domingo, 22 de abril de 2012

A volta do perfeitinho


Uma das coisas interessantes deste campeonato é a variedade de pilotos e equipes que conseguem sucesso de uma prova para outra. Desde 1997 não se via uma variedade tão grande de pilotos e equipes conseguindo sucesso na F1 e isso faz da temporada 2012 excelente. Sebastian Vettel vencendo após liderar de ponta a ponta e assumindo o primeiro lugar do campeonato não é uma surpresa à primeira vista, mas o alemão da Red Bull passou por dificuldades nas três primeiras provas do ano e até mesmo hoje teve que agüentar uma pressão do surpreendente Lotus de Kimi Raikkonen, que voltou ao pódio depois de dois anos e meio, provando que o tempo fora das pistas não lhe fez mal. Romain Grosjean, considerado um desastrado há pouco tempo, conseguiu seu primeiro pódio, corroborando com a ótima corrida da equipe chefiada por Eric Boullier.

A prova no Bahrein teve um enredo parecido das demais, com muitas disputas por posição na medida em que as estratégias apareciam e os pilotos precisavam forçar ou poupar equipamento. Somente Sebastian Vettel destoou um pouco com uma ótima largada e um ritmo muito forte nas voltas iniciais, como ele fazia quando a Red Bull tinha o melhor carro disparado no ano passado. Porém, Vettel não teve sossego na parte final da prova com a aproximação de Raikkonen e o finlandês chegou a colocar de lado uma vez, não conseguindo a ultrapassagem. Contudo, essa vitória no Bahrein foi muito importante para o representante da Red Bull, pois esse triunfo lhe dará uma grande dose de confiança e ainda lhe rendeu a liderança de um campeonato extremamente apertado. Mark Webber vem fazendo sua parte em ajudar a Red Bull conseguir assumir a liderança do Mundial de Construtores, mas o australiano precisa sair um pouco de sua cômoda estratégia de regularidade, onde se fosse para apostar alguma coisa na F1, é cravar Mark Webber em quarto.

Eric Boullier, chefe da Lotus, clamava por uma corrida normal para que o seu time pudesse mostrar o seu real potencial este ano. Se na China fracassou, no Bahrein a Lotus fez sua melhor corrida e se consolida como uma das grandes este ano. A boa largada de Grosjean e Raikkonen foi o começo de uma bela corrida de ambos os pilotos, particularmente de Kimi, que largou apenas em 11º. As ultrapassagens de ambos poderiam sugerir que os pilotos dos carros negros estariam forçando os pneus e que isso sairia caro para eles, mas o desenrolar da corrida mostrou o contrário e após a primeira parada eles já estavam em 2º e 3º, só que Grosjean à frente. Raikkonen, que ficou no Q2 ontem e por isso tinha um pneu macio de reserva, ultrapassou o companheiro de equipe e partiu à caça de Vettel, chegando a abrir a asa traseira na reta principal algumas vezes, colocando de lado uma vez. Porém, após a terceira parada, Vettel deu um gás e apenas administrou sua vitória, mas isso não diminui em nada a belíssima corrida de Kimi Raikkonen e Romain Grosjean, que se manteve tranquilamente na terceira posição, deixando Webber bastante longe. Com a vitória na corrida passada, Nico Rosberg se tornou favorito à vitória no Bahrein e os melhores tempos nos treinos livres era a indicação disso, mas a coisa começou a degringolar quando Rosberg foi apenas quinto no grid. O alemão foi um dos que largaram mal e esteve longe da briga pela vitória ou até mesmo do pódio, além de ter arriscado demais em disputas com Hamilton e Alonso. Seria frustração? 

