domingo, 31 de agosto de 2008

História: 10 anos do Grande Prêmio da Bélgica de 1998


O ano de 1998 era o típico confronto entre a máquina e o homem. A máquina em questão era a McLaren, que tinha o melhor carro disparado do ano nas mãos de Mika Hakkinen. O homem era Michael Schumacher, que tirava a diferença de sua Ferrari com sua extraordinária habilidade atrás do volante. Cinco anos após a saída de Senna, a McLaren finalmente voltava a disputar um título, mas isso parece ter trazido um enferrujamento da estratégia da equipe prateada, pois mesmo tendo o melhor carro, a equipe ainda perdia para o talento de Schumacher, como na corrida anterior na Hungria, onde o alemão da Ferrari conseguiu levar sua Ferrari a uma incrível vitória.

Mesmo estando em território Schumacher, a McLaren dominou amplamente em Spa Francorchamps, com Hakkinen tendo que se virar para tirar a pole do seu companheiro de equipe David Coulthard, já nos minutos finais da Classificação. Para melhorar as coisas para a equipe prateada, o terceiro colocado, com mais de 1s de atraso, não era Schumacher. A Jordan vinha fazendo uma temporada sofrível, mas demonstrava sinais de recuperação com Ralf Schumacher. Damon Hill fazia uma temporada bastante discreta, mas em Spa teve o prazer de superar seu antigo e ferrenho rival na Classificação, colocando sua Jordan em terceiro.

Grid:
1) Hakkinen (McLaren) - 1:48.682
2) Coulthard (McLaren) - 1:48.845
3) Hill (Jordan) - 1:49.728
4) M.Schumacher (Ferrari) - 1:50.027
5) Irvine (Ferrari) - 1:50.189
6) Villeneuve (Williams) - 1:50.204
7) Fisichella (Benetton) - 1:50.462
8) R.Schumacher (Jordan) - 1:50.501
9) Frentzen (Williams) - 1:50.686
10) Alesi (Sauber) - 1:51.189

A previsão de tempo para o dia 30 de agosto de 1998 em Spa era de sol e calor. Porém, a meteorologia na região da floresta das Ardennes falhava bastante e uma chuva torrencial se abateu naquele dia. Michael Schumacher tinha vencido a corrida em Spa no ano anterior debaixo de chuva e mostrou seu talento debaixo d'água sendo o mais rápido no warm-up (lembram dele?). Houve um pedido de alguns pilotos para que a largada fosse dada atrás do safety-car, mas como a chuva tinha diminuído minutos antes da largada, resolveu-se iniciar a prova normalmente. Foi o prenúncio de um dos maiores acidentes da história da F1!

Quando as luzes apagaram, Hakkinen fez uma boa largada, mas Coulthard não o fez. Villeneuve fez a melhor largada e estava brigando com Hakkinen pela liderança na La Source. Hill também sofreu muito com seu carro patinando e estava em 7º largando de 3º. Michael Schumacher fez uma boa largada e estava logo atrás de Villeneuve e Hakkinen, mas quando os líderes saíram da La Source, logo atrás deles as coisas não estavam parecendo muito boas. O forte spray impedia a visão dos demais e o que aconteceu entrou para a história. Aparentemente Irvine tocou em Coulthard, que rodou, bateu no muro à direita, atravessou a pista para bater novamente no outro lado. Foi o início do caos!

Com vários carros freando à frente numa cortina de spray, os que vinham atrás não tinham o que fazer e foi o início de uma longa cadeia de fortes acidentes que envolveu um total de quinze carros, na maior carambola desde a primeira volta do Grande Prêmio da Inglaterra de 1973. Afora os milhões de dólares de prejuízo, os pilotos estavam bem. Apenas Barrichello, com o cotovelo machucado, e Irvine, com uma pancada no joelho, estavam levemente feridos. Na confusão, houve algumas histórias inusitadas. Ao sair do carro, Barrichello viu uma mancha vermelha no seu macacão branco. Quando percebeu que o "sangue" não era seu, procurou de quem era! Mas não passava de óleo que escapou de algum carro perdido. Ralf Schumacher, que estava bem no meio do pelotão, freou seu carro, colocou em ponto morto e viu vários carros baterem à sua frente, mas seu Jordan não sofreu um único dano. Muitas equipes perderam seus dois carros na confusão e tiveram que escolher quem iria utilizar o único carro reserva disponível. Com isso, sobraram na segunda largada Rosset, Panis e Salo, que sofreu três fortes pancadas e falou que se sentiu dentro de um enorme pesadelo.

Após uma hora de atraso, a segunda largada foi autorizada. Novamente com os carros parados e com pista molhada. Hill e ultrapassa as duas McLarens e contorna a La Source em primeiro. Hakkinen contorna a apertada curva ao lado da Ferrari de Schumacher e os dois se tocam, com o finlandês rodando na frente do pelotão. Os primeiros carros passaram... menos Herbert! O piloto da Sauber acertou a McLaren do finlandês e os dois abandonaram na hora, para desespero de Ron Dennis, que colocou as mãos na cabeça quando viu a cena. E poria novamente quando Coulthard se estranha com a Benetton de Wurz e saí da pista. O escocês não teria mais chances de vencer, mas seria protagonista momentos mais tarde.

