segunda-feira, 21 de maio de 2007

O haviano voador




Quem nunca na vida pensou em passar as férias no Havaí? Praia, sol, tranqüilidade e muita gente bonita. Isso é tudo que se pensa quando o nome da ilhas americanas do Pacífico são mencionadase e afinal, quem seria louco de sair deste paraíso na Terra? Somente um louco com muita adrenalina na veia! Danny Ongais participou de apenas quatro Grandes Prêmios de F1, mas com certeza é uma lenda do automobilismo americano. Com muita versatilidade, Ongais tem seu nome muito ligado as 500 Milhas de Indianápolis. Muitas vitórias? Ao contrário. Seus acidentes impressionantes assustaram a muita gente e mesmo saindo (com muita sorte) com vida, Ongais ainda reservou uma pequena surpresa no final da carreira. Completando 65 anos, vamos dar uma olhadinha na carreira desse americano que andou de tudo, até de F1!

Nascido no dia 21 de Maio de 1942 em Honolulu, logo após a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, Daniel Ongais, conhecido depois como Danny, teve como característica ter andado de tudo desde cedo. Em 1957, ainda com 14 anos, Ongais iniciou sua carreira nas pistas em cima de uma moto, ainda no Havaí. Com 17 anos Ongais já era um motociclista respeitado e aos poucos partia para as quatro rodas, ao mesmo tempo em que servia ao exército americano no pelotão de pára-quedismo. No Havaí existia um campeonato de dragster local e logo Ongais estava envolvido e no ano seguinte Ongais já vencia o campeonato da ilha e o prêmio de melhor piloto da ilha. Em 1962, Danny foi para o continente com outro haviano desconhecido chamado Roland Leong que inscreveu o dragster dele para participar um campeonato da NHRA (National Hot Rods Association). Ongais se mudou para a Califórnia e começou a trabalhar como mecânico numa empresa que fazia chassis de Dragsters, cujo dono era o ex-piloto de dragster Jim Nelson, que deixou Ongais correr em seu carro e superá-lo. Ongais começou a vencer campeonatos da categoria e praticamente construía e acertava seu carro e logo ele se tornou o principal piloto de dragster dos Estados Unidos, se tornando um mito da NHRA.

Sua carreira de sucesso nos dragsters continuou até 1974, quando ele resolveu tentar a carreira no automobilismo propriamente dito (sinceramente, correr 402m para mim não automobilismo de verdade) e logo de cara, Ongais conseguiu 12 vitórias em 15 corridas no campeonato SCCA de carros-esporte à bordo de um Lola T300. Foi assim que sugiu o apelido de "On-Gas", um trocadilho com seu sobrenome e a forma agressiva que agia nas pistas. O chefão da empresa Interscope, Ted Field, viu em Ongais um talento, meio que envelhecido, e o pôs na sua equipe de F5000 e em 1976 ele conseguiu ficar em quinto lugar no campeonato. Já com 35 anos, Ongais viu sua carreira nos monopostos aflorecer e Ted Field montou uma equipe para ele correr o campeonato da Fórmula Indy e mesmo com a idade um pouco avançada, Ongais foi o estreante do ano, com uma vitória em Michigan e uma boa estréia em Indianápolis.

Ainda em 77 Ted Field passou a namorar com a F1 e quando o circo aportou na América do Norte para as corridas nos Estados Unidos e no Canadá, Field comprou um Penske PC4 para Ongais estrear na categoria máxima do automobilismo mundial. Ele estreou em Watkins Glen (EUA), onde abandonou após um acidente no começo da corrida, mas em Mosport Park Ongais chegou em sétimo, quase marcando um ponto, mesmo que três voltas atrás do vencedor Jody Scheckter. Field e Ongais ficaram animados com esse bom resultado e em 1978 Field comprou um Ensign de 1977 e os resultados não foram nada animadores. Depois das corridas sul-americanas, Field comprou um Shadow modelo 1978, mas o carro não era bom e Ongais sofreu para conseguir se classificar para as corridas e por mais que andasse forte, ele não conseguiu. Sua breve passagem pela F1 terminou em Zandvoort, quando Ongais e Field fizeram uma última tentativa para largar e não conseguiram. A última corrida de Ongais foi mesmo em Jacarapaguá no Grande Prêmio do Brasil de 1978.

