Ele acabou sendo a última esperança dos tifosi em ver um piloto italiano sendo campeão mundial pela Ferrari e seus antecedentes antes de chegar a escuderia de Maranello eram até boas, antes de sucumbir a enorme pressão. Michele Alboreto foi um piloto de ponta nos anos 80 na F1 e é até hoje um dos pilotos com mais corridas pela Ferrari, mas a passagem do italiano pela Ferrari, um sonho para cada menino nascido no país da bota, se transformou em pesadelo pela péssima fase da equipe naquele momento. Piloto prodígio e extremamente promissor, Alboreto acabou sua carreira na F1 em plena decadência, mas voltou às origens quando passou a ter sucesso nos carros de Esporte-Protótipo e foi nesses belos carros que Alboreto acabou encontrando seu destino dez anos atrás. Por isso, vamos conhecer a carreira deste italiano que tinha tudo para ter conseguido um título mundial.
Michele Alboreto nasceu no dia 23 de dezembro de 1956 na cidade de Milão, a poucos quilômetros do autódromo de Monza, santuário das corridas na Itália. Vindo de uma família apaixonada por corridas, desde os 12 anos o pequeno Michele ia ver seus ídolos correrem no circuito de Monza, em especial Ronnie Peterson, seu grande ídolo de infância que até mesmo lhe inspirou as cores do capacete. Porém, Alboreto começou relativamente tarde no automobilismo e de uma forma, no mínimo, peculiar. Estudante em um curso de desenho técnico, Michele Alboreto e alguns amigos construíram um pequeno carro de corrida para uma categoria local, chamada F-Monza, em 1976 e Michele acabou sendo o piloto do carro batizado como CMR. Sem experiência em construir carros de corrida, Alboreto e seus amigos não obtiveram muito sucesso, mas Michele resolve abraçar o automobilismo (quando criança o italiano também queria jogar futebol) e em 1977 ele vai para uma equipe mais estruturada, a Scuderia Salvatti, e Alboreto começa a melhorar seu desempenho. Para 1978 Alboreto se gradua para a F-Italia, com carros mais potentes, e as primeiras vitórias aparecem a ponto do italiano continuar subindo nos degraus do automobilismo e chegar na F3 em 1979. Com um March da equipe Euroracing Alboreto participa dos Campeonatos Europeu e Italiano de F3, conseguindo três vitórias no certame local, mas sendo superado por Piercarlo Ghinzani, ficando com o vice-campeonato. Mesmo sem vitórias no certame continental, onde termina o campeonato em 6º, Alboreto inicia 1980 como favorito e conquista o Campeonato Europeu com cinco vitórias. Isso abriria várias portas para o jovem italiano.
Logo de cara, Alboreto consegue um lugar na equipe do italiano Giancarlo Minardi no Campeonato Europeu de F2 em 1981. Já pensando em se mudar para a F1, Minardi construía seus próprios chassis, mas não era páreo às equipes oficias da March e da Ralt, que tinham muita experiência no conceituado campeonato de base. Mesmo com essas dificuldades, Alboreto mostrava gana e sempre andava no pelotão da frente, mesmo o carro não sendo nada confiável, o deixando na mão algumas vezes. Porém, nas corridas italianas, Alboreto conseguiu se sobressair e deu os melhores resultados à Minardi na F2, com um 3º lugar em Enna-Pergusa e uma vitória em Misano, deixando Alboreto em 8º lugar no campeonato. Além dos monopostos, Michele Alboreto também foi contratado pela equipe oficial da Lancia no início de 1980 para disputar o Mundial de Marcas daquele ano. Rapidamente Michele se torna o piloto mais rápido da equipe, superando Eddie Cheever e Walter Röhrl, e consegue três segundos lugares na sua temporada de estréia. Em 1981 Michele Alboreto faz sua estréia nas 24 Horas de Le Mans e termina em 8º lugar e acaba conseguindo sua primeira vitória nas 6h de Watkins Glen, em parceria com Riccardo Patrese. Em 1982, Alboreto permanece na equipe Martini Lancia e vence os 1000km de Silverstone, também em parceria com Patrese, os 1000km de Nürburgring, com Téo Fabi e em Mugello, desta vez com Piercarlo Ghinzani. Após uma temporada difícil em 1983 com a Lancia tendo muitos problemas de confiabilidade, Michele Alboreto passaria 14 anos sem pilotar esses carros, se concentrando unicamente em seu grande sonho.
Desde que havia estreado na F-Monza, Alboreto passou a ambicionar a F1 e ainda no começo da temporada de 1981, o velho Ken Tyrrell tinha perdido a paciência com o argentino Ricardo Zunino e o dispensou após apenas duas corridas, mesmo o portenho tendo trazido patrocínio para a equipe. A Tyrrell necessitava de grana e Alboreto sabia disso e com a ajuda do patrocínio da Imola Ceramiche, o italiano conseguiu um teste com um carro da Tyrrell antes do Grande Prêmio de San Marino, terceira etapa do ano. O velho Ken Tyrrell era um grande garimpeiro de jovens talentos e viu em Alboreto (além da grana que ele trazia...) uma chance de tentar voltar aos bons tempos. Michele fez sua primeira corrida em Ímola, um circuito que conhecia bem e sede do seu patrocinador, mas Alboreto não chamou muita atenção, largando em 17º e batendo em seu compatriota Beppe Gabbiani na metade da corrida. Aqueles anos viam o início da Era Turbo e quem não tinha o equipamento, sofreria com a brutal diferença de potência com relação aos surrados motores Ford Cosworth aspirados. Para piorar, o modelo Tyrrell 010 não era nada bom e Alboreto não marca nenhum ponto em sua temporada de estréia. Porém, Alboreto consegue a confiança de Tyrrell e é contratado como primeiro piloto da equipe em 1982, enquanto o sueco Slim Borgudd “pagaria” as contas com seus patrocinadores. O antigo baterista do Abba não consegue se classificar em várias corridas e acabaria perdendo seu lugar quando Ken Tyrrell consegue o patrocínio da Denin, cedendo seu posto ao inglês Brian Henton. Alboreto, ao contrário, consegue extrair o máximo do novo modelo Tyrrell 011 e de forma surpreendente, marca pontos em três das primeiras quatro corridas, inclusive com seu primeiro pódio no tumultuado Grande Prêmio de San Marino, marcado pelo boicote das equipes inglesas. A Tyrrell sofria com a falta dos motores turbo e na medida em que as montadoras melhoravam seus equipamentos superalimentados, as quebras se tornam raras, assim como as chances de Alboreto marcar pontos. Porém, o italiano havia dado seu recado e quando Gilles Villeneuve morreu nos treinos para o Grande Prêmio da Bélgica, Alboreto era o favorito a substituir o canadense, mas Ken Tyrrell endurece na hora de liberar Alboreto. Sabendo das dificuldades em conseguir um motor turbo, Tyrrell diz que só liberaria seu piloto antes de 1984, quando terminaria o compromisso de Alboreto com a equipe inglesa, se a Ferrari lhe cedesse um motor turbo. Enzo Ferrari recusa a proposta, mas garante que Alboreto estaria em seus carros vermelhos em 1984. Mesmo chateado com a situação, Alboreto se mostra um profissional exemplar e quando o campeonato chega ao estacionamento do Ceasar’s Palace para a decisão do campeonato de 1982, Alboreto consegue sua melhor classificação ao conseguir um 3º lugar no grid no apertado circuito de rua americano. Atrás dos dois carros da Renault, Alboreto se mantém na mesma posição após dar um chegua-pra-lá em Eddie Cheever na largada e faz uma prova de paciência. Arnoux tem o motor quebrado logo no início, enquanto Prost começa a perder rendimento enquanto seus pneus vão se desgastando. Alboreto começa a diminuir a diferença, marca a volta mais rápida da corrida e ultrapassa Prost já no terço final da prova, conquistando assim sua primeira vitória na carreira, a primeira da Tyrrell em quatro anos e ainda ganharia um selinho da cantora Diana Ross no pódio.
Alboreto cumpre seu contrato e permanece na Tyrrell em 1983, mesmo com a equipe claramente aquém do seu potencial. Mesmo a chegada do patrocinador da Benetton não esconde o fato de que os motores aspirados da Cosworth não eram mais páreo aos desenvolvidos turbos de Renault, Ferrari e BMW (Brabham). Contudo, nos apertados circuitos de rua, os carros com motores aspirados ainda tinham alguma chance e Alboreto poderia mostrar seu talento. Em Long Beach, Alboreto chegou a brigar pela liderança até ser jogado para fora da pista por um destrambelhado Keke Rosberg. No circuito improvisado nas ruas de Detroit, o italiano teria outra chance de mostrar do que era capaz e não decepcionou. Largando em 6º, Alboreto fez uma prova de paciência, enquanto René Arnoux e Nelson Piquet brigavam pela ponta da corrida. Pensando em surpreender os adversários, Alboreto investe na estratégia e resolve não fazer os pit-stops, uma verdadeira ‘onda’ na época. Já em terceiro, Michele vê Arnoux ter o motor de sua Ferrari quebrado e começa se aproximar da Brabham de Nelson Piquet. Faltando poucas voltas, Alboreto já estava colado no brasileiro, quando Piquet diminui a velocidade do seu carro de forma repentina. Era um pneu furado. Alboreto toma a ponta e vence na base da sorte e na competência, dando o que seria a última vitória da Tyrrell na F1. Todas essas demonstrações bastavam para provar que Alboreto tinha condições de assumir um lugar na Ferrari e reter em si a esperança de milhões de torcedores italianos em ver um pilota nostra vencendo o campeonato. Alboreto teria como companheiro de equipe em 1984 o rápido, porém inconstante, René Arnoux e o italiano mostraram suas credenciais logo em sua estréia, não apenas superando Arnoux, como colocando sua Ferrari na primeira fila e liderando várias voltas até ter problemas nos freios em Jacarepaguá. Ainda em sua 3º corrida pela Ferrari, no Grande Prêmio da Bélgica em Zolder, Michele consegue sua primeira pole na F1 e vence a corrida praticamente de ponta a ponta, se credenciando a brigar pelo título. Porém, aquele ano seria da McLaren e seriam seus pilotos a decidirem entre si quem levaria o título, com Lauda superando Prost por apenas meio ponto. Michele Alboreto termina o ano em alta, com três pódios nas últimas cinco corridas e acaba o campeonato num bom quarto lugar, tornando-o bastante popular na Itália.
