sábado, 28 de março de 2009

Parece mentira...


Fico imaginando com que cara devem estar os antigos responsáveis pela parte esportiva da Honda na F1. Após anos injetando milhões e milhões de dólares numa equipe que comemorava quando conquistava um pódio, sendo que nas duas últimas temporadas, pontuar era quase motivo de soltar rojões, ver o que aconteceu em Melbourne deve estar doendo no fundo da alma dos japoneses. Foram temporadas de muito trabalho esperando por um bom carro e após perceber que tinha um carro muito ruim em2008, a Honda abandona o projeto para pensar em 2009 com Ross Brawn, que liderava um grupo de trabalho da FIA para melhorar a competitividade para as próximas temporadas. 2008 foi tão desastroso como 2007 e a Honda, com tantas glórias como fornecedora de motores, era agora sinônimo de carro ruim. Mas 2009 tinha tudo para ser diferente, mas veio a crise e o final da equipe em dezembro último. Porém, o novo carro estava concluído e toda a estrutura estava lá. Brawn fez o management-buyout e adquiriu a equipe. Ele sabia o que estava sabendo. E o resultado está aí, para desespero dos japoneses.

Após dois anos na, desculpem a palavra, merda, a dupla Jenson Button e Rubens Barrichello conseguiu algo que nem em seus melhores sonhos tinham feito quando havia o forte investimento da Honda. Já nos testes de Pré-temporada a equipe mostrou um desempenho assombroso, mas sempre ficamos com um pé atrás nos ensaios de inverno. Chegou a sexta-feira com a equipe andando no pelotão da frente, mas longe da dominação que mostraram nas pistas espanholas. Então veio o sábado e a mostra que Ross Brawn estava apenas testando para a corrida ontem. Button e Barrichello dominaram a classificação a seu bel-prazer, marcando os dois melhores tempos nas três partes da Classificação. Foi uma exibição esmagadora de uma equipe que ainda discutia se conseguiria largar em Melbourne há 40 dias atrás. Para a corrida, claro que a história poderá ser diferente, mas tudo indica para um domínio totalmente inesperado.

Outra mostra de como a F1 mudou foi o terceiro colocado. Ninguém mais duvida da capacidade de Sebastian Vettel, mas o alemãozinho surpreende mais a cada dia que passa. Após uma sexta-feira em que foi um dos que menos andaram, Vettel deu um show no Q3 e superou com imensa folga seu companheiro de equipe Mark Webber, que fechou a mini-classificação em décimo. Que viraria oitavo mais tarde. A Red Bull mostrou que poderá ser uma das protagonistas neste ano. Outra que mostrou força, mas nem tanto como o esperado, foi a Williams. Depois de dominar na sexta com Nico Rosberg, a equipe de Grove esteve longe de brigar pela ponta, mas Rosberg se mostrou um piloto rápido e forte, bem melhor do que Kazuki Nakajima, que ficou pelo caminho na Q2. A Toyota, outra equipe que havia andado forte ontem, conseguiu se manter nas mesmas posições conquistas na sexta, mas uma irregularidade encontrada nos carro nipônicos fizeram com que Glock e Trulli caíssem para as últimas posições de amanhã. Um duro golpe na montadora que pretende, até para se manter na F1, conquistar uma vitória esse ano.

A Ferrari ficou em posições intermediárias pela primeira vez desde 2005. Raikkonen e Massa andaram forte e ficaram juntos em toda a classificação, mas a coisa já se mostrou que andava feia quando, no Q2, Felipe ficou em nono e Kimi em décimo, sendo que não sabemos se Alonso não poderia tomar a posição do finlandês se não tivesse errado na sua última volta de Classificação. Foi quando a realidade bateu na porta dos italianos e ficou claro que não brigariam pela pole, algo comprovado no Q3 com Massa superando Kimi, mas seis décimos atrás do pole. Para piorar a situação dos ferraristas, o novo carro foi superada por outros bólidos sem o famoso difusor traseiro de Brawn, Williams e Toyota. A Ferrari começa atrás nesse campeonato, mas nada parecido com a McLaren. A equipe do atual campeão do mundo começa 2009 de uma forma totalmente atípica de um histórico de vitórias e títulos. Desde 2004 não vemos a McLaren tão mal, sendo que 2009 está sendo ainda pior. Por muito pouco um dos prateados não foram nocauteados no Q1, com ambos os carros em 14º e 15º. Como se desgraça pouca fosse bobagem, além de lento, o carro se mostrou também frágil, com o campeão Hamilton tendo que trocar o câmbio, quebrado durante o Q1, e largará no final do pelotão amanhã. Kovalainen pouco pôde fazer no Q2 além de fechar o pelotão, mas ver o atual campeão Hamilton, com um carro ruim, nas últimas posições será uma experiência que será interessante de se assistir.

A única equipe que se destacou em 2008 e fez um papel digno nessa temporada que se inicia foi a BMW. E mostrou que o Kers, nesses momentos iniciais, não faz diferença. Sem usar a novidade, o pesado Robert Kubica tirou um coelho da cartola em um final de semana discreto e largará em quarto amanhã, enquanto o leve Nick Heidfeld, com o novo aparato, não conseguiu se classificar para o Q3, mas com as desclassificações da Toyota e largando com o combustível que quiser, o alemão terá boas chances de pontuar amanhã. A Renault, que tinha boas perspectivas para esse ano após pontuar com regularidade no terço final de 2008, voltou aos péssimos tempo com Alonso ficando de fora do Q3, mas ninguém sabe ao certo o que o espanhol poderia fazer se não tivesse errado na última volta de classificação no Q2. Contudo, quem não mudou foi Nelsinho Piquet. O brasileiro se arrastou pelas últimas posições e ficou longe de Alonso. Nem a presença do seu pai nos boxes poderá interferir numa demissão sumária de Flavio Briatore se esses pífios resultados continuarem. Nas equipes consideradas pequenas, Toro Rosso e Force India, fica o destaque para o desempenho do único estreante do grid, Sebastien Buemi, que ficou não apenas à frente de Bourdais, último tempo, como quase tirou uma McLaren do Q2.

Não restam dúvidas que hoje foi um dia inesquecível para a F1, mas muitas respostas ainda terão que ser respondidas amanhã, quando tudo importa. Vettel tem o Kers e isso pode ser importante na largada, enquanto a primeira curva de Melbourne, caracterizada pelos acidentes, será ainda mais tensa com os enormes aerofólios dianteiros dos novos carros. A Brawn fez história hoje, mas esse conto de fadas, que parecia mentira no início, pode ainda continuar com capítulos ainda mais felizes.

Um comentário:

Speeder76 disse...

Confesso que vejo tudo isto com um sorriso nos lábios. Ver a velha ordem a ser invertida numa nova temporada de Formula 1 onde tem todos os ingredientes para ser quente, mas mesmo muito quente, é um colirio para os olhos.

E ver a Brawn GP na frente (agora a equipa dos B's, com a inclusão do Richard Branson)), não só mostra o génio do Ross Brawn, como me faz lembrar dois homens do passado, por motivos completamente diferentes: Colin Chapman e Walter Wolf. Amanhã veremos, mas vai valer a pena acordar ás sete da manhã para ver isto!