Após a longa temporada européia, a F1 chegava a sua reta final com as duas corridas norte-americanas. Mesmo com o título ainda em aberto, a temporada de 1982 já era discutida abertamente, com o anúncio de chegadas e saídas de pilotos. Alan Jones, mesmo ainda com chances de título, anuncia que estava abandonando a F1 em Las Vegas, local da última etapa de 1981, algo em que Mario Andretti também estava prestes a anunciar. O ítalo-americano estava praticamente com um contrato acertado para correr full-time na F-Indy na equipe Patrick e ainda veria de mais de perto a ascensão da carreira do seu filho mais velho, Michael. Porém, Niki Lauda fazia seus primeiros testes com um McLaren MP4/1 e sua milionária volta ao circo da F1 era dada como certa. Muito se falava na época que a F1 estava carente de ídolos e por isso a investida em pilotos como Lauda, Emerson Fittipaldi e Jody Scheckter. Para Lauda, seu retorno a F1 aliviaria um pouco os prejuízos da Lauda Air, sua companhia aérea com sérios problemas financeiros.
Em Montreal, a F1 via um campeonato extremamente embolado, ainda que Carlos Reutemann e Nelson Piquet liderassem o certame separado por apenas três pontos, mas com Jones e Prost, nove pontos (ou uma vitória) a menos, ainda com chances. Jacques Laffite, numa temporada apenas regular, ainda tinha remotas chances de título e para consegui-los, o francês da Ligier teria que sair do seu perfil e partir para cima no charmoso circuito canadense. Largar em décimo não era o início dos sonhos para o piloto da Ligier. Para aumentar a emoção do campeonato, Piquet e Reutemann largariam na primeira fila no domingo, com Jones ficando logo atrás. Durante a maior parte do ano, esses três dominaram o top-3 no grid das corridas de F1, com exceção das corridas em circuitos rápidos, onde o turbo da Renault sobressaía. E como o circuito de Montreal tem uma longa reta oposta, Prost ficou em quarto, sendo o melhor piloto com motor turbo e pneus Michelin. Os usuários da Goodyear ficaram com seis das dez primeiras posições do grid.
Grid:
1) Piquet (Brabham) – 1:29.211
2) Reutemann(Williams) – 1:29.359
3) Jones(Williams) – 1:29.728
4) Prost(Renault) – 1:29.908
5) Mansell(Lotus) – 1:29.997
6) Rebaque(Brabham) – 1:30.182
7) De Angelis(Lotus) – 1:30.231
8) Arnoux(Renault) – 1:30.232
9) Watson(McLaren) – 1:30.556
10) Laffite(Ligier) – 1:30.705
Grid:
1) Piquet (Brabham) – 1:29.211
2) Reutemann(Williams) – 1:29.359
3) Jones(Williams) – 1:29.728
4) Prost(Renault) – 1:29.908
5) Mansell(Lotus) – 1:29.997
6) Rebaque(Brabham) – 1:30.182
7) De Angelis(Lotus) – 1:30.231
8) Arnoux(Renault) – 1:30.232
9) Watson(McLaren) – 1:30.556
10) Laffite(Ligier) – 1:30.705
O dia 27 de setembro de 1981 estava chuvoso e frio em Montreal, por sinal, algo comum naquela época do ano no Canadá e faria os organizadores da F1 transferirem a corrida canadense para o meio do ano a partir de 1982. Quem se animou com o clima molhado foram os pilotos com pneus Michelin, que claramente andavam melhor do que os Goodyear na chuva. Apesar de um bom arranque inicial, Reutemann logo é engolido pelo pelotão, sendo ultrapassado por Jones e Piquet, com o australiano tomando a ponta. Mais atrás, Villeneuve consegue uma espetacular largada e estava lutando por posição com Arnoux quando ambos se tocam e o piloto da Renault se dá pior, saindo da pista, levando consigo Didier Pironi, e abandonando após bater no guard-rail. O companheiro de equipe de Villeneuve cai para as últimas posições, mas Pironi acabaria abandonando após imprimir uma forte corrida de recuperação.
