terça-feira, 9 de março de 2010

Taxista de Nova Iorque


São raros os americanos que fazem sucesso na F1, mas é ainda mais difícil ver um ianque sair jovem da América e cruzar o Atlântico atrás de sucesso ainda nas categorias de base européias. A carreira de Danny Sullivan é marcada justamente pela forma anormal como ele a levou, tendo um relativo sucesso nas categorias de base inglesas, mas só alcançando a fama nos ovais americanos, onde se tornou uma estrela da Formula Indy nos anos 80, onde venceu uma edição histórica das 500 Milhas de Indianápolis e um título, competindo por vários anos na tradicional equipe Penske. Boa pinta, Sullivan fez sucesso também modelo e como ator de uma série de TV, mas fracassou quando se aventurou por um ano na F1. Completando 60 anos hoje, iremos conhecer a versátil carreira de Danny Sullivan.

Daniel John Sullivan III nasceu no dia 9 de março de 1950 em Louisville, no estado americano de Kentucky. Filho de um empreiteiro local, Sullivan estudou em bons colégios, mas preferiu seguir uma carreira militar e foi para o Instituto Militar de Kentucky, mas sua boa aparência fez com que ele virasse uma piada no agrupamento militar e Danny, como sempre foi chamado, foi a Nova Iorque fazer faculdade de administração e foi se virar sozinho. Sem o apoio do pai, Danny fez vários bicos para sobreviver, como faxineiro, garçom de restaurantes finos, lenhador na floresta Adirondack e, principalmente, pelo o que ficou conhecido mais tarde: motorista de táxi nos famosos cabs amarelos de Nova Iorque. Até então essa era o que mais próximo Sullivan esteve perto do esporte a motor, apesar de adorar corridas. Por isso, o americano não hesitou quando o Dr. Frank Faulkner lhe pagou a inscrição para a famosa Jim Russell School, na Inglaterra, quando Sullivan completou 21 anos de idade. Naquela época era bastante incomum americanos tão jovens cruzarem o Atlântico para correr, mas Jim Russell deveria estar acostumado com pilotos de outras nacionalidades tentando sucesso na sua escola, pois dois anos antes ele acolheu um brasileiro chamado Emerson Fittipaldi e o resultado já estava ficando claro ainda em 1971.

Após um ano correndo a trabalhando na escola, Danny Sullivan estreou no Campeonato Britânico de F-Ford 1600 em 1972, onde conseguiu bons resultados, mas não conquistou o título, porém seus resultados o credenciaram a subir de categoria em 1974, partindo para a F3 nesse ano, onde foi 2º no Campeonato Inglês e 4º no Campeonato Europeu. Um excelente ano para um novato, mas Danny resolveu ficar mais um ano na F3 e também não foi mal, conquistando cinco vitórias e quatro poles, fazendo com que o americano fosse com muitas credenciais para o famoso Campeonato Europeu de F2 em 1976, porém sua experiência no campeonato foi um fracasso retumbante, onde Sullivan ficou várias corridas de fora. Sem muitas perspectivas na Europa, Danny trilhou outro caminho e em 1978 trocou a F2 pela Formula Atlantic, onde disputou simultaneamente os campeonatos americano e neozelandês com resultados satisfatórios, mas sem chamar muita atenção. Sem dinheiro, Danny passou o ano de 1979 parado, sendo instrutor na famosa escola de Skip Barber, mas em 1980 ele foi convidado para participar do campeonato da Can-Am. Os carros eram muito potentes e com muita tecnologia, geralmente usando carros de F5000 carenados e na época muitos pilotos que não tinham obtido muitos resultados no monoposto na Europa (como era o caso de Sullivan) como Patrick Tambay e Keke Rosberg participavam do campeonato e Danny Sullivan conquistou um promissor 6º lugar no campeonato, conquistando o prêmio de Rookie of the year. Sullivan conquistou sua primeira vitória em Las Vegas na Can-Am no final de 1981 e terminou em quarto lugar no campeonato. No ano seguinte, Danny foi contratado pela equipe do ator Paul Newman e usava o patrocínio da Budweiser, garantindo equipamento competitivo e bons resultados ao longo do ano, chamando a atenção das equipes da Formula Indy. Ainda em 1982 Sullivan fez sua estréia na categoria pela equipe Forsythe e de forma impressionante o americano conseguiu um 3º lugar logo em sua primeira corrida em Atlanta. Danny também estreou nas 500 Milhas de Indianápolis em 1982, mas bateu seu March 82C na volta 148 no muro da curva 3.

Nesse momento, aos 32 anos, Danny Sullivan nem imaginava que iria participar da F1, mas uma série de acontecimentos fez com que o americano estreasse na principal categoria do automobilismo em 1983. A Tyrrell passava por enormes dificuldades financeiras desde o final dos anos 70, mas conseguiu o patrocínio da Benetton para a temporada de 1983 e ficou a mercê dos pedidos dos italianos, que queriam um piloto americano no time. Afora Mario Andretti, nenhum outro piloto americano tinha um desempenho comprovadamente bom em circuitos mistos naquele momento, mas todos lembraram os bons momentos de Sullivan na Inglaterra na metade da década de 70 e o americano foi contratado. Mesmo com uma vitória surpreendente de Michele Alboreto na última corrida de 1982, a Tyrrell tinha um problema sério que dificilmente garantiria um bom desempenho em 1983: a falta de um motor turbo. Usando carros aspirados, a Tyrrell não teria chances em pistas rápidas e com o desenvolvimento dos motores sobrealimentados, as quebras se tornariam cada vez mais raras, dificultando ainda mais as coisas para os times que ainda usavam motores aspirados. Sullivan não teve uma estréia muito auspiciosa, quando conseguiu o 21º lugar no grid em Jacarepaguá e terminou a prova em 11º. Na verdade, Sullivan só conseguiu largar duas vezes entre os vinte primeiros (nas duas provas americanas) e sofreu uma série de quebras, fazendo com que o americano só conseguisse um 5º lugar no Grande Prêmio de Mônaco, numa prova marcada justamente pelos vários abandonos. Foram os dois únicos pontos de Sullivan em quinze provas na F1. Porém, a Tyrrell se mostrava competitiva em determinadas pistas e a vitória de Alboreto em Detroit, um circuito de rua, era a prova disso. Em Brands Hatch seria disputado, pela última vez, a tradicional corrida Race of Champions e essa acabaria sendo a melhor corrida de Danny Sullivan na F1. Numa corrida esvaziada, mas com a Williams de Keke Rosberg e a Ferrari de René Arnoux, Sullivan chegou a liderar a corrida, ficou em 2º a maior parte da prova, colado atrás de Rosberg e assim terminou a corrida. Foi um ótimo desempenho, mas não foi o suficiente para Sullivan se manter na Tyrrell e na F1. A Benetton tinha se mudado para a Alfa Romeo e a Tyrrell não precisaria mais ter um piloto americano nos seus carros, fazendo com que Ken Tyrrell contratasse os jovens Stefan Bellof e Martin Brundle para 1984. Isso era a senha para que Danny Sullivan cruzasse o Atlântico e se mudasse definitivamente para a Formula Indy. Onde alcançaria o sucesso e a fama.

Danny Sullivan foi contratado pela equipe Shierson para 1984, onde utilizaria os famosos carros tricolores do patrocinador Domino’s Pizza e Sullivan rapidamente esqueceu sua mal aventurada experiência na Europa, vencendo em Cleveland, Montreal e as 500 Milhas de Pocono, conseguindo um excepcional 4º lugar no Campeonato. A vitória no super-oval de Pocono chamou a atenção de Roger Penske, pois essa era a prova de que Sullivan também podia andar bem também em ovais, e Danny acabaria contratado pela famosa equipe Penske para 1985. Sullivan teria ao seu lado o Rei dos Ovais Rick Mears e andaria no lindo carro dourado e vermelho patrocinado pela Miller. E logo de cara, Danny Sullivan marca seu nome na história das corridas americanas numa das vitórias mais famosas das 500 Milhas de Indianápolis. Sullivan disputava a vitória com Mario Andretti e após fazer a ultrapassagem sobre o veterano piloto na volta 120, Danny perde o controle do seu carro e quando todos esperavam a pancada no muro, Danny Sullivan dá uma rodada de 360º com seu Lola, não bate em nada e recupera o controle do seu carro. Tudo isso na frente de Andretti! Com os pneus destruídos, Sullivan foi aos boxes trocar seus pneus e partiu novamente em perseguição a Andretti, conseguindo a ultrapassagem vinte voltas depois. Foi uma das maiores recuperações já vistas na pista de Indiana, mas as emoções daquela edição histórica ainda não haviam acabado. Na volta 192, a bandeira amarela apareceu e Sullivan estava na liderança, mas com Andretti e Roberto Guerrero no seu encalço. A relargada aconteceu quando faltavam três voltas e na volta seguinte Sullivan conseguiu abrir 2.4s de vantagem sobre Andretti, mas Danny não pôde diminuir o ritmo e na penúltima volta, Sullivan e Andretti quebraram o recorde da pista e no fim Danny recebeu a bandeirada com 2.477s de vantagem sobre Andretti, conseguindo uma vitória que marcaria para sempre sua carreira. Com esse triunfo, Danny Sullivan se torna uma estrela das corridas americanas e voltando aos tempos em que foi modelo em Nova Iorque, Danny participou em 1986 do famoso seriado Miami Vice, onde ele interpretou um piloto de corrida acusado de matar uma prostituta. Tantos afazeres fora das pistas fizeram com que Sullivan se desconcentrasse e só conseguisse um nono lugar no campeonato de 1987, sem nenhuma vitória, e Roger Penske cobrou um maior empenho de Danny e ele abandonou um pouco os sets de filmagens. Isso foi a senha para que o americano da Penske realizasse uma temporada inesquecível em 1988, onde conseguiu quatro vitórias (Portland, Michigan, Nazareth e Laguna Seca), nove poles e onze top-5 em quinze corridas, conquistando o campeonato com larga vantagem sobre o vice Al Unser Jr.

