quarta-feira, 20 de abril de 2011

Em nome do pai

Viver sob a sombra do pai famoso e ainda escolher a mesma profissão é sempre uma pressão enorme, ainda mais sendo filho de um mito como Gilles Villeneuve. Jacques Villeneuve começou sua carreira no automobilismo de forma até discreta, mas aos poucos começou a aparecer para o estrelato do esporte a motor graças ao seu talento e também seu sobrenome. Mas quem se sobressairia: Jacques ou Villeneuve? Com o tempo, Jacques foi se tornando um piloto com estilo próprio e conseguiu até mesmo o título que seu festejado pai não obteve, mas escolhas erradas na carreira, além do seu espírito rebelde, fizeram de Jacques Villeneuve um piloto pouco valorizado na história, sendo mais lembrado por ter sido um dos grandes rivais de Michael Schumacher, mas que só o derrotou por ter o melhor carro. Além, é claro, de ser filho do grande Gilles Villeneuve. Completando 40 anos nesse mês, iremos conhecer um pouco mais deste homem que se tornou o único canadense a se tornar Campeão Mundial de Formula 1, além de se unir a Mario Andretti e Emerson Fittipaldi a terem sido campeões na Europa e nos Estados Unidos.

Jacques Joseph Charles Villeneuve nasceu em 9 de abril de 1971 na pequena cidade de Saint-Jean-sur-Richelieu, filho do aspirante a piloto Gilles Villeneuve e Joanne. Dois anos mais tarde Jacques, cujo nome foi escolhido em homenagem ao avô, ganharia uma irmã chamada Melaine. O pequeno Jacques morava com sua família num motorhome, mesmo quando seu pai se mudou para a Europa em 1978 para se tornar piloto da Ferrari de F1. Ainda assim, Jacques foi educado em Monaco, mas aos 11 anos o pequeno Villeneuve participou do emocionante velório do seu pai no Canadá e foi mandado para um colégio interno na Suíça. Nos alpes suíços, Jacques se interessou primeiramente por esqui alpino e se tornou seu esporte favorito, o atrapalhando um pouco na escola, principalmente em matemática. Porém, o vírus da velocidade estava no gene Villeneuve e quando completou 13 anos, Jacques pediu a sua mãe para andar de kart, mas Joana temeu que isso o atrapalhasse ainda mais na escola, além de já saber o que passou com o marido no automobilismo e por isso condicionou a estréia de Jacques nas corridas se melhorasse na escola. O pequeno estudante se esforçou e os resultados melhoraram, a ponto de Joana ter que cumprir sua promessa e o levar ao kartodromo de Ímola de 1985. A velocidade que Jacques mostrou naquele dia foi tão impressionante que os donos do kartodromo o colocaram para correr num carro de F4 no final do dia! Sabendo que seu sobrinho estava começando a gostar de automobilismo, Jacques Villeneuve Sr, irmão de Gilles, mas sem o mesmo talento, o inscreve na famosa escola de pilotagem Jim Russell, em Mont Treblant e Jacques consegue o diploma com louvor. Mesmo com todas essas honras, Jacques Villeneuve estreou no esporte a motor praticamente sem passar pelo kart, principalmente porque Gilles nao havia deixado uma fortuna para sua família e foram os amigos de Villeneuve que ajudaram no começo da carreira de Jacques.

