Foi uma longa espera e depois de muito diz que me diz, a
Formula 1 teve seu início nesta madrugada com uma corrida que não foi das mais
emocionantes, como normalmente ocorre em Melbourne, mas também não foi das mais
chatas e trouxe algumas respostas as muitas dúvidas criadas ao longo dos três meses
de pré-temporada. Jenson Button fez uma corridassa e dominou por completo o
Grande Prêmio da Austrália, vencendo como quis desde a largada e não se
importou muito com os possíveis ataques de Vettel na única entrada do
safety-car durante a prova. A McLaren não dominou como a Red Bull fez ano
passado, mas mostrou que tem o melhor carro deste início de ano e os próprios
bicampeões do mundo mostraram que não estão muito atrás da McLaren, com Vettel
se metendo entre os dois carros da McLaren, para aumentar ainda mais o
desespero de Hamilton. Ferrari e Mercedes mostraram desempenhos em treino e
corrida totalmente opostos, com os italianos andando melhor durante a prova,
enquanto os germânicos caíram demais durante a prova. Porém, ambas parecem
muito atrás de McLaren e Red Bull.
A prova foi decidida a favor de Jenson Button na largada,
quando o inglês largou melhor do que o pole Lewis Hamilton e já tangenciou a
primeira curva em primeiro, imediatamente disparando rumo a uma vitória
consagradora. Atual vice campeão e numa fase esplendorosa, Jenson mostra que não
tem a mesma velocidade de Hamilton ou a genialidade de Vettel, mas sua
regularidade é tamanha, que o põe entre esses dois grandes pilotos, juntamente
com Alonso e Schumacher. Menosprezado mesmo quando foi campeão em 2009, Button
começa a cavar seu lugar dentro da McLaren e a cara de enterro de Lewis
Hamilton no pódio mostra bem isso. O jovem inglês ainda perdeu o segundo lugar
que daria uma dobradinha a McLaren por um golpe de sorte de Vettel durante o
safety-car e ainda teve que se defender dos ataques Mark Webber no final. Hamilton
já mostrou em 2011 que seu psicológico é frágil, que se os fatos não acontecerem
a seu contento, as coisas degringolam e Lewis começa a fazer besteira. O fato
de ter perdido a corrida de estréia da temporada largando na pole pode causar
danos a já abalado auto-confiança de Hamilton.
Sebastian Vettel parece não ter mais o melhor carro do ano,
mas nem por isso demonstrou menos vontade de ganhar e ir para cima, saindo do
sexto lugar para o segundo numa pilotagem sólida e segura, chegando próximo de
Button, esperando o menor dos erros do inglês no final. Vettel largou bem e
estava na cola de Schumacher quando este quebrou, partindo para cima da então
dominante McLaren, que tinha mais de 10s de vantagem sobre ele. O jovem alemão
tirou a diferença para Hamilton e já estava próximo do rival quando deu a sorte
do sefaty-car aparecer logo depois da dupla da McLaren ter feito suas paradas.
Isso deu a Vettel o segundo lugar e pressionar Button pela primeira posição, já
que Hamilton acabou não sendo um adversário nas primeiras voltas. Num domínio
momentâneo da McLaren, ter se colocado entre os dois carros prateados foi um
bom resultado de Vettel, que demonstrou muita felicidade no pódio, exibindo o
mesmo sorriso que mostra quando vence. Webber demonstrou mais uma vez que
precisa urgentemente melhorar suas largadas, algo que já tinha sido seu
calcanhar de Aquiles em 2011. Em sua casa, onde nunca se deu muito bem, Webber
foi ultrapassado por vários carros no apagar das cinco luzes e cruzou a
primeira volta em nono, tendo que se recuperar até chegar no seu verdadeira
pelotão, brigando com Vettel e as McLarens. O australiano ainda chegou a tentar
alguma coisa com Hamilton, mas teve que se conformar com o quarto lugar e ficar
de fora do pódio em Melbourne, exatamente dez anos após sua estréia.
Se os treinos foram terríveis para a Ferrari, a corrida não foi
tão ruim assim, com Alonso chegando a andar no mesmo nível de Red Bull. Porém,
isso aconteceu mais pelo monstro sagrado que é esse tal de Fernando Alonso. Dono
de uma enorme capacidade de levar o carro nas costas, o espanhol conseguiu uma
largada espetacular e estava em quarto, brigando com Mercedes e Red Bull,
quando ninguém imaginava isso. Na medida em que a corrida foi se desenrolando,
Alonso não pôde acompanhar o ritmo de Webber e Vettel, tendo que se conformar
com o quinto lugar, mas tendo a sombra permanente de Pastor Maldonado, a grande
surpresa do final de semana. A Ferrari demonstrou ser um voraz destruidor de
pneus e por isso Alonso teve que se virar para segurar um inspirado Maldonado
atrás de si, só ficando aliviado quando este bateu sozinho na última volta. Uma
verdadeira lástima para o venezuelano, que sempre que está fazendo a corrida de
sua vida, como em Mônaco ano passado, acontece alguma coisa com ele. Porém,
Maldonado deu seu recado. Muitas vezes menosprezado por estar na F1 pelos dólares
bolivarianos-ditatoriais do seu país, o campeão da GP2 em 2010 fez uma grande
prova neste domingo, mas seu acidente fez com que a Williams, que necessita de
dinheiro para ontem, perdesse pontos que podem lhe fazer falta mais tarde. Em
outra briga Ferrari-Williams, Bruno Senna e Felipe Massa fecharam um final de
semana para esquecer e muito danoso para alguém como eles que necessitam se
provar em 2012. Bruno Senna foi a principal vítima da sempre complicada largada
de Melbourne e caiu para último quase que imediatamente, mas a verdade foi que
Senna só se envolveu na confusão porque estava no meio da muvuca, enquanto
Maldonado largava seis posições à sua frente. Massa, ao contrário, fez uma belíssima
largada, pulando sete posições, mas depois sempre segurou carros mais rápidos
do que ele, gastando muito os pneus por causa disso. Enquanto Alonso se
mantinha num milagroso quinto lugar, Massa estava fora dos pontos e levando
ultrapassagem de quem se aproximasse. Isso fez com que Bruno Senna, que era o último
na mesma volta do líder, encostasse nele e os dois brasileiros bateram,
causando o abandono de ambos. Um abandono muito ruim para ambos, que levaram um
banho dos seus respectivos companheiros de equipes e ficaram no zero.
