segunda-feira, 4 de outubro de 2010

História: 40 anos do Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1970


Mesmo ainda de luto, a Lotus precisava honrar a morte de Jochen Rindt, ocorrida um mês antes. O austríaco tinha uma enorme vantagem sobre Jacky Ickx no campeonato, mas o belga da Ferrari estava numa ótima fase, surfando na onda da força da Ferrari, que havia vencido as três corridas anteriores. O título de Rindt corria risco. Após se retirar dos dois Grandes Prêmios seguintes a morte do seu primeiro piloto, na Itália e no Canadá, o time de Colin Chapman estava de volta em Watkins Glen para o premiado Grande Prêmio dos Estados Unidos, que daria ao vencedor 50.000 dólares. Emerson Fittipaldi estava praticamente certo como piloto da Lotus em 1971, mas a morte de Rindt fazia com que o jovem brasileiro, que três anos antes recortava revistas sobre as vitórias de Jim Clark, era o primeiro piloto da Lotus. Com John Miles ainda traumatizado e firme na sua promessa de abandonar as corridas, a Lotus precisou recorrer a outro jovem piloto como segundo piloto: o sueco Reine Wisell. O contrato com Wisell era simples. Se corresse bem as duas últimas corrida de 1970, estava contratado para 1971. Se não, estava fora da equipe! Mesmo com dois pilotos inexperientes, a Lotus precisava de um eforço final para derrotar as Ferraris e dar o título a Rindt.

Porém, Ickx provou o quanto o seu carro estava bem ajustado e marcou sua sétima pole na carreira, com meio segundo de vantagem sobre o novo Tyrrell de Jackie Stewart. O novo bólido havia estreado na etapa anterior, no Canadá, e mostrava todo o potencial do seu Tyrrell. Em sua melhor Classificação, Emerson tentava impedir mais um sucesso de Ickx e para isso se colocou em terceiro, com o mexicano Pedro Rodríguez numa promissora quarta posição. Mesmo com toda a tensão da disputa ainda aberta do título, havia muita atenção para a 16º posição no grid. Após praticamente quinze anos na F1, Jack Brabham estava fazendo sua última corrida na carreira profissional. O australiano terminaria em décimo, de forma discreta, como sempre foi sua gloriosa carreira.

Grid:
1) Ickx (Ferrari) - 1:03.07
2) Stewart (Tyrrell) - 1:03.62
3) Fittipaldi (Lotus) - 1:03.67
4) Rodriguez (BRM) - 1:04.18
5) Amon (March) - 1:04.23
6) Regazzoni (Ferrari) - 1:04.30
7) Oliver (BRM) - 1:04.37
8) Surtees (Surtees) - 1:04.52
9) Wisell (Lotus) - 1:04.79
10) Hill (Lotus) - 1:04.81

O dia 4 de outubro de 1970 amanheceu chovendo no estado de Nova Iorque, mas havia parado no momento da largada. Porém, algo inacreditável aconteceu: vários expectadores haviam passado pela pista e o asfalto estava todo emlameado. A pista estava tão suja, que foi dada seis voltas de apresentação, mas o sol tímido que apareceu transformou a lama em poeira e isso poderia atrapalhar definitivamente os pilotos na largada. Isso ficou claro quando Ickx patinou na luz verde e deixou Emerson Fittipaldi encaixotado, fazendo com que ambos percam várias posições. O piloto da Ferrari cruzou a primeira volta em 3º e Emerson apenas em 8º. Stewart assumia a liderança, com Rodríguez em segundo.

