O automobilismo é um esporte cheio de imprevistos, mas algumas vezes certos fatos são tão aparentes, que o esporte a motor quase vira uma ciência exata. Will Power foi o piloto que mais venceu na temporada da F-Indy em 2010, foi o que mais conseguiu poles, liderou a maior parte do ano e chegou a Homestead, etapa final da temporada, com 12 pontos na liderança do campeonato, mas muitas pessoas apontavam o veterano Dario Franchitti como favorito ao título deste ano. O motivo? A flagrante falta de ritmo do australiano da Penske em circuito ovais. Power conseguiu todas as suas glórias em circuitos mistos ou de ruas, enquanto se arrastava nas pistas de quatro curvas. Franchitti, com dois títulos na carreira, era mais regular, conseguindo vitórias em todos os tipos de pista e era o perseguidor mais próximo de Power na fase final do campeonato. Foi quando todos começaram a apontar Franchiti como favorito.
Num capricho do calendário da Indy, as quatro últimas etapas da temporada seriam em circuitos ovais, não apenas o ponto fraco de Power, como também o ponto forte da equipe Ganassi, que trabalharia para Franchitti graças a uma temporada para lá de irregular de Scott Dixon. Power até andou bem em Chicagoland, mas foi traído por um problema na máquina de reabastecimento do seu carro e o seu castelo de cartas começou a desmoronar. De repente, a enorme vantagem de 59 pontos que Power tinha após sua quinta vitória no ano, em Sonoma, desaparecia na medida em que Franchitti dava um show de consistência e velocidade. Dario foi competente ao extremo na parte final do campeonato, conseguindo resultados na base da estratégia quando não tinha carro para derrotar os rivais na pista, ou usando o excelente acerto da Ganassi em ovais, que já havia garantido a vitória mais importante do ano ao escocês, nas 500 Milhas de Indianápolis. A pressão em Power, que disputava pela primeira vez o título, crescia e mesmo o australiano fazendo boas corridas nas últimas etapas, ficava teimosamente atrás de Franchitti.
Em Homestead, Franchitti poderia ainda estar em desvantagem na pontuação, mas era o favorito. Power tinha como trunfo poder utilizar a força da equipe Penske a seu favor, mas a Ganassi se mostrou imbatível no oval de Miami. Para minar ainda mais os nervos de Power, Franchitti ficou com a pole e ainda descontou mais um ponto no campeonato. Na corrida, Dario colocou o regulamento debaixo do braço e liderou o maior número de voltas para garantir mais três pontos na tabela. Se debaixo do capacete é difícil ver a expressão de nervosismo dos pilotos, estava claro na pilotagem de Power que o australiano não corria de forma normal. Mesmo largando em terceiro, o máximo que Power conseguiu foi ficar em quarto lugar. E perdendo posições. A Penske ainda colocava pressão em Franchitti com Briscoe e Castroneves, mas o escocês de 37 anos não se abalaria facilmente. Ao contrário de Power, que passou a ter problemas em seu Penske e acabaria com suas chances ao ralar no muro e quebrar sua suspensão.
O título praticamente se definiu nesse momento. Sem precisar se matar pela vitória, Franchitti apenas corria para levar 'a criança para casa'. Enquanto isso, numa cena de dar dó, Will Power esperava por um milagre, suando em bicas, no pit-wall da Penske. Quando a corrida se aproximou do final e Milka Duno rodou na frente de Franchitti e nada aconteceu ao escocês, Power saiu de sua posição sádica de torcer por algum infórtunio de Dario e se retirou do circuito. Se fica uma lição para Power, é que para vencer na Indy, precisa ser um piloto completo, como mostrou muito bem Franchitti em 2010. Lá na frente, Dixon provava que em ovais está difícil bater a Ganassi ao conseguir uma bela vitória. O destaque ficou para a emocionante disputa entre Tony Kanaan e Danica Patrick pelo segundo lugar. Para companheiros de equipe, Kanaan jogou muito duro em cima de Danica, que dançava atrás do brasileiro, mas foi esperta ao conseguir a manobra definitiva na volta final. Em oitavo, Franchitti cruzava a bandeirada para conseguir seu terceiro título na carreira da Indy.
Dario Franchitti sempre lutou contra as dificuldades financeiras em sua carreira e por isso, mesmo tendo ganho o prêmio de melhor piloto jovem da Grã-Bretanha pela revista Motorsport, o escocês escolheu rotas alternativas para se manter no automobilismo. Primeiro, correu no DTM/ITC e depois foi para a América, onde começou na antiga CART em 1997 por uma equipe pequena (Hogan), mas chamou a atenção da Green, por onde correu a partir de 1998. Ficou empatado em pontos com Juan Pablo Montoya na histórica temporada da CART em 1999, mas um acidente nos testes de pré-temporada do ano 2000 estragou suas temporadas seguintes. Mesmo com o apoio total da Green, Franchitti se tornou um piloto secundário e quando se mudou para a IRL no ano de 2003, essa impressão ficou ainda mais forte, pois a categoria só corria em ovais. Porém, Franchitti foi amadurecendo e sua equipe, juntamente com Michael Andretti, se tornou uma das principais da IRL e Dario consquistou as 500 Milhas de Indianápolis e o campeonato de 2007. E foi demitido! Após uma temporada terrível na Nascar, Franchitti voltou em 2009 para a Indy, agora mais forte, pela equipe Ganassi e venceu dois títulos consecutivos. Mesmo não sendo um garoto, ninguém duvida que Dario Franchitti está no melhor de sua fase e pilotando melhor do que nunca!
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