Aos 17 anos, Jacques Villeneuve fez sua primeira corrida na Itália, numa prova monomarca da Alfa e o canadense foi discreto, apesar de que ele estava praticamente estreando naquele dia. Já nessa época Jacques era apoiado por Craig Pollock, que foi seu professor em Mônaco e resolveu ajudar o ex-aluno. Após algumas corridas de turismo, Jacques passou a F3 Italiana em 1989 na equipe Prema, mas o filho do grande Gilles Villeneuve, idolatrado na Itália, não chegou a impressionar ninguém. Apenas na terceira temporada foi que Jacques conseguiu andar no pelotão da frente e ainda assim foi apenas 6º no campeonato, sem nenhuma vitória. Em 1992 o canadense deu uma guinada em sua carreira e se mudou para o Japão e disputar o campeonato local de F3. Era sua quarta temporada na categoria, algo bastante incomum para pilotos talentosos e ainda assim Villeneuve teve que se contentar com o vice-campeonato na melhor equipe do certame, a Tom’s, com apenas três vitórias. Porém, em meados de 1992 Jacques foi incrito por Pollock na famosa corrida de Trois-Rivieres de Formula Atlantic, mesma prova que seu pai havia se destacado nos anos 70, e o canadense conseguiu um excelente terceiro lugar, levando Villeneuve correr pela primeira vez no Canadá em 1993 numa temporada completa da Formula Atlantic, campeonato no qual Gilles venceu quatro vezes. Isso chamou a atenção do público e dos patrocinadores. O filho de Gilles Villeneuve estaria correndo na categoria que o lançou ao estrelato. Logo de cara, Jacques consegue o forte patrocínio da tabaqueira Players e correria pela equipe Green, uma das mais fortes da categoria. Lógico que haveria a pressão para que Jacques pudesse mostrar também um pouco da velocidade do seu pai e ele o fez com sete pole-positions em quinze corridas, mas alguns erros por agressividade extrema acabaram por estregar seu campeonato, fazendo-o ficar em terceiro lugar, mesmo com cinco vitórias. Uma de suas vitórias naquela temporada foi em Montreal, preliminar do Grande Prêmio do Canadá de F1 e muita gente se emocionou e passou a observar com carinho a carreira de Jacques Villeneuve.

O impacto de Jacques foi tamanho que ele subiu direto para a Formula Indy em 1994, pela então pequena equipe Forsythe, mas utilizando ainda o forte patrocínio da Players. O início de Jacques não foi dos mais auspiciosos numa categoria dominada pela Penske e o triunvirato Al Unser Jr, Emerson Fittipaldi e Paul Tracy, mas na quarta etapa do campeonato, as 500 Milhas de Indianápolis, Villeneuve consegue uma prova estupenda e mesmo sem ameaçar a hegemonia da Penske, o canadense conseguiu um ótimo segundo lugar. Aquilo foi o início de uma série de bons resultados para Villeneuve, culminando para uma vitória em Road America, local onde seu tio conseguiu a primeira vitória para o Canadá na F-Indy nove anos antes. Mais importante do que isso, Jacques conseguia o conceituado título de Novato do Ano com o 6º lugar conseguido no campeonato. Com um final de temporada muito forte, Jacques Villeneuve iniciava 1995 como um dos favoritos ao título num campeonato fortíssimo, que começava a se internacionalizar cada vez mais. Na abertura do campeonato, no circuito de rua em Miami, Jacques vencia e mostrava a que veio, porém, dois resultados ruins em Surfers Paradise e Long Beach o tiraram da liderança do campeonato. Quando o circo da F-Indy foi a Nazareth e iniciar a preparação para o mês em Indianápolis, Villeneuve voltou a ponta com o 2º lugar e durante as 500 Milhas, Jacques fez uma corrida inesquecível. Com um problema no seu carro, Villeneuve chegou a ficar duas voltas atrás do líder, mas como a corrida era longa e ainda estava no começo, o piloto da Forsythe iniciou uma incrível prova de recuperação e acabou vencendo a corrida com pouca vantagem sobre Christian Fittipaldi, outro piloto com sobrenome conhecido. Jacques Villeneuve colocava o sobrenome do seu pai no olimpo do automobilismo e se tornava o primeiro canadense a vencer a tradicional corrida. Porém, ainda faltava um campeonato a conquistar. Após o triunfo em Indianápolis, Jacques venceu em Road America e Cleveland, se tornando campeão com mais dois pódios em Laguna Seca e New Hampshire. Com 24 anos de idade, Jacques Villeneuve mostrava que podia trilhar sua carreira independentemente do seu sobrenome. Porém, essa seria a última temporada forte da Formula Indy, pois Tony George, dono do circuito de Indianápolis, estava cada vez mais insatisfeito com os rumos da CART e no final de 1995 anunciava a cisão da F-Indy, marcando para sempre o automobilismo de monopostos nos Estados Unidos.