O escocês começa a imprimir um ritmo muito forte, abrindo boa vantagem sobre a BRM de Rodríguez, enquanto a pista permanecia muita sujo e os tempos estavam muito baixos. As duas Ferraris corriam juntas, com Regazzoni escoltando Ickx, mas não demorou para que os vermelhos encostassem em Rodríguez. Na volta 15 e 16, as duas Ferraris passariam a ocupar a 2º e 3º posições, mas para Ickx, só a vitória interessava. Mesmo com chances de ultrapassar Rindt, o belga precisava de dois triunfos para tirar o título póstumo do austríaco. Porém, Stewart, muito amigo de Rindt, parecia correr por ele e pelo piloto da Lotus e disparava na frente, não dando chances ao seu desafeto Ickx. Mais atrás, Emerson tentava uma corrida de recuperação após uma péssima largada e de primeiras voltas cautelosas. Primeiro, ele ultrapassou o veterano John Surtees, que já tinha problemas em seu carro. Correndo atrás de Jackie Oliver e Chris Amon, o brasileiro teve paciência em se aproximar de ambos, mas nem teve o trabalho de ultrapassar Oliver, com problemas mecânicos e passou a escoltar Amon.
A corrida fica estática, com Stewart dando uma demonstração de todo o potencial do seu Tyrrell, enquanto as Ferraris tentavam, como diz o forró, em vão se aproximar do escocês. Tamanho esforço fez com que Regazzoni fizesse algo incomum na volta 36: um pit-stop. A verdade era que as condições da pista não eram nada boas e o desgaste fez com que o suíço fosse aos boxes trocar seus pneus, algo que Chris Amon teve que fazer dez voltas mais tarde. Isso deixava Emerson na 4º posição, numa recuperação pautada na paciência e cuidando do seu Lotus, que teve o motor trocado na véspera, pois Chapman achava que o propulsor ainda não estava amaciado. Fittipaldi estava 9s atrás de Rodríguez, que tinha uma desvantagem parecida para Ickx. Contudo, Ickx teve que ir aos boxes na volta 57, mas por motivos diferentes. Um vazamento de combustível na sua Ferrari fez com que o belga praticamente se despedisse de suas chances de ganhar o título em 1970. Ao contrário do que muita gente imagina, mesmo se Emerson não vencesse essa corrida, Rindt não perderia seu título por causa desse incidente na metade da corrida em Watkins Glen. Porém, a história contada foi outra...

Com seu maior rival no lado de fora, Stewart liderava soberano e num ritmo assustador. Na volta 75, o escocês já colocava uma volta no 3º colocado Fittipaldi, mas quando passou pelo brasileiro da Lotus, Stewart já sentia problemas no seu motor Ford Cosworth DFV. Infelizmente para o escocês, o noviciado de carros de F1 é pautado de vários problemas mecânicos e na volta 82 Stewart abandonou tristemente o GP dos Estados Unidos com o motor quebrado, uma prova praticamente ganha. Rodríguez assumia a liderança da corrida com larga vantagem sobre Emerson, mas as voltas a mais de apresentação podem ter sido decisivos para o mexicano. O voraz motor BRM V12 cobrou seu preço e quando voltavam oito voltas de uma corrida de 108, Rodríguez teve que entrar nos boxes para sua equipe colocar gasolina no seu tanque... com uma canequinha! Emerson Fittipaldi, em sua quarta corrida na F1, assumia a liderança da corrida. O brasileiro fez toda sua corrida de forma cautelosa e quando se viu na iminência de vencer sua primeira corrida, Emerson diminuiu ainda mais o ritmo. Seu cuidado era tanto, que na última volta, ele preferiu diminuir ainda mais o ritmo quando viu mais um retardatário na sua frente. "Vai que o pneu daquele carro estourasse ou coisa assim." Não era preciso. Quando Emerson apontou na última curva, viu Colin Chapman com seu boné preto na mão. A famosa cena do chefe de equipe jogando seu boné para cima quando vence uma corrida estava agora acontecendo para Emerson Fittipaldi. O Brasil sentia, pela primeira vez, o gostinho de uma vitória na F1 e Fittipaldi iniciava (e muito provavelmente ele nem imaginava isso quando recebeu a bandeirada naquele dia) uma dinastia na F1.

Chegada:
1) Fittipaldi
2) Rodríguez
3) Wisell
4) Ickx
5) Amon
6) Bell

Um comentário:

Ron Groo disse...

E aporta para uma história bélissima no automobilismo (F1) estava aberta. Tanto pessoalmente para Emerson quanto para o país.