Poucos pilotos foram tão carismáticos e vencedores no Mundial de Rally como Colin McRae. Escocês de estilo extremamente agressivo, foi um dos grandes nomes da década de 90, disputando vitórias com nomes como Tommi Mäkkinen, Carlos Sainz e Richard Burns. Mesmo tendo apenas um título mundial no currículo, McRae colocou seu nome como um dos maiores vencedores da história do WRC, além de ter popularizado a categoria com um jogo de video-game que entrou para a história. Quando se aproximava de uma aposentadoria tranqüila, McRae encontrou a morte bem longe do volante de um carro de rally. Se estivesse vivo, Colin estaria completando 40 anos nessa semana e por isso iremos conhecer um pouco mais da carreira deste grande piloto que marcou uma era.
Colin Steele McRae nasceu no dia 5 de agosto de 1968 na cidade escocesa de Lanark. Desde cedo o pequeno Colin conviveu de perto com os rallys, já que seu pai, Jimmy McRae, foi pentacampeão inglês de rally e disputou algumas etapas do Mundial. Como não podia deixar de ser, Colin começou a ter contato com as corridas muito jovem, mas andando em motos. Quando tinha 16 anos, McRae fez um rápido teste em carro de rally por um pequeno clube escocês e percebeu que tinha talento, igual ao seu pai. Colin vendeu sua moto de corrida para comprar um Mini Cooper e começar a competir de verdade. Apenas um ano depois McRae participou do seu primeiro rally e após andar no pelotão da frente boa parte do tempo, teve um problema no seu carro e acabou em décimo quarto, mas na liderança em sua categoria. Em 1986, com um Sunbeam Talbot, McRae estreou no Campeonato Escocês de Rally, onde logo de cara mostrou seu estilo agressivo de pilotar, sendo comparado ao Campeão Mundial de Rally, Ari Vatanen, que era o ídolo de McRae no começo da carreira do escocês.
O primeiro evento de Colin no Mundial Rally ocorreu no Rally da Suécia de 1987 à bordo de um Vauxhall Nova, acabando em trigésimo sexto. Dois anos depois ele voltou ao WRC, e terminou em décimo quarto lugar, mas agora com um Ford Sierra XR 4x4. McRae evoluía cada vez mais como piloto e não demorou para conquistar seu primeiro grande resultado no WRC. Agora com um Ford Sierra RS Cosworth de uma equipe particular, McRae marcou seus primeiros pontos na carreira ao chegar em quinto lugar no Rally da Nova Zelândia. A essa altura McRae já era conhecido por ser uma grande promessa e isso chamou a atenção do ex-navegador de rally David Richards, que tinha montado uma oficina de preparação chamada Prodrive. Richards tinha uma forte ligação com a marca japonesa Subaru, que começava a investir nos Rallys, e no final de 1990 contratou Colin McRae. Inicialmente, McRae participaria ativamente do forte Campeonato Britânico de Rally e de algumas provas do Mundial pela equipe oficial.
Mostrando o seu talento, McRae foi bicampeão inglês de rally em 1991 e 1992 e conquistou resultados de relevo no Mundial, como o segundo lugar no Rally da Suécia de 1992. Percebendo que McRae já estava pronto para encarar as grandes feras do WRC, Richards promoveu a estréia de McRae na equipe oficial da Subaru em 1993. Colin teria a companhia de duas lendas finlandesas como companheiros de equipe: Hannu Mikkola e Markku Alén. Mesmo sendo o piloto júnior da equipe, McRae logo superou seus mais experientes companheiros de equipe e conseguiu a sua primeira vitória no WRC no Rally da Nova Zelândia, dando a Subaru sua primeira vitória na geral. Na ocasião, a Subaru usava o modelo Legacy, mas ainda em 1993 trocou de carro e passou a utilizar o Impreza. Juntamente com o patrocínio da 555, o Subaru Impreza azul com os enormes números em amarelo da 555 entrou para a história. Principalmente nas mãos de Colin McRae.
