Graças a vitória de Graham Hill em Watkins Glen, o piloto da BRM era o principal favorito a conquistar o título da temporada de 1964, mas a disputa não seria fácil. Desde 1962 a F1 era dominada pelo binômio Hill-Clark, mas naquele ano a dupla ganharia a companhia de outro inglês, que era mais conhecido por seus feitos em duas rodas. O sete vezes campeão mundial de motociclismo John Surtees tinha conseguido levar a Ferrari de volta aos bons momentos graças ao novo motor que havia recebido em Brands Hatch, na metade da temporada, e desde então Surtees começou uma fase de ótimos resultados, no qual conseguia se intrometer na briga particular entre Hill e Clark. Assim como havia acontecido em 1962, Graham Hill não tinha o carro mais rápido e nem ele mesmo era o piloto mais rápido, mas Clark (claramente o mais rápido) sofreu com o novo Lotus 33 e da mesma forma que ganhou muitas corridas, abandonou também várias. Com isso, Hill se aproveitou de todas as chances que teve e conseguiu chegar com boa vantagem na decisão do campeonato.
Quando as equipes chegaram a alta altitude da Cidade do México, Hill liderava o campeonato com 39 pontos, com Surtees contando 34 pontos e Clark com 30. Porém, os descartes poderiam ser decisivos naquela decisão. Da mesma forma que sua regularidade lhe pôs numa boa posição no campeonato, Hill poderia ser prejudicado exatamente pela sua principal arma, já que teria que descartar três pontos se marcasse novamente, algo que não aconteceria com seus principais rivais. Para Jim Clark a vitória era o único resultado possível, pois mesmo que chege ao máximo de 39 pontos, um empate com Hill ou Surtees lhe daria vantagem no campeonato, já que tinha mais vitórias no campeonato. Por isso, o escocês da Lotus procurou a ponta desde o sábado e conseguiu a 18º pole da carreira com quase 1s de vantagem sobre o segundo colocado, Dan Gurney. Além de correr de azul, por causa de uma briga entre Enzo Ferrari e a Federação Italiana de Automobilismo, a Ferrari também trazia novidades, com Bandini usando um novo modelo da equipe italiana e o piloto da bota mostrou o potencial do carro ao se classificar à frente de Surtees, com o inglês preferindo a cautela e ficando com o carro antigo.
Grid:
1) Clark (Lotus) - 1:57.24
2) Gurney (Brabham) - 1:58.10
3) Bandini (Ferrari) - 1:58.60
4) Surtees (Ferrari) - 1:58.70
5) Spence (Lotus) - 1:59.21
6) Hill (BRM) - 1:59.80
7) Brabham (Brabham) - 1:59.99
8) Bonnier (Brabham) - 2:00.17
9) Rodriguez (Ferrari) - 2:00.90
10) McLaren (Cooper) - 2:01.12
O dia 25 de outubro de 1964 estava ensolarado e quente na Cidade do México, com a torcida mexicana lotando o autódromo para ver uma decisão a três. As táticas de equipe não eram muito comuns nos primórdios da F1, mas sempre existiam em decisões de campeonato e era esperado que elas aparecessem no México. O americano Richie Ginther não tinha feito uma boa classificação (11º) e não poderia ajudar mais decisivamente seu companheiro de equipe na BRM, Hill, enquanto a Ferrari tinha até mesmo um terceiro carro para o local Pedro Rodríguez, na tentativa de ajudar Surtees conquistar o título, enquanto Bandini, mesmo largando à frente de Surtees, começou a corrida com ordens expressas para ajudar seu companheiro de equipe. Mesmo com Mike Spence em quinto, para Clark somente a vitória interessaria.
E a corrida começa interessante para o escocês. Uma série de problemas com seus rivais somada a uma boa largada, deixava Jim Clark, o claro azarão desta decisão, com a situação que precisava para se tornar bicampeão. Surtees tem problemas no seu motor e larga muito mal, caindo para a décima terceira posição e a situação só não ficou pior por que o problema se resolveu sozinho e o inglês pôde continuar sua corrida normalmente. Já Hill teve um problema inacreditável, quando o elástico do seu óculos de proteção se quebrou, tirando a concentração do inglês e fazendo com que o piloto da BRM caísse para décimo ao final da primeira volta. Se essas posições se mantivessem, Clark seria campeão, mas as peças do xadrez começaram a se mover cedo. Bandini se mantém em terceiro, com os dois segundos pilotos de Lotus e BRM, Mike Spence e Richie Ginther, subindo para 4º e 5º. Mais atrás, Hill e Surtees ganhavam posições rapidamente e logo encostaram no pelotão da frente.
