domingo, 29 de julho de 2012

Chatice olímpica

Quando Hungaroring estreou na F1 em 1986, Martin Brundle deu a seguinte declaração sobre o novo circuito: Mônaco sem os muros e os prédios bonitos. Pois o Grande Prêmio da Hungria foi bastante parecido com a prova monegasca deste ano, onde houve, sim, briga pela primeira posição, mas que dificilmente a ultrapassagem seria efetuada e Lewis Hamilton dominou praticamente de ponta a ponta em Hungaroring, vencendo pela segunda vez no ano, tendo fungando no cangote sempre um carro da Lotus, mas em nenhum momento Romain Grosjean, no começo, e Kimi Raikkonen, no final, botaram pelo menos de lado para tentar a ultrapassagem vitoriosa. Desta vez, Hungaroring derrotou os apetrechos para facilitar a ultrapassagem e mesmo quando alguém vinha com pneus mais novos e menos de 1s na reta, as ultrapassagens foram raras nas 69 voltas de corrida.

Porém, Lewis Hamilton não teve do que reclamar. O inglês teve que andar forte a corrida inteira, mas sempre a teve sobre controle, assim como aconteceu semana passada com Fernando Alonso em Hockenheim. Como esperado, os carros da Lotus estavam fortes em ritmo de corrida e Hamilton não disparou em nenhum momento, mesmo com Lewis tendo dominado todo o final de semana de forma inédita em 2012. Porém, o piloto da McLaren soube se aproveitar muito bem do travado circuito de Hungaroring e não deu chances para quem quer que fosse tentasse tirar sua merecida vitória. Porém, mesmo sendo o terceiro piloto a conquistar duas vitórias nesta temporada, Hamilton ainda segue longe da briga pelo título, pois o mclariano ainda está mais de 40 pontos de Fernando Alonso. A reação da McLaren pode ter vindo tarde demais para Hamilton, mas com tantas corridas pela frente, ao menos o time de Martin Whitmarsch irá com moral alta para o resto da temporada. Button ter trocado o plano A pelo plano B no meio da corrida não funcionou para o inglês e um pódio quase certo foi pelo ralo quando encontrou um inspirado Bruno Senna pela frente e Button teve que se conformar com um obscuro sexto lugar no fim da prova.

Kimi Raikkonen vem pagando cada centavo que a Lotus e a Genii investiu para tira-lo de sua precoce aposentadoria com corridas magníficas e um ritmo de prova impressionante. O finlandês não largou bem e caiu para sexto na primeira volta, mas Kimi soube se manter frio (daí seu apelido...) e ao conservar seus pneus e por conseguinte esticar suas paradas, Raikkonen foi ganhando posições e até mesmo dar um chega pra lá no companheiro de equipe Grosjean para subir para segundo e encostar em Hamilton. Kimi passou quinze voltas a menos de 1s de Hamilton, mas não parecia ter forças para superar o inglês e teve que se conformar com o segundo lugar. Para Raikkonen, basta largar em posições melhores para conseguir finalmente uma vitória, cuja Lotus está merecendo não  é de hoje. Kimi sempre tem que fazer uma corrida de recuperação e acaba perdendo ritmo no fim. Grosjean não se aperriou na frente de Vettel na largada e fez uma corrida correta ao ficar sempre próximo de Hamilton nos dois primeiros stints de corrida, mas quando foi ultrapassado na marra por Raikkonen na saída de pits do finlandês, Grosjean perdeu um pouco o brilho, mas ainda foi possível conseguir um lugar no pódio, dando a Lotus duas posições no pódio húngaro, mas a cara de Raikkonen no pódio mostra bem que a vitória era possível e foi desperdiçada.

Se semana passada dominaram em Hockenheim, em Hungaroring Red Bull e Ferrari estiveram longe do pódio, mostrando a pluralidade da F1 atual. Vettel se esforçou muito, tentou uma estratégia diferente para tirar Grosjean do pódio, mas teve que se conformar com o quarto lugar, mero 1s atrás do francês, quando dez voltas antes eram 18s! Mark Webber fez uma largada estupenda, pulando de 11º para sétimo, mas o brilho do australiano acabou ali. Sempre preso atrás de carros mais lentos e sem a possibilidade de ultrapassar, Webber deverá sonhar com as traseiras de Alonso e Senna nesta noite. Num circuito de altíssimo downforce, o time de Maranello foi altamente discreto, com seus dois pilotos mais se defendendo do que atacando e Alonso arrancando um bom quinto lugar, enquanto Massa foi apenas nono, porém, não há como criticar o brasileiro com o equipamento que tem em mãos. Bruno Senna foi um dos nomes da corrida. Desde os treinos livres, onde conseguiu bons resultados, Bruno dava pinta de fazer uma boa corrida e o brasileiro cumpriu com as expectativas. Mesmo saindo uma posição atrás do companheiro de equipe, Bruno largou bem e se manteve na zona de pontuação sempre, realizando uma corrida sólida e se mantendo à frente de Button e Webber (melhor equipados tanto de carros, como de pneus) e conseguiu uma ótima sétima colocação. Bruno não pode ser tão rápido quanto Maldonado, mas é muito mais confiável. O venezuelano se envolveu em mais um atrito e levou um drive-through da direção de prova que, se fosse outro piloto, talvez passasse batido, mas levando-se em conta o histórico de Maldonado, a punição veio e pontos preciosos da Williams foram pelo ralo.

A Mercedes teve um final de semana para esquecer e num o pontinho conquistado por Nico Rosberg apagou a péssima jornada dos alemães, começando com Schumacher que simplesmente esqueceu do regulamento ao desligar seu carro quando houve um problema qualquer no sistema de largada e a o início foi abortado. O heptacampeão acabou sendo um dos poucos abandonos da corrida, mas de forma muito melancólica. Force India, Sauber e Toro Rosso apenas brigaram por um erro dos pilotos à frente para conseguir entrar na zona de pontuação, mas bem longe de ter um ritmo para tal. Hülkenberg foi ao Q3 pela segunda corrida consecutiva, mas acabou em 11º, enquanto Di Resta foi a vítima de Maldonado. A Sauber nunca se encontrou no final de semana e a Toro Rosso continou no seu rame-rame de sempre. As nanicas fizeram seu papel de sempre, mas com dois destaques. A HRT proporcionou uma das imagens mais legais da corrida com o carro quebrado de Narain Karthikeyan estacionado no alto de um morro, dando um close show de bola, enquanto Charles Pic vem superando com alguma constância o já experiente Timo Glock. Quando Lucas di Grassi era um novato e levava pau de Glock, todos apontaram para o noviciado do paulista, mas Pic, o francês menos cotado no ano, vem mostrando um pequeno diferencial ao conseguir superar o alemão e fazer seu nome na F1.

Foi uma corrida chata e no primeiro final de semana olímpico, o Grande Prêmio da Hungria será apenas rodapé de página de todos os jornais. Porém, mesmo em Londres, Lewis Hamilton sairá bonito na capa do jornal.

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