A biografia está sendo preparada, mas não posso deixar de contar essa história. Em 1999 eu estava fazendo o terceiro ano e me preparava fortemente para o vestibular, que no dia 31 de outubro do corrente ano, estava a menos de um mês de acontecer. Estudava um bocado naquela época e minha vida era livro na semana e as corridas no final de semana, sendo que havia um detalhe no meu colégio: as provas eram sempre na segunda. Ou seja, tinha que tirar as tardes de domingo para estudar e como o vestibular estava chegando, a tensão era cada vez maior. Naquele 31 de outubro iria acontecer a decisão da F1 e da F-Mundial, na época uma categoria tão atrativa quando a F1, mas o SBT não achava isso e passava os VTs às 23h de domingo. Uma merda! Como tinha a ESPN Internacional, muitas vezes assistia as corridas no começo das noites de domingo, em inglês. Contudo, como era a final do campeonato, tinha que esperar pelo insosso compacto da SBT de noite. Como sempre me preocupei em manter a minha forma, após estudar no domingo ia sempre fazer alguns exercícios na varanda da minha casa. Pé de chinelo, apoio de frente e por aí vai... Eram sete da noite quando o interfone do meu AP toca. Do outro lado da linha, uma voz feminina bem interessante queria saber o que o gatinho aqui estava fazendo e que queria me conhecer melhor.
Uau! Ganhei meu dia! Marcamos em frente a piscina lá do condomínio às 20:30 e como não poderia deixar de ser, interrompi meus exercícios e fui direto tomar banho, para conhecer a garota misteriosa pouco tempo depois, que se chamava Aline. Troquei de roupa, coloquei o melhor perfume e quando estava a ponto de sair de casa, minha mãe me chama para ver a reportagem do Fantástico sobre a F1. Faltavam alguns minutos e como sabia que a reportagem sobre o título de Mike Hakkinen não duraria mais do que cinco minutos, voltei para a TV. João Pedro Paes Leme mostrou o triunfo do finlandês e quando a bola foi passada ao Léo Batista e já ia dar as costas para a TV, o veterano apresentador fechou a cara e anunciou em voz fúnebre: "Acidente e morte na Fórmula Indy". Quase caí do chão! Quem seria? Milhões de coisas passaram na minha cabeça, principalmente com a morte de Gonzalo Rodriguez poucos meses antes. E foi anunciado o nome do Greg Moore. Fiquei totalmente sem ação. Também assistia aos treinos da Indy que passava na ESPN no sábado à noite e me lembrava bem de sua entrevista, contando seu acidente na sua motoneta.
Como esperado, a reportagem sobre o canadense foi minúscula e tudo o que queria eram informações. Não tinha internet em casa, algo totalmente impensável nos dia de hoje, mas minhas tias, que moravam no 4º andar, tinha acabado de instalar no computador delas e lá fui eu pegar o elevador atrás da conexão via telefone, que nos domingos à noite demorava mais do que o normal. Expliquei minha aflição ao meu primo e como todos sabem o quanto gostam de corrida e tinham visto a notícia no Fantástico, não demoraram a iniciar o computador e colocar toda a parafernália para que a internet fosse ligada naquela época. Perdi noção de tempo e espaço e fui atrás do site da CART, ESPN, SBT e etc... Não conhecia nenhum site sobre automobilismo simplesmente porque não tinha acesso a tal. Fui vendo as notícias e até algumas fotos, fato até raro na época. Então, veio o estalo! A Aline...
Deixei Greg Moore de lado e fui correndo pelo elevador, que nessas horas parece demorar mais do que o normal. Apertei no P várias vezes, na vã esperança de que apertando naquele botão muitas vezes, o elevador chegasse mais rápido. Cheguei ao pátio e a piscina, mas até que não tinha me atrasado muito. Odiava aquele condomínio e até hoje não entendo como passei nove anos da minha vida ali, mas fiquei na espera. Vi um colega meu que estudou comigo e como era mais tímido do que hoje, pensei que, ele me vendo ali, me perguntaria o que estava fazendo ali e talvez tivesse que agüentar os zé-ruelas dos amigos dele. Disfarcei, ele não me viu, mas não havia nenhuma garota ali. Esperei mais alguns minutinhos e subi. Mal cheguei e interfone tocou. Era a Aline perguntando por mim. Quando me identifiquei, ela não me deu chances de me explicar e foi logo desligando na minha cara. Os interfornes ligavam direto e não tinha como saber o apartamento dela. Falei com o porteiro e ele falou de várias Alines no condomínio. Não ia ficar ligando procurando quem era Aline à toa, fora que ela deveria estar tiririca comigo. Tirei a roupa e fiquei esperando dar 22h (era horário de verão) e ver mais notícias, mas ficou um gosto amargo na boca. Não apenas morria um dos pilotos mais promissores do mundo, como Greg Moore ainda me fez perder uma garota.
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