E evolução de Graham Hill era tal, que na 12º volta ele já aparecia em terceiro, após ultrapassar a Ferrari de Bandini. Com esse resultado, o piloto da BRM se tornava bicampeão, mas a vida não estava fácil para Hill. Bandini estava colado em sua traseira e Graham não conseguia se aproximar de Dan Gurney, um distante segundo colocado. Para piorar, Surtees sobe para o 5º posto na volta 18 e a lógica era que Bandini cedesse sua posição ao primeiro piloto da Ferrari, mas de forma estranha isso não acontece. A resposta dessa manobra ferrarista seria dada na volta 31. Numa tentativa, no mínimo otimista, de ultrapassagem de Bandini, o italiano se chocou com o carro de Hill e o inglês acabou rodando. Graham caiu para sexto, mas acabou indo aos boxes com o escapamento do seu carro quebrado, reclamando bastante da manobra de Bandini. Todos acusaram o italiano de ter batido em Hill de próposito, para tirá-lo da disputa e na sequencia ajudar Surtees na batalha pelo campeonato. Tudo o que Hill torcia era para uma improvável combinação de posições para os seus rivais. Porém, a enorme liderança de Clark na ponta não indicava que isso acontecesse, ainda mais com Surtees não conseguindo se aproximar de Gurney, o segundo colocado.
Mais uma vez, a Ferrari faz uma tática na corrida decisiva e pede para Surtees deixar Bandini passar, já que seu motor Flat-12 parecia funcionar melhor e o italiano teria mais condições de conseguir se aproximar de Gurney. Então a corrida fica estática. Clark tinha um ritmo próprio e tinha vantagem brutal sobre os demais naquela tarde de outubro mexicana e caminhava tranquilo rumo ao seu segundo título seguido, ao contrário do ano anterior, conquistando um título de forma dramática e até sortuda. Alheio a disputa pelo título, Gurney se mantinha numa boa segunda posição e da mesma forma como não tinha condições de ataque a Clark, não era atacado por Bandini, que tentava desesperadamente uma aproximação em cima do americano, enquanto Surtees apenas torcia em 4º.
Contudo, como dizia Juan Manuel Fangio, 'carreras son carreras'. Uma corrida sem graça se torna extremamente dramática quando faltavam sete voltas para o final. Quando liderava disparado o Grande Prêmio da África do Sul de 1962 e tinha tudo para conquistar seu primeiro título, Clark tem um vazamento de óleo no seu motor e abandonou na metade da prova. De forma ainda mais cruel do que tinha acontecido dois anos antes, o motor Climax da Lotus de Clark começa a vazar óleo nas últimas voltas e o escocês tira o pé, rezando para que seu motor resista até o final. Infelizmente não foi o caso. Na penúltima volta, o motor de Clark trava, totalmente sem óleo, e Jim abandona a corrida tristemente, vendo o sonho do bicampeonato indo embora. Gurney assumia a liderança da prova, porém o mais importante era que Hill se tornava campeão naquele momento, já que Surtees estava apenas em terceiro e precisava exatamente de mais uma posição. Por isso, Graham Hill mal pôde acreditar o que viu na última volta. À la Rubens Barrichello na Áustria/2002, Bandini, o segundo colocado e segundo piloto da Ferrari, para seu carro na reta de chegada e espera Surtees o ultrapassar, conquistando a 2º posição e o título daquele ano. Mesmo sem fazer uma corrida brilhante, aonde não foi protagonista em nenhum momento da prova, John Surtees entrava para a história do esporte a motor ao se tornar o único piloto a ser campeão mundial de motociclismo e na F1. Fato até hoje não repetido. A tática ferrarista durante a prova mexicana foi duramente criticada, principalmente pelos ingleses, mas foi Graham Hill que deu o toque de humor na briga. Na véspera do Natal de 1964, Hill mandou um livro de presente a Lorenzo Bandini: "Como dirigir com segurança."
Chegada:
1) Gurney
2) Surtees
3) Bandini
4) Spence
5) Clark
6) Rodríguez
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