Já Schumacher foi um dos destaques da prova ao conseguir sair da 22º posição do grid rumo ao seu segundo ponto no campeonato, ganhando doze posições e fazendo boas ultrapassagens nesse ínterim. Depois do gelo dado pela FOM pelo abandono do segundo treino livre na sexta-feira, a Force India fez uma belíssima prova com Paul di Resta, com o escocês parando somente duas vezes e só perdendo o quinto lugar para Rosberg nas voltas finais. Di Resta vem mostrando ser um ótimo piloto e supera com folgas Hulkenberg, que fez uma prova anônima hoje. Quem não consegue fazer uma prova discreta é mesmo Maldonado. Largando lá atrás devido a uma punição e problemas na Classificação, o venezuelano fez ultrapassagens, brigou e acabou rodando espetacularmente após ter um pneu traseiro furado, forçando seu abandono. Bruno Senna não repetiu suas boas corridas na Malásia e na China, podendo indicar que a Williams tem um comportamento distinto em condições de temperatura diferentes. A Ferrari continuou sua toada de equipe média e Alonso ficou em sétimo, sem mostrar a mesma magia de antes, enquanto Felipe Massa conseguiu seus primeiros pontos com um nono lugar. Largando quatro posições atrás de Alonso, o brasileiro fez sua melhor corrida do ano e realmente andou na balada de Alonso, o que não deixa de ser importante no seu momento atual, mas será que isso basta para permanecer em 2013?

A McLaren fez uma corrida para esquecer em Sakhir. Primeiro, seus dois pilotos não largaram bem e se Hamilton ainda manteve a segunda posição a duras penas, Button caiu várias posições. Com um desgaste acentuado de pneus, os dois pilotos prateados iam parando logo nos pits e isso quando a equipe vacilou novamente. E novamente. As duas primeiras paradas de Hamilton foram desastrosas e se ele estava em terceiro antes da parada, o inglês chegou a andar fora da zona de pontuação, tendo que se conformar com uma oitava posição, perdendo a liderança do campeonato. Já Button foi ainda pior. O inglês conseguiu se recuperar da má largada e chegou a ocupar a quinta posição, quando foi ultrapassado por Rosberg nos boxes no terceiro round de paradas. Porém, quando atacava Di Resta, o inglês acabou tendo um pneu furado e teve que abandonar e não é surpresa a McLaren ter perdido a liderança do Mundial de Construtores para a Red Bull. Outra equipe que começou muito forte e caiu demais foi a Sauber, que prometia brigar por um pódio, de repente,e agora se conforma  com pontos, algo que não conseguiu, mesmo Pérez tendo chegado colado em Schumacher. Kobayashi largou muito mal mais uma vez e numa estratégia diferente, acabou se dando mal. O japonês, chamado de mito por muitos, está passando da hora de honrar o apelido. A Toro Rosso tinha uma boa expectativa com o sexto lugar de Daniel Ricciardo no grid, mas o australiano largou pessimamente, perdeu dez posições e ficou no seu pelotão da mediocridade, chegando até mesmo atrás de Vergne, seu companheiro de equipe que largou várias posições atrás dele. O sonho da Caterham de um bom resultado acabou logo na primeira volta quando Kovalainen teve o pneu furado após um toque com Maldonado e o finlandês, bem mais rápido do que Petrov, teve que fazer uma corrida de recuperação. Porém, vale destacar que os carros verdes de Tony Fernandez já tem uma volta de vantagem para Marussia e HRT, mostrando o quão está a frente das duas equipes piores da F1.

Se muita gente não assistiu ou não escreverá sobre o Grande Prêmio do Bahrein, aqui estou falando da prova, que acabou sendo bem interessante. Até o momento, não houve nada de diferente do que houve em outros dias no conturbado dia-a-dia do Bahrein. A prova deveria ser realizada em meio a tanta confusão? Não. Mas a F1 já correu na África do Sul do Apartheid, nas ditaduras do Brasil e da Argentina, fora que semana passada correu na China, país recorde em violações dos direitos humanos e ano que vem poderemos ter duas corridas nos Estados Unidos e Guantánamo. E nem por isso as pessoas deixaram de assistir essas corridas ou cobri-las. Por isso, para mim, a corrida no Bahrein foi como outra qualquer. Um fato interessante é que o pódio do Bahrein foi totalmente diferente da China e se semana passada os três primeiros utilizavam motores Mercedes, desta vez todo mundo tinha o emblema da Renault no seu macacão, mostrando o equilíbrio deste campeonato, que deverá ser um dos melhores dos últimos tempos.     

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