A esperada chuva não veio, mas a corrida que prometia movimentada se concretizou, mas ainda como resultado das precipitações pluviométricas de sábado. Com quatro pilotos de ponta largando tão atrás, não foi surpresa ver Lewis Hamilton, Felipe Massa, Fernando Alonso e Jenson Button evoluindo durante a desgante prova malaia, onde o calor imperou. Enquanto os quatro, de diferentes modos, subiam pelo pelotão, ninguém lembrou do domínio exercido pela Red Bull e a conquista da primeira dobradinha da equipe austríaca em 2010, com Vettel finalmente vencendo após ter liderado as duas primeiras corridas, mas tendo problemas que o impediram de conquistar o triunfo e disparar no campeonato. Como isso não aconteceu nas duas primeiras etapas do ano, mas o alemão finalmente ganhou, adicionado com seus adversários longe da briga pela vitória, o resultado é um campeonato que já se mostra extremamente equilibrado e apertado entre os protagonistas do ano.
A corrida em Sepang não foi o extremo da emoção como na Austrália, nem o extremo da monotonia no Bahrein. Houve muitas ultrapassagens e brigas por posições, mas também algumas filas indianas, como Felipe Massa empacado atrás de Sebastien Buemi por algumas voltas. Por sinal, vendo a corrida de Massa, o novo líder do campeonato, e Hamilton me veio a mente a velha história do eficiente ou eficaz. Hamilton e Massa completaram a primeira volta colados, nessa formação, em 13º e 14º. Porém, o inglês conseguiu inúmeras ultrapassagens, algumas até polêmicas, como sobre o russo Vitaly Petrov, e rapidamente estava no primeiro pelotão. Enquanto isso, Massa sofria atrás do jovem Buemi, ficando voltas e mais voltas atrás da Toro Rosso do suíço. Porém, efetuando de fato apenas uma ultrapassagem, Massa terminou a prova colado em Hamilton, que não foi mais efetivo com os pneus macios. Preferem o eficiente ou o eficaz? Prefiro muito mais o Hamilton! Outro fato interessante da corrida na Malásia é que um leque se abriu para variás estratégias, mesmo com o fim do reabastecimento, se materializassem durante a corrida. Hoje em dia, as táticas não estão engessadas e os pilotos podem esticar ou não suas paradas, dependendo apenas de como estão seus tempos na pista e dos seus adversários. Isso era o que defendia com o fim do reabastecimento e o que vem ocorrendo nas duas últimas provas. A corrida do Bahrein foi chata exatamente porque as equipes ainda estavam se acostumando com as novas táticas, mas na medida em que os estrategistas e pilotos se entendem com o novo status quo, as corridas tem seus bons e mal momentos para um ou outro piloto.
Quem teve sempre bons momentos foi Sebastian Vettel. O alemão venceu a corrida na largada quando não tomou conhecimento de Rosberg e Webber e cruzou a segunda curva em primeiro e nunca mais perder a ponta, vencendo com enorme facilidade e apontando que o alemão é mesmo um dos favoritos destacados ao título deste ano. A sua fome em vencer o campeonato foi mostrada hoje, quando partiu para cima do seu companheiro de equipe logo na largada, pois sabia que era sua chance de vencer, pois Webber estava tão rápido quanto ele em Sepang e ultrapassá-lo durante a corrida seria quase impossível. Tanto Webber sabia disso, que de forma anormal entre companheiros de equipe, o autraliano partiu para cima de Vettel ao longo da primeira volta, mas quando seus ataques não surtiram efeito, restou a Webber manter um ritmo forte e esperar que algo acontecesse ao seu jovem vizinho de box. O que não aconteceu, para felicidade da Red Bull, assombrada por quebras mecânicas desde a pré-temporada, mas que viu seus dois carros dominarem a corrida de hoje, numa clara demonstração de que hoje, se não quebrar, os carros de Adryan Newey, que recebeu o trófeo dos construtores, são basicamente imbatíveis. Já a irmão caçula da equipe teve como destaque o caçula da F1 Jaime Alguersuari. O espanhol de 20 anos recém-completados fez outra boa corrida, não se abatendo ao levar a ultrapassagem de Hamilton nas primeiras voltas e segurando com segurança a Ferrari de Felipe Massa quando este se livrou de Buemi, a mesma valentia no qual segurou Michael Schumacher em Melbourne. Quando fez sua parada, Alguersuari perdeu a posição para Massa, mas superou seu companheiro de equipe Buemi e ainda teve tempo de realizar a ultrapassagem mais bonita do dia em cima de Nico Hülkenberg, por fora, num esse de alta. Tamanho desempenho foi premiado com os primeiros pontos do espanhol, o colocando novamente na história da F1 pela precocidade, além dos primeiros pontos da Toro Rosso em 2010 e tendo um carro pela primeira vez construído por ela mesma. Quem não deve ter gostado muito disso foi Buemi, superado de forma clara pelo seu companheiro de equipe e só aparecendo quando segurou Massa neste domingo.
Após ser ultrapassado por Vettel na largada, Nico Rosberg fez uma corrida invisível hoje, onde não foi notado nenhuma vez ao se manter sempre em terceiro e por lá chegou. Foi o primeiro pódio da Mercedes em mais de 50 anos, mas isso demonstra bem o porquê de ninguém colocar Rosberg como uma estrela. Mesmo quando consegue um bom resultado, não brilha. Chamou muito mais atenção a quebra de Michael Schumacher ainda no início da prova, provavelmente por quebra de suspensão. De qualquer forma, o alemão, pela posição de pista, seria superado novamente por Rosberg e já se vê numa situação desconfortável no campeonato, pois enquanto Rosberg, conquistando pontos de forma constante, está entre os líderes na briga pelo título, Schummy está atrasado demais com relação ao companheiro de equipe. Se não quiser ficar na inédita situação de segundo piloto da equipe, Michael precisa de uma recuperação urgente. Outra equipe do G4 a sofrer com quebras foi a Ferrari, desta vez com Fernando Alonso. O espanhol parecia ter problemas desde o início da corrida, com um som estranho enquanto trocava as marchas, mas usando seu excepcional talento, Alonso ainda se aproximou de Button no final, mas ao contrário de Massa, ficou empacado atrás do inglês e numa tentativa desesperada, acabou lexando um xis, mas quando tentou se recuperar, a fumaça branca do seu motor começou a aparecer na sua traseira e isso significava a despedida do espanhol da liderança. Quem adorou isso foi Massa, que mais uma vez fez uma corrida eficiente para assumir a liderança do campeonato graças a desaventura do companheiro de equipe. Massa se deu muito bem com os pneus macios e efetuou uma bela ultrapassagem sobre Button no final, mas não restam dúvidas que nenhuma dessas três corridas iniciais em 2010 foram as melhores da carreira de Massa, mas o brasileiro vem aproveitando todas as chances que vem aparecendo e por isso já aparece em 1º no campeonato, mesmo sem vencer uma única prova. Pontos importantes, que poderão ser adicionadas com os 25 de uma possível vitória que ainda virá em 2010.
Kubica não brilhou como na Austrália, apenas levando seu Renault até o final da prova atrás de Rosberg em 4º, porém o polonês vem andando claramente mais que o carro e por isso aparece entre sete primeiros colocados que estão brigando pelo título de 2010. Lógico que Kubica será o primeiro a sair desta disputa, mas também está claro que seu talento merece algo bem melhor do que a Renault que dirige hoje. Vitaly Petrov foi protagonista do lance mais polêmico da corrida, quando foi fechado mais de uma vez por Hamilton quando tentava retormar a posição perdida para o inglês, algo que já tinha feito voltas antes. O russo fazia uma boa corrida, com chances de pontos, mas acabou por abandonar pela terceira vez consecutiva, um final inglório para um piloto que mostrou arrojo na disputa contra o piloto mais agressivo da F1 atual. Após duas grandes Classificações e duas grandes frustrações, finalmente Adrian Sutil repetiu o bom desempenho de sábado na corrida e marcou valiosos pontos hoje com o 5º lugar. O alemão não se meteu em encrencas e seu Force India foi confiável o suficiente para levá-lo até o fim da corrida, mesmo que no final fosse acossado por Hamilton, mas Sutil, grande amigo do inglês fora das pista, foi... sutil na defesa da posição e se manteve na frente de Hamilton na parte final da corrida para marcar seus primeiros pontos em 2010 e fazer justiça dentro da equipe, pois Liuzzi era claramente mais lento que o alemão, mas vinha marcando os pontos da equipe. Como o italiano quebrou ainda no início da corrida, isso não foi possível.
Hamilton fez outra corrida agressiva, mas como aconteceu na Austrália, não foi tão afetivo e acabou em 6º, uma posição à frente de Massa, mesma situação no início da prova, sendo que o brasileiro ficou empacado atrás de um carro mais lento. Com perda de desempenho do inglês no terço final da prova, já passa a impressão de que Hamilton seja o piloto que mais sente falta dos reabastecimentos, pois parando apenas uma vez, o inglês precise economizar pneus e Lewis parece não ser um especialista nessa questão. Porém, seu show de ultrapassagens no início da prova garantiu o entretenimento da corrida, apesar de que merecia ter sido punido quando mudou de linha várias vezes, enquanto evitava Petrov. Button está vendo que não pode superar Hamilton no quesito velocidade e por isso tenta táticas diferentes para surpreender. Da mesma forma que parou muito cedo na Austrália, o atual campeão do mundo foi o primeiro a parar na Malásia, mesmo estando rápido o suficiente a ponto de ultrapassar Alonso. Fazendo uma longa perna com o mesmo set de pneus até o final da corrida, Button sabia que perderia rendimento, mas já dá mostras que cuida muito bem dos seus pneus e isso deve ser um fator positivo para o inglês num campeonato onde economizar é mais do que importante. É essencial!
Nico Hulkenberg já tinha mostrado sua força quando andou muito bem na chuva, mas voltou a realidade quando o sol apareceu e seu Williams mostrou algumas deficiências, no entanto, deu para o alemão garantir seu primeiro ponto na F1, ao contrário de Barrichello, que, mais uma vez, se viu tendo problemas na largada e destruindo sua corrida, ficando sempre entre os últimos. No final, chemou seu carro de porcaria... A Sauber teve problemas de motor e seus carros mal completaram dez voltas antes de ter que arrumar as malas. Um mau início de temporada para uma equipe que necessita de resultados urgentes para conseguir patrocinadores. Já entre as novatas, destaque para Lucas di Grassi, que superou todas as dificuldades para conseguir terminar, pela primeira vez, uma corrida, assim como sua equipe, finalmente chamada de Virgin pela Globo. Bruno Senna também completou a prova, mas o brasileiro foi superado por Karun Chandhok, algo preocupante, pois a Hispania está tão atrás até mesmo das outras novatas, que o único ponto de referência de Senna é justamente seu companheiro de equipe. E ele está perdendo.
Ao contrário dos que previam uma temporada aborrecida e que a F1 só dependia da chuva para ter uma corrida boa, Sepang mostrou como poderá ser a cara da temporada. Em piso seco, houve muitas trocas de posