Após mais um pódio em Spa, a pergunta era quando e onde Alain Prost finalmente conquistaria seu primeiro título mundial, sendo o primeiro francês a fazê-lo. Graças aos descartes, Prost precisava de apenas dois pontos para liquidar a fatura e apenas Michele Alboreto, na decadente Ferrari, ainda tinha remotas chances de impedir o triunfo de Prost.
Com tão pouco a fazer, Prost não iria se esforçar por uma pole-position. Ele foi apenas o quinto mais rápido na sexta-feira. Após um domínio de Keke Rosberg e Nelson Piquet, Ayrton Senna foi o mais rápido na primeira sessão de Classificação, com 1s de vantagem sobre Piquet. Todos ficaram abismados com tamanho desempenho, mas logo se descobriu o motivo. Mesmo com Nelson Piquet mostrando a todos desde os tempos da F3 que o pré-aquecimento dos pneus é algo crucial para conseguir um bom desempenho da borracha nas primeiras voltas, apenas a Lotus estava fazendo isso na sexta-feira. Até mesmo a McLaren, que fez isso pela primeira vez no Grande Prêmio do Canadá de 1974, estava comendo mosca. Todas as equipes passaram a esquentar os pneus no sábado.
Rosberg e Mansell melhoraram seus tempos, mas não a ponto de bater o fantástico tempo de Senna. A surpresa era ver Mansell à frente de Rosberg. Nelson Piquet, mesmo de saída da equipe Brabham rumo à Williams, ainda tentava melhorar seu carro, com o potente motor BMW. O brasileiro conseguiu melhorar o tempo do seu compatriota, mas Senna, já no final da sessão, voltou a superar seu compatriota e o Brasil faria dobradinha em Brands Hatch. Outra surpresa era o ótimo desempenho do francês Philippe Streiff, que colocou seu Ligier à frente do virtual campeão Prost. Sofrendo com sua Ferrari, Alboreto era um triste 15º colocado no grid.
Grid:
1) Senna (Lotus) - 1:07.169
2) Piquet (Brabham) - 1:07.482
3) Mansell (Williams) - 1:08.059
4) Rosberg (Williams) - 1:08.197
5) Streiff (Ligier) - 1:09.080
6) Prost (McLaren) - 1:09.429
7) Surer (Brabham) - 1:09.762
8) Warwick (Renault) - 1:09.904
9) De Angelis (Lotus) - 1:10.014
10) Laffite (Ligier) - 1:10.081
O dia 6 de outubro de 1985 estava com pouco sol em Brands Hatch, mas o tempo estava firme. Não haveria chuva, apesar do tempo carrancudo. O tradicional circuito inglês tem uma das largadas mais perigosas do calendário da F1 e ultrapassar não era algo muito fácil em Brands Hatch. Por isso, a largada seria tensa. E realmente foi! Quem largou no lado ímpar, como foi o caso de Senna e Mansell, saíram sem problemas na luz verde e ambos ficaram lado a lado na primeira curva. Já para quem largou no lado par, houve dificuldades, com Piquet e Rosberg derrapando bastante na largada. Prost, que estava logo atrás de Rosberg, tenta ultrapassar o lento finlandês e vai para a grama, o atrasando ainda mais. Apesar de todos os problemas, Rosberg ainda ficou em 3º, com Piquet logo atrás. Mansell tentava ultrapassar logo Senna, mas o inglês acabou se atrapalhando na freada da Druids e quase saiu da pista. Nigel controlou seu Williams, mas acabou perdendo duas posições, caindo para 4º. Na briga pelo título, Alboreto se aproveitou da largada confusa para pular para 8º, bem à frente de Prost, que cruzou a primeira volta apenas em 12º. Era um sopro de esperança para o italiano...
Lá na frente, Senna, Rosberg, Piquet e Mansell batalhavam pela primeira posição, com Senna claramente segurando seus adversários. Senna já estava ficando conhecido pela sua agressividade em fechar portas e isso deixava muitos pilotos, como Rosberg, bastante irritados com o brasileiro. Na sexta volta, após várias portas fechadas na cara, Rosberg tentou a ultrapassagem na curva Surtees e o finlandês chegou à ficar ao lado da Lotus, mas Senna brequou no limite e Rosberg acabou tocando na roda traseira de Senna. Rosberg acabou levando a pior e rodou, ficando bem à frente de Piquet. Por mais que tenha tentado, o brasileiro da Brabham não foi capaz de segurar seu carro e bateu na roda dianteira da Williams de Rosberg. Mesmo tendo quebrado apenas o bico do seu carro, Piquet deixou o seu carro morrer e abandonou naquele mesmo local. Rosberg voltou à pista, mas com o pneu traseiro furado, atingido por Piquet. O finlandês foi aos boxes trocar seus pneus e avaliar os danos. Com o carro em perfeito estado, Rosberg voltou à corrida bem à frente de Senna. Se já estava insatisfeito com o brasileiro, Rosberg estava furioso com Senna e pretendia vingança!
