domingo, 26 de maio de 2013

Trinta anos depois...

É muito incomum uma família ter sucesso com pai e filho, mas exemplos não faltam e o exemplo mais explícito é Graham e Damon Hill, único caso de pai e filho campeões mundiais. Pois hoje em Monte Carlo algo muito parecido ocorreu com a vitória de Nico Rosberg exatamente trinta anos após o triunfo do seu pai Keke na mesma pista monegasca. O piloto da Mercedes superou os sérios problemas de pneus que sua equipe sofreu nas últimas vezes em que foi pole e acertando na estratégia de uma corrida tumultuada, de onde tudo aconteceu. Tão tumultuada que a Mercedes acabou perdendo a dobradinha para a Red Bull por causa de uma das intervenções do safety-car, mas Sebastian Vettel comemorará tanto quanto o compatriota os resultados em Mônaco pela má posição dos seus rivais pelo título.

A corrida em Monte Carlo lembrou muito as provas em que os pilotos andavam claramente bem abaixo do potencial do carro para conservar pneus. Carros andando em fila indiana e com tempos bem abaixo da pole na tentativa de valer funcionar a estratégia ao longo da corrida. Faltava a centelha para fazer a corrida pegar fogo e ela veio pelo forte acidente de Felipe Massa. Esse foi o único momento de sobressalto na corrida da Mercedes. Nesse momento, Rosberg e Hamilton lideravam a corrida com incrível tranquilidade, principalmente pelo histórico recente da equipe em destruir pneus ainda nas primeiras voltas. Quando Felipe bateu forte e o safety-car foi à pista, a Mercedes eram os últimos carros na pista a trocar de pneus, mas isso acabou prejudicando Hamilton, que teve de diminuir o ritmo para dar tempo ao líder Rosberg fazer sua parada sem problemas. Agora com os dois carros da Red Bull em seu encalço, Rosberg não esmoreceu e manteve um ritmo forte o suficiente para não ser atacado e vencer com tranquilidade, a primeira em 2013 e a segunda na carreira. Ano passado Rosberg venceu na China com a mesma propriedade de hoje, mas o tempo provou que o triunfo do germânico foi mais ocasional e a meta de Nico é que isso não repita esse ano, apesar de que a tendência seja essa, vide sua posição no campeonato, apenas sexto. Com a perca de tempo nos boxes, Hamilton tentou correr atrás do prejuízo e partiu para cima de Webber, inclusive com uma tentativa de ultrapassagem quase impossível na Rascasse. O inglês acabou se conformando com a quarta posição e a situação inédita e incômoda de ser superado pelo companheiro de equipe, mesmo Rosberg sendo amigo de Lewis. Porém, antes da prova surgiu a notícia de que a Mercedes teria feito um teste secreto com a Pirelli e a vitória de hoje porá ainda mais fogo na polêmica, já que as demais equipes já protestaram antes mesma da vitória enfática de Rosberg.

Ocupando as demais posições no pódio, definitivamente a Red Bull não tem do que reclamar olhando de forma sistêmica. Seu principal piloto, Vettel, conseguiu abrir mais de vinte pontos com relação aos seus rivais no Mundial de Pilotos, enquanto seus rivais mais diretos no Mundial de Construtores, Ferrari e Lotus, tiveram finais de semana esquecíveis. A todo momento Vettel e Webber fizeram uma corrida para chegar, sem grandes arroubos de velocidade, mesmo com a melhor volta final de Vettel. Após sua vitória categórica em Barcelona, a Ferrari voltou a estaca zero com uma corrida totalmente sem brilho, onde aliou falta de velocidade e falta de sorte. Alonso nunca brigou pela vitória ou sequer pelo pódio, ficando no meio do pelotão e ainda sendo ultrapassado por Sutil, Pérez e Button, algo que levando-se em conta de se tratar de Monte Carlo, deve ser algo inédito para um piloto da Ferrari! Já a sorte faltou pelo forte acidente de Felipe Massa durante a corrida, um copycat do acidente de ontem nos treinos. O mais preocupante não foi a similaridade, mas por que ninguém até explicou o que aconteceu da Ferrari sair do controle de Felipe de forma tão abrupta. Raikkonen fazia sua corrida arroz-com-feijão até ser atingido por Sérgio Pérez e iniciar uma corrida empolgante de recuperação que o fez subir de 16º para 10º em pouquíssimas voltas, fazendo com que o finlandês ficasse mais perto de igualar o recorde de Schumacher de corridas seguidas nos pontos. Como Kimi pouco liga para essas coisas, ele deve estar mais preocupado com a distância aumentada para Vettel no campeonato e falar mal de Sérgio Pérez.