Isso significava uma Ferrari forte em 1985 e Alboreto sabia que teria chance de brigar pelo título. Na primeira corrida da temporada, Alboreto larga na pole no Brasil, mas perde a vitória após errar uma marcha bem na reta dos boxes e ser ultrapassado por Alain Prost, que acabaria sendo seu maior rival no ano. Poucos dias após a corrida em Jacarepaguá, a Ferrari anuncia a demissão de René Arnoux e contrata o jovem sueco Stefan Johasson para o seu lugar. Mesmo Johansson mostrando alguma velocidade, essa decisão mostrava claramente que a Ferrari tinha feito sua escolha e seria Alboreto. Em Mônaco, Michele faz uma corrida estupenda, ultrapassando Mansell e Prost na apertada entrada da St. Devote, mas com um pneu furado enquanto liderava, o italiano se atrasa e teve que se conformar com o 2º lugar. Em Montreal, Alboreto vence pela segunda vez após a Ferrari ordenar a Johansson, vinha mais rápido em 2º lugar, não atacar o primeiro piloto da equipe. Nesse momento, Alboreto liderava o campeonato, com Prost logo a seguir. Em Nürburgring, Michele consegue sua segunda vitória no ano, mas o que o italiano não sabia era que este seria seu último triunfo na F1. O italiano liderava o campeonato até o Grande Prêmio da Holanda, quando chegou em 4º e Prost, mesmo com um 2º lugar, o ultrapassou na tábua de pontuação. A corrida seguinte seria em Monza e antes da prova houve uma comoção nacional em torno de Alboreto e seu possível título. Uma cartomante em Brescia anunciou que Michele Alboreto seria o campeão daquele ano e isso foi uma motivação extra para os tifosi lotarem as arquibancadas em Monza. Porém, tudo começaria a dar errado para Alboreto a partir dali. Enquanto Prost brigava com as Williams pela ponta da corrida, Alboreto se arrastava no pelotão intermediário. O francês da McLaren venceria a prova, enquanto Michele abandonaria a corrida já no seu final, quando estava uma volta atrás dos líderes. Se matematicamente ainda havia chances para Alboreto ser campeão, psicologicamente Prost venceu o campeonato ali, pois o italiano não marcaria pontos até o final do campeonato e terminaria o campeonato vinte pontos atrás do rival. A Ferrari chegou a acusar a Bosh de ter boicotado seu motor com peças defeituosas, dando o título para a alemã Porsche, mas a verdade foi que a derrota no campeonato de 1985 foi um divisor de águas para Michele Alboreto. Ele nunca mais se recuperaria do baque e veria sua carreira definhar lentamente.
Ainda como primeiro piloto da Ferrari em 1986, Alboreto não pôde evitar o crescimento da Williams-Honda e da eficiência da McLaren de Prost. A Ferrari não lutaria por vitórias naquele ano e Michele só conseguiria um pódio com um segundo lugar no Grande Prêmio da Áustria, ainda assim, uma volta atrás do vencedor Prost. O italiano marca poucos pontos e é superado pela primeira vez na F1 pelo seu companheiro de equipe, porém Alboreto ainda tinha crédito com a Ferrari e quem é demitido no final do ano é Johansson. Para o lugar do sueco viria o rápido e promissor Gerhard Berger. Da mesma geração de Ayrton Senna, já uma estrela consolidada em 1987, Berger queria provar que tinha condições de andar igual a Senna e numa equipe grande, poderia comprovar isso. O austríaco sistematicamente derrota Alboreto durante toda a temporada e o italiano só consegue três pódios, enquanto Berger vencia as duas últimas corridas da temporada. A chegada de Berger acabou sendo a pá de cal na motivação de Alboreto, que perdia a primazia de primeiro piloto da Ferrari e a torcida italiana não acreditava mais nele. Para piorar, em 1988 a McLaren dominou o campeonato de forma inédita até então e só não conseguiu uma temporada perfeita em 1988, porque no Grande Prêmio da Itália, Prost quebrou o motor e Senna tentou uma ultrapassagem para lá de otimista em cima da Williams do retardatário Jean-Louis Schlesser e quebrou sua suspensão faltando duas voltas para fim, quando liderava. Quem se aproveitou? A Ferrari, que ainda estava de luto pela morte de Enzo Ferrari semanas antes. Porém, quem capitalizou as glórias acabou sendo Berger, com Alboreto em segundo. Cada vez mais deixado de lado dentro da Ferrari, Alboreto sabia que não ficaria muito tempo na equipe. Para piorar, Michele havia testado o novo câmbio semi-automático da Ferrari para 1989 e sabia das dificuldades que a equipe teria com o novo equipamento. No meio de 1988, Alboreto entrou em contato com a Williams, que passaria a receber motores Renault em 1989 e tinha uma vaga em aberto com a saída de Mansell para a Ferrari, e chegou a ter tudo acertado com Frank Williams, mas o veterano chefe de equipe acabou contratando Thierry Boutsen, deixando poucas vagas competitivas para Alboreto.