Com a saída de Mikkola e Alén da Subaru no final de 1993, McRae ganhou a companhia de dois pilotos que seriam grandes rivais num futuro muito próximo: Carlos Sainz e Richard Burns. Bicampeão mundial, Sainz se aproveitou da pouca experiência de McRae para tomar as rédeas da equipe e lutou com os pilotos da Toyota, Didier Auriol e Juha Kankkunen, pelo título. Sofrendo muitos acidentes, McRae esteve longe de brigar mais seriamente pelo campeonato, mas sua velocidade estava presente e o escocês venceu duas etapas em 1994 (Nova Zelândia e Austrália), terminando o campeonato em quarto. A Subaru crescia a olhos vistos e com o avanço de McRae, a equipe era favorita para 1995. McRae começou o ano devagar, enquanto Sainz conquistava duas vitórias (Mônaco e Portugal) e se credenciava para brigar pelo título. A Toyota não estava tão forte como no ano anterior e Auriol não pôde defender seu título, enquanto Kankkunen defendia as cores da marca. Após conquistar um terceiro lugar em Portugal, McRae consegue uma incrível seqüência de ótimos resultados, com quatro pódios seguidos, inclusive a terceira vitória consecutiva na Nova Zelândia.
O campeonato de 1995 seria decidido dentro do seio da Subaru, já que a Toyota fora desclassificada por ter usado um turbo irregular. Quando o WRC chegou a última etapa do ano, na Inglaterra, Sainz e McRae estavam empatados em pontos (70x70), mas o espanhol tinha mais vitórias. Num rally que entrou para a história, McRae e Sainz passaram os três dias que compunham a etapa brigando pela liderança, mas no final McRae pôde conquistar o título por apenas 36s de vantagem sobre Sainz. Era o primeiro título de um britânico no Mundial e com 27 anos, Colin se tornava o piloto mais jovem a vencer o WRC na história. Imediatamente, Colin McRae se tornou uma estrela na Grã-Bretanha, o que lhe garantiu o título de Membro do Império Britânico em 1996. No final de 1995, McRae se mudou, juntamente com sua esposa Alison, para Monte Carlo, se juntando ao grande amigo David Coulthard. No mesmo ano em que Colin venceu o Mundial, seu irmão mais novo, Alister, se tornou Campeão Inglês de Rally, mas em nenhum momento Alister mostrou o mesmo talento do irmão mais velho.
Colin permaneceu na Subaru e era o grande favorito ao título em 1996. Porém, uma ameaça vindo da Finlândia começou o ano de forma arrasadora. Tommi Mäkkinen ainda não tinha mostrado todo o seu talento e desenvolvia o modelo Lancer para a Mitsubishi. Apenas com uma vitória em 1994, Mäkkinen ainda não disputado um título mundial, mas o finlandês começa 1996 com duas vitórias seguidas, enquanto McRae começava o ano novamente devagar. Agora com o sueco Kenneth Eriksson como companheiro de equipe, McRae esperava repetir o que tinha acontecido na temporada anterior, quando fez uma segunda metade de campeonato espetacular. E isso estava para acontecer quando Colin venceu o Rally de Acrópolis, mas Mäkkinen três vitórias seguidas para conquistar o seu primeiro título mundial. McRae ainda venceria as duas últimas etapas do ano (San Remo e Espanha) para garantir o vice-campeonato, mas o escocês agora teria um grande adversário pela frente. McRae ainda teria que enfrentar a aposentadoria do seu velho navegador Derek Ringer no final de 1996. O competente Nicky Grist, antigo navegador de Juha Kankkunen, passou a sentar-se ao lado de McRae até o final da carreira de ambos.
Assim como aconteceu em 1996, Mäkkinen dominou o campeonato a seu bel-prazer, vencendo quatro provas, mas McRae conseguiu uma grande reação no final da temporada com duas vitórias seguidas e ainda tinha chances de tirar o título de Mäkkinen. Com dez pontos de desvantagem, McRae precisava vencer o Rally da Grã-Bretanha e Mäkkinen não pontuar. Colin fez sua parte, mas Mäkkinen chegou em sexto, fazendo o suficiente para conquistar o bicampeonato por apenas um ponto de vantagem. Até aquele momento McRae e Mäkkinen polarizavam as atenções no WRC, mas 1998 viu o crescimento da Ford de Carlos Sainz e foi o espanhol que mais ameaçou o título de Mäkkinen. Mesmo com três vitórias, McRae ficou de fora da disputa na dramática última etapa daquele ano. No País de Gales, Mäkkinen liderava por apenas dois pontos sobre Sainz. O finlandês sofreu um acidente e Sainz estava num tranqüilo segundo lugar, que lhe garantia o título com folga, quando o seu motor quebrou a poucos metros da linha de chegada. O desespero de Sainz e seu navegador Luis Moya entrou para a história do WRC, num história ainda mais cruel do que Felipe Massa na Hungria esse ano. Mäkkinen conquistava o seu terceiro título e outro grande rival de McRae experimentava o gostinho da vitória pela primeira vez: Richard Burns.
