Após a greve na África do Sul, a F1 se via envolta em
polêmica novamente quando a categoria aportou no Rio de Janeiro para a segunda
etapa do campeonato, já que na Argentina se lutava a Guerra das Malvinas e os
ingleses não eram muito bem-vindos no país portenho. Por causa de um
regulamento mal feito, as equipes inglesas, lideradas por Brabham e Williams,
decidem aproveitar uma brecha das regras para mandar carros mais leves para
treinos e corridas, mas com uma caixa de água na lateral do carro. Como a pesagem
dos carros era feita sem combustível e com reservatórios de líquidos
lubrificantes e refrigeração cheios, os times esvaziavam essa caixa e mandavam
os carros 80 quilos mais leves, mas quando eram pesados pelos comissários
desportivos, as equipes simplesmente enchiam a caixa novamente, normalmente
argumentando que era um ‘reservatório do sistema de refrigeração dos freios’.
Essa diferença fez com que os carros aspirados, incluindo aí
a Brabham, que no Brasil trocava o problemático BMW turbo pelo confiável
Cosworth aspirado, ficassem bem próximos dos carros como motor turbo, trazendo
revolta à Ferrari e Renault, que eram apoiados pela FISA de Jean-Marie
Balestre. Alain Prost conseguia a pole
com Villeneuve ao seu lado, mas Keke Rosberg colocava a Williams aspirada em
terceiro, sendo o melhor não-turbo do dia. René Arnoux alinhava em quarto, mas
o francês estaria ameaçado dentro da Renault, inclusive com Jan Lammers sendo
um possível substituto, já que a Renault estava interessada no mercado
holandês. Mais atrás, a Ligier, que fez Laffite brigar pelo título em 1981,
fazia uma classificação medonha, com o francês em 26º e o jovem companheiro de
equipe Eddie Cheever duas posições à frente.
Grid:
11)
Prost(Renault) – 1:28.808
22)
Villeneuve(Ferrari) – 1:29.173
33)
Rosberg(Williams) – 1:29.358
44)
Arnoux(Ferrari) – 1:30.121
55)
Lauda(McLaren) – 1:30.152
66)
Reutemann(Williams) – 1:30.183
77)
Piquet(Brabham) – 1:30.281
88)
Pironi(Ferrari) – 1:30.655
99)
Patrese(Brabham) – 1:30.967
110)
De Cesaris(Alfa Romeo) – 1:31.229
O dia 21 de março de 1982 estava extremamente quente no Rio
de Janeiro e isso acabaria trazendo problemas aos pilotos no final da prova.
Nelson Piquet estreava um capacete novo, baseado nos utilizados pelos pilotos
do Mundial de Motovelocidade, mais leve e aberto do que o normal, mas isso
faria o brasileiro ter que respirar o ar quente dentro do capacete. Os carros
com motores turbo tinha um já tradicional retardo em baixas rotações, fazendo
das largadas um tormento para eles, mas Gilles Villeneuve era notório por
desfazer regras e largou de forma perfeita, assumindo a primeira posição,
seguido por Rosberg, Arnoux e Prost. Mais atrás, Petrese consegue uma largada
espetacular, pulando de nono para quinto, enquanto Piquet era sétimo.
Keke Rosberg fazia uma primeira volta sensacional e após
ultrapassar Arnoux, o piloto da Williams partiu em persguição a Villeneuve, mas
o canadense soube fechar a porta do finlandês na entrada da reta oposta e como
Rosberg não tinha o turbo para lhe garantir potência extra, ele acabou sendo
ultrapassado pelas Renaults de Arnoux e Prost. Nelson Piquet fazia uma corrida
tática, sem forçar muito, até por que tinha uma forte dor nas costas, mas o
brasileiro ganharia uma posição na 3º volta quando Didier Pironi rodou à sua
frente, garantindo o sexto lugar ao campeão de 1981. Os cinco primeiros corriam
próximos uns aos outros e de forma sólida, mas Nelson Piquet os alcançavam. Os
dois carros da Brabham vinham forte e na curva Sul, na frente da torcida, o duo
de comandados por Bernie Ecclestone deixaram Rosberg para trás, partindo para
cima de Prost. Na volta seguinte, a sexta, Prost comete um erro na curva Norte
e permite a dupla da Brabham avançar mais uma posição, os deixando em posição
de atacar Arnoux e, porteriormente, Villeneuve. Querendo tomar as rédeas do espetáculo,
Piquet ultrapassa Patrese na Curva Sul e parte em perseguição a Arnoux,
enquanto Rosberg começa uma recuperação e assume o quinto lugar de Prost.