No outro lado do Atlântico, a F1 ainda se recuperava da traumática morte de Ayrton Senna e necessitava urgentemente de um nome capaz de chamar a atenção para a categoria. Michael Schumacher era a estrela única da F1 e Bernie Ecclestone, que sempre procurou um piloto alemão de ponta, agora temia por uma dinastia Schumacher nos próximos anos. O dirigente também procurava um nome para atrair o mercado norte-americano e o nome de Jacques Villeneuve, que havia sido campeão em seu segundo ano na F-Indy, havia acabado de vencer as 500 Milhas de Indianápolis além de ter um sobrenome forte parecia ser o nome ideal. Porém, o canadense não poderia estrear numa equipe pequena e Ecclestone sabia que não poderia ter outro fracasso, como havia sido com Michael Andretti poucos anos antes. Frank Williams, que não confiava totalmente em Damon Hill e David Coulthard, mas tinha o melhor carro da categoria, resolve fazer a aposta e contrata Jacques Villeneuve para 1996, fazendo com Damon Hill uma inédita dupla de pilotos com filhos de lendas do passado. Tentando evitar o que aconteceu com Michael Andretti, Jacques Villeneuve iniciou cedo seus testes com a Williams, ainda em 1995, e quando chegou em Melbourne, abertura do Mundial, tinha mais de 5.000 km percorridos em testes. Talvez ele conhecesse aquele carro tão bem quanto Hill e o inglês disse que não se surpreendeu quando o canadense marcou a pole logo em sua estréia. A F1 ficou ainda mais abismada com o modo que Jacques se habituou com as largadas paradas, algo que não estava acostumado, e como ele administrou a vantagem sobre Hill a prova toda. Villeneuve só não venceu porque seu Williams apresentou um preocupante vazamento de óleo no final da corrida e teve que deixar Hill passar para não ter seu motor explodido. Parecia que a F1 tinha seu messias, mas Jacques tem problemas nas corridas seguintes até conseguir sua primeira vitória na quarta etapa do campeonato, em Nürburgring, segurando Schumacher nas últimas voltas com a frieza de um campeão. Quando retornou ao circuito de Montreal, cujo nome é Circuit Gilles Villeneuve, milhares de canadenses lotaram as arquibancadas, mas Jacques acabou chegando em 2º lugar em casa. Nos anos seguintes, Jacques teria uma estranha relação com sua corrida caseira, nunca conseguindo boas provas.

A Williams tinha claramente o melhor carro e como Schumacher se debatia em fazer sua Ferrari veloz, o título seria decidido entre Hill e Villeneuve. Após vitórias na Inglaterra e na Hungria, Villeneuve conseguiu uma das maiores façanhas daquele ano ao fazer uma ultrapassagem impressionante em cima de ninguém mais, ninguém menos, do que Michael Schumacher durante o Grande Prêmio de Portugal. Durante os treinos Jacques havia comentado com seu engenheiro Jock Clear a possibilidade de fazer uma ultrapassagem na perigosa Curva Parabólica do circuito do Estoril usando sua experiência em ovais. Clear riu e disse que teria que reconstruir um carro se o canadense tentasse a manobra. Após uma má largada, Villeneuve fazia uma prova de recuperação e pressionava Schumacher pela 2º posição quando o alemão foi atrasado por um retardatário na entrada da curva Parabólica. Talvez não esperando a manobra, Schumacher abrandou o ritmo, dando chance a Villeneuve a vir por fora e executar uma das manobras mais bonitas da década de 90. E iniciando uma rivalidade com o alemão, que não gostou nem um pouco da manobra. A vitória em Portugal acabou levando a decisão do título para a última etapa no Japão, onde Villeneuve conhecia como ninguém o circuito de Suzuka. O canadense conseguiu a pole, mas se atrasou na largada e nunca pôde ameaçar o título de Hill, que venceu a prova e o campeonato, enquanto Jacques abandonava em um incidente perigoso, quando uma roda sua se desprendeu. Como Damon Hill não renovou seu contrato no final daquele ano, Jacques Villeneuve se tornava piloto número 1 da Williams, equipe mais forte da época. Mesmo a contratação de Heinz-Harald Frentzen tendo sido bem festejada pela escuderia, Frank Williams preferia claramente Villeneuve. O canadense foi o mais rápido na pré-temporada e conseguiu a pole em Melbourne com um tempo muito mais rápido do que os demais. Porém, Villeneuve erra na largada e na confusão da primeira curva, é jogado para fora da corrida por Eddie Irvine. O irlandês ainda teria muitos encontrões com Villeneuve durante o ano. Jacques se recuperaria com mais duas vitórias no Brasil e na Argentina, mas a inconstância da Williams e do próprio canadense o fez abandonar duas provas seguidas, mas ele voltou a triunfar em Barcelona. Villeneuve liderava quando seria realizado o Grande Prêmio do Canadá, mas o piloto da Williams acabaria errando na chicane final e frustrava a todos que assistiam aquela prova. Schumacher venceria àquela prova e era o principal rival de Villeneuve na briga pelo título. Jacques voltaria a vencer na Inglaterra e na Hungria, num emocionante triunfo com direito a ultrapassagem sobre Damon Hill na última volta.