Mesmo com Jones e Piquet na ponta, era claro o avanço dos pilotos com pneus Michelin, com destaque para Prost, Laffite e Villeneuve, que na sexta volta vinham nessas posições, atrás dos dois líderes. Reutemann, com problemas em seu Williams e pilotando com extremo cuidado na escorregaria pista de Montreal, caía para as últimas posições. De onde não sairia mais. Então, na sétima volta, Jones roda bem na frente de Piquet que, sem espaço, tem de sair da pista para não bater. O brasileiro caiu para quinto, enquanto Jones praticamente dava adeus ao sonho do bicampeonato. Mais à frente, Laffite continuava sua corrida de recuperação e na base da força, ultrapassa Prost, que começava a ter problemas de freios, tanto que o francês da Renault logo é ultrapassado por Villeneuve e Watson. Com a pista encharcada como estava naquele final de setembro em Montreal, a potência dos motores turbo não valiam muita coisa, pois no molhado, o que vale é a paciência em pisar no acelerador na dose e na hora certa. Por isso, era impressionante ver Villeneuve em segundo lugar, mas logo o canadense sofreria pressão da McLaren de Watson. Seria o início de um período mágico não apenas de 1981, mas de toda a história da F1.
Após uma longa perseguição ao canadense, Watson finalmente ultrapassa Villeneuve no hairpin na volta 37. Correndo em casa e com seu normal espírito guerreiro, Villeneuve não se conforma em ser deixado para trás e logo tenta um contra-ataque em cima de Watson. E seria na volta seguinte e no mesmo local onde foi ultrapassado. Porém, Watson, um piloto combativo, não se impressiona com a agressividade de Villeneuve e nem o fato do adversário estar correndo em casa e aplica uma baita fechada no piloto da Ferrari no hairpin. Sem espaço, Villeneuve bate de leve na lateral da McLaren e roda. Porém, o bico da Ferrari estava amassado e com o passar das voltas, o bico se deformaria a ponto de fica praticamente na frente de Villeneuve, que corria, com a pista encharcada, com pneus desgastados e um carro extremamente indócil, praticamente sem visão nenhuma. O mundo se perguntava como Villeneuve ainda estava se mantendo na pista, mas poucas voltas depois o bico da Ferrari cai debaixo do carro, bem no hairpin, e mesmo com Villeneuve saindo da pista, o canadense se mantém na mesma posição. E chegaria ao final da corrida em terceiro sem o bico! A vitória de Laffite o colocava no páreo do campeonato, mesmo estando seis pontos atrás de Reutemann, que não marcou pontos após uma corrida apática e longe de ser digna de um campeão mundial. Sem condições de brigar na frente por causa dos pneus, Piquet se conformou em ficar com a quinta posição e marcar dois pontos preciosos, ficando apenas um ponto de Reutemann faltando apenas uma corrida para o fim do campeonato. Porém, todos se lembram daquele dia em mais um show de Villeneuve!
Chegada:
1) Laffite
2) Watson
3) Villeneuve
4) Giacomelli
5) Piquet
6) De Angelis
1) Laffite
2) Watson
3) Villeneuve
4) Giacomelli
5) Piquet
6) De Angelis
Um comentário:
Três relatos da prova:
- A última vitória de Jacques Laffite na Fórmula 1 ainda mantinha acesa a disputa do título indo para a última etapa em Las Vegas (Estados Unidos);
- Grande exibição de Gilles Villeneuve com o bico praticamente fechando a sua visão na pista encharcada de Montreal!!! e
- Os dois pontos com o 5º lugar de Nelson Piquet fez com que ele ficasse apenas um ponto do argentino Carlos Reutemann, que terminou a prova em 10º lugar (não pontuou, porque a pontuação era do 1º ao 6º lugar).
No Campeonato Mundial de Pilotos após 14 etapas, apenas 3 pilotos tinham chances de ser Campeão:
- 1ª Carlos Reutemann (Argentina)
49 pontos;
- 2ª Nelson Piquet (Brasil)
48 pontos e
- 3ª Jacques Laffite (França)
43 pontos.
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