Com essa decepção, Ongais resolveu voltar suas atenções para a Fórmula Indy e as corridas da IMSA, o campeonato americano de esporte-protótipos. Ongais venceu uma corrida em Mosport na F-Indy e em 1979 ele conseguiu seu maior feito no automobilismo: venceu as 24 Horas de Daytona ao lado de Ted Field e Hurley Haywood à bordo de um Porsche 935. Ongais participou algumas vezes das 24 Horas de Le Mans, sempre ao lado de Ted Field, mas ele não obteve muito sucesso. De volta à Indianápolis, ele conseguiu um bom quarto lugar na primeira vez que viu a bandeirada. Para 1980, Field resolveu entrar num novo programa que teria um chassi construído com dinheiro dele e projetado por Roman Slobodjnskj e Ongais teve a seu dispor um novíssimo motor Porsche flat-6 turbo, mas os alemães desistiram no final do ano por que o motor foi um verdadeira fracasso, por sinal, o primeiro erro da montadora alemã em terras ianques. No ano seguinte, Field projetou um carro muito feio, que ficou conhecido como "Batmobile". Porém foi nesse carro que Ongais quase morreu. Durante as 500 Milhas de Indianápolis, a suspensão do seu carro quebrou na volta 64 e seu carro foi de frente na curva 3. O acidente foi impressionante e destruiu completamente o carro. Danny Ongais foi levado para o hospital em estado crítico, com várias fraturas nos braços, pernas e hemorragias internas. Ele ficou na UTI por uma semana, mas ele se recuperou e em 1982 ele já estava de volta à pista com mesmo carro que quase o matou.


Contudo Ongais já não era o mesmo e ele tinha 40 primaveras nas costas. Ele continuou na F-Indy durante 1983-87, mas sem muito sucesso. Ainda em 1987, novamente Indianápolis quase tirou a vida de Ongais. Durante a Classificação Ongais perdeu o controle do seu carro na saída da curva 2 e capotou seu carro, se arrastando por toda reta oposta. Danny sofreu uma concussão e ficou de fora das 500 Milhas e todo mundo pensou que ele finalmente abandonaria as corridas. Porém, em 1988 ele surpreendeu ao competir nas 24 Horas de Le Mans à bordo de um Nissan. Depois de mais um abandono, Ongais se retirou das corridas. Mas não definitivamente. Depois de oito anos sem correr e com 54 anos de idade, Ongais foi chamado de volta à Indianápolis em 1996, mas a ocasião não era das melhores. O pole-position Scott Brayton sofreu um acidente fatal num treino livre e a equipe Menard tirou Ongais da aposentadoria para substituir Brayton.


Como em Indianápolis quem classifica é o carro, não o piloto, Ongais não precisou se qualificar para estar no grid, mas teria que largar em último. A largada foi emocionante, com uma série de homenagens à Brayton e Ongais só saiu com o carro amarelo de Brayton depois que todos já estavam no meio da volta de apresentação. Mesmo totalmente enferrujado, Ongais foi sétimo, três voltas atrás do vencedor Buddy Lazier. Como se bebesse a água da fonte da juventude, Ongais voltou à Indianápolis em 1998 num Dallara-Aurora, porém, o havaiano não estava muito rápido (344 km/h de média) e ainda sofreu mais acidente para a conta em Brickyard. Porém, esse foi o último acidente da carreira de Ongais. Danny "On-gas" ainda apareceu num evento da Gram-am em 2002 e essa foi sua última aparição como piloto. Com 60 anos, ele resolveu parar com as corridas e hoje está devidamente aposentado e com a certeza de ser o principal nome do esporte havaiano na história. Seja correndo de dragster, seja correndo de moto no Havaí, sendo vencendo as 24 horas de Daytone e até mesmo freando forte na curva Sul de Jacarepaguá com um F1, hoje Ongais deve estar aproveitando a vida mansa que sua terra tão se identifica. Porém, mesmo sem vencer em Indianápolis, seu nome está arraigado na corridas em Brickyard.


Parabéns Danny Ongais!
8w.forix.com/mrh

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