quarta-feira, 3 de novembro de 2010

História: 25 anos do Grande Prêmio da Austrália de 1985


Oficialmente em seu primeiro ano na F1, a Austrália mostrava uma atmosfera festiva e relaxante para pilotos e equipes, clima esse que marcaria para sempre a corrida em Adelaide, que fecharia o calendário da Formula 1 nos próximos dez anos. Isso acontecia na maioria das vezes porque o campeonato já estava decidido e em 1985 era justamente esse o caso, com Prost já tendo conquistando o primeiro título mundial para um francês há duas corridas atrás. A corrida australiana seria de muita festa e, principalmente, despedidas. Duas montadoras estavam de malas prontas e a Renault, após tanto investimentos e vitórias, sairia da F1 sem um único título conquistado. Glória essa não faltava a Niki Lauda, que aos 37 anos sairia da F1 pela segunda e última vez.
O circuito de rua de Adelaide ainda era desconhecida dos pilotos (nem precisa dizer que há 25 anos atrás não existiam simuladores...) e o primeiro dia de treinos foi dominado pelos carros da Williams-Honda e por Ayrton Senna, que ainda lutava pelo 3º lugar no Mundial de Pilotos com seu companheiro de equipe Elio de Angelis e Keke Rosberg. No sábado, os tempos melhoraram em até 2s em média e a pole prévia de Rosberg foi esmagada por Mansell e o inglês já comemorava a sua pole, quando Ayrton Senna saiu à pista nos momentos finais e tirou o doce da boca do britânico. Outro destaque era a subida de Prost, lá atrás na sexta-feira, e de Marc Surer ter superado Nelson Piquet. Com certeza o brasileiro não se lembrava da última vez em que era superado por um companheiro de equipe...

Grid:
1) Senna (Lotus) - 1:19.843
2) Mansell (Williams) - 1:20.537
3) Rosberg (Williams) - 1:21.887
4) Prost (McLaren) - 1:21.889
5) Alboreto (Ferrari) - 1:22.337
6) Surer (Brabham) - 1:22.561
7) Berger (Arrows) - 1:22.592
8) Tambay (Renault) - 1:22.683
9) Piquet (Brabham) - 1:22.718
10) De Angelis (Lotus) - 1:23.077

O dia 3 de novembro de 1985 estava ensolarado e muito quente em Adelaide para o 50º Grande Prêmio da Austrália, o primeiro valendo pelo Campeonato Mundial de F1. Jack Brabham deu uma volta com seu velho carro pela pista para delírio dos australianos, enquanto seu compatriota Alan Jones sofria bastante em sua corrida caseira. Senna era conhecido por suas boas largadas, mas pela primeira vez ele teria alguém com tanta agressividade quanto ele na corrida até a primeira curva. Mesmo o brasileiro largando bem, Mansell saiu da inércia mais rápido e tomou a ponta do piloto da Lotus. Senna ficou inconformado com a derrota inesperada e tentou de todas as formas retomar a ponta e numa brecha invisível, o brasileiro mergulhou por dentro de Mansell e os dois saíram da pista. Senna ainda voltou em 2º, atrás de Rosberg, enquanto Mansell abandonaria nos boxes. Aquela seria a primeira grande batalha entre os dois. Uma batalha que entraria para a história...

Rosberg e Senna de distanciavam a uma taxa de 1s sobre o 3º colocado Alboreto, que parecia segurar um enorme pelotão atrás de sua Ferrari. O forte calor cobrava um alto preço aos pilotos e já na sétima volta Laffite fez seu primeiro pit para trocar seus pneus. O veterano francês sabia que teria que cuidar dos seus pneus, algo que o impetuoso Berger não sabia. De forma surpreendente, o austríaco ultrapassou Prost pela 4º posição e quando pressionava Alboreto, seus pneus já estavam destruídos e o austríaco foi aos boxes na nona volta para colocar borracha nova. Se esforçando ao máximo para permanecer em 3º, Alboreto também forçava muito sua Ferrari, mas na 11º volta ele não aguentou a pressão de Prost e foi ultrapassado pelo francês na reta dos boxes, sendo deixado para trás algumas curvas depois por Surer. Mais atrás, o grande destaque ficava para Alan Jones, que havia tido problemas e largou dos boxes. Querendo fazer uma grande apresentação na frente dos seus compatriotas, o australiano subiu rapidamente ao 9º lugar, enquanto Lauda fazia sua conhecida corrida de recuperação e já aparecia em 8º após largar em 16º. Com a quebra de Piquet e a desclassificação de Elio de Angelis (por largar no local errado), Lauda subiria para 6º e Jones para 7º. Porém, o australiano abandonaria tristemente logo depois.

Rosberg começava a abrir uma pequena diferença para Senna, enquanto Surer ultrapassava Prost pelo 3º lugar, mas o francês não desistiu da briga e permaneceu próximo ao suíço, dando o troco algumas voltas mais tarde. Porém, o motor TAG-Porsche se entregou na volta 26 e Prost abandonava pela primeira vez na temporada com um problema mecânico. Numa tentativa de recuperação, Senna tirou a vantagem de 9s que o separava para Rosberg forçando muito, mas isso acabou por estragar seus freios e após uma saída de pista na entrada da reta Brabham, Senna resolveu diminuir seu ímpeto. Porém, na volta 38, o desenvolvimento da corrida do piloto da Lotus sofre um baque quando os dois líderes se aproximaram do 5º colocado Alboreto para colocar uma volta. O italiano deixou Rosberg passar rapidamente, mas fechou Senna por várias curvas, deixando o brasileiro irado. Com raiva, Senna aumentou seu ritmo para encostar em Rosberg novamente, mas o finlandês entrou nos boxes sem sinalizar e, surpreso, Senna não teve tempo para diminuir e bateu na traseira da Williams de Rosberg, perdendo parte do bico do seu Lotus.

Senna necessitava ir aos boxes urgentemente. Com os pneus desgastados e a frente do seu carro avariado, o brasileiro ainda tentava tirar o máximo do seu Lotus e o que se viu foi uma demonstração inesquecível de habilidade e uma dose de loucura. Senna perdeu o seu carro novamente na entrada da reta Brabham e quando se preparava para entrar nos boxes, perdeu o seu carro novamente, destruindo completamente o bico do seu Lotus e perdendo a entrada dos boxes. Agora com mais cuidado, Senna ia aos boxes em uma volta bem lenta, enquanto Surer abandonava novamente quando ocupava uma posição no pódio. Senna havia perdido muito tempo com sua manobra para entrar nos boxes e caiu para 3º, atrás de Lauda. Forçando muito, o brasileiro rapidamente se aproximou do tricampeão, mas Lauda praticamente deixou Senna passar na reta Brabham. O objetivo de Senna agora era Rosberg, mas o finlandês surpreendeu ao ir aos boxes novamente poucas voltas após seu primeiro pit-stop, caindo para 3º. Nesse momento os três primeiros corriam relativamente juntos, mas com Rosberg claramente mais rápido. Senna começava a perder rendimento e Lauda assumia a 1º colocação, podendo se aposentar em alto estilo, mas os freios da McLaren do austríaco falharam no final da reta Brabham e o carro deu uma guinada para esquerda, bateu no muro, até mesmo de forma leve, mas aquilo significava o fim da corrida e da carreira do premiado tricampeeão.

Isso significava também que a briga pela liderança ficava unicamente entre Senna e Rosberg. Os dois eram os únicos na mesma volta. Rosberg fazia a volta mais rápida da corrida em sua perseguição a Senna, mas o Lotus definitivamente não estava funcionando bem. Na volta 61, após a longa reta Brabham, Senna ficou lento e grandes chamas podiam ser vistas na traseira da Lotus. Rosberg passou Senna pela última vez e reassumiu a ponta. O brasileiro foi aos boxes e abandonaria logo depois. Porém, sua atuação naquele dia foi inesquecível e ele diria que fez tudo aquilo para manter os brasileiros que assistiam a corrida, que passou de madrugada, acordados. Após o abandono de Senna, a briga pela ponta se acalmou a ponto de Rosberg ainda fazer uma terceira parada nos boxes para se garantir até o final. Nas últimas voltas, Philippe Streiff se aproximava de Jacques Laffite que, aproveitando os inúmeros abandonos, estava em 2º. Numa falta de comunicação incrível entre os pilotos da Ligier, onde um pensava que era um retardatário e vice-versa, Streiff tentou ultrapassar Laffite na penúltima volta e os dos se tocaram no final da reta Brabham. Laffite ficou furioso, enquanto Streiff completava a última volta com apenas três rodas, mas conseguiu o que seria seu único pódio na carreira. De despedida da Williams, Rosberg comemorou muito após uma cansativa corrida, mas provavelmente o finlandês não sabia que aquela seria sua última vitória na F1.

Chegada:
1) Rosberg
2) Laffite
3) Streiff
4) Capelli
5) Johansson
6) Berger

2 comentários:

Anônimo disse...

Primeira corrida para nós brasileiros sendo transmitida de madrugada (em função do fuso horário).

Anônimo disse...

Com as três vitórias seguidas da equipe Williams, será que Keke Rosberg está arrependido até hoje por deixar a Williams e ir para a McLaren na temporada de 1986?