Com mais esse golpe na carreira, Michele Alboreto pensa seriamente em se aposentar aos 32 anos de idade, mas sua família o faz ficar mais um ano na F1. Tentando reconstruir sua carreira, Alboreto retorna às origens e vai para a equipe Tyrrell, porém a escuderia ainda tinha os mesmos problemas financeiros de uma década atrás. Alboreto teria os salários pagos pelo patrocinador pessoal da Marlboro, enquanto a equipe sofria com a falta de estrutura. Durante o Grande Prêmio de Mônaco, a Tyrrell só teria um carro do novo modelo 018 e resolve entregá-lo a Jonathan Palmer, deixando Alboreto furioso, a ponto do italiano não entrar na pista no primeiro dia de treinos. A relação com Ken Tyrrell piora bastante após esse episódio e nem mesmo o 5º lugar na etapa monegasca e a terceira posição no México (no que seria o último pódio de Alboreto na F1) melhoram o clima dentro da equipe Tyrrell. Sempre procurando resolver seus problemas financeiros, a Tyrrell consegue o valioso apoio da Camel para o resto do ano a partir do Grande Prêmio da França, criando um atrito com Alboreto e seu patrocínio da Marlboro. Sem perspectivas dentro do time, Michele abandona a Tyrrell, cedendo seu lugar ao jovem Jean Alesi, que coincidentemente teria uma carreira bastante parecida com a de Alboreto. Para piorar as coisas para Alboreto, a Marlboro pára de lhe pagar os salários por ele estar fora da F1 e para se manter correndo, consegue um lugar na equipe Larrousse, que ironicamente, utilizava o patrocínio da Camel. O carro tinha sérios problemas de confiabilidade e em algumas oportunidades Alboreto não consegue se classificar para as corridas, além de ter sofrido um sério acidente nos treinos do Grande Prêmio da Hungria, que lhe fraturou as costelas.
Agora longe da briga por vitórias e títulos, Alboreto teria que se conformar com o pelotão intermediário se quisesse ficar na F1. Em 1990 ele consegue um acordo com a Arrows, que tinha planos bem ousados para os próximos anos. Com forte patrocínio da japonesa Footwork, a equipe tinha um contrato com a Porsche em 1991 e esperava que seus resultados melhorassem a partir de então, transformando a temporada de 1990 como um ano de transição. Alboreto sofre com esse período e não marca pontos numa temporada de F1 pela primeira desde 1981, inclusive tendo ficado de fora algumas corridas durante o ano. Quando finalmente o motor Porsche chegou, a decepção seria ainda maior. Pesado, guloso e bastante inconfiável, o motor alemão acabaria sendo um fracasso retumbante, fazendo a Arrows, que se chamava Footwork naquele momento, a voltar a usar os velhos motores Ford Cosworth no restante da temporada, mas como o carro tinha sido projetado para usar os motores Porsche, Alboreto não marca pontos pelo segundo ano consecutivo. Graças aos patrocinadores japoneses, a Footwork consegue os serviços da Mugen-Honda para 1992, que estava tendo muito sucesso na F3 naquele momento, e os resultados melhoraram consideravelmente. Alboreto consegue marcar pontos em algumas corridas (mas seu melhor resultado seria um 5º lugar...) e mesmo conseguindo seis 7º colocações, o italiano tem um ano bastante regular, mas não a ponto de ter o seu contrato renovado. Alboreto era uma triste sombra do piloto do passado e se transfere para a equipe BMS Itália, que havia obtido resultados muito bons quando utilizava o chassi Dallara, mas o time havia mudado para a Lola e mesmo utilizando motores Ferrari, normalmente a equipe fechava os grid, sendo que Alboreto era constantemente superado pelo seu jovem companheiro de equipe Luca Badoer, que havia acabado de conquistar o título da F3000. Os cabelos brancos de Alboreto, mesmo sendo relativamente jovem, apenas provavam que seu tempo havia passado e seu último ano na F1, pela Minardi, que havia andado muito bem na F2, foi apenas como retardatário, marcando um único ponto no Grande Prêmio de Mônaco e sendo testemunha no caso da morte de Senna. Michele Alboreto fechava sua longa (até demais...) carreira na F1 com 194 corridas, 5 vitórias, 2 poles, 5 melhores voltas, 23 pódios, 186,5 pontos e o vice-campeonato de 1985 como melhor resultado.
Após tanto tempo correndo nos monopostos, Alboreto resolve investir no turismo, participando do forte campeonato da DTM em 1995 pela equipe oficial da Alfa Romeo, sem obter sucesso. Em 1996 ele faria parte do grid inaugural da IRL no circuito oval da Walt Disney World e fez sua primeira 500 Milhas de Indianápolis naquele ano, abandonando discretamente na 43º volta. Após vários anos fora das corridas em Esporte-Protótipo, Alboreto retorna em 1996 atrás de um volante da mítica Ferrari 333 SP, junto com Pierluigi Martini, seu último companheiro de equipe na F1. Mesmo tímido Alboreto era admirado por todos os seus contemporâneos e se tornou amigo de todos eles ao longo dos vários anos no automobilismo. Nelson Piquet o chamava de 'Marroquino'. Porém, foi em 1997 que Michele Alboreto consegue seu último momento de glória, quando retorna às 24 Horas de Le Mans com a equipe Joest-Porsche e fatura a corrida ao lado de Martini e Tom Kristensen, que vencia sua primeira corrida de oito em Sarthe. Em 1999 Alboreto é contratado pela nova equipe Audi, que tentava obter sucesso em Le Mans e após vencer as 12 Horas de Sebring de 2001 ao lado de Rinaldo Capello, Alboreto foi chamado pela equipe alemã para um teste no circuito de Lausitz, na antiga Alemanha Oriental. No dia 25 de abril de 2001, Alboreto vinha numa reta quando foi surpreendido com um pneu furado e seu Audi se desgovernou, indo em direção a um muro de concreto. O carro capotou, mas foi a desaceleração repentina e brutal que acabou matando Michele Alboreto, de 44 anos. O automobilismo ficou de luto e não faltaram homenagens de todos os lados. Quando a Audi venceu em Le Mans poucos meses depois, a vitória foi dedicada a Alboreto. Ainda em 2001, Lausitz ainda veria o terrível acidente de outro italiano, Alessandro Zanardi, que lhe custos as duas pernas. Michele Alboreto era uma pessoa afável e que conquistou vários fãs ao longo dos anos, mesmo não tendo conquistado seu grande sonho e desafio, que dar um título realmente italiano a Ferrari. As pressões sofridas após essa derrota marcaram para sempre a vida e a carreira deste pequeno milanês que tinha mais talento que seus resultados podem supor.
Michele Alboreto nasceu no dia 23 de dezembro de 1956 na cidade de Milão, a poucos quilômetros do autódromo de Monza, santuário das corridas na Itália. Vindo de uma família apaixonada por corridas, desde os 12 anos o pequeno Michele ia ver seus ídolos correrem no circuito de Monza, em especial Ronnie Peterson, seu grande ídolo de infância que até mesmo lhe inspirou as cores do capacete. Porém, Alboreto começou relativamente tarde no automobilismo e de uma forma, no mínimo, peculiar. Estudante em um curso de desenho técnico, Michele Alboreto e alguns amigos construíram um pequeno carro de corrida para uma categoria local, chamada F-Monza, em 1976 e Michele acabou sendo o piloto do carro batizado como CMR. Sem experiência em construir carros de corrida, Alboreto e seus amigos não obtiveram muito sucesso, mas Michele resolve abraçar o automobilismo (quando criança o italiano também queria jogar futebol) e em 1977 ele vai para uma equipe mais estruturada, a Scuderia Salvatti, e Alboreto começa a melhorar seu desempenho. Para 1978 Alboreto se gradua para a F-Italia, com carros mais potentes, e as primeiras vitórias aparecem a ponto do italiano continuar subindo nos degraus do automobilismo e chegar na F3 em 1979. Com um March da equipe Euroracing Alboreto participa dos Campeonatos Europeu e Italiano de F3, conseguindo três vitórias no certame local, mas sendo superado por Piercarlo Ghinzani, ficando com o vice-campeonato. Mesmo sem vitórias no certame continental, onde termina o campeonato em 6º, Alboreto inicia 1980 como favorito e conquista o Campeonato Europeu com cinco vitórias. Isso abriria várias portas para o jovem italiano.
Logo de cara, Alboreto consegue um lugar na equipe do italiano Giancarlo Minardi no Campeonato Europeu de F2 em 1981. Já pensando em se mudar para a F1, Minardi construía seus próprios chassis, mas não era páreo às equipes oficias da March e da Ralt, que tinham muita experiência no conceituado campeonato de base. Mesmo com essas dificuldades, Alboreto mostrava gana e sempre andava no pelotão da frente, mesmo o carro não sendo nada confiável, o deixando na mão algumas vezes. Porém, nas corridas italianas, Alboreto conseguiu se sobressair e deu os melhores resultados à Minardi na F2, com um 3º lugar em Enna-Pergusa e uma vitória em Misano, deixando Alboreto em 8º lugar no campeonato. Além dos monopostos, Michele Alboreto também foi contratado pela equipe oficial da Lancia no início de 1980 para disputar o Mundial de Marcas daquele ano. Rapidamente Michele se torna o piloto mais rápido da equipe, superando Eddie Cheever e Walter Röhrl, e consegue três segundos lugares na sua temporada de estréia. Em 1981 Michele Alboreto faz sua estréia nas 24 Horas de Le Mans e termina em 8º lugar e acaba conseguindo sua primeira vitória nas 6h de Watkins Glen, em parceria com Riccardo Patrese. Em 1982, Alboreto permanece na equipe Martini Lancia e vence os 1000km de Silverstone, também em parceria com Patrese, os 1000km de Nürburgring, com Téo Fabi e em Mugello, desta vez com Piercarlo Ghinzani. Após uma temporada difícil em 1983 com a Lancia tendo muitos problemas de confiabilidade, Michele Alboreto passaria 14 anos sem pilotar esses carros, se concentrando unicamente em seu grande sonho.
