A F1 iniciava sua temporada de 1987 bem mais tarde do que o
normal, lembrando-se que não fazia muito tempo, as primeiras provas da
temporada, na América do Sul, eram realizadas ainda em janeiro. Durante o
inverno, a troca de projetistas agitou mais os bastidores da F1 do que as
trocas de pilotos, que, por sinal, foram poucas. A Ferrari havia agitado o
mercado com a contratação de John Barnard ainda na metade de 1986 e o inglês
chegou tentando mudar a forma de trabalhar dos italianos. Por sinal, Barnard
exigiu um escritório na Inglaterra, pois não gostava da Itália! Para compensar
a enorme perda de Barnard, com o qual conquistou todos os seus títulos na
década de 80, a McLaren trouxe Gordon Murray da Brabham, demonstrando a queda
do time de Bernie Ecclestone desde a saída de Piquet no final de 1985 e que nunca
mais tinha brigado por vitórias desde então.
Falando em Piquet, o brasileiro continuaria na Williams
mesmo com a encarniçada briga com Nigel Mansell, onde o time de Frank Williams
viveu um clima de guerra civil pela enorme rivalidade criada entre os dois
pilotos em 1986. O grande beneficiado pela rixa foi o então campeão Alain
Prost, que conquistou de forma dramática seu segundo título consecutivo e teria
um companheiro de equipe menos perigoso do que o aposentado Keke Rosberg na
figura de Stefan Johansson, que fracassou na Ferrari como possível salvador da
pátria na desorganizada escuderia. Os italianos trouxeram a revelação Gerhard
Berger, com o austríaco tendo uma ótima temporada em 1986 com a Benetton e
chegava ao time de Maranello com fome de sobrepujar Michele Alboreto e se
aproveitar dos conhecimentos de Barnard. Ayrton Senna já era considerado um dos
grandes da F1, mas diziam que ainda lhe faltava experiência para levar a Lotus
rumo ao título mundial, mesmo sua equipe agora tendo os desejados motores
Honda, trazidos por causa do talento de Senna, mas a Lotus teve que engolir a
entrada de Satoru Nakajima no time em troca do motor. Falando em troca de
motores, a Ligier acabou sofrendo uma reviravolta ainda antes da temporada. O
time francês tinha um contrato com a Alfa Romeo para 1987, mas os italianos
foram comprados pela Fiat no início daquele ano e a montadora italiana, que já
investia na Ferrari, não quis duas marcas suas na F1 e obrigou a Alfa abandonar
a F1, após anos de glória nos anos 50. O problema foi que a Ligier já tinha
projetado o carro com o motor Alfa e com a saída dos italianos, teve que fazer
um ‘arranjo técnico’ para colocar os motores da Megatron, uma preparadora que
utilizava antigos motores BMW turbo. A Ligier não participou da primeira
corrida em Jacarepaguá e não viu a primeira corrida do Troféu Jim Clark e Colin
Chapman, reservado apenas aos pilotos e equipes com motores aspirados.
Mesmo com a FISA fazendo de tudo para acabar com a vantagem dos
motores turbo, como a válvula pop-off para limitar a pressão dos turbo, foram
os carros com motores turbo que dominaram a Classificação em Jacarepaguá, com
Mansell tomando o primeiro lugar de Piquet, mostrando que a briga iniciada em
1986 continuaria em 1987. A diferença entre os dois carros da Williams e o
primeiro carro não-Williams, Senna, era superior a 2s, mostrando a
superioridade dos carros ingleses. A Benetton surpreendia ao colocar bem seus
dois carros entre os dez primeiros, inclusive seu novo contratado Thierry Boutsen.
Grid:
1)
Mansell (Williams) – 1:26.128
2)
Piquet (Williams) – 1:26.567
3)
Senna (Lotus) – 1:28.408
4)
Fabi (Benetton) – 1:28.417
5)
Prost (McLaren) – 1:29.175
6)
Boutsen (Benetton) – 1:29.450
7)
Berger (Ferrari) – 1:30.357
8)
Warwick (Arrows) – 1:30.467
9)
Alboreto (Ferrari) – 1:30.468
10)
Johansson (McLaren) – 1:30.476
O dia 12 de abril de 1987 estava quente e ensolarado em
Jacarapaguá, um belo dia de praia no Rio de Janeiro, mas milhares de torcedores
foram ao circuito para torcer por seus compatriotas com cartazes ‘Acelera
Piquet!’ e ‘Dá-lhe Senna’. E foram os dois brasileiros que largaram melhor, com
Nigel Mansell perdendo muito tempo na largada e caindo para quinto, atrás das
duas Benetton. Piquet e Senna dispararam na frente, com o piloto da Williams
logo abrindo vantagem sobre o rival, enquanto Mansell aproveitava a potência do
motor Honda turbo para ultrapassar o quarto colocar Thierry Boutsen ainda na
segunda volta no meio da reta oposta.
