quarta-feira, 7 de outubro de 2009

História: 35 anos do Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1974


A decisão de um dos Mundiais mais emocionantes da história da F1 seria em Watkins Glen, onde um ano antes Jackie Stewart anunciava a sua aposentadoria da categoria. Só bastou uma temporada para que a F1 se esquecesse de sua maior estrela e visse quatro pilotos se degladiarem pelo Mundial de Pilotos de 1974. Se Emerson Fittipaldi já tinha sentido o gosto pela conquista de um título, Clay Regazzoni, Jody Scheckter e Niki Lauda lutaram como nunca para terem essa dádiva. Assim, os quatro protagonizaram um campeonato espetacular, onde houveram vários outros coadjuvantes (como Peterson e Reutemann) e uma vitória poderia suceder uma corrida fora da zona de pontuação.

Após a corrida canadense em Mosport Park, Niki Lauda se retirava da briga, mas nem isso deixava o campeonato menos emocionante. Regazzoni e Fittipaldi estavam empados em pontos (52), com Scheckter ainda sonhando com um milagre (47). Enquanto se preparavam para a corrida decisava, a Ferrari fez um teste e Regazzoni acabou sofrendo um forte acidente, destruindo seu carro. Não apenas um novo chassi teria que vir aos Estados Unidos de forma urgente, como o suíço havia machucado sua perna. Scheckter era outro com problemas, pois seu Tyrrell estava destruído demais após a saída de pista do sul-africano no Canadá e a equipe teve que trazer uma chassi vindo da Inglaterra. Emerson era o piloto que chegava mais tranqüilo a Watkins Glen, lugar de sua 1º vitória quatro anos antes. O brasileiro vinha de uma vitória e tinha uma pressão menor, por já ter um título mundial no currículo, além de ter seu McLaren devidamente pronto para a corrida.

Contudo, o carro da McLaren não era dos mais regulares e Emerson, ao contrário do que se imaginava, sofreu e pôs seu carro apenas em oitavo, mas estaria logo à frente de Regazzoni, que estava sofrendo com o acerto do seu carro recém-chegado da Itália. Scheckter, que tinha menos chances de título, largava à frente de ambos, em sexto, com Lauda à sua frente. Os quatro protagonistas da temporada iriam largar, mais uma vez, juntos para a corrida decisiva. Carlos Reutemann não teve um carro muito regular ao longo do ano e por isso não foi surpresa vê-lo conquistar a pole, ficando à frente de duas surpresas: a Hesketh de James Hunt e o novíssimo Parnelli de Mario Andretti.

Grid:
1) Reutemann (Brabham) - 1:38.978
2) Hunt (Hesketh) - 1:38.995
3) Andretti (Parnelli) - 1:39.209
4) Pace (Brabham) - 1:39.284
5) Lauda (Ferrari) - 1:39.327
6) Scheckter (Tyrrell) - 1:39.478
7) Watson (Brabham) - 1:39.527
8) Fittipaldi (McLaren) - 1:39.538
9) Regazzoni (Ferrari) - 1:39.600
10) Jarier (Shadow) - 1:40.317

O dia 6 de outubro de 1974 estava claro e com um sol tímido na pista no estado de Nova Iorque e a expectativa era de uma corrida tranqüila. Infelizmente, isso ficou apenas na expectativa. A tensão era enorme entre os postulantes ao título e a McLaren, em particular, ainda estava atrás do seu primeiro título. A velha guerra na F1 entre Inglaterra e Itália voltou a florescer com força na briga entre Fittipaldi e Regazzoni e ambos não se olharam enquanto alinhavam no grid. Assim como os mecânicos de McLaren e Ferrari se evitavam, mesmo com os carros lado a lado. Emerson disse que havia dormido muito mal naquela noite, sentindo a enorme pressão na briga pelo título, mas momentos antes dos motores serem ligados, ele deu uma encarada forte em Regazzoni. O suíço fitou o brasileiro por um momento e abaixou a viseira nervosamente. Emerson percebeu que Regazzoni, em sua primeira decisão por um título mundial, estava tão, ou mais nervoso, do que ele e que o título estava próximo.

A largada foi traqüila para Reutemann, que assumiu facilmente a liderança, trazendo Hunt consigo. Andretti teve um problema elétrico em sua novo carro e foi aos boxes no final da primeira volta, abandonando logo depois. Na briga pelo título, Regazzoni larga melhor do que Fittipaldi, mas o brasileiro força em cima do rival e no final da reta oposta, o piloto da McLaren coloca seu carro por dentro, à direita,. Se Regazzoni normalmente era extremamente agressivo, não seria numa disputa pelo título que ele não tiraria o pé e o suíço fechou ferozmente Emerson. Sabendo que aquele momento era decisivo, mesmo que ainda na primeira volta, Fittipaldi não tirou o pé e mesmo com seu carro em vias de ir para a grama e um toque desastroso estava a ponto de acontecer, permaneceu ao lado de Regazzoni. Na curva, Fittipaldi completou a ultrapassagem que lhe dava a sexta posição. Era a ultrapassagem do título.