Desde que havia estreado na F-Monza, Alboreto passou a ambicionar a F1 e ainda no começo da temporada de 1981, o velho Ken Tyrrell tinha perdido a paciência com o argentino Ricardo Zunino e o dispensou após apenas duas corridas, mesmo o portenho tendo trazido patrocínio para a equipe. A Tyrrell necessitava de grana e Alboreto sabia disso e com a ajuda do patrocínio da Imola Ceramiche, o italiano conseguiu um teste com um carro da Tyrrell antes do Grande Prêmio de San Marino, terceira etapa do ano. O velho Ken Tyrrell era um grande garimpeiro de jovens talentos e viu em Alboreto (além da grana que ele trazia...) uma chance de tentar voltar aos bons tempos. Michele fez sua primeira corrida em Ímola, um circuito que conhecia bem e sede do seu patrocinador, mas Alboreto não chamou muita atenção, largando em 17º e batendo em seu compatriota Beppe Gabbiani na metade da corrida. Aqueles anos viam o início da Era Turbo e quem não tinha o equipamento, sofreria com a brutal diferença de potência com relação aos surrados motores Ford Cosworth aspirados. Para piorar, o modelo Tyrrell 010 não era nada bom e Alboreto não marca nenhum ponto em sua temporada de estréia. Porém, Alboreto consegue a confiança de Tyrrell e é contratado como primeiro piloto da equipe em 1982, enquanto o sueco Slim Borgudd “pagaria” as contas com seus patrocinadores. O antigo baterista do Abba não consegue se classificar em várias corridas e acabaria perdendo seu lugar quando Ken Tyrrell consegue o patrocínio da Denin, cedendo seu posto ao inglês Brian Henton. Alboreto, ao contrário, consegue extrair o máximo do novo modelo Tyrrell 011 e de forma surpreendente, marca pontos em três das primeiras quatro corridas, inclusive com seu primeiro pódio no tumultuado Grande Prêmio de San Marino, marcado pelo boicote das equipes inglesas. A Tyrrell sofria com a falta dos motores turbo e na medida em que as montadoras melhoravam seus equipamentos superalimentados, as quebras se tornam raras, assim como as chances de Alboreto marcar pontos. Porém, o italiano havia dado seu recado e quando Gilles Villeneuve morreu nos treinos para o Grande Prêmio da Bélgica, Alboreto era o favorito a substituir o canadense, mas Ken Tyrrell endurece na hora de liberar Alboreto. Sabendo das dificuldades em conseguir um motor turbo, Tyrrell diz que só liberaria seu piloto antes de 1984, quando terminaria o compromisso de Alboreto com a equipe inglesa, se a Ferrari lhe cedesse um motor turbo. Enzo Ferrari recusa a proposta, mas garante que Alboreto estaria em seus carros vermelhos em 1984. Mesmo chateado com a situação, Alboreto se mostra um profissional exemplar e quando o campeonato chega ao estacionamento do Ceasar’s Palace para a decisão do campeonato de 1982, Alboreto consegue sua melhor classificação ao conseguir um 3º lugar no grid no apertado circuito de rua americano. Atrás dos dois carros da Renault, Alboreto se mantém na mesma posição após dar um chegua-pra-lá em Eddie Cheever na largada e faz uma prova de paciência. Arnoux tem o motor quebrado logo no início, enquanto Prost começa a perder rendimento enquanto seus pneus vão se desgastando. Alboreto começa a diminuir a diferença, marca a volta mais rápida da corrida e ultrapassa Prost já no terço final da prova, conquistando assim sua primeira vitória na carreira, a primeira da Tyrrell em quatro anos e ainda ganharia um selinho da cantora Diana Ross no pódio.
Alboreto cumpre seu contrato e permanece na Tyrrell em 1983, mesmo com a equipe claramente aquém do seu potencial. Mesmo a chegada do patrocinador da Benetton não esconde o fato de que os motores aspirados da Cosworth não eram mais páreo aos desenvolvidos turbos de Renault, Ferrari e BMW (Brabham). Contudo, nos apertados circuitos de rua, os carros com motores aspirados ainda tinham alguma chance e Alboreto poderia mostrar seu talento. Em Long Beach, Alboreto chegou a brigar pela liderança até ser jogado para fora da pista por um destrambelhado Keke Rosberg. No circuito improvisado nas ruas de Detroit, o italiano teria outra chance de mostrar do que era capaz e não decepcionou. Largando em 6º, Alboreto fez uma prova de paciência, enquanto René Arnoux e Nelson Piquet brigavam pela ponta da corrida. Pensando em surpreender os adversários, Alboreto investe na estratégia e resolve não fazer os pit-stops, uma verdadeira ‘onda’ na época. Já em terceiro, Michele vê Arnoux ter o motor de sua Ferrari quebrado e começa se aproximar da Brabham de Nelson Piquet. Faltando poucas voltas, Alboreto já estava colado no brasileiro, quando Piquet diminui a velocidade do seu carro de forma repentina. Era um pneu furado. Alboreto toma a ponta e vence na base da sorte e na competência, dando o que seria a última vitória da Tyrrell na F1. Todas essas demonstrações bastavam para provar que Alboreto tinha condições de assumir um lugar na Ferrari e reter em si a esperança de milhões de torcedores italianos em ver um pilota nostra vencendo o campeonato. Alboreto teria como companheiro de equipe em 1984 o rápido, porém inconstante, René Arnoux e o italiano mostraram suas credenciais logo em sua estréia, não apenas superando Arnoux, como colocando sua Ferrari na primeira fila e liderando várias voltas até ter problemas nos freios em Jacarepaguá. Ainda em sua 3º corrida pela Ferrari, no Grande Prêmio da Bélgica em Zolder, Michele consegue sua primeira pole na F1 e vence a corrida praticamente de ponta a ponta, se credenciando a brigar pelo título. Porém, aquele ano seria da McLaren e seriam seus pilotos a decidirem entre si quem levaria o título, com Lauda superando Prost por apenas meio ponto. Michele Alboreto termina o ano em alta, com três pódios nas últimas cinco corridas e acaba o campeonato num bom quarto lugar, tornando-o bastante popular na Itália.