Mansell passou a pressionar Senna, mas obteve um involuntário ajudante. Rosberg esperou Senna apenas para fechar a porta do brasileiro! Atrapalhado por Rosberg, Senna acabou ultrapassado por Mansell na curva Bottom Bend. Para ajudar seu companheiro de equipe (e atazanar Senna), Rosberg permaneceu próximo de Mansell, evitando um contra-ataque de Senna. O brasileiro perdia contato com as duas Williams e mais tarde, Mansell deixaria Rosberg o passar e iniciar uma belíssima corrida de recuperação. Mais atrás, Prost ultrapassa Alboreto e subia para o 6º lugar, preparando o campo para conquistar o título na Inglaterra. Mas as coisas só piorariam para a Ferrari. Na volta 13, Alboreto entrou nos boxes com seu carro em chamas, com o italiano chegando a ficar de pé para evitar o fogo. A fatura estava praticamente ganha para Prost.
Mansell abria uma boa vantagem sobre Senna, que começava a ser pressionado pelo companheiro de quipe Elio de Angelis. Tentando manter Prost ainda em 6º, Johansson deixou Surer passar e ficou logo à frente do francês, tentando intimida-lo. Experiente, Prost diminuiu seu ritmo para evitar riscos desnecessários, mas isso permitiu que Laffite encostasse na sua traseira. O veterano piloto da Ligier ultrapassou Prost e Johansson, subindo para 5º, com o sueco marcando Prost de perto. O desempenho da Brabham de Marc Surer era surpreendentemente forte e o suíço ultrapassou Elio de Angelis na 20º volta, começando logo depois a pressionar Senna. O brasileiro usava retardatários para manter Surer longe dele, mas o suíço conseguiu a ultrapassagem na volta 35, subindo para 2º. Com Senna perdendo cada vez mais rendimento, o brasileiro acabaria alcançado por Laffite, que acabara de ultrapassar De Angelis, e o veterano subiria para 3º ainda na volta 37, na freada da curva Hawthorn. Mesmo não sendo um dia quente, o desgaste dos pneus era um problemas para alguns carros e Prost, que não queria correr riscos naquele dia, foi aos boxes na volta 38, mas seu pit-stop demorou mais do que o previsto e o francês caiu para 8º. Nessa altura Laffite também começava a sofrer com os pneus e era ultrapassado por Senna, enquanto Prost marcava a volta mais rápida na tentativa de alcançar Johansson, que deixava para trás De Angelis, na tentativa de fugir de Prost. Porém, o francês se aproveitou de John Watson, que era seu companheiro de equipe em substituição ao contundido Niki Lauda, para ultrapassar Elio de Angelis na Paddock Bend e subir para 5º. A posição que precisava para ser campeão.
Porém, as coisas ficariam ainda melhores para Prost. Johansson, com a outra Ferrari, tem problemas de motor e abandona na volta 55. Marc Surer vinha fazendo a corrida de sua vida, mas o suíço acabaria sendo traído pelo seu motor BMW e abandonaria tristemente na volta 62. Isso deixava Senna em 2º, seguido de Prost e... Rosberg! O finlandês estava fazendo uma corrida espetacular e sabendo que Prost não estava afim de briga naquele dia, ultrapassou o francês na volta 65. Nessa altura, Mansell tinha uma vantagem de 19s sobre Senna, que corria sozinho, com 40s de vantagem sobre Rosberg. A corrida ficou estática e Mansell vencia pela primeira vez na F1, com Senna e Rosberg dividindo um pódio tenso, onde eles não se olharam em nenhum momento. Apesar da alegria da torcida inglesa, vibrando com a vitória de Mansell, o homem mais feliz naquele dia era Alain Prost. Após dois vice-campeonatos seguidos, sendo apelidado de 'Stirling' Prost pela imprensa, Alain conquistava seu sonhado primeiro título na F1 e dava a França também o seu primeiro título mundial. Muita gente dizia que Prost só havia conquistado aquele título graças a força da McLaren, mas o futuro diria que o talento desse francês era maior do que o imaginado.
Chegada:
1) Mansell
2) Senna
3) Rosberg
4) Prost
5) De Angelis
6) Boutsen
Um comentário:
Relatos da prova:
- Que "ajuda" Mansell teve de Rosberg (seu companheiro na equipe Williams) para ultrapassar Senna na prova.
- Claro que Prost da McLaren não ia dificultar a ultrapassagem de Rosberg (que ia ser companheiro do piloto francês na equipe inglesa (McLaren)no campeonato de 1986) e
- A chance perdida do italiano Michele Alboreto de continuar na briga do campeonato de 1985.
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