No momento em que Raul Boesel abandonava tristemente a sua
corrida caseira com um pneu furado, Piquet pressionava Arnoux pelo segundo
lugar, enquanto Villeneuve já tinha 4s de vantagem na ponta. O piloto da
Renault segurava claramente Piquet e isso fez que uma fila se formasse atrás de
Arnoux, com Piquet, Patrese, Rosberg, Prost,
Reutemann, Lauda e Watson. Só fera! Depois de muito pressionar,
finalmente Piquet ultrapassa Arnoux na Curva Sul, sua preferida para
ultrapassar, e partia em perseguição a Villeneuve, enquanto Rosberg também
ultrapassava Patrese. Quando o piloto da Williams deixa Arnoux para trás, ele
se junta a Piquet na caçada a Ferrari de Gilles. Começava neste momento a
melhor parte da corrida. Juntar tres
pilotos do naipe de Gilles Villeneuve, Nelson Piquet e Keke Rosberg na luta
pela primeira posição era de esperar nada menos que um show destes três pilotos
abençoados.
O público carioca de
aproximadamente 50.000 pessoas foi agraciado por um disputa espetacular entre
os três, mas com Villeneuve sempre na frente, segurando Piquet e Rosberg, que
trocaram de posição mais de uma vez. Na volta 30, Piquet tenta forçar a
ultrapassagem na Curva Norte, mas Villeneuve, usando sua usual agressividade e
na tentativa de fechar a porta para Piquet, acaba freando com os pneus do lado
esquerdo na grama e sai da pista. Piquet tem que travar seu Brabham para não
bater, o mesmo fazendo Rosberg. Nelson Piquet assumia a liderança da corrida,
mas tendo sempre Rosberg no seu cangote. A corrida tinha causado várias
quebras, mas o calor faria suas vítimas. Correndo em terceiro, Patrese erra
sozinho e cede sua posição para Prost e Watson. Na volta seguinte, o italiano
erra novamente e no final do giro ele encosta seu Brabham nos pits. Patrese
havia passado mal dentro do Brabham e tem que ser carregado para fora do carro.
Piquet e Rosberg andavam na frente
com 5s de vantagem sobre Prost, que marca a volta mais rápida da corrida, mas
não dava pinta que iria ameaçar o domínio dos carros aspirados. Nas voltas
finais, todo mundo diminui o ritmo e Piquet não conseguia fazer a Curva Sul
apoiando sua cabeça para dentro, sofrendo de dores no pescoço. Após a
bandeirada, Piquet tinha quase 10s de vantagem sobre Rosberg e surpreendentes
30s sobre Prost, o primeiro dos carros turbos. Ao chegar ao pódio, Piquet
estava entre Rosberg e Prost, mas de repente se apóia nos ombros dos companheiros
de pódio e acaba desmaindo por causa do forte calor. Restabelecido, Piquet
estoura o champanhe sentado no alto do pódio, para delírio do público presente,
que comemorava a primeira vitória do campeão. Ou não? Na hora da pesagem dos
carros, houve uma discussão acalorada, pois Jean Sage, dirigente da Renault,
não se conformava com a maladragem das equipes inglesas, apoiadas pela FOCA. Os
mecânicos da Williams começaram a bombear a água contida num enorme galão de 50
litros dentro da caixa no carro de Rosberg, enquanto colocavam 7,5l de óleo no
motor (quando a capacidade máxima era de 5l) e 12l de óleo de transmissão
(quando o máximo era de 2l!). Mecânicos de Brabham, McLaren e Lotus faziam
artimanhas parecidas para que seus carros tivessem os 580 kg regulamentares no
final da pesagem. E todos conseguiram, sendo que Watson escapou por apenas 1
kg. As equipes da FISA ficaram furiosas e recorreram a Balestre, que
desclassificou, de forma esquisita, apenas Nelson Piquet e Keke Rosberg quase
um mês depois da corrida. Tendo a FOCA como aliada, Brabham e Williams
lideraram um boicote, mas essa já é outra história.
Chegada:
1 1)
Prost
2 2)
Watson
3 3)
Mansell
4 4)
Alboreto
5 5)
Winkelhock
6 6)
Pironi
3 comentários:
- Pessoal, quem quiser assistir no YouTube, é só digitar assim:
"Grande Premio do Brasil 1982(Globo)".
- Pessoal, quem quiser assistir no YouTube, é só digitar assim:
"Grande Premio do Brasil 1982(Globo)".
A desclassificação de Piquet e Rosberg aconteceu um mês após a realização da etapa brasileira pelo tribunal de apelações da FISA (Federação Internacional de Automobilismo Esportivo), que acolheu protesto feito pelas equipe Renault e Ferrari contra Brabham e Williams. As decisões do tribunal de apelações, composto por representantes de seis países são inapeláveis.
Classificação Oficial do Grande Prêmio do Brasil, 21 de Março de 1982:
- 1º Alain Prost, França - Renault (9 pontos)
- 2º John Watson, Irlanda do Norte - McLaren-Ford (6 pontos)
- 3º Nigel Mansell, Inglaterra - Lotus-Ford (4 pontos)
- 4º Michele Alboreto, Itália - Tyrrell-Ford (3 pontos)
- 5º Manfred Winkelhock, Alemanha - ATS-Ford (2 pontos)
- 6º Didier Pironi, França - Ferrari (1 ponto)
- 7º Slim Borgudd, Suécia - Tyrrell-Ford
- 8º Jochen Mass, Alemanha - March-Ford
- 9º Jean-Pierre Jarier, França - Osella-Ford
- 10º Mauro Baldi, Itália - Arrows-Ford
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