quinta-feira, 22 de outubro de 2009

História: 20 anos do Grande Prêmio do Japão de 1989


Em quase quarenta anos de F1, nunca a categoria chegou a uma decisão de campeonato tão tensa como a de 1989. Ayrton Senna e Alain Prost transformaram a briga interna da McLaren numa das mais terríveis disputas da história da F1, onde todo o automobilismo passou a olhar para as dezenas de metros quadrados do box da McLaren. Mesmo com todas as mudanças efetuadas pela FISA para a temporada de 1989, a McLaren continuou dominando a Fórmula 1 como havia feito no ano anterior, mas se Senna e Prost foram rivais até certo ponto amigáveis em 1988, em 1989 houve um verdadeira guerra civil dentro da casa comandada por Ron Dennis. O chefe de equipe inglês teve que administrar um clima extremamente hostil entre Senna e Prost, com ambos alimentando um ambiente pesado, cercado de intrigas e acusações de parte a parte. Toda a tensão de uma temporada brigada culminou no Grande Prêmio do Japão de 1989, sede da Honda, fornecedora da McLaren.

Mesmo derrotado por Senna em 1988, Prost resolveu usar a mesma estratégia de 1988 e foi bastante regular durante o ano, conseguindo vários pódios, enquanto Senna seguia o lema do 'win or wall'. Em certo momento do campeonato, Senna e Prost ficaram empatados com 27 pontos, mas com o brasileiro tendo três vitórias e o francês apenas uma. Desde a confusão em Ímola, os dois protagonistas deixaram de se falar, mas cada entrevista dos pilotos da McLaren era cercada de cutucões e acusações veladas ao adversário. Mesmo com quatro vitórias, Prost tinha uma boa diferença de 16 pontos com relação a Senna, que contava seis triunfos. Porém, o sistema de descartes ainda dava esperanças ao brasileiro, mesmo que Ayrton ainda tivesse a difícil missão de obter duas vitórias nas duas provas restantes, enquanto Prost, que não podia mais descartar pontos, tinha que evitar uma vitória de Senna. Da forma que fosse!

Durante os treinos, Prost anuncia que ganharia o campeonato no Japão e por isso mudaria sua atitude, sendo mais agressivo, principalmente com Senna. O francês já havia deixado a porta aberta para Senna algumas vezes e o recado estava dado. Prost fecharia a porta de Senna, não importasse em qual situação. Como de costume, Senna consegue uma volta voadora incrível nos treinos, colocando impressionantes 1.7s em cima de Prost, o segundo colocado no grid. Ambos sairiam na primeira fila para a largada mais importante da carreira deles!

Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:38.041
2) Prost (McLaren) - 1:39.771
3) Berger (Ferrari) - 1:40.187
4) Mansell (Ferrari) - 1:40.406
5) Patrese (Williams) - 1:40.936
6) Nannini (Benetton) - 1:41.103
7) Boutsen (Williams) - 1:41.324
8) Alliot (Lola) - 1:41.336
9) Modena (Brabham) - 1:41.458
10) Larini (Osella) - 1:41.519

O dia 22 de outubro de 1989 estava nublado no Japão, num clima muito parecido com o do ano anterior, onde Senna havia conquistado a vitória e o título de 1988, mas a diferença era que a chuva, tão favorável a Senna e que tinha o ajudado no ano anterior, não daria as caras naquele ano. Já era um ponto a favor de Prost, que não se impressionou muito com a diferença brutal que o separou de Senna no grid. O francês já havia levado surras semelhantes ao longo do ano e Alain era o rei da pressão psicológica, portanto, isso não seria um fator desabonador a Prost. Senna era conhecido por ser um exímio largador, mas Suzuka parecia não concordar muito com essa afirmação e o brasileiro, como havia acontecido em 1988, larga mal e Prost assume a liderança da corrida. Porém, Ayrton não perde mais nenhuma posição e permanece em segundo, logo atrás do seu companheiro de equipe.

Ao final da primeira volta, haja o que houvesse do terceiro lugar para trás, os demais 24 pilotos eram personagens menores naquele dia no Japão. As estrelas do dia Prost e Senna abriam uma enorme diferença para os demais, mas o francês começava a se distanciar do seu rival. A cena mais comum de ver Senna abrindo com relação a Prost era vista exatamente ao contrário naquele início de corrida, com Prost abrindo diferença frente a um impotente Senna, que parecia não ter muito o que fazer. Os carros estavam bastante iguais, com a diferença entre as duas McLarens ficando apenas por conta do acerto de cada um. Prost acertara seu carro para ser muito rápido nas retas, com seu carro sendo um dos mais rápidos no speed trap, enquanto Senna prefere um acerto que o ajude nas curvas rápidas do circuito japonês. Na curva 130R, a última antes da chicane, Prost contornava em sexta marcha e tinha que enfileirar as marchas até a segunda na freada, enquanto Senna contornava a rápida curva de quinta marcha, com o motor se aguelando, mas tendo menos trabalho na freada. Era uma briga nos detalhes!

