terça-feira, 26 de agosto de 2014

História: 30 anos do Grande Prêmio da Holanda de 1984

Com a temporada de 1984 chegando ao fim, o mercado de transferência na época estava muito agitado e a principal notícia era a transferência de Ayrton Senna, o novato-sensação do ano, para a Lotus no lugar de Nigel Mansell. Contudo, Senna tinha um contrato de dois anos com a Toleman e os chefes da equipe inglesa não estavam nada satisfeitos com a quebra do contrato e o clima entre o brasileiro e sua equipe no momento se tornou péssimo, com o problema perigando ir para a justiça. Após tentar Derek Warwick e não conseguir, a Williams tinha em mãos a chance de ter um piloto inglês em 1985 com Nigel Mansell dando sopa no mercado, mas o grande rumor em Zandvoort, lugar do Grande Prêmio da Holanda, era a possível transferência de Niki Lauda para a Renault em 1985. O austríaco estava insatisfeito com o tratamento que estava recebendo da McLaren desde a chegada do político Alain Prost e Niki ficou ainda mais irritado quando Ron Dennis lhe propôs uma renovação de contrato com metade do seu salário até então. As conversas de Niki Lauda com Gerard Larrousse, chefe da Renault, já estariam até mesmo avançadas.

A McLaren tinha boas chances de garantir o título de Construtores em Zandvoort e vide o grande desempenho da equipe em 1984, o triunfo entre as equipes era apenas uma formalidade. Na sexta-feira Nelson Piquet foi o mais rápido, mostrando novamente o quão rápido era seu Brabham-BMW, mas no sábado, no segundo treino classificatório, Alain Prost superou o brasileiro em três décimos e ficou com sua terceira pole no ano, tendo o brasileiro ao seu lado na primeira fila. Niki Lauda era apenas sexto colocado, enquanto a Ferrari tinha outro final de semana para esquecer, com Alboreto em nono e Arnoux apenas em décimo quinto no grid.

Grid:
1) Prost (McLaren) - 1:13.567
2) Piquet (Brabham) - 1:13.872
3) De Angelis (Lotus) - 1:13.883
4) Warwick (Renault) - 1:14.405
5) Tambay (Renault) - 1:14.566
6) Lauda (McLaren) - 1:14.866
7) Rosberg (Williams) - 1:15.117
8) Laffite (Williams) - 1:15.231
9) Alboreto (Ferrari) - 1:15.264
10) Fabi (Brabham) - 1:15.338

O dia 26 de agosto de 1984 amanheceu ensolarado nas dunas de Zandvoort, o que indicava um belo dia de corridas para o tradicional circuito holandês. Contudo, mesmo tradicional e estando no calendário da F1 desde os primórdios da categoria, o circuito de Zandvoort já mostrava alguns sinais de envelhecimento em sua estrutura, particularmente nos boxes, que eram muito apertados mesmo numa F1 nem com um décimo do tamanho que tem hoje em dia. Para aumentar essa sensação, o warm-up foi interrompido quando parte da estrutura do paddock quebrou, derrubando uma escada e machucando várias pessoas no local. Isso foi o início do fim do tradicional Zandvoort na F1. Porém, a pista ainda era muito apreciada pelos pilotos e quando a ação começou, foi Piquet que largou melhor do que Prost e estava em primeiro na tomada da mítica curva Tarzan, com o francês da McLaren sendo seguido por Tambay, Rosberg e De Angelis. Porém, Prost não tinha muito do que reclamar da largada, pois Lauda sai muito mal na luz verde e cai para décimo primeiro.

Enquanto Hesnault e Cheever batem durante a primeira volta e perdem muito tempo, Piquet tenta abrir uma pequena diferença para Prost, que fica em compasso de espera, meio que sabendo da parca confiabilidade do conjunto Brabham-BMW em 1984, enquanto Lauda inicia mais uma de suas famosas corridas de recuperação e ao final da primeira volta já ultrapassa a Ferrari de Alboreto. As primeiras voltas viram um Keke Rosberg andando muito forte, ultrapassando De Angelis e Tambay para assumir o terceiro lugar já na sexta volta, mas estando 4s atrás de Prost. Enquanto isso, Lauda já assumia o sexto lugar e partia para cima de Tambay e De Angelis, que corriam juntos. Não demoram três voltas para Lauda ultrapassar os dois e assumir por pouco tempo o quarto lugar, pois Nelson Piquet continuava sua rotina de retornar aos boxes à pé após mais quebra do motor BMW. Enquanto retornava aos boxes, Piquet dava de ombros para a câmera, como que dizendo 'o que eu posso fazer? Faço minha parte, mas o motor não deixa...'