Aqui, um detalhe negativo na transmissão da corrida. Em tempos de Copa do Mundo no Brasil, a Globo estará cada vez mais ufanista e elevar isso ao extremo nos próximos tempos, tendo cada vez mais ojeriza com os estrangeiros. Fazendo um pouquinho de imaginação, vamos fazer de conta que Sérgio Pérez fosse brasileiro. Com certeza ele teria sido contratado pela McLaren pelo seu talento e sua agressividade na corrida de hoje em Monte Carlo seria exaltada como a tradição brasileira de ir para cima de tudo e todos, com o objetivo de conseguir a vitória e levar a bandeira brasileira ao degrau mais alto do pódio, fazendo tocar a musiquinha que tanto emocionou as nossas manhãs de domingo com o grande, inigualável e salve-salve Ayrton Senna. Porém, Pérez é mexicano. Por causa disso, Galvão Bueno prefere lembrar que Sérgio só está na McLaren por causa dos seus patrocinadores. Que a corrida de hoje vai para o saldo negativo do mexicano e que ele merece ser punido, pois ele não tem juízo....

Após corridas azaradas, Adrian Sutil fez uma corrida monumental em seu Force India ao ultrapassar Button e Alonso na apertada curva Lowes e chegar ao quinto lugar, sua melhor posição na carreira, enquanto Paul di Resta, largando mais atrás, não ficou muito atrás, ultrapassando Felipe Massa e Esteban Gutierrez na St Devote. Uma excelente prova da equipe hindu, com Sutil provando que seu tempo fora da F1 não diminuiu seu ímpeto e velocidade. Button fez uma corrida mais conservadora e mesmo tendo se enganchado com Pérez novamente, o inglês saiu sem problemas (e reclamações) para um bom sexto lugar, vide que sua McLaren ainda não atingiu o nível da história da equipe. Com o belo capacete de François Cevert, Jean-Eric Vergne conseguiu marcar pontos numa prova onde sempre andou na zona de pontuação, ao contrário do seu companheiro de equipe Daniel Ricciardo, que acabou atropelado por um destrambelhado Romain Grosjean, que conseguiu bater quatro vezes no final de semana, lembrando seus piores momentos de 2012. Hulkenberg esteve a ponto de marcar mais um pontinho, mas acabou ultrapassado na última volta por Raikkonen e continua com a má fase da Sauber, o mesmo ocorrendo com a Williams. Causador da bandeira vermelha que interrompeu a prova, Pastor Maldonado esteve hilário ao pedir punição a Chilton aos comissários de pista. Mesmo tendo razão em cobrar isso a Max Chilton, numa manobra para lá de desastrada do inglês, Pastor tem moral para isso?

A corrida de hoje pode ser o marco de vários acontecimentos. Política, pela vitória da Mercedes horas depois da descoberta do teste secreto, deixando as demais equipes injuriadas, fazendo com que uma crise surja no seio da F1. E por isso mesmo, com a Mercedes conseguindo uma vantagem significativa a ponto de fazer com que brigue mais vezes, não apenas pela pole, como também pela vitória. Além de Vettel ter podido abrir uma diferença que pode ser decisiva em sua luta pelo tetra. A corrida começou morna, mas pegou fogo no final, menos na ponta, onde Nico Rosberg repetiu o feito do seu pai trinta depois.

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