Isso significava uma Ferrari forte em 1985 e Alboreto sabia que teria chance de brigar pelo título. Na primeira corrida da temporada, Alboreto larga na pole no Brasil, mas perde a vitória após errar uma marcha bem na reta dos boxes e ser ultrapassado por Alain Prost, que acabaria sendo seu maior rival no ano. Poucos dias após a corrida em Jacarepaguá, a Ferrari anuncia a demissão de René Arnoux e contrata o jovem sueco Stefan Johasson para o seu lugar. Mesmo Johansson mostrando alguma velocidade, essa decisão mostrava claramente que a Ferrari tinha feito sua escolha e seria Alboreto. Em Mônaco, Michele faz uma corrida estupenda, ultrapassando Mansell e Prost na apertada entrada da St. Devote, mas com um pneu furado enquanto liderava, o italiano se atrasa e teve que se conformar com o 2º lugar. Em Montreal, Alboreto vence pela segunda vez após a Ferrari ordenar a Johansson, vinha mais rápido em 2º lugar, não atacar o primeiro piloto da equipe. Nesse momento, Alboreto liderava o campeonato, com Prost logo a seguir. Em Nürburgring, Michele consegue sua segunda vitória no ano, mas o que o italiano não sabia era que este seria seu último triunfo na F1. O italiano liderava o campeonato até o Grande Prêmio da Holanda, quando chegou em 4º e Prost, mesmo com um 2º lugar, o ultrapassou na tábua de pontuação. A corrida seguinte seria em Monza e antes da prova houve uma comoção nacional em torno de Alboreto e seu possível título. Uma cartomante em Brescia anunciou que Michele Alboreto seria o campeão daquele ano e isso foi uma motivação extra para os tifosi lotarem as arquibancadas em Monza. Porém, tudo começaria a dar errado para Alboreto a partir dali. Enquanto Prost brigava com as Williams pela ponta da corrida, Alboreto se arrastava no pelotão intermediário. O francês da McLaren venceria a prova, enquanto Michele abandonaria a corrida já no seu final, quando estava uma volta atrás dos líderes. Se matematicamente ainda havia chances para Alboreto ser campeão, psicologicamente Prost venceu o campeonato ali, pois o italiano não marcaria pontos até o final do campeonato e terminaria o campeonato vinte pontos atrás do rival. A Ferrari chegou a acusar a Bosh de ter boicotado seu motor com peças defeituosas, dando o título para a alemã Porsche, mas a verdade foi que a derrota no campeonato de 1985 foi um divisor de águas para Michele Alboreto. Ele nunca mais se recuperaria do baque e veria sua carreira definhar lentamente.
Ainda como primeiro piloto da Ferrari em 1986, Alboreto não pôde evitar o crescimento da Williams-Honda e da eficiência da McLaren de Prost. A Ferrari não lutaria por vitórias naquele ano e Michele só conseguiria um pódio com um segundo lugar no Grande Prêmio da Áustria, ainda assim, uma volta atrás do vencedor Prost. O italiano marca poucos pontos e é superado pela primeira vez na F1 pelo seu companheiro de equipe, porém Alboreto ainda tinha crédito com a Ferrari e quem é demitido no final do ano é Johansson. Para o lugar do sueco viria o rápido e promissor Gerhard Berger. Da mesma geração de Ayrton Senna, já uma estrela consolidada em 1987, Berger queria provar que tinha condições de andar igual a Senna e numa equipe grande, poderia comprovar isso. O austríaco sistematicamente derrota Alboreto durante toda a temporada e o italiano só consegue três pódios, enquanto Berger vencia as duas últimas corridas da temporada. A chegada de Berger acabou sendo a pá de cal na motivação de Alboreto, que perdia a primazia de primeiro piloto da Ferrari e a torcida italiana não acreditava mais nele. Para piorar, em 1988 a McLaren dominou o campeonato de forma inédita até então e só não conseguiu uma temporada perfeita em 1988, porque no Grande Prêmio da Itália, Prost quebrou o motor e Senna tentou uma ultrapassagem para lá de otimista em cima da Williams do retardatário Jean-Louis Schlesser e quebrou sua suspensão faltando duas voltas para fim, quando liderava. Quem se aproveitou? A Ferrari, que ainda estava de luto pela morte de Enzo Ferrari semanas antes. Porém, quem capitalizou as glórias acabou sendo Berger, com Alboreto em segundo. Cada vez mais deixado de lado dentro da Ferrari, Alboreto sabia que não ficaria muito tempo na equipe. Para piorar, Michele havia testado o novo câmbio semi-automático da Ferrari para 1989 e sabia das dificuldades que a equipe teria com o novo equipamento. No meio de 1988, Alboreto entrou em contato com a Williams, que passaria a receber motores Renault em 1989 e tinha uma vaga em aberto com a saída de Mansell para a Ferrari, e chegou a ter tudo acertado com Frank Williams, mas o veterano chefe de equipe acabou contratando Thierry Boutsen, deixando poucas vagas competitivas para Alboreto.
Com mais esse golpe na carreira, Michele Alboreto pensa seriamente em se aposentar aos 32 anos de idade, mas sua família o faz ficar mais um ano na F1. Tentando reconstruir sua carreira, Alboreto retorna às origens e vai para a equipe Tyrrell, porém a escuderia ainda tinha os mesmos problemas financeiros de uma década atrás. Alboreto teria os salários pagos pelo patrocinador pessoal da Marlboro, enquanto a equipe sofria com a falta de estrutura. Durante o Grande Prêmio de Mônaco, a Tyrrell só teria um carro do novo modelo 018 e resolve entregá-lo a Jonathan Palmer, deixando Alboreto furioso, a ponto do italiano não entrar na pista no primeiro dia de treinos. A relação com Ken Tyrrell piora bastante após esse episódio e nem mesmo o 5º lugar na etapa monegasca e a terceira posição no México (no que seria o último pódio de Alboreto na F1) melhoram o clima dentro da equipe Tyrrell. Sempre procurando resolver seus problemas financeiros, a Tyrrell consegue o valioso apoio da Camel para o resto do ano a partir do Grande Prêmio da França, criando um atrito com Alboreto e seu patrocínio da Marlboro. Sem perspectivas dentro do time, Michele abandona a Tyrrell, cedendo seu lugar ao jovem Jean Alesi, que coincidentemente teria uma carreira bastante parecida com a de Alboreto. Para piorar as coisas para Alboreto, a Marlboro pára de lhe pagar os salários por ele estar fora da F1 e para se manter correndo, consegue um lugar na equipe Larrousse, que ironicamente, utilizava o patrocínio da Camel. O carro tinha sérios problemas de confiabilidade e em algumas oportunidades Alboreto não consegue se classificar para as corridas, além de ter sofrido um sério acidente nos treinos do Grande Prêmio da Hungria, que lhe fraturou as costelas.
