domingo, 10 de julho de 2011

Igualando aos grandes

Muitos não gostam dele e sua antipatia e anti-marketing já lhe valeram críticas de Bernie Ecclestone, mas ninguém pode negar o talento de Fernando Alonso e sua vitória em Silverstone o fez igualar as 27 vitórias de Jackie Stewart, fazendo do espanhol quinto colocado do ranking histórico da F1 em número de vitórias. Talvez Alonso tenha o mesmo ‘problema’ de Jim Clark, pois os dois títulos mundiais não condizem com o talento destes dois pilotos. Alonso teve o azar de pegar Renault e Ferrari longe de terem o melhor carro em suas respectivas temporadas, incluindo essa, já que ninguém duvida do título da Red Bull e de Sebastian Vettel, apesar de todos os problemas extra-pista querendo prejudicar o time austríaco.

A prova de hoje foi uma das mais movimentadas e interessantes do ano, com a corrida começando com partes da pista molhada e vários erros das equipes. Até mesmo a Ferrari errou com Felipe Massa, mas os italianos, tão criticados pelos erros seguidos de estratégia após a saída do triunvirato Todt-Brawn-Byrne, foram perfeitos na tática de corrida de Alonso, que assumiu a ponta com o erro da Red Bull na parada de Vettel, mas com pista livre o espanhol desapareceu na frente e Fernando chegou a abrir 20s sobre a Red Bull, corroborando com o bom ritmo de corrida da Ferrari durante o ano, ainda mais com todas essas confusões sobre o tal difusor soprado. Mesmo sem ter o melhor carro do ano, Alonso vem se sobressaindo em pequenos momentos e a vitória em Silverstone foi uma delas. Está na cara que o máximo que Alonso poderá fazer neste ano é conseguir tirar o vice-campeonato de Mark Webber, uma missão bastante difícil vide o que a Red Bull vem fazendo, mas mostra bem o caráter deste espanhol lutador, que apenas quer vencer corridas e campeonatos, sem se preocupar em ser a estrela do circo. Felipe Massa foi o protagonista do ato final deste Grande Prêmio e indiretamente mostrou o quanto Reginaldo Leme precisa se reciclar. O brasileiro finalmente teve grandes pit-stops da Ferrari para auxiliá-lo, mas em várias oportunidades o time italiano o deixou na pista por tempo demais e isso fez Felipe perder tempo. Quando Hamilton começou a diminuir o ritmo para chegar ao final da corrida, Massa tentou uma ultrapassagem agressiva sobre o inglês nas últimas curvas da corrida, resultando no toque dos dois, mas com Hamilton se sobressaindo. Mas para o veterano Reginaldo Leme, aquilo foi quase uma tentativa de assassinato de Hamilton, o piloto mais visado da F1 atualmente, e o comentarista praticamente rogou uma punição ao inglês. Está na cara que o agressivo da manobra foi Massa e o próprio admitiu, mesmo com a entrevista picotada, que aquilo foi um toque de corrida. Agora, a pergunta que não quer calar: se fosse o contrário, com Massa segurando Hamilton com um toque, o que será que Reginaldo acharia da manobra?