Prost assumia uma liderança sólida, enquanto Rosberg já era acossado por Lauda na luta pela segunda posição. O austríaco ultrapassa Rosberg no mesmo ponto da maioria de suas ultrapassagens, na freada da curva Tarzan, mas estando 8s atrás do seu rival no campeonato, Lauda continua forçando e aos poucos, tira a diferença para o seu companheiro de equipe. Mais atrás, Elio de Angelis atacava definitivamente Tambay pelo quarto lugar. O italiano tentava ultrapassar o francês enquanto negociava as ultrapassagens com os retardatários, mas ambos se atrapalhavam bastante com os carros mais lentos, principalmente quando foram ultrapassar o já desclassificado Manfred Winkelhock (por ter largado no lugar errado). Teo Fabi fazia uma boa corrida de recuperação com seu Brabham após largar em décimo, mas o italiano erra na freada da Tarzan, roda e cai para 14º na volta 22. Lauda finalmente encosta em Prost na luta pela primeira posição, mas querendo mostrar que estava tudo sob controle, o francês faz a volta mais rápida da corrida quando Lauda estava menos de 1s atrás e começa a abrir novamente. Correndo em sexto lugar, Jacques Laffite tem seu motor quebrado na volta 23 e com o óleo espalhado na pista, faz Warwick rodar e abandonar junto com o francês da Williams. Isso fazia Arnoux subir ao sexto lugar, mas logo seria ultrapassado por Mansell, que estava louquinho para mostrar serviço e consolidar o contrato mais do que bem-vindo com a Williams em 1985. No jogo de gato e rato na frente, Prost consegue abrir 5s em cima de Lauda, enquanto Tambay vai aos boxes com problemas de câmbio e perde várias posições, mas fica ainda na prova.

Lauda tinha dificuldades em lhe dar com o tráfego, enquanto De Angelis passa de caçador a caça ao ser atacado pelo seu companheiro de equipe Mansell na luta pelo quarto lugar. Rosberg fazia uma corrida solitária em terceiro, mas diminui bastante seu ritmo para poupar combustível, permitindo a aproximação rápida da dupla da Lotus. Para complicar, Alain Prost se aproximava dos três para colocar uma volta, o que deixaria os dois carros da McLaren como únicos a estar na mesma volta. Se aproveitando da confusão, Mansell efetua uma manobra ousada em cima de Elio de Angelis e ultrapassa o italiano por fora na curva Tarzan. Na volta seguinte, desta vez por dentro, Mansell freia no limite, controla seu Lotus de forma maravilhosa, chega a tocar na Williams de Rosberg e finalmente chega ao terceiro lugar. Rosberg fica irritado com Mansell, seu quase confirmado futuro companheiro de equipe, e mesmo levando uma volta de Prost, o finlandês ultrapassa o francês da McLaren de volta para tentar dar o troco em Mansell, com quem já tinha tido problemas em Dallas, mas quando vê que o ritmo de Mansell era muito forte e se lembra de poupar gasolina, Rosberg diminui seu ritmo e se conformar com o quarto lugar. Faltando dez voltas, Arnoux vai aos boxes de supetão para trocar pneus e quando volta à pista, bate em Thierry Boutsen, fazendo os dois saírem da pista, mas continuam na prova. Outra prova do quão antiquado estava ficando Zandvoort...

As posições ficam estáticas no final e Prost vence pela quinta vez em 1984, dando a nona vitória para a McLaren, que iguala o recorde da Lotus em 1978 e vence o Mundial de Construtores pela primeira vez desde 19...74! Lauda cortou metade do déficit que tinha para Prost, mas ainda assim termina 10s atrás do companheiro de equipe, esquentando ainda mais a briga pelo título entre eles. Mansell comemora seu segundo pódio no ano, enquanto Keke Rosberg, mesmo poupando o que dava de combustível, acabou com pane seca na penúltima volta, entregando o quarto lugar a De Angelis. Mesmo rodando, Teo Fabi marca pontos pela segunda corrida consecutiva, um verdeira feito para a terrível confiabilidade do seu carro, enquanto Tambay se arrastava rumo ao sexto lugar. Dias mais tarde, com a confirmação do banimento da Tyrrell do campeonato, Prost ganharia mais um ponto, deixando a diferença entre os dois rivais do campeonato em meio ponto a favor de Lauda. Um campeonato à dois e para lá de emocionante!

Chegada:
1) Prost
2) Lauda
3) Mansell
4) De Angelis
5) Fabi
6) Tambay

Um comentário:

Por Dentro dos Boxes disse...

João,

a temporada 84 foi amplamente dominada pela McLaren e seu poderoso motor Porsche...

nessa prova Lauda estava na cola do francês narigudo e no gp seguinte, na Itália, venceu, para desespero do Prost..

Senna já tinha mostrado a que veio e era questão de tempo para vencer na categoria e Piquet teve um ano não muito bom mas ainda assim venceu dois gps...

lá se vão 30 anos...

abs...