Após seu título em 1988, Danny Sullivan, já prestes a completar 40 anos, tem anos irregulares e não brigaria mais pelo título. Em 1989 o americano sofre um forte acidente nos treinos para as 500 Milhas de Indianápolis e tem que disputar a corrida com o braço quebrado, o prejudicando para o resto do ano, conquistando apenas duas vitórias (Elkhart Lake e Pocono) e o sétimo lugar no campeonato. Em seu último ano na Penske, em 1990, Sullivan faz parte de um trio fortíssimo, ao lado de Rick Mears e Emerson Fittipaldi, mas a Penske não foi capaz de conquistar o título de pilotos, que ficou com Al Unser Jr. e em sua última corrida pela equipe que defendeu por seis anos, Danny Sullivan conquistou sua última vitória usando o macacão vermelho da Marlboro, em Laguna Seca. Já um piloto estabelecido, Sullivan aceita o desafio de desenvolver os motores turbo da Alfa Romeo, ao lado da equipe Patrick, mas os propulsores italianos se mostraram difíceis de acertar e muito pesados, fazendo com que a Alfa abandonasse o projeto no final de 1991. Mesmo com um bom início com um 4º lugar em Surfers Paradise, Sullivan fica frustrado com o motor Alfa Romeo e com a equipe Patrick e se muda para a equipe Galles em 1992, em outro desafio em sua carreira, pois agora teria que desenvolver o chassi Galmer. A Galles era uma equipe de ponta na época e tinha dado o título para Unser Jr. em 1990, fazendo com que Danny reencontrasse as vitórias, com um triunfo em Long Beach, ficando em sétimo lugar no campeonato. Uma vitória surpreendente em Detroit em 1993 não foi capaz de aliviar um ano abaixo das expectativas para Danny Sullivan e o 12º lugar no campeonato refletiu bem a decadência da Galles e até mesmo de Danny. Pela primeira vez em 15 anos, Sullivan passa um ano sem correr profissionalmente, mas nem por isso fica totalmente parado, fazendo corridas ocasionais em carros de turismo em 1994, como nas 400 Milhas de Indianápolis da Nascar e conseguindo um excelente 3º lugar nas 24 Horas de Le Mans, ao lado de Thierry Boutsen e Hans Joachim Stuck, a bordo de um Porsche.

Sullivan faz um teste com um Indycar no final de 1994 e o bom resultado faz com que o já veterano piloto voltasse a Formula Indy em 1995, aos 45 anos de idade, nas mãos da equipe PacWest. Porém, mesmo com apenas dois anos de diferença, a Formula Indy já não era a mesma. Os pilotos com que Danny Sullivan protagonizaram a Formula Indy anos antes tinham se aposentado (Mario Andretti e Mears) ou estavam em decadência (Bobby Rahal e Al Unser Jr.). Jovens pilotos de todo mundo estavam estreando na categoria e um exemplo claro era seu companheiro de equipe, o brasileiro Maurício Gugelmin. Sullivan não consegue um único resultado de destaque e durante as 500 Milhas de Michigan, o americano sofre um sério acidente, fazendo com que quebrasse a pélvis e abandonasse definitivamente a carreira nos monopostos. Na Cart, foram 172 largadas, 17 vitórias, 19 poles, 36 pódios e o título de 1988. Imediatamente após abandonar a carreira, Danny Sullivan se tornou comentarista da Indy pela rede ABC e participa de algumas corridas eventuais de endurance. Ao lado de Nelson Piquet, Sullivan conquista um 8º lugar nas 24 Horas de Le Mans de 1997 com um McLaren GTR e termina em 2º lugar as 24h de Daytona, com um Porsche, em 1998. Na última década, Danny Sullivan novamente atravessou o Atlântico e se mudou para a França, onde mora hoje, dando auxílio ao esquema de jovens pilotos da Red Bull, sendo que a principal revelação que Danny encontrou foi Scott Speed. Piloto carismático e extremamente simpático, Danny Sullivan foi um dos principais pilotos americanos dos anos 80 e mesmo sem apresentar a finesse e a agressividade de contemporâneos como Rick Mears, Mario Andretti, Emerson Fittipaldi e Bobby Rahal, Sullivan conquistou vitórias e títulos nos Estados Unidos e entrou na história.

Parabéns!
Danny Sullivan

Um comentário:

Sara disse...

Eu tive a sorte, em algum momento de ver este tipo de corrida, espero que em algum momento você vai vê-lo novamente só agora eu acho que eu preciso tirar férias e eu acho que vai olhar para Os melhores hotéis em Florianópolis estão no Decolar.com