Hill tinha feito o set-up seu carro com um acerto intermediário, esperando que a chuva não voltasse mais, mas não tardou e a chuva voltou com força. Após segurar Schumacher nas voltais iniciais, Hill seria ultrapassado na Bus Stop na volta 7. Imediatamente o piloto da Ferrari mostrou sua exuberância em pista molhada e aumentava a vantagem sobre Hill a uma taxa de 2s por volta. A maioria dos pilotos estavam com pneus intermediários nesse momento e tiveram que ir aos boxes colocar pneus para chuva forte. Villeneuve preferiu ficar mais uma volta na pista e sofreu um forte acidente, após aquaplanar. Fora o segundo acidente forte do canadense, que a essa altura já tinha anunciado que não ficaria mais na Williams.

Quando todos os carros completaram suas paradas, Hill estava num sanduíche de Schumacher, com Michael 22s à frente e Ralf 22s atrás. Ralf começava a se aproximar de Hill, enquanto Michael se aproximava de colocar uma volta em cima da McLaren de Coulthard. Mesmo com 30s de vantagem para o segundo colocado, Schumacher vinha andando muito forte e quase tinha se estranhado com Pedro Diniz quando colocava uma volta nele. E mesmo tendo uma McLaren na frente, Schumacher não queria perder tempo e ficou sinalizando com o punho para que Coulthard saísse da frente. Jean Todt foi falar com Ron Dennis sobre o problema e, segundo Coulthard, recebeu a ordem para ceder a passagem para o líder.

E condições tão ruins de visibilidade, uma ultrapassagem teria que ser muito cautelosa. Coulthard tirou o pé na parte mais veloz do circuito e não vendo nada atrás dele, enquanto Schumacher não aliviou tendo pouca visibilidade. O resultado foi um acidente bisonho, com o alemão jogando a corrida fora. Coulthard, sem a asa traseira, e Schumacher, sem uma roda dianteira, se arrastaram para os pits. Quando parou no box da Ferrari, Schumacher saiu do carro furioso e antes que os mecânicos fechassem a porta, saiu em direção aos boxes da McLaren. Um mecânico da Ferrari ainda tentou impedir a caminhada do alemão. Coulthard estava fora do carro e de capacete quando Schumacher chegou aos boxes acusando o escocês de ter tentando matá-lo! Jean Todt pegou Schumacher pelo braço e passaram por dentro dos boxes da Jordan, que com toda aquele confusão, nem perceberam que estavam na liderança!

Mas havia outro problema. Ralf Schumacher estava se aproximando rápido e Hill estava com o carro nitidamente desequilibrado. Eddie Jordan tinha ordenado que seus pilotos permanecem nessas posições, para comemorarem uma dobradinha, mas Ralf estava brigando com Jordan para sair da equipe no final do ano e se transferir para a Williams. E o carro de Hill estava claramente mais lento, com o inglês saindo da pista na Bus Stop. Quando parecia que poderia haveria uma briga dentro da equipe Jordan, outro acidente marcou aquele conturbado GP. Na freada da Bus Stop, Fisichella atingiu a traseira da Minardi de Nakano a alta velocidade e trouxe o safety-car a pista. Mesmo saindo mancando da sua Benetton, o italiano estava bem e Nakano ainda pôde continuar na prova.

O período em bandeira amarela parece ter esfriado a cabeça de Ralf Schumacher, que após a saída do safety-car apenas comboiou Hill e se defendeu, com enorme tranqüilidade, dos ataques da Sauber de Alesi. Enquanto o sol começava a se abater em Spa, Eddie Jordan vivia momentos de agonia. Após sete anos e 127 GPs, a Jordan estava prestes a vencer sua primeira prova. E com dobradinha! Quando Hill recebeu a bandeirada, toda a F1 parecia feliz com a vitória do velho roqueiro. E depois do seu título em 1996, ninguém mais esperava uma vitória de Damon Hill, mas o inglês de 37 anos se superou e conseguiu a sua vigésima segunda e última vitória na F1. "É um grande sentimento - todo mundo está tão contente. Eu nunca vi um grupo tão feliz e eles mereceram isto completamente".

Chegada:
1) Hill
2) R.Schumacher
3) Alesi
4) Frentzen
5) Diniz
6) Trulli

Um comentário:

Unknown disse...

E aew João Carlos, blz?

Tb sou de Fortaleza apaixonado por velocidade e pelo Ceará Sporting Club. Conheci seu blog e agora e vou me tornar mais um frenquentador.


To deixando aqui um vídeo fantástico da corrida do ponto de vista da equipe Jordan. Inclusive com algumas decisões tomadas pelos pilotos.

http://www.youtube.com/watch?v=6ZxkCvH4BkI