Prost mostra o quanto estava agressivo no trato com os retardatários, deixando-os para trás quando normalmente ele perdia tempo, algo que Senna conseguia tirar uma vantagem significativa. Quando o francês faz sua única visita aos boxes na volta 21, ele quase atinge a Ligier de Olivier Grouillard e sai escorregando dos boxes. Senna faz a mesma manobra duas voltas depois, devolvendo a liderança de 5s para Prost, mas havia uma mudança significativa. Aquele set de pneus da McLaren de número 1 parecia ser mais de acordo com o brasileiro e Senna passou a tirar a diferença para Prost. Alain permanecia com um ritmo forte, mas a aproximação de Senna era inexorável e a disputa que definiria aquela campeonato se aproximava a cada metro. O clima carrancudo no circuito de Suzuka contribuía para que a enorme tensão ficasse ainda mais aparente no circuito. Todos esperavam pela disputa entre Senna e Prost. Se a agressividade de Senna era conhecida, havia a curiosidade de como se comportaria um 'agressivo' Prost.

Na volta 40, com menos de treze para o final, a diferença entre os líderes era inferior a 1s e todos no circuito e quem via a prova na televisão estavam com a respiração ofegante. Graças ao seu acerto, Prost resistia na primeira posição sem muito esforço, enquanto Senna parecia sem muitas condições de ataque. Então, na volta 46, um dos lances mais polêmicos da história do automobilismo mundial acontece. Saindo da curva 130R, Senna tenta um ataque desesperado e freia tarde para a chicane, surpreendendo Prost, que deixa a porta aberta. Por enquanto. O francês, como mostrava a sua câmera on-board e as imagens de helicóptero, joga sua McLaren em cima de Senna, fazendo que ambos, com as rodas enroscadas, fossem para a área de escape da chicane de Suzuka. Imediatamente Prost sai do seu carro, enquanto Senna gesticulava em direção ao francês. Sem tempo a perder, Ayrton pede para que seu carro seja empurrado, enquanto Prost já tirava seu capacete. Aqui vale um detalhe. Nunca foi permitido que um carro fosse empurrado para que o motor funcionasse e o piloto voltasse a corrida. Se Senna e os fiscais de pista sabiam disso ou não, o fato foi que uma multidão de japoneses (provavelmente ídolos de Senna, quase que um semi-Deus no Japão) empurrou a McLaren do brasileiro e Senna cortou a chicane e partiu novamente para a corrida.

Faltavam sete voltas e mesmo com o agora segundo colocado Alessandro Nannini quase um minuto atrás, a asa dianteira da McLaren estava claramente avariada e durante a volta 46 o aerofólio se soltou, fazendo com que Senna diminuísse o ritmo e fosse lentamente aos boxes. A McLaren fez uma troca rápida e o brasileiro voltou a pista que nem um louco, virando mais de 3s mais rápido que Nannini. Faltando três voltas para o fim, Senna alcançou Nannini na mesma curva do incidente com Prost e meteu o bico por dentro. O italiano da Benetton fritou seus pneus, mas deixou a porta aberta para que Senna assumisse a liderança e recebesse a bandeirada em primeiro. Contudo, a irregularidade de Senna tinha sido clara, como diz o comentarista global e Galvão Bueno nem pôde berrar muito quando Senna cruzou a linha de chegada de uma das corridas mais emocionantes de sua carreira. O narrador sabia que uma punição poderia acontecer e as câmeras logo procuraram Ron Dennis, que parecia preocupado, conversando pelo rápido.

A demora no pódio era o claro sinal do que estava para acontecer. Quando Nannini, Patrese e Boutsen aparaceram para receber seus prêmios, o campeonato de 1989 estava definido. Senna havia sido desclassificado por ter recebido ajuda externa (justamente) e por ter cortado caminho (história para lá de mal contada) e Prost era agora o sexto tricampeão mundial de F1 da história. Senna ficou arrasado e a McLaren apelou da decisão, já que seu piloto em 1990 não seria Prost, mas Jean-Marie Balestre, grande amigo de Prost, já tinha se metido na contenda e aumenta a punição a Senna, chegando a suspender a superlicensa do brasileiro por seis meses. O brasileiro teve que fazer um pedido de desculpas formal e a decisão acabou ali. Pelo menos por enquanto... Totalmente sem jeito, Prost comemorava seu título e ainda teve fôlego para atacar Senna. "Estava impossível trabalhar com Ayrton. O problema não é a forma como ele corre, já que ele é incrivelmente rápido, mas ele simplesmente não aceita perder. Se houvesse dois pilotos como ele, toda corrida haveria um acidente. Eu tinha dito que não iria abrir a porta e por isso sabia que o campeonato terminaria assim." Essa batalha épica em Suzuka apenas reforçou o mito de Ayrton Senna e Alain Prost, pois ambos fizeram uma corrida que emocionou a todos os fãs e que ninguém esquecerá jamais.

Chegada:
1) Nannini
2) Patrese
3) Boutsen
4) Piquet
5) Brundle
6) Warwick

2 comentários:

Raphael disse...

O Senna realmente era muito Win or Wall(vitória ou muro) nos anos 80, quase como um máquina, mas não tem essa fama, várias corridas dele de Lotus eram nessa filosofia mesmo, basta ver GP Austrália de Lotus, vencida pelo Keke Rosberg.

Ele virou alguém mais afável com técnica mais consciente justamente nos anos 90, talvez por causa desse episódio Prost-Senna-Balestre...

Anônimo disse...

Queriam desclassificar Senna de toda a maneira. Foi uma grande corrida com os dois grandes pilotos (Senna e Prost).