quinta-feira, 26 de março de 2009

História: 20 anos do Grande Prêmio Brasil de 1989


Assim como ocorrerá nesse ano, a F1 entrava numa nova era em 1989. Após passar toda a década de 80 dominada pelos poderosos motores turbo, a Fórmula 1 passaria a usar somente os motores aspirados e essa era a esperança para um campeonato mais competitivo. Apesar do belo campeonato protagonizado por Senna e Prost com a McLaren, todas as demais equipe viram de longe essa batalha vencida pelo brasileiro, com apenas uma vitória de uma equipe não-McLaren em dezesseis provas. Outras equipes brigando com os carros da McLaren melhoraria, em teoria, o campeonato, que além da novidades nos motores, havia uma nova guerra de pneus com a entrada da Pirelli, sendo que os italianos só entregaria sua borracha a equipes pequenas. Por enquanto. Todos diziam que um dos motivos da massacrante tamporada da McLaren em 1988 foi o motor Honda turbo e como os japoneses teriam que projetar um novo motor, esse poderia ser um fator de dificuldade para a equipe de Ron Dennis, mas os testes provaram o contrário e o atual campeão Ayrton Senna era o grande favorito ao lado do companheiro de equipe Alain Prost.

Porém, o ano de 1989 começou péssimo para a F1. Num teste de pneus em Jacarepaguá, o francês Philippe Streiff sofre um sério acidente e após ter seu AGS capotado, volta à França paralítico. Era o fim da carreira do promissor francês. Dentre as principais equipes que lutariam contra o reinado da McLaren, Ferrari e Williams vinham com novidades. A escuderia de Maranello contratara Nigel Mansell para correr ao lado de Gerhard Berger e John Barnard construíra o novo Ferrari 640 com motor V12 e o novo câmbio semi-automático, inaugurando as mudanças de marcha através de borboletas atrás do volante. Porém, a novidade se mostrou um desastre e, segundo a lenda, durante os testes o novo câmbio não conseguia completar 50 km seguidos. Já a Williams tentava voltar aos bons tempos com uma parceria com a Renault, que voltava à F1 após dois anos de ausência e ainda teria o belga Thierry Boutsen, vindo da Benetton. A equipe de Flavio Briatore permanecia com Alessandro Nannini, mas traria o jovem Johnny Herbert para o lugar de Boutsen. O inglês havia se destacado na F3000 em 1988 até sofrer um grave acidente em Brands Hatch onde quebrou as duas pernas seriamente. O acidente foi tão grave que o inglês não conseguia andar sem ajuda de muletas e por isso andava pelo paddock de bicicleta e era carregado para dentro e para fora do carro. Após um ano decepcionante, a Lotus parecia ter um ano ainda mais desafiador em 1989. Ainda contando com o tricampeão Nelson Piquet, a equipe de Peter Warr teria os motores Judd, que haviam equipado (e mal...) a Williams em 1988. Além da Lotus, outras equipes também usariam o motor inglês derivado de um motor Honda, como a Brabham, que voltava à F1 após um ano de fora, tendo nos seus cockpits o promissor Stefano Modena e o Campeão Mundial de Esporte Protótipo, Martin Brundle. A March, que foi a grande surpresa de 1988, permanecia com Maurício Gugelmin e Ivan Capelli, enquanto a Lamborghini estreava na F1 com a equipe Larrousse e a Yamaha fazia o mesmo com a Zakspeed. Um total de 39 carros estava inscritos e assim treze pilotos teriam que disputar quatro vagas para a primeira Classificação na sexta-feira à tarde.

Essa corrida seria muito especial para Riccardo Patrese, pois o italiano quebraria o recorde de Grandes Prêmios disputados que eram de Graham Hill e Jacques Laffite. Pensando em comemorar o feito e mostrar a força do novo motor Renault, Patrese fica com o tempo mais rápido da sexta-feira, mas o noviciado dos franceses cobram o seu preço no sábado e problemas no motor fazem com que Patrese não possa defender sua pole provisória, ficando com Senna de forma arrebatadora. Berger mostrava que a Ferrari poderia mostrar força enquanto estivesse na pista com um terceiro lugar, enquanto Prost era apenas quinto colocado. Vide o que ocorreu em 1988, era um péssimo resultado para o francês, que frequentemente vencia em Jacarepaguá. O destaque era para Herbert, que em sua primeira corrida na F1, superava Nannini, piloto italiano com muita capacidade na época.

Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:25.302
2) Patrese (Williams) - 1:26.172
3) Berger (Ferrari) - 1:26.271
4) Boutsen (Williams) - 1:26.459
5) Prost (McLaren) - 1:26.620
6) Mansell (Ferrari) - 1:26.772
7) Capelli (March) - 1:27.035
8) Warwick (Arrows) - 1:27.408
9) Piquet (Lotus) - 1:27.437
10) Herbert (Benetton) - 1:27.626

O dia 26 de março de 1989 estava bastante ensolarado e continuava com o enorme calor que marcou aquele final de semana no Rio. Apenas a título de curiosidade, após a transmissão da corrida, a TV Globo estrearia o Domingão do Faustão. O público lotou as arquibancadas para ver Senna finalmente acabar com o seu azar em corridas no Brasil. Até aquele momento, a única vez que o Senna havia terminado uma prova havia sido em 1986 com um segundo lugar, mas como campeão, ele tinha tudo para garantir uma vitória. No entanto, a maionese começou a desandar quando o brasileiro larga mal, algo que era difícil de acontecer, e é atacado por Patrese, pela esquerda, e Berger, pela direita. Os três carros chegaram lado a lado na primeira curva e alguém teria que ceder, mas nessas condições, dificilmente alguém tiraria o pé. Na tomada para a primeira curva, Patrese ficou um pouco à frente e acaba tocando levemente em Senna, mas é o suficiente para que o bico da McLaren saía voando e ainda joga Berger para fora da pista. Boutsen, que havia sofrido um sério acidente durante a pré-temporada é atingido pelos destroços e tem o retrovisor direito destruído.

Senna volta lentamente aos boxes e perde muito tempo trocando o bico do seu carro. O piloto da McLaren voltaria à pista, mas terminaria a corrida nas últimas posições, ao contrário de Berger, que pára na pista logo depois debaixo de muita vaia. Patrese liderava o pelotão seguido por Boutsen, Mansell e Prost. Mansell estava tão receoso com seu novo câmbio que marcou sua volta à Inglaterra bem no meio da corrida e antes da largada, foi conversar com Derek Warwick, que largava logo atrás dele, para que o compatriota tenha cuidado para o caso da Ferrari ficar parada. Mas como as corridas são sempre imprevisíveis, o inglês estava em terceiro e logo ultrapassaria a Williams de Boutsen para ser segundo. O radiador de Boutsen tinha sido atingido pelos destroços da primeira curva e isso causou um superaquecimento do motor Renault, fazendo com que o belga abandonasse em poucas voltas. Patrese fazia a sua melhor corrida em muito tempo e tinha uma liderança sólida, mas Mansell estava sempre à espreita, com Prost em terceiro.

O francês sempre foi considerado um estrategista e quando foi aos boxes ainda na volta 14, todos começavam a imaginar qual seria a trama para que Prost vencesse novamente no Rio. Contudo, logo após sair dos boxes, Prost constatou que tinha um problema na embreagem e que não teria mais condições de fazer pit-stops. No forte calor que fazia naquele dia no Rio, andar mais 47 voltas com o mesmo jogo de pneus seria um desafio e tanto para o piloto da McLaren. Na volta 15, Mansell se aproximou de Patrese e tentou a manobra de ultrapassagem no final da grande reta oposta. Patrese foi esperto e foi para o lado de dentro, mas o Leão usou a força do seu motor Ferrari V12 e fez uma linda ultrapassagem por fora na Curva do Sul. O inglês foi para sua primeira parada seis voltas depois e voltaria à pista em terceiro e teve que ultrapassar Patrese mais uma vez quando o italiano foi aos boxes para sua parada. Prost, que não pararia mais, foi ultrapassado com muita facilidade pelo inglês ainda na volta 27.

Mansell liderava de forma surpreendente, pois ninguém esperava que o câmbio Ferrari fosse agüentar, enquanto Prost se segurava na segunda posição. Alguns pilotos tentaram uma estratégia arriscada, como foi o caso de Maurício Gugelmin, que faria apenas uma parada, ou então do novato Johnny Herbert, que foi um dos primeiros a parar e fez sua segunda parada ainda na metade da prova. Mansell leva um susto quando seu câmbio falha e antecipa seu segundo pit-stop na volta 44 e aproveita para trocar o volante, aonde trocava as marchas. O inglês retorna em segundo, mas ultrapassa Prost poucas voltas depois. O piloto da McLaren fazia um esforço sobre-humano para segurar seu carro com pneus extremamente desgastados e com a embreagem quebrada. Quando Patrese se aproximou do francês, o italiano teve um motor quebrado, mas o fim de corrida de Prost não seria tranquilo. Gugelmin estava mais rápido que o francês e trazia consigo Herbert. O brasileiro encostou na caixa de câmbio da McLaren e o público brasileiro tinha novamente algo para torcer, já que Piquet havia abandonado cedo.

Enquanto Mansell administrava a prova, Prost teve que usar sua genialidade para segurar Gugelmin e Herbert até o final da corrida. Prost disse que essa havia sido uma de suas provas preferidas. Ao contrário de todas as expectativas, Mansell cruzou a linha de chegada em primeiro e logo em sua estreia pela Ferrari, levou seu carro ao topo do pódio. Prost chegou em segundo trazendo Gugelmin e o surpreendente Herbert colados. Era o primeiro pódio do brasileiro. Durante a entrega dos trófeus, Mansell sofre um grande corte na mão, mas o inglês já havia feito o que era praticamente impossível antes da largada. Esta seria a última corrida da F1 em Jacarepaguá e o início do fim do bucólico circuito carioca.

Chegada:
1) Mansell
2) Prost
3) Gugelmin
4) Herbert
5) Warwick
6) Nannini

Um comentário:

Anônimo disse...

O circuito carioca tinha mais charme do que em Interlagos!!!