Com a Ferrari tendo problemas nas últimas corridas européias, enquanto Jacques vencia em Zeltweg e em Nürburgring, o título parecia garantido para o canadense. Então, veio o Grande Prêmio do Japão. Vindo do país das bandeiras amarelas, era até irônico Jacques Villeneuve ter duas punições por desrespeitar o pano amarelo mostrado à sua frente. Num treino livre, Villeneuve não respeitou a bandeira pela terceira vez e isso significava suspensão da corrida em Suzuka. Ninguém acreditou que Villeneuve fosse suspenso daquela forma, mas o canadense só correu no Japão por causa de uma apelação da Williams. Jacques ficou com a pole, mas a todo momento tentou evitar a vitória de Schumacher, que deixaria o alemão na liderança do campeonato por um ponto, já que Villeneuve acabaria por ser desclassificado de qualquer maneira. Quando voltava à pista após sua parada, o piloto da Williams jogou seu carro em cima de Schumacher, mas o alemão conseguiu desviar e assumiu o 2º lugar, enquanto Eddie Irvine abria a porta para a vitória do alemão e fechava Villeneuve. Com apenas um ponto separando Schumacher e Villeneuve, Jerez de la Frontera receberia o Grande Prêmio da Europa numa tensão poucas vezes vista na história da F1. Durante um treino livre, Villeneuve e Irvine se encontraram novamente na pista e se fecharam mutuamente. Quando chegou aos boxes, Villeneuve, ainda de macacão e capacete, foi tirar satisfações com o irlandês. Havia uma sensação no ar de que aquela tensa decisão de campeonato seria decidida em um acidente, já que Schumacher tinha maus antecedentes e Villeneuve provara em Suzuka que não amoleceria na disputa. Na Classificação, Villeneuve foi o primeiro a ir para a pista e marcou 1:21.072. Minutos depois, Schumacher foi à pista e marcou... 1:21.072. De forma impressionante, Frentzen foi a pista e marcou... 1:21.072. Três pilotos haviam marcado exatamente o mesmo tempo da pole, sendo que dois batalhariam no domingo pelo título. Havia o medo de que Frentzen ou Irvine pudessem interferir na disputa, mas isso não aconteceria. Villeneuve, que acordou com febre naquele dia, largou mal e Schumacher assumiu a 1º posição. Frentzen foi para 2º, mas rapidamente cedeu sua posição para Villeneuve. Seria um jogo de gato e rato entre o alemão e o canadense. Williams e Ferrari fazem suas paradas de forma perfeita, mas o terceiro jogo de pneus de Villeneuve era ligeiramente melhor e o canadense colou de vez em Schumacher. Na volta 48, Villeneuve saiu do vácuo da Ferrari na curva Dry Sack e atrasou a freada, vindo por dentro. Schumacher talvez não esperasse a manobra e numa medida desesperada e condenável, jogou seu carro em Villeneuve. O mundo prendeu a respiração. Seria a repetição do gesto que deu o título a Schumacher em 1994? A resposta foi não. A Ferrari passou reto e atolou na caixa de brita, enquanto a Williams de Villeneuve resistia com apenas pequenas avarias na lateral do carro. Jacques assumia a liderança da corrida, mas num acordo entre Williams e McLaren, Villeneuve deixou a dupla prateada passar, mas conseguia o título que poderia ter sido de seu pai quinze anos antes.