McRae desfrutava de grande popularidade e mesmo com dois vices e um terceiro lugar no Mundial, era o piloto mais popular do WRC. Seus resultados garantiram o tricampeonato da Subaru no Mundial de Construtores, mas o escocês queria mais. Vendo o crescimento da Ford, McRae assinou um contrato milionário com a marca americana e partiu para o desenvolvimento do novo carro da Ford, o Focus WRC. Outro fato que marcou 1998 foi o lançamento do jogo de computadores Colin McRae Rally, sendo o segundo jogo lançado em 2000 disponivel para a Playstation e PC. Esse jogo se tornou extremamente popular e ajudou a popularizar tanto o WRC como também McRae. No final de 1998, McRae venceu Corrida dos Campeões, nas Ilhas Canárias, um evento do qual sempre participou com muito sucesso.
O contrato com a Ford seria para um desenvolvimento a longo prazo e McRae sabia que teria que desenvolver o modelo Focus, mas o talento de McRae fez com que o carro conseguisse vitórias logo na sua segunda participação, no Rally do Safari. Com outra vitória em Portugal, McRae estava a ponto de fazer um milagre, mas uma série de problemas de confiabilidade com o novo carro marcou o resto da temporada, resultando apenas no sexto lugar na classificação geral do campeonato. Colin passou inacreditáveis oito provas sem pontuar! Essa série só seria quebrada no Rally da Suécia do ano 2000, prova essa que foi ganha por um finlandês alto e desengonçado, que provava o gosto da vitória pela primeira vez a bordo do seu Peugeot: Marcus Grönholm.
Como já provava ser uma característica sua, McRae começou a sua temporada 2000 apenas na segunda metade do ano, com uma série de quatro pódios em cinco etapas, incluindo duas vitórias na Espanha e na Grécia. A luta pelo título era emocionante e tinha McRae, Burns, Sainz, Mäkkinen e o surpreendente Grönholm. Contudo, após esses resultados McRae perdeu o ritmo e chegou a última etapa na Grã-Bretanha sem chances de título. Com o Focus ainda mais desenvolvido, McRae inicia o ano de 2001 como um dos favoritos ao título. Mas o escocês tinha vários concorrentes. É difícil encontrar uma época tão rica como o início deste século no Mundial de Rally, com várias equipes de fábrica investindo pesado e grandes pilotos se degladiando etapa por etapa, especial por especial.
McRae continuava na Ford e teria novamente Carlos Sainz como companheiro de equipe, além do especialista no asfalto Didier Delecour. A campeã Peugeot tinha um verdadeiro esquadrão, inclusive com pilotos especialistas em determinados terrenos, mas Marcus Grönholm era o piloto da equipe a ser batido, apesar de ter Didier Auriol como companheiro de equipe. A Mitsubishi tinha Tommi Makkinen como principal piloto e Freddy Loix como segundo piloto. A Subaru vinha muito forte pela primeira vez em anos e tinha como principal piloto Richard Burns, cada vez mais experiente e em forma, além do novato Petter Solberg como segundo piloto e o aprendiz Markko Martin. A Citröen participava de algumas etapas como preparação para 2002 e teria Philippe Bugalski e Jesus Púras como pilotos cobaias. Um jovem francês participaria durante o ano da sua primeira etapa do WRC: Sebastian Loeb.
A primeira etapa teve uma histórica disputa entre McRae e Mäkkinen, com o escocês ficando pelo caminho quando liderava. Tendo um acesso de raiva, Colin foi pego pelas câmeras chutando o seu Focus. Por sinal, o início de 2001 foi de problemas para McRae, mas três vitórias seguidas na Nova Zelândia, Austrália e Argentina colocaram McRae novamente na luta pelo título, juntamente com Mäkkinen e Burns. McRae chegou a última etapa de 2001 na ponta do campeonato, mas tinha apenas um ponto de vantagem sobre Mäkkinen e dois sobre Burns. Sainz ainda tinha chances matemáticas. McRae assumiu o segundo posto no início do rally, ficando atrás de Grönholm. Mäkkinen sofria com os problemas do seu Mitsubishi e Sainz sofria um acidente. Burns ficava logo atrás de McRae, mas ainda longe do escocês. Então, McRae erra sozinho, capota o seu Focus e acaba com o sonho de ser bicampeão. Burns se aproveita e com um terceiro lugar conquista o que seria o seu único título. Apenas dois pontos à frente de McRae!
