do venezuelano
abandonar. Uma lástima. Assim como para Bruno Senna, que largou em 22º após uma
punição, mas fez uma baita corrida de recuperação até abandonar nas voltas
finais, quando tentava se manter na zona de pontuação. Mesmo num circuito de
alto downforce, onde era seu forte, a Lotus não foi nada bem em Cingapura e
dificilmente ganhará uma corrida em 2012, mesmo com os vários pódios que o
sexto colocado Kimi Raikkonen conseguiu ao longo do ano. Voltando de sua
suspensão, Romain Grosjean andou mais rápido do que o finlandês nos treinos,
mas recebeu a famosa ‘Kimi is faster than you’ e cedeu sua posição à Kimi. A
Marussia ficou bem próximo de marcar um pontinho com Glock finalizando a prova
em 13º, mas os abandonos acabaram por ali, enquanto Karthikeyan trouxe o
primeiro safety-car e a Caterham, após sonhar em se aproximar do pelotão
intermediário, agora está mais próximo da Marussia.
Não foi uma corrida dos sonhos de todos e foi até cansativa
de ver, com poucos bons momentos, mas que pode trazer a Red Bull de volta à
briga pelo título com outra boa exibição de Vettel. Hamilton terá que lutar
muito nas seis provas que restam para enfrentar um Alonso que parece conseguir
tudo o que quer. Quem sabe, até o tricampeonato.
Um comentário:
Alonso venceu sem vencer.
Lewis zerou e parece ser o único que pode pegar o espanhol. O único que tem carro pra isto.
Vettel venceu mas o carro não tem o perfil pras próximas.
Ta cheirando tri.
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