O mundo inteiro via Villeneuve como o mocinho que havia derrotado o vilão Schumacher. Mais do que isso. Jacques havia levado finalmente o sobrenome Villeneuve ao status de Campeão Mundial. Pena que esse início avassalador de carreira na F1 entrasse em parafuso a partir de então, fazendo com Villeneuve se arrependesse de ter cedido aquela vitória para Mika Hakkinen em Jerez. A Williams sabia desde 1996 que perderia o motor Renault com a saída da montadora francesa da F1 no final de 1997. O time buscou uma nova parceria e assinou um contrato com a BMW, mas os motores alemães só ficariam prontos no ano 2000, forçando a Williams usar os motor Mecachrome, que nada mais eram que os motores Renault recauchutados. Para piorar, a FIA tinha sancionado um pacote de mudanças de regras na F1 e a partir de 1998 o carro ficaria mais estreito e com pneus frisados. Tudo isso abalaria profundamente a equipe Williams a ponto de nunca mais ter sido campeã na F1. Outro problema foi o fim do encantamento de Frank Williams para com Jacques Villeneuve, por causa de algumas atitudes do canadense, como pintar o cabelo de amarelo nas vésperas do Grande Prêmio do Canadá, quando a Williams tinha investido em vários fotos com Jacques com o cabelo ‘normal’. Para piorar, o time havia perdido o projetista Adryan Newey para a McLaren e o inglês mostrou serviço rapidamente com o time prateado conseguindo uma esmagadora dobradinha na abertura do Mundial em 1998, enquanto Villeneuve tinha que se conformar com um 5º lugar, uma volta atrás dos líderes. Rapidamente o canadense percebeu que não tinha como defender seu título e algumas vezes ficou fora do top-10 em grids de largadas, mas Villeneuve conseguiu se sobressair algumas vezes, conseguindo dois 3º lugares na Hungria e na Alemanha, e uma primeira fila em Monza. Apesar da temporada decepcionante, Jacques ainda conseguiu um 5º lugar no campeonato, mas sua parceria com a Williams estava terminada. Seu empresário Craig Pollock havia convencido a British American Tobacco a comprar a equipe Tyrrell e transforma-la em BAR, trazendo consigo o projetista Adryan Reynard, que estava fazendo enorme sucesso nos Estados Unidos com seus chassis, e também Jacques Villeneuve, que ganharia o segundo maior salário da F1. No papel, a parceria parecia perfeita e na apresentação dos carros, Pollock, que seria o chefe da equipe, falou em vitórias no primeiro ano do time e para mostrar arrojo, apresentou dois carros com lay-outs diferentes, um branco para Villeneuve e um azul para Ricardo Zonta, segundo piloto da equipe. A FIA proibiu a marmota e o resultado foi um dos desenhos mais feios da história da F1.