A Mercedes começou o ano envolto em polêmica por causa de
outro aparato aerodinâmico (todo ano terá isso meu Deus?), mas se nos treinos
os alemães prometiam brigar no pelotão da frente, na corrida o time foi
perdendo rendimento de forma repentina e espantosa. Michael Schumacher largou
bem e estava em terceiro quando abandonou com problemas mecânicos, mas o
heptacampeão já era muito pressionado por Vettel. Já Rosberg se perdeu
completamente após sua primeira parada e ficou atrás da claudicante Ferrari de
Alonso e se acomodou com isso. Como castigo, se viu ultrapassado por vários
carros quando o safety-car entrou e se envolveu em um incidente que ninguém viu
na última volta, fazendo com que a Mercedes, de quem se esperava muito, ficar
no zero na primeira corrida do ano. A Sauber, que foi bem na pré-temporada e
nem tanto no sábado, se recuperou na corrida e Kobayashi se aproveitou dos
incidentes da última volta para conseguir um ótimo sexto lugar, com direito as
suas famosas ultrapassagens de volta. Sergio Pérez largou em último e repetiu a
estratégia do ano passado, quando fez apenas uma parada e se deu bem. Só não se
deu melhor hoje, por que se envolveu no incidente com Rosberg e perdeu posições
na volta final, mas ainda conseguindo pontos valiosos, principalmente pela
posição que largou. A Sauber tem uma dupla de pilotos jovens e extremamente promissora.
Sempre achei que houve certo preconceito com os pilotos japoneses e talvez por
isso Kobayashi ainda não conseguisse um lugar merecido entre as equipes grande,
enquanto Pérez, com o forte apoio dos seus patrocinadores, parece ter uma
carreira mais sólida, mas assim como Koba, há um certo preconceito por ser um
pay-driver.
Romain Grosjean largou com muita cautela em sua reestréia na
F1 e isso acabou sendo fatal, pois perdeu posições na largada e acabou sendo
atingido por Maldonado no momento em que tentava uma recuperação. Uma
verdadeira pena para o francês. Raikkonen saiu das últimas posições para
conseguir bons pontos com o sétimo lugar, com o finlandês ainda se acostumando
com uma corrida de F1, não sendo tão agressivo como ele costumava ser, mas
mostrando velocidade e consistência quando foi necessário, como ele estava para
fazer sua parada, já tardia, e era o mais rápido da pista. Toro Rosso e Force Índia
tiveram corridas difíceis, mas ainda foram capazes de marcar pontos. Hulkenberg
abandonou na primeira volta na confusão que envolveu ele, Bruno Senna e Daniel
Ricciardo, enquanto Paul di Resta fez uma corrida invisível, mas se
aproveitando dos acontecimentos da última volta, o escocês conseguiu arrancar um
pontinho na bacia das almas ao ultrapassar Jean-Eric Vergne. O novato francês
fazia uma corrida sem muitos arroubos, afora uma saída de pista, mas sem
comprometer. Contudo, se todos falam muito em Vergne, prefiro olhar mais para
Ricciardo, um piloto que me chama muito mais atenção. O australiano se envolveu
no acidente da primeira volta e iniciou uma boa corrida de recuperação,
culminando com seus primeiros pontos na F1. Talvez Ricciardo seja o nome que a
Red Bull esteja esperando e não achou em Buemi e Alguersuari. As pequenas
fizeram o papel de sempre, com Petrov trazendo o único safety-car do dia,
quando quebrou no meio da reta dos boxes, enquanto Kovalainen quebrou no lado
de dentro dos boxes. Ambos corriam apenas à frente da Marussia, com um carro tão
ruim como dos outros anos. A transmissão da Globo trouxe um Galvão Bueno rouco
nas voltas finais, mas o que queria falar era sobre a homenagem da emissora a
José Carlos Pace, cuja morte ocorreu 35 anos atrás. Foi muito legal.
A diferença entre os quatro primeiros colocados foi de
apenas 4s. Isso demonstra que à primeira vista, não haverá domínio de uma única
equipe, mas que quatro pilotos de duas equipes diferentes poderão vencer este
ano. Button saiu na frente e já coleciona uma impressionante carreira em
Melbourne, com três vitórias nas últimas quatro corridas na Austrália, saindo
na frente de uma briga que promete ser bem mais forte e animada do que
aconteceu ano passado.
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