Parecia um sonho se tornando realidade para os tifosi. Um piloto italiano vencendo com a Ferrari. Michele Alboreto tinha toda a torcida da Ferrari lhe empurrando rumo a um título não visto há mais de trinta anos, quando Alberto Ascari levou a Ferrari ao seu primeiro título na história da F1. Uma vidente italiana chegou a anunciar que Alboreto venceria o Mundial de 1985 e parecia que toda a Itália iria para o santuário de Monza, não se importando com a má fase ferrarista nas últimas corridas, a ponto de Alboreto ter perdido a liderança do campeonato para Alain Prost, seu principal rival na luta pelo título. Diante da fanática torcida italiana, Alan Jones voltava a F1 mais de dois após sua última corrida em Long Beach, à bordo do novo projeto do time Lola-Hass.
As enormes retas de Monza favoreceriam a potência dos motores e era justamente no seu propulsor o calcanhar de aquiles ferrarista, com Alboreto e muito menos Stefan Johansson conseguindo extrair algo de bom do motor italiano. Quem tinha os motores mais potentes teria vantagem e por isso não foi surpresa ver Renault (e seu motor especial de Classificação), a ascendente Honda e a BMW dominando os treinos classificatórios. Na briga pelo campeonato, a Ferrari dava um suspiro e colocava Alboreto de volta aos top-10 no grid, mas ainda atrás de Prost.
Grid:
1) Senna (Lotus) - 1:25.084
2) Rosberg (Williams) - 1:25.230
3) Mansell (Williams) - 1:25.486
4) Piquet (Brabham) - 1:25.584
5) Prost (McLaren) - 1:25.790
6) De Angelis (Lotus) - 1:26.044
7) Alboreto (Ferrari) - 1:26.468
8) Tambay (Renault) - 1:27.020
9) Surer (Brabham) - 1:27.153
10) Johansson (Ferrari) - 1:27.473
O dia 8 de setembro de 1985 estava claro e com clima agradável, como sempre vemos, com raríssimas exceções em Monza para o seu Grande Prêmio. A torcida italiana compareceu em peso para torcer para Alboreto, mesmo com a Ferrari longe de estar na mesma fase da metade da temporada. Um circuito rápido, mas com freadas fortes e ultrapassagens possíveis pelo vácuo, a largada não era um momento tão crucial no Grande Prêmio da Itália. Senna, um exímio largador, não se preocupa em fechar Rosberg na luz verde e os dois chegam lado a lado para a primeira curva. Após uns chegas-pra-lá e os dois terem cortado a chicane, levantado muita poeira, Rosberg tomou a ponta da corrida, enquanto Senna perdia tempo na entrada do Curvão e também era ultrapassado por Mansell. Piquet não larga bem e permite Prost assumir a quarta posição, enquanto Alboreto também ganhava uma posição, mas ainda tinha Elio de Angelis o separando do seu rival pelo título.
Na liderança da corrida, rapidamente Rosberg imprimiu um ritmo forte e abriu uma boa vantagem sobre Mansell, que servia de escudo ao seu companheiro de equipe. Senna, como já havia acontecido algumas vezes durante esta temporada, já segurava uma fila de carros atrás da sua Lotus, e quem mais o pressionava no momento era Prost, enquanto Alboreto já não seguia De Angelis tão de perto. A verdade foi que Senna só segurou Prost por duas voltas, com o francês conseguindo a manobra na freada da reta dos boxes, mas rapidamente o piloto da McLaren ganharia outra posição quando Mansell vai aos boxes na volta seguinte com problemas eletrônicos em seu Williams-Honda. O Leão voltaria à pista com duas voltas de atraso, mas sendo um dos pilotos mais rápidos na pista. Claramente com problemas de estabilidade, Senna é ultrapassado pelo seu companheiro de equipe, enquanto, para enorme desgosto dos tifosi, Piquet ultrapassa Alboreto bem na frente das tribunas principais, deixando o italiano em sexto. Menos mal que Rosberg mantinha uma vantagem significativa sobre Prost. Por enquanto.
A corrida fica estável na frente, enquanto Niki Lauda, empolgado com sua emocionante vitória em Zandvoort, fazia uma espetacular corrida de recuperação, após um 16º lugar no grid e na décima volta já estava colado em um impotente Alboreto. Sem muito a fazer, o italiano apenas assiste a McLaren o ultrapassar na reta dos boxes como se estivesse parado. A Ferrari tinha sérios problemas de potência de motor e isso ficava claro bem na frente de sua torcida, que acompanhava incrécula a derrocada de sua maior paixão. Nelson Piquet antecipa sua parada dos boxes e cai para posições intermediárias. Iniciando assim uma bela corrida de recuperação. A Williams dominava a corrida italiana com Rosberg e como não podia atacar o finlandês, seu futuro companheiro de equipe na McLaren, Prost apenas fazia uma prova de espera, enquanto Lauda continuava sua caminhada rumo as primeiras posições ao ultrapassar as duas Lotus, que andavam juntas, em voltas consecutivas. Porém, a caminhada do austríaca seria interrompida de forma repentina quando sua asa dianteira se quebra sozinha, sem aviso, e Lauda tem que ir aos boxes.
Com um ritmo muito forte, não foi surpresa ver Rosberg procurar os pits para trocar seus pneus exatamente na metade da prova, caindo para segundo lugar. Prost assumia a liderança da corrida, mas quando estava prestes a colocar uma volta no triste Alboreto, ainda tentando se manter na zona de pontos, o francês tem seus retrovisores cheios da Williams de Rosberg. O finlandês não teve muito trabalho em deixar o francês para trás ainda antes da freada da Parabólica. Mais atrás, Piquet confirmava sua ótima corrida de recuperação e conseguia uma ultrapassagem audaciosa para tomar o 3º lugar de Senna, na reta dos boxes. Porém, os dois brasileiros acabariam subindo juntos ao pódio, quando Rosberg tem problemas de motor já na parte final da corrida, praticamente entregando a vitória no colo de Prost. Com uma boa vantagem sobre Piquet, Alain Prost completou a corrida nas pontas dos dedos para conseguir sua quinta vitória no ano. Se não ganhou o título em Monza matematicamente, Prost o venceu psicologicamente, pois Alboreto também abandonou já no final da prova. Foi uma decepção catastrófica dos torcedores da Ferrari, que nunca mais tiveram sequer próximos de ver um italiano prestes a vencer o título, enquanto a carreira de Michele Alboreto entrou em parafuso a partir de então.
Chegada:
1) Prost
2) Piquet
3) Senna
4) Surer
5) Johansson
6) De Angelis
Um comentário:
Relatos da prova:
- Grande performance do Williams-Honda do finlandês Keke Rosberg, que liderou a prova por 32 voltas, e teve que abandoná-la na parte final faltando 7 voltas por problemas no motor;
- Decepção pela atuação na prova de Michele Alboreto e
- Após 5 anos e 162 dias, que dois pilotos brasileiros esteve no podium. Pela primeira vez: Nelson Piquet (2º) e Ayrton Senna (3º). A última vez que dois pilotos da mesma nação estiveram juntos, aconteceu em 30 de Março de 1980, no Grande Prêmio do Oeste dos Estados Unidos, em Long Beach; naquela prova, Piquet venceu-a (a primeira vitória na carreira) e o 3º lugar (último podium na carreira) de Emerson Fittipaldi.
- No Campeonato de 1985, Prost abriu 12 pontos sobre Alboreto, e faltando 4 para terminá-la.
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