O carro da BAR não era de todo ruim e não era raro Villeneuve conseguir se colocar entre os dez primeiros do grid, mas a falta de experiência da maior parte da equipe fez com que problemas aparecessem aos borbotões. O time usava os espólios da Tyrrell, que não fazia uma temporada competitiva há vários anos. O resultado foram onze abandonos nas onze primeiras corridas para Villeneuve e nenhum ponto no campeonato. Apesar da enorme decepção no seu primeiro ano na BAR, havia um alento quando Pollock consegue um acordo com a Honda e os motores japoneses caem como uma luva no novo carro da equipe. Haveria uma disputa toda particular entre BAR e Jordan para ver quem seria a melhor equipe com motor Honda e conseguir uma parceria exclusiva num futuro próximo e para mostrar que a BAR tinha boas chances nessa disputa, Villeneuve marcou os primeiros pontos da história da equipe logo na abertura do Mundial de 2000 com um 4º lugar. Jacques consegue um ano muito forte, marcando pontos com constância e sempre colocando seu carro entre os dez primeiros no grid. No meio daquele ano surgiu um rumor de que a Benetton, que acabara de ser comprada pela Renault, tinha oferecido um contrato para Villeneuve, mas o canadense teria preferido ficar na BAR, onde se sentia em casa e era um dos sócios. Mesmo sem conseguir nenhum pódio, apesar de ter ficado bastante próximo disso no GP dos Estados Unidos, Villeneuve acabou 2000 em alta, como um piloto de ponta. Infelizmente, seria pela última vez que isso ocorreria. Logo na primeira corrida de 2001, Villeneuve se envolve num forte acidente com Ralf Schumacher e o saldo foi a morte de um comissário de pista. A dinâmica do acidente lembrou muito o que matou seu pai, mas Jacques saiu ileso da pancada. Villeneuve não marca pontos de forma tão regular como na temporada anterior, mas consegue o primeiro pódio da BAR na Espanha, numa prova cheia de abandonos, repetindo a dose em Hockenheim. Esse acabaria sendo seu último pódio. Com a Honda assumindo parte da equipe em 2002, a montadora japonesa começava a interferir no dia-a-dia da escuderia e uma das primeiras ações dos japoneses foi demitir Craig Pollock da função de chefe de equipe, criando uma enorme saia justa com Villeneuve. Para piorar, o substituto de Pollock, David Richard, chegou a equipe promovendo várias mudanças e uma de suas primeiras atitudes foi implicar com o alto salário de Villeneuve. Mesmo com essas mudanças, o ano da BAR seria bem pior em 2002, com poucos pontos marcados e sérios problemas aparecendo. Provando o quanto estava sendo queimado dentro da equipe, Villeneuve vê Richards dispensar Olivier Panis, que era seu amigo, e trazer Jenson Button, até então um piloto mais conhecido pela simpatia e beleza do que pela velocidade. Jacques disse que se aposentaria se fosse mais lento do que Button e isso quase aconteceu. Protegido de Richards, Button marca pontos constantemente e supera Villeneuve na maior parte do ano. O canadense era superado pelo companheiro de equipe pela primeira vez desde 1996, seu ano de estréia. Com o final do seu contrato chegando, ficava claro que o canadense não ficaria na BAR em 2004 e antes mesmo de terminar o ano, Villeneuve foi substituído por Takuma Sato, na última corrida do ano em Suzuka. Sato era piloto de testes da BAR e claramente uma imposição da Honda, que não queria mais Villeneuve.

Sem lugar na F1, Villeneuve teve um ano sabático em 2004. Quando chegou à F1 o canadense chegava a se irritar quando o comparavam com seu pai, mas a maturidade fez com que Jacques falasse mais da relação com Gilles e dizer que ele havia sido seu herói. Em Goodwood, Jacques andaria na mesma Ferrari que seu pai disputou o famoso Grande Prêmio da França de 1979, numa inesquecível disputa com René Arnoux. Porém, Villeneuve ainda pensava na F1 e praticamente se ofereceu para correr na Williams em 2005, já em processo de decadência com o estremecimento da relação com a BMW. Jacques também foi sondado pela sua antiga equipe Forsythe para voltar aos Estados Unidos, mas o canadense se recusou. Quando Jarno Trulli abandonou a Renault por divergências com Flavio Briatore, Villeneuve foi escolhido para fazer as corridas finais pelo time francês. Enquanto não pontuava em nenhuma corrida pela Renault, Jacques negociava para retornar a F1 em 2005 e acertou um contrato com a Sauber. Na semana anterior do anúncio, o então piloto da Sauber, Felipe Massa, participava do programa ‘Linha de Chegada’ e dizia o que achava de Jacques Villeneuve: Pra mim, ele é um... babaca! O brasileiro teve que pedir desculpas e tempos depois acabaria convidando Jacques Villeneuve para seu casamento. Porém, o início de Jacques Villeneuve na Sauber não foi nada bom, sendo superado de longe por Massa e sendo o piloto mais lento dos pilotos que usavam pneus Michelin. Quando estava a ponto de ser substituído, Villeneuve conseguiu os primeiros pontos da equipe no ano com um sexto lugar em Ímola, numa bela exibição. Contudo, Jacques acabaria acabando com o seu sossego quando se envolveu num incidente com Massa em Mônaco e tirando a chance dos dois pilotos da Sauber de marcar pontos. Apesar de todos esses problemas, Villeneuve ficaria na nova equipe Sauber. Com o fim do contrato com a Williams, a BMW comprou o time suíço, que passaria a se chamar BMW Sauber. Queridinho da BMW, Nick Heidfeld foi contratado para ser companheiro de Villeneuve e os dois corriam de forma parelha, ambos marcando pontos de forma regular, mas havia alguma resistência com o canadense dentro da equipe, principalmente do chefe de equipe Mario Theissen. Quando Jacques sofreu um acidente durante o Grande Prêmio da Alemanha, a F1 foi surpreendida com o anúncio de uma suposta contusão do Campeão Mundial de 1997 e que ele seria substituído pelo piloto de testes do time, Robert Kubica. Dias depois, Villeneuve anunciaria que estava rescindindo seu contrato e aos 34 anos estava abandonando a F1. Foram 163 corridas, 11 vitórias, 13 poles, nove melhores voltas, 23 pódios, 235 pontos e o título mundial de 1997.