Com o calor carioca, o desgaste dos pneus seria um fator
essencial para a corrida e se tinha alguém que sabia dosar bem esse quesito era
Alain Prost que, além disso, venceu em Jacarepaguá em 1984 e 1985. Ele vinha em
sexto, com seu novo McLaren bico de pato com uma tocada bem dosada, sem forçar
demais. Isso acabaria lhe rendendo dividendos mais tarde. Com Mansell
ultrapassando Fabi na terceira volta e Prost fazendo o mesmo com Boutsen no
mesmo local, o ritmo da corrida era forte. Ainda na sétima volta, Piquet
surpreendeu a todos ao ir aos boxes devido à torcida. Isso mesmo. A eufórica torcida
brasileira torcia tanto pelos compatriotas que acabaram jogando muitos papeis
na pista e esses detritos acabaram enchendo os radiadores da Williams de
Piquet, que teve que ir aos boxes tirar os papeis que superaqueciam o motor
Honda e trocar seus pneus, caindo para 11º. Senna assumiu a liderança, mas com
Mansell bastante próximo da Williams, enquanto Prost assumia o terceiro posto
ao ultrapassar a Benetton de Fabi. Prost crescia a olhos vistos.
Para desespero de Mansell, os mesmos papeis que atrapalharam
Piquet também fizeram o motor do Williams-Honda do inglês superaquecer e
Mansell perdeu terreno frente a Senna. Antes de entrar nos boxes na 11º volta,
o piloto da Williams foi ultrapassado por Prost na reta oposta, bem na frente
da torcida carioca, que vibrou como um gol. Com a briga entre Mansell e Piquet
em 1986, o inglês passou a ser o vilão para os brasileiros. Contudo, a alegria
brasileira só durou até a volta seguinte. Com os pneus desgastados, Senna teve
que ir aos boxes trocar sua borracha da Goodyear, entregando a liderança para
Prost, que postergou sua parada por três voltas. Todas essas paradas fizeram
com que Piquet voltasse a liderança, tendo que ultrapassar Boutsen antes de
completar a 18º volta. Porém, de forma surpreendente, Piquet retornou aos boxes
na volta 20 com os pneus desgastados. A corrida nem havia chegado a metade e
muita coisa já havia acontecido! A prova lembrava um pouco o caos que foi o
Grande Prêmio do México de 1986, onde os pilotos desgastavam seus pneus e
rapidamente voltas aos boxes para trocá-los.
Na primeira rodada de paradas, Mansell e Prost levaram
vantagem sobre Senna, mas o francês da McLaren estava colado na traseira da
Williams de Mansell e o ultrapassou na 21º volta. Para não mais perde-la. Com
os pneus desgastados, Mansell e Senna parariam mais vez logo em seguida,
enquanto Prost disparava na ponta. O francês havia largado com os pneus duros,
bem mais resistentes do que os moles escolhidos pelos seus rivais. Até mesmo Johansson
surpreendia. Com a mesma tática de pneus de Prost, o sueco só fez sua parada na
volta 34 de 61 programadas e estava completando uma dobradinha da McLaren no
momento em que foi aos boxes. Piquet vinha num distante segundo lugar, enquanto
Senna e Mansell tinham dificuldades. O inglês teve que fazer uma terceira
parada por causa de um pneu traseiro esquerdo furado e voltaria apenas em nono,
iniciando uma corrida de recuperação que o colocou ainda em sexto no final.
Pior sorte teve Senna, que viu o tão desejado motor Honda lhe deixar na mão bem
na frente dos boxes quando faltavam dez voltas para o fim. Confirmando o quão
anda bem em Jacarepaguá, Prost ganhou com mais de 40s de vantagem sobre Piquet,
que ainda sorriu no pódio após uma corrida muito complicada em casa. A McLaren
mostrava força ao colocar Johansson no pódio, mas quem não tinha do que
reclamar era Prost. Com uma estratégia inteligente, Alain Prost iniciava a
defesa do seu título da melhor forma possível.
Chegada:
1)
Prost
2)
Piquet
3)
Johansson
4)
Berger
5)
Boutsen
6)
Mansell
Um comentário:
A torcida brasileira "tirou" a vitória de Piquet no Brasil (Jacarepaguá, Rio de Janeiro).
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