Até para se assinar o contrato de fusão, houve demora e apreensão, mas nesta sexta-feira foi confirmado o fim da briga entre o dono do autódromo de Indianápolis e da IRL, Tony George, e os chefes de equipe que ainda permaneciam na moribunda Champ Car, antiga CART. Foram longos doze anos em que o maior prejudicado foi o automobilismo mundial, não apenas o americano, e com esse acordo assinado no final da tarde de ontem, um erro seja reparado.
A ruptura entre Cart e IRL no final de 1995 foi motivada unicamente pela sede de poder de Tony George, que se mostrou ao longo de todo esse tempo um grande empresário, capaz de transformar uma categoria que tinha apenas pilotos semi-aposentados ou ruins mesmo no começo de sua história, em uma categoria forte e com as melhores equipes de monopostos da América do Norte. A Cart se perdeu pela sua soberba no início do problema, pensando que o fato de perder Indianápolis não influenciaria o grande sucesso que gozava na metade da década de 90.
Porém, George usou como nunca o trunfo que tinha (as 500 Milhas de Indianápolis) e costurou várias promoções com a Nascar, que já se aproveitava da separação para conseguir mais popularidade e, principalmente, investimento. Enquanto a IRL crescia a olhos vistos, a Cart ia se perdendo com uma administração confusa e aos poucos foram perdendo pilotos e, mais assustador, equipes. Se no começo da sepação a Cart estava por cima, o ponto da virada se deu em 2001, quando a equipe Penske se mudou da Cart para a liga rival. O sucesso da equipe de Roger Penske inspirou Chip Ganassi, Bobby Rahal e Barry Green (esse em associação com Michael Andretti) a fazeram o mesmo no ano seguinte. A Cart entrou em falência em 2003 e por muito pouco não acabou, mas alguns chefes de equipe conseguiram formar uma nova liga, a Champ Car, e continuaram com o seu campeonato. A equipe Newman-Hass, personificada no ator Paul Newman, foi o principal pilar da nova fase da categoria, se transformando na melhor equipe do campeonato e dando quatro títulos seguidos para o bom piloto francês Sebastien Bourdais.
Por outro lado, a IRL podia ter as melhores equipe e pilotos, mas pecava na questão "comparecimento de público" e até mesmo Indianápolis perdia público. A antes aliada Nascar se tornou uma espécie de inimiga, tirando público, patrocinadores e pilotos da IRL. Foi nesse momento que a reconciliação começou a tomar forma. Mesmo após os primeiros anos da separação, haviam conversas sobre uma reunificação, mas somente há dois anos que as conversas realmente começaram para valer.
A Champ Car passava por uma crise técnica grave, com apenas duas equipes realmente fortes (Newman-Hass e Forsythe) e pilotos muito fracos em sua maioria. Já a IRL ganhava a fama de ser uma categoria perigosa e seu grid ficava cada dia mais magro. Para dizer a verdade, o sopro de esperança da categoria se chama Danica Patrick. Se não fosse a moça (muito bonita, mas muita fraquinha ao volante), a categoria não teria ganho muito destaque nos últimos anos dentro dos Estados Unidos. Em 2007, não resta dúvidas que foi o pior ano para as categorias de monopostos americanas. A Champ Car perdeu Sebastien Bourdais para a F1 e com isso perdia seu ponto de referência. Já a IRL perdeu, de uma tacada só, os dois últimos campeões não apenas do campeonato, como também das 500 Milhas de Indianápolis (Sam Hornish Jr e Dario Franchitti) para a Nascar. O ano de 2008 prometia ser nebuloso para as duas categorias...
Mas a reunificação não significará o retorno imediato aos bons tempos de antes da separação. Com certeza haverá um período de transição em que a categoria ficará mais espelhada no campeonato da IRL. Pelas primeiras informações, a IRL contará com todas as suas corridas já programadas, com a adição da tradicional prova de Long Beach, e as lucrativas etapas de Edmonton e Cidade do México. Há uma possibilidade de uma corrida extra em Surfers Paradise, outra etapa muito popular da Champ Car. Por enquanto, as provas serão em sua maioria em ovais, mas circuitos mistos tradicionais como Laguna Seca, Elkhart Lake, Portland e Cleveland (essa uma pista num aeroporto) voltem em 2009. Já pelo lado das equipes, Penske, Chip Ganassi, Andretti-Green e Rahal-Letterman receberão as antigas rivais Newman-Hass, Forsythe e Walker. Mesmo que nem todas as equipes da Champ Car se mudem para a IRL, é bem provável que o grid da nova Indycar se aproxime dos 30 carros já na primeira corrida do novo certame, em março.
Essa mudança deverá trazer lucros até mesmo para a F1. Um dos fatores que a F1 não engrena nos Estados Unidos é a falta de uma grande piloto americano em suas fileiras. Mas não basta ser só americano, e sim um ídolo americano que tenha feito bastante sucesso em uma categoria americana. Se Dale Earnhardt Jr, por exemplo, se transferisse para a F1, os Estados Unidos em peso passaria a acompanhar a categoria. Mas como um chefe de equipe de Fórmula 1 chamaria um piloto americano, por mais carismático que seja, para dirigir um dos seus carros se o piloto em questão só faz curva para a esquerda? Ou então anda numa categoria só com pistas mistas, mas com pilotos fracos? A reunificação poderá trazer um grande piloto americano de volta à Indianápolis e até chamar a atenção da F1. Porém, o que queremos nesse momento é a velha F-Indy de volta, com Tony Kanaan disputando freadas com Paul Tracy, Helio Castroneves batendo rodas com Justin Wilson, Marco Andretti brigando com Graham Rahal e mais de quarenta carros disputando uma vaga nas 500 Milhas de Indianápolis.
Um comentário:
Já não era sem tempo! Mas deixa ver quais são as contrapartidas...
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