Mais atrás, o austríaco Helmut Köinigg fazia sua segunda corrida na F1 pela equipe Surtees. O jovem piloto tinha baseado sua carreira no turismo alemão e tinha participado de algumas provas de Esporte-Protótipo, além das 24 Horas de Le Mans. Köinigg havia conseguido patrocinadores e comprou uma vaga na equipe Surtees no final da temporada e sua apresentação em Mosport Park não tinha sido de toda má, levando-se em conta a ruindade do chassi da Surtees. Largando em 23º em Watkins Glen, Köinigg fazia uma prova tranqüila até que na décima volta, um furo lento fez com que o austríaco perdesse o controle do seu Surtees e acabou atingindo em cheio um guard-rail. Para o azar de Köinigg, o guard-rail tinha uma estrutura dupla e a parte de baixo foi destruída, com a parte de cima servindo como uma espécia de guilhotina, matando o piloto na hora. A horrível cena do seu acidente, com sua cabeça decapitada, foi evitada de ser publicada em vários países e Helmut Köinigg morria exatamente um ano depois de François Cevert.

Apesar da tragédia, a corrida continuou sem muitos pilotos perceberam o que havia acontecido. A equipe Surtees foi a única que fez algo, ao abandonar a corrida com seu outro piloto, o francês José Dolhem. Os seis primeiros continuavam os mesmo, com Reutemann à frente de Hunt, Pace, Lauda, Scheckter e Fittipaldi. O ponto que Emerson estava conquistando no momento lhe garantia o bicampeonato, que se tornava cada vez mais fácil com Regazzoni perdendo rendimento a cada volta que se passava, por causa do mal acerto do seu carro. Tamanho desequilíbrio fez com que Clay fosse aos boxes fazer um pit-stop, algo totalmente anormal nos anos 70, trocar seus pneus. O que ninguém na Ferrari sabia era que Regazzoni tinha um amortecedor quebrado e o suíço não seria um fator na corrida. Para piorar as coisas para a Ferrari, Lauda passa a ter problemas em seu carro e começa a perder posições, inclusive para Emerson, que subia para quinto. A única ameaça, mesmo que pequena, ao título de Emerson era Scheckter, que vinha logo à sua frente e precisava de uma vitória de forma desesperada e tirar os sete pontos que o separavam de Fittipaldi. Contudo, Reutemann vinha disparado na frente e o piloto da Tyrrell não conseguia sequer se aproximar do terceiro colocado Carlos Pace.

O brasileiro, que completava 30 anos naquele dia, tinha tido um sonho estranho naquela noite, em que seu pai dizia que a flecha para baixo que marcava seu capacete apenas puxava sua carreira para baixo. Quando acordou, Pace raspou as arestas da flecha e pelo visto o sonho se tornava realidade, com Pace andando muito forte na Brabham. Para comprovar que o título era realmente seu, Scheckter tem um vazamento de óleo no terço final da prova e abandonou, entregando de bandeja o quarto lugar a Fittipaldi, com o brasileiro apenas precisando levar seu carro até o final para conquistar aquele Mundial. Para aumentar a felicidade brasileira, James Hunt passa a ter problemas em seu Hesketh nas voltas finais e é ultrapassado por Pace, fazendo com que a Brabham tivesse uma dobradinha na corrida final.

Carlos Reutemann não foi importunado naquela tarde de outono nos Estados Unidos. O argentino acabaou vencendo pela 3º vez no ano e garantiu o sexto lugar no Mundial. Pace completava um dia especial para os países sul-americanos, pois o quarto lugar também vinha do Cone Sul. Entretanto, era o 4º colocado que todos esperavam cruzar a linha de chegada. Mais de um minuto depois de Reutemann receber a bandeirada, Fittipaldi apontou na reta dos boxes e com o braço direito levantado, foi saudado pela pequena torcida brasileira nas arquibancadas, pela sua esposa e pela equipe McLaren, que havia invadido a pista para comemorar o seu primeiro título, enquanto Emerson se juntava a lendas do automobilismo como Ascari e Clark, conquistando o seu segundo título mundial de pilotos. Fittipaldi não era um piloto espetacular e algumas vezes era criticado por isso, mas ninguém podia negar a eficiência e, principalmente, a inteligência do piloto brasileiro, vencendo provas onde não era o mais veloz, pelo menos aparentemente. Aos 27 anos, Emerson Fittipaldi entrava definitivamente na história da F1, com dois títulos em quatro temporadas completas e o Brasil já começava a ser apontado como um celeiro de talentos. A McLaren iniciava sua incrível série de títulos que duraria nos anos seguintes e o mundo se curvava ao talento de Emerson Fittipaldi.

Chegada:
1) Reutemann
2) Pace
3) Hunt
4) Fittipaldi
5) Watson
6) Depailler

Um comentário:

Speeder76 disse...

Gostei do relato, e da tua primeira foto, a que coloca Fittipaldi e Koinigg juntos. Saber que ambos foram destaques naquela corrida, com sortes diferentes, até ficas arrepiado...