Essa foi a última vez que McRae disputou o título do Mundial de forma mais enfática. Em 2002 a Peugeot dominou com Grönholm e Burns, mas Colin não teve um ano totalmente perdido. Após a vitória no Rali Safari, McRae se tornou o piloto com mais vitórias no Campeonato Mundial de Rally. Seu recorde foi então quebrado por Carlos Sainz em 2004. Ainda nesse ano McRae fez uma corrida pela Ascar no oval de Rockimgham, terminando em sexto. McRae foi apenas quarto no Mundial e sentia que seu ciclo na Ford estava acabando e que uma nova era estava se iniciando. As equipes francesas estavam vindo contudo, principalmente a Citröen. A marca francesa usava o mesmo motor da campeã Peugeot e procurava pilotos de ponta para se emparelhar com a Peugeot. McRae se mudou para a Citröen juntamente com Carlos Sainz e eles se juntariam a promessa Sebastien Loeb, que até aquele momento só se caracterizava pela performance no asfalto. O início com a Citröen foi muito bom, com McRae chegando em segundo no Rally de Monte Carlo, ficando entre Loeb e Sainz, num pódio totalmente da equipe francesa. Contudo, McRae fica para trás e é superado pelos seus companheiros de equipe. A FIA tinha definido que a partir de 2004 as equipes não poderiam mais marcas pontos com três pilotos no Mundial de Construtores e com Sebastien Loeb em segundo no campeonato e Carlos Sainz logo atrás, o chefe de equipe da Citröen, Guy Fequelin, demitiu McRae. Colin esperava assinar um contrato para voltar a Subaru em 2004, mas a equipe preferiu ficar com a promessa finlandesa Mikko Hirvonen. Sem equipe no WRC, Colin McRae ficou temporariamente desempregado e aproveitou para experimentar coisas novas.
Em janeiro de 2004, McRae fez sua estréia no Rally Dakar e impressionou a equipe ao vencer dois estágios e em 2005 ele voltou ao deserto, vencendo dois dos três primeiros estágios, antes de abandonar o rally ao final do sexto estágio. McRae voltou a correr pela Prodrive em 2004 quando participou das 24 Horas de Le Mans com uma Ferrari 550 Maranello-GTS ao lado de Darren Turner e Rickard Rydell. Ele terminou em nono no geral. McRae ainda estava de olho no WRC e aceitou de bom grado o convite da Skoda para voltar ao WRC no Rally da Austrália e Grã-Bretanha de 2005 e após conseguir um sétimo lugar na Oceania, o escocês quebrou a embreagem na última especial no País de Gales, quando estava num ótimo terceiro lugar e poderia dar a Skoda o primeiro pódio desde o Rally Safari de 2001. Os mecânicos da equipe tcheca ficaram inconsoláveis. Em 2006, McRae participou do X-Games com um Subaru de Rally, lembrando os tempos áureos em que vencia pela marca japonesa. Quando não parecia mais disposto a andar no WRC, McRae foi convidado pela Kronos Citröen para substituir o contundido Sebastien Loeb no Rally da Turquia de 2006. Esse seria seu último rally, ao lado do co-piloto Nicky Grist, e McRae abandonou com um problema no alternador.
Após alguns anos morando em Mônaco, McRae se mudou de volta à Escócia, juntamente com a esposa e seus dois filhos (Holie e Johnny). Em 2007, McRae estava parado e esperando uma oportunidade de voltar aos rallys. Mesmo com 39 anos, Colin sentia que estava competitivo o suficiente para voltar a correr. No final da tarde do dia 15 de setembro, McRae voava no seu helicóptero de volta para casa, juntamente com seu filho Johnny e dois amigos da família, Graeme Duncan e o amigo de seis anos de Johnny, Ben Porcelli. Quando se aproximava do ponto de aterrissagem, o aparelho sofreu um quebra mecânica e Colin não pôde fazer nada. Ele, seu filho Johnny e os demais ocupantes do helicóptero morreram na hora. Toda a comunidade do automobilismo mundial ficou chocada com a morte do escocês. Foram feitas diversas homenagens por parte de variadas pessoas, incluindo David Coulthard, Andy Priaulx, Tommi Makkinen e Valentino Rossi. McRae era um astro do esporte e mesmo com apenas um título na carreira, conquistou 24 vitóriasem 146 provas e está entre os maiores vencedores da história do Mundial de Rally. Seu estilo agressivo nunca será esquecido!
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