Após sair da F1, Jacques passou a ser um piloto errante. Primeiro, tentou participar das 24 Horas de Le Mans e se igualar a Graham Hill como os únicos pilotos a serem Campeões da F1, vencer as 500 Milhas de Indianápolis e as 24 Horas de Le Mans. Com a equipe Peugeot, Jacques abandonou em sua primeira tentativa em 2007, mas quase venceu em 2008, quando liderou parte da corrida até chover e cair para 2º na chegada. Jacques tentou uma carreira na Nascar, fazendo algumas corridas pela equipe de Bill Davis na Truck Series ainda em 2007 para tentar uma temporada na categoria principal, a Sprint Cup, a partir de 2008. Contudo, o time não conseguiu patrocínio suficiente e Villeneuve só correu algumas vezes na categoria principal, com destaque para um 6º lugar no grid em Talladega. Villeneuve corria com o número 27, o mesmo do seu pa na Ferrari. Após tentar uma carreira como cantor, onde lançou um fracassado álbum com sua irmã, chamado ‘Private Paradise’, Villeneuve se casou em 2006 com Johanna Martinez, com quem teve dois filhos, mas se separaria três anos depois. Com a desculpa de que queria seus filhos vendo-o correr na F1, Jacques tentou voltar a categoria em 2009, se oferendo a várias equipes, já que a experiência passou a ser fundamental com a falta de testes. Em 2010 Villeneuve assinou contrato com a natimorta Stefan GP, mas durante o ano o canadense tentou formar uma equipe de F1 novamente quando a FIA fez uma licitação para ter uma 13º equipe em 2011. Jacques se juntou a equipe Durango, mas a FIA recusou a proposta e Villeneuve desistiu definitivamente da F1. Jacques Villeneuve se mostrou um piloto fora das convenções do bom-mocismo, não tendo papas na língua quando queria criticar alguém ou alguma coisa. No auge da rivalidade com Schumacher, Jacques não cansou de cutucar o alemão e após o acidente que lhe deu o título, Villeneuve nunca perduou Schumacher, sempre o criticando quando podia. Mesmo dizendo que Mika Hakkinen foi seu maior adversário, Jacques Villeneuve foi o rival mais parecido com rival que Schumacher já teve, pois havia inimizade e estilos de pilotagem e de vida completamente diferentes. Mas não foi apenas com Schumacher que Villeneuve brigou. O canadense se estranhou com Irvine, Barrichello, Heidfeld, Zonta, Massa, Montoya (eles quase brigaram em 2001), Button e outros. As comparações com o estilo de pilotagem de seu pai sempre foram inevitáveis. Gilles Villeneuve entrou para a história do automobilismo pela agressividade e pela coragem. Jacques soube utilizar agressividade e coragem em doses menores do que seu pai, mas também utilizando muita técnica e inteligência e isso já seria o bastante para dizer que o filho superou o pai, mas o carisma de Gilles, muito maior do que Jacques, faz disso quase uma heresia. Porém, como seu pai era seu maior ídolo, Jacques não se importaria muito com essa comparação.

Parabéns!
Jacques Villeneuve

Um comentário:

joaoleopires disse...

Os carros de Villeneeuve de 98/99 eram muito fracos para o piloto!!Ótima matéria!!