A estreia de Ayrton Senna na McLaren foi, no mínimo, bastante decepcionante naquele início de 1988, mas o recado havia sido dado. Mesmo desqualificado corretamente por ter trocado de carro após o sinal verde, o brasileiro mostrou todas as suas credenciais em Jacarepaguá. O ímpeto nas Classificações, mostradas desde os tempos da Lotus, continuava intacto. Senna foi pole no Brasil com uma boa vantagem sobre Prost, que na ocasião ficou atrás ainda de Mansell. Na corrida, largando dos boxes, Senna imprimiu uma corrida de recuperação incrível, passando com facilidade todos que via pela frente com a ajuda do seu mitológico McLaren MP4/4 até receber a bandeira preta.
Em Ímola, circuito no qual Senna largara na pole nos últimos três anos, Ayrton estabeleceu mais uma pole com Prost ao seu lado, mas o que chamava a atenção era a absurda diferença entre a McLaren e o resto. Nelson Piquet, da Lotus, era o terceiro colocado com uma desvantagem avassaladora de 3.3s! Por sinal, Piquet sofria pequenos protestos dos tifosi da Ferrari por ele ter dito que Enzo Ferrari estava gagá numa entrevista a Playboy brasileira. Bem em frente aos boxes da Lotus podia ser vista uma faixa "Piquet, a Tamburello te espera", com relação a curva em que o tricampeão havia batido em 1987 e o tirado da corrida do ano anterior. Correndo no quintal de casa, a Ferrari decepcionou com Berger em 5º e Alboreto apenas na décima posição, tendo à sua frente a surpreendente March de Ivan Capelli.
Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:27.148
2) Prost (McLaren) - 1:27.919
3) Piquet (Lotus) - 1:30.500
4) Nannini (Benetton) - 1:30.590
5) Berger (Ferrari) - 1:30.683
6) Patrese (Williams) - 1:30.952
7) Cheever (Arrows) - 1:31.300
8) Boutsen (Benetton) - 1:31.414
9) Capelli (March) - 1:31.519
10) Alboreto (Ferrari) - 1:31.520
O dia primeiro de maio de 1988 estava nublado em Ímola e havia o temor de que chuva, que chegou a atrapalhar os treinos, voltasse durante a prova samarinês. Mesmo com a má performance da Ferrari no final de semana até então, os tifosi lotaram o Autodromo Enzo e Dino Ferrari com a esperança de um milagre dos carros vermelhos, mas a perspectiva não era nada boa, pois se a Ferrari teria que diminuir a pressão do turbo se quisesse completar a prova por causa do consumo de combustível, a Honda tinha um motor tão confiável e econômico que a potência seria idêntica em que os comandados de Ron Dennis esmagaram a concorrência nos treinos. E as coisas pioram ainda mais para a Ferrari quando Michele Alboreto tem problemas na volta de apresentação e tem que largar na última posição. Quem não tem problemas na largada era Senna, notório por suas largadas relâmpago, e assume a ponta com certa facilidade, pois Prost larga muito mal por problemas no motor e perde várias posições. Depois da corrida, o próprio Senna admitiu que isso havia decidido a corrida a ser favor.
Com os problemas de Prost, Piquet assume a segunda posição seguido pelos italianos Nannini e Patrese, que havia largado muito bem com sua Williams e melhoraria sua posição ainda mais quando ultrapassa Nannini na Tosa para ficar em terceiro. O ritmo de Senna era alucinante e o brasileiro abria 1s de vantagem por volta sobre Piquet, mas havia uma corrida acontecendo atrás da McLaren do líder e o protagonista era justamente seu companheiro de equipe. Alain Prost nunca foi reconhecido por sua agressividade nas ultrapassagens, mas o francês sabia da superioridade do seu carro para subir pelo pelotão de forma inapelável. Prost cruzou a primeira volta em sexto e em apenas oito voltas ultrapassou quatro carros, assumindo o segundo posto. A McLaren demonstrava sua enorme superioridade nesses pequenos detalhes, mas Senna estava com 8s de vantagem sobre Prost ainda na décima volta. A corrida estava decidida.
Porém, a briga pelo terceiro lugar era animada e foi aí que residiu nos melhores momentos da prova. Piquet, Patrese, Nannini, Berger, Boutsen e Mansell trocaram de posições durante várias voltas, trazendo muita emoção para a corrida. Provando a diferença entre as duas equipes com motores Honda, Senna já tinha 30s de vantagem sobre Piquet na volta 15, que lutava para se manter à frente de Patrese e Nannini, que lutavam ferozmente pelo quarto lugar, com Patrese chegando a fazer zigue-zague na frente do compatriota na reta após a Tamburello. Essa briga fez com que Boutsen, que havia ultrapassado Berger, se aproximasse do seu companheiro de equipe trazendo Nigel Mansell, até então discreto até ali. Quando finalmente ultrapassa Patrese na volta 25, imediatamente Nannini passa a pressionar Piquet, que não se acanha em fechar o italiano. Patrese perde rendimento e com Nannini não conseguindo ultrapassar Piquet, Boutsen e Mansell encostam novamente na briga pelo terceiro lugar. Numa tentativa de ultrapassagem sobre Piquet após o brasileiro ser atrapalhado pelo retardatário Julian Bailey na Tamburello, Nannini coloca por fora em cima de Piquet na Tosa, mas o tricampeão joga duro e chega a tocar no italiano da Benetton. Três voltas depois Nannini dá uma rodada na Tosa e é ultrapassado por Boutsen, Mansell e Patrese, mas quem se aproveita disso é Mansell, que ultrapassa a Benetton de Boutsen e começa a ameaçar seu velho companheiro de equipe e desafeto Piquet na luta pelo terceiro lugar. Era o início de uma briga épica entre os dois grandes rivais, com Piquet e Mansell trocando várias vezes de posição, mas o inglês da Williams tem problemas em seu carro e abandona, aliviando um pouco a pressão sobre Piquet.
Porém, o piloto da Lotus pouco pode fazer com relação aos pilotos da frente. Quando Mansell abandona, Piquet estava um minuto atrás de Senna e o tricampeão acabaria levando uma volta do compatriota quando faltavam cinco voltas para o fim. Se haviam algumas dúvidas com relação ao domínio da McLaren em 1988, aquele dia do trabalhador em Ímola apagou todas. Com os engenheiros da Honda preocupados com o consumo de combustível, Senna diminui bastante seu ritmo e recebe a bandeirada de chegada com apenas 2.3s de vantagem sobre Prost. Logo após cruzarem a linha de chegada, ambas as McLarens encostam para iniciar a festa da equipe. Os dois carros eram os únicos na mesma volta. Piquet completava o pódio já ciente que não poderia defender seu título. Ele sabia que essa decisão seria entre Ayrton Senna, na sua sétima vitória na F1 e primeira (de muitas) na McLaren, e Alain Prost.
Chegada:
1) Senna
2) Prost
3) Piquet
4) Boutsen
5) Berger
6) Nannini
Um comentário:
João
Na verdade,quem atrapalhou o Piquet,Foi Julian Bailey,que fazia sua primeira corrida na F1(no Brasil,ele não conseguiu classificação).
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