Agora longe da briga por vitórias e títulos, Alboreto teria que se conformar com o pelotão intermediário se quisesse ficar na F1. Em 1990 ele consegue um acordo com a Arrows, que tinha planos bem ousados para os próximos anos. Com forte patrocínio da japonesa Footwork, a equipe tinha um contrato com a Porsche em 1991 e esperava que seus resultados melhorassem a partir de então, transformando a temporada de 1990 como um ano de transição. Alboreto sofre com esse período e não marca pontos numa temporada de F1 pela primeira desde 1981, inclusive tendo ficado de fora algumas corridas durante o ano. Quando finalmente o motor Porsche chegou, a decepção seria ainda maior. Pesado, guloso e bastante inconfiável, o motor alemão acabaria sendo um fracasso retumbante, fazendo a Arrows, que se chamava Footwork naquele momento, a voltar a usar os velhos motores Ford Cosworth no restante da temporada, mas como o carro tinha sido projetado para usar os motores Porsche, Alboreto não marca pontos pelo segundo ano consecutivo. Graças aos patrocinadores japoneses, a Footwork consegue os serviços da Mugen-Honda para 1992, que estava tendo muito sucesso na F3 naquele momento, e os resultados melhoraram consideravelmente. Alboreto consegue marcar pontos em algumas corridas (mas seu melhor resultado seria um 5º lugar...) e mesmo conseguindo seis 7º colocações, o italiano tem um ano bastante regular, mas não a ponto de ter o seu contrato renovado. Alboreto era uma triste sombra do piloto do passado e se transfere para a equipe BMS Itália, que havia obtido resultados muito bons quando utilizava o chassi Dallara, mas o time havia mudado para a Lola e mesmo utilizando motores Ferrari, normalmente a equipe fechava os grid, sendo que Alboreto era constantemente superado pelo seu jovem companheiro de equipe Luca Badoer, que havia acabado de conquistar o título da F3000. Os cabelos brancos de Alboreto, mesmo sendo relativamente jovem, apenas provavam que seu tempo havia passado e seu último ano na F1, pela Minardi, que havia andado muito bem na F2, foi apenas como retardatário, marcando um único ponto no Grande Prêmio de Mônaco e sendo testemunha no caso da morte de Senna. Michele Alboreto fechava sua longa (até demais...) carreira na F1 com 194 corridas, 5 vitórias, 2 poles, 5 melhores voltas, 23 pódios, 186,5 pontos e o vice-campeonato de 1985 como melhor resultado.
Após tanto tempo correndo nos monopostos, Alboreto resolve investir no turismo, participando do forte campeonato da DTM em 1995 pela equipe oficial da Alfa Romeo, sem obter sucesso. Em 1996 ele faria parte do grid inaugural da IRL no circuito oval da Walt Disney World e fez sua primeira 500 Milhas de Indianápolis naquele ano, abandonando discretamente na 43º volta. Após vários anos fora das corridas em Esporte-Protótipo, Alboreto retorna em 1996 atrás de um volante da mítica Ferrari 333 SP, junto com Pierluigi Martini, seu último companheiro de equipe na F1. Mesmo tímido Alboreto era admirado por todos os seus contemporâneos e se tornou amigo de todos eles ao longo dos vários anos no automobilismo. Nelson Piquet o chamava de 'Marroquino'. Porém, foi em 1997 que Michele Alboreto consegue seu último momento de glória, quando retorna às 24 Horas de Le Mans com a equipe Joest-Porsche e fatura a corrida ao lado de Martini e Tom Kristensen, que vencia sua primeira corrida de oito em Sarthe. Em 1999 Alboreto é contratado pela nova equipe Audi, que tentava obter sucesso em Le Mans e após vencer as 12 Horas de Sebring de 2001 ao lado de Rinaldo Capello, Alboreto foi chamado pela equipe alemã para um teste no circuito de Lausitz, na antiga Alemanha Oriental. No dia 25 de abril de 2001, Alboreto vinha numa reta quando foi surpreendido com um pneu furado e seu Audi se desgovernou, indo em direção a um muro de concreto. O carro capotou, mas foi a desaceleração repentina e brutal que acabou matando Michele Alboreto, de 44 anos. O automobilismo ficou de luto e não faltaram homenagens de todos os lados. Quando a Audi venceu em Le Mans poucos meses depois, a vitória foi dedicada a Alboreto. Ainda em 2001, Lausitz ainda veria o terrível acidente de outro italiano, Alessandro Zanardi, que lhe custos as duas pernas. Michele Alboreto era uma pessoa afável e que conquistou vários fãs ao longo dos anos, mesmo não tendo conquistado seu grande sonho e desafio, que dar um título realmente italiano a Ferrari. As pressões sofridas após essa derrota marcaram para sempre a vida e a carreira deste pequeno milanês que tinha mais talento que seus resultados podem supor.
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