Red Bull e McLaren tiveram um dia para esquecer em termos de paradas de boxe e estratégia, com seus quatro pilotos sendo prejudicados em algum momento durante a corrida por erros de sua equipe. Sebastian Vettel vinha dando um dos seus rotineiros passeios quando a Red Bull errou em sua parada e o alemão perdeu valiosos 7s em seu pit-stop. Ele levou 20s de Alonso? Pode ser, mas Vettel não teria uma corrida como a que teve após o erro de sua equipe, mas o alemão não pode se preocupar tanto com relação ao título, pois a equipe, no qual Vettel colocou a foto dos mecânicos em seu camaleônico capacete, está claramente ao seu lado, como vimos na já famosa última volta de Silverstone. Webber estava a ponto de ultrapassar o companheiro de equipe quando uma voz do além, quem sabe até mesmo de Helmut Marko, seu desafeto declarado, pediu a Webber que mantivessem as posições até o fim. A Red Bull, tão propalada em seguir o discurso de equipe esportiva e de não interferir nas disputas internas dentro da equipe, levou um golpe e tanto naquela pequena frase. Com o segundo lugar, Vettel viu sua vantagem aumentar ainda mais no campeonato, chegando aos 200 pontos praticamente na metade da temporada, quanto Mark Webber, que já tinha tido sua corrida atrapalhada pela Red Bull em uma das paradas, não deve ter ficado nada satisfeito com a ordem recebida na volta final, exatamente na pista em que se rebelou ano passado contra a própria equipe. Hamilton fez sua corrida agressiva usual, ultrapassando quem via pela frente na pista mezzo seca, mezzo molhada no início e era uma dos pilotos mais rápidos da pista, com o pódio garantido na frente do enorme público que foi a Silverstone. Então, a experiente equipe McLaren, de tantas glórias e tradições, errou o cálculo de combustível do inglês, que teve que aliviar o ritmo e ser facilmente ultrapassado por Webber e ter que segurar Massa no final, o vencendo por 24 milésimos de segundo, para alegria, mesmo que pequena, da torcida, que vibrou com uma baita chegada protagonizada pelos dois. Resta torcer para que a FIA não se inspire em Reginaldo Leme e estrague essa bela manobra da F1. Jenson Button foi outro a sofrer com os erros da McLaren e em sua última parada, com o 5º lugar praticamente garantido, viu um mecânico não apertar corretamente uma porca do pneu dianteiro direito e o vice-campeonato de Button foi para o vinagre. Button sofre o mesmo mal que aflingia Barrichello em Interlagos, pois o inglês simplesmente não consegue render na frente dos seus torcedores em Silverstone.

O melhor depois dos top-3 foi Nico Rosberg, que fez uma má largada, mas se recuperou a ponto de garantir um sofrido sexto lugar, já que passou boa parte da corrida sendo acossado por um brilhante Sergio Perez. Enquanto muitos acusaram o mexicano de estar na F1 apenas pelo dinheiro de Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, Perez prova que tem talento para permanecer e até mesmo crescer dentro da F1. Michael Schumacher quebrou o enésimo bico de seu Mercedes durante uma corrida, mas o alemão fez uma baita corrida de recuperação e mesmo tendo que ficar parado 10s nos boxes como forma de punição, o heptacampeão em nenhum momento baixou os braços e fez várias ultrapassagens a ponto de conseguir pontuar novamente. Em clara decadência, Heidfeld levou a Renault aos pontos mais uma vez, mesmo tendo Schumacher enchendo seus retrovisores em praticamente toda a prova. O time francês está em péssima fase e somente a regularidade de Heidfeld fez da pontuação da Renault possível, mas isso não impediu a equipe perder a quarta posição do Mundial de Construtores para a Mercedes. Jaime Alguersuari marcou pontos novamente e vai virando a briga interna da Toro Rosso, principalmente com o abandono de Sebastien Buemi após uma briga com Paul di Resta. A sorte de Buemi foi que Daniel Ricciardo, o provável substituto de um dos dois pilotos da Toro Rosso, foi muito mal em sua estréia na F1, chegando a ficar mais de um minuto atrás de Liuzzi, seu companheiro da Hispania. Em uma prova para esquecer, a Williams viu Pastor Maldonado sair da pista algumas vezes e perder a chance de marcar pontos, enquanto Barrichello fazia uma prova anônima no pelotão intermediário. A Force India tinha tudo para marcar pontos e Paul di Resta fazia uma prova consistente quando a equipe errou em sua parada, o fazendo perder muito tempo e cair várias posições, inclusive batendo com Buemi e o tirando da corrida. Sutil passou boa parte da corrida na zona de pontuação, mas acabou por ficar de fora dos top-10, fazendo de uma corrida promissora da Force India em mais uma decepção. Depois da boa Classificação de Kovalainen, a expectativa da Lotus era boa, mas o próprio finlandês acabou abandonando ainda no início, seguido por Trulli logo depois.

Em mais uma prova muito boa, Alonso deu um sinal de vida e saiu do zero em termos de vitórias com a Ferrari, mas o segundo lugar mostra o quão perfeito é a temporada de Vettel, que tem praticamente cem pontos na frente do segundo colocado no campeonato. Porém, Fernando Alonso mostrou sua habilidade ao tirar leite de pedra de sua Ferrari e botar 20s nas imbatíveis Red Bulls.

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