Apesar do terceiro título conquistado, Ayrton Senna sabia
que sua supremacia estava mais do que ameaçada pelo ascendente carro Williams,
com seu câmbio semi-automático, suspensão ativa, controle de tração e os freios
ABS. Todas essas inovações eletrônicas ainda causaram problemas ao carro
projetado por Adryan Newey em 1991, mas com a melhoria contínua do carro e a
diminuição das quebras, a tendência em 1992 era que Nigel Mansell conseguisse
manter a boa fase na parte final de 1991. Para piorar as coisas nos lados da
McLaren, o novo carro não se mostrou capaz de andar no mesmo nível da Williams
e o modelo de 1991, o MP4/6 foi atualizado e levado à África do Sul, que
voltava à F1 depois de sete temporadas de fora. Com o fim do Apartheid, o país
africano retornava ao calendário da F1, mas o circuito de Kyalami não tinha
mais o belo traçado de antes e o que se via agora era um lay-out travado,
lembrando em muitos momentos o insosso circuito de Hungaroring.
Nas demais equipes, a Ferrari contratava Ivan Capelli para o
lugar de Alain Prost, que chegou a testar um carro da Ligier, mas preferiu
passar 1992 comentando as corridas de F1 pela TV francesa. Após a reestruturação
no final de 1991, a esperança na Ferrari era grande. Com a aposentadoria de
Nelson Piquet, a Benetton parecia já ter um novo líder na manga, com o início
avassalador do novato Michael Schumacher. A Tyrrell continuava em seu declínio
e teve que contratar Andrea de Cesaris e Olivier Grouillard apenas baseado no
dinheiro, enquanto outra equipe forte, mas em decadência trazia a grande
novidade do ano. Doze anos após Desiree Wilson, uma mulher voltava a correr na
F1 com a bela italiana Giovanna Amati.
Os treinos confirmaram o favoritismo da Williams-Renault e
de Nigel Mansell, com o inglês conquistando sua 23º pole position com sete décimos
de vantagem sobre Senna, que ainda conseguia a façanha de superar a Williams de
Patrese, mostrando o porquê do italiano ser coadjuvante na equipe do Tio Frank.
Jean Alesi e Michael Schumacher brigavam para ser o melhor do resto fora da
briga particular McLaren-Williams. Karl Wendlinger conseguia um ótimo sétimo
lugar no grid, colocando uma vantagem abismal em cima do seu companheiro de
equipe na March, Jean Paul Belmondo, filho do famoso ator francês, que não conseguiu
tempo para se classificar para a corrida, algo que Amati também não o fez. A
verdade era que a italiana mal conseguia manter seu carro em linha reta...
Grid:
1) Mansell
(Williams) – 1:15.486
2) Senna
(McLaren) – 1:16.227
3) Berger
(McLaren) – 1:16.672
4) Patrese
(Williams) – 1:16.989
5) Alesi
(Ferrari) – 1:17.208
6) Schumacher
(Benetton) – 1:17.635
7) Wendlingler
(March) – 1:18.115
8) Brundle
(Benetton) – 1:18.327
9) Capelli
(Ferrari) – 1:18.387
10) De Cesaris
(Tyrrell) – 1:18.544
O dia primeiro de março de 1992 não tinha o calor típico das
corridas sul-africanas, mas a chuva, que também fazia parte do clima local, não
parecia que iria dar as caras. Imagino o desespero da Globo na ocasião, pois a
corrida caiu bem num domingo de carnaval e dificilmente a audiência não seria
muito baixa na ocasião. Na largada, com os carros da Williams tendo também o
controle de largada, não foi surpresa ver Mansell mantendo a ponta e Patrese
deixando as duas McLarens para trás, com Berger fazendo ainda pior, perdendo a
quarta posição para Alesi. Ainda na primeira volta o austríaco da McLaren é
ultrapassado por Schumacher, enquanto Senna tentava, sem sucesso, ultrapassar
Patrese. O início da corrida mostrava uma Williams dominante!
Logo na primeira volta, Mansell abria 3.5s sobre o
companheiro de equipe, que aos poucos se afastava de Senna, que via Alesi e
Schumacher se aproximarem. O carro da McLaren parecia ainda mais obsoleto com a
chegada dos novos Ferrari e Benetton em cima do brasileiro. A corrida fica estática,
com Mansell colocando praticamente 1s por volta em cima de Patrese, que tinha
uma vantagem confortável sobre Senna, Alesi e Schumacher, enquanto Berger,
apagadíssimo, era pressionado pela Ferrari de Capelli. O agora estreito
circuito de Kyalami não permite muitas ultrapassagens e até mesmo colocar uma
volta sobre os retardatários requer todo um processo. Até mesmo o dominante
Mansell teve dificuldades em ultrapassar a Tyrrell de Olivier Grouillard, por
exemplo. Mais atrás, Schumacher aproveita um vacilo de Alesi para assumir a
quarta posição. Porém, isso era apenas o início do calvário ferrarista. Capelli
abandona a prova na volta 29 com o motor quebrado e doze voltas depois é a vez
de Alesi sair com o mesmo problema. Após a prova foi descoberto um erro de
lubrificação no motor Ferrari que não contemplou as muitas curvas à direita em
Kyalami e fez com que o propulsor italiano funcionasse a seco em vários
momentos. Um erro básico e crasso, que seria o exemplo do quão difícil seria o
ano na Ferrari.
Mesmo com tráfego o atrapalhando algumas vezes, Nigel
Mansell foi soberano em terras sul-africanas, onde tem uma torcida toda
especial. Faltando duas voltas, apenas para se divertir, o inglês marcou a
volta mais rápida da corrida e recebeu a bandeirada com mais de 20s de vantagem
sobre Patrese, que viu uma pequena reação de Senna no final, mas o veterano
italiano parecia ter tudo sobre controle. Schumacher fez uma prova sólida para
chegar ao quarto lugar, com Berger ficando num obscuro quinto lugar, mas ainda
tendo que contar com a sorte, pois assim que cruzou a linha de chegada, o austríaco
encostou sua McLaren sem gasolina. Johnny Herbert marcou o ponto final com seu
Lotus, já uma volta atrás. Foi uma corrida chata e sem emoção, mas serviu para
mostrar a Senna sua enorme desvantagem frente aos poderosos Williams-Renault.
Chegada:
1) Mansell
2) Patrese
3) Senna
4) Schumacher
5) Berger
6) Herbert
Um comentário:
A Williams queria de todas as maneiras fazer o inglês Nigel Mansell campeão naquele ano, ainda mais pela "segurada" que o seu companheiro de equipe, o italiano Riccardo Patrese (que pulou da 4ª para a 2ª posição na largada) atrasando o ritmo da McLaren número 1 da temporada anterior (1991) do tricampeão Ayrton Senna.
A corrida marcou as estreias de:
- Christian Fittipaldi;
- Andrea Chiesa;
- Paul Belmondo;
- Ukyo Katayama e
- Giovanna Amati (tentou em três provas e não se classificou em nenhuma delas).
* pela primeira vez que a Goodyear foi a única fornecedora de pneus para as equipes na Fórmula 1. Era a quinta vez que apenas uma empresa fornecia para as equipes; a última vez foi em 1963 com a Dunlop, assim como em 1962, 1961 e 1960 também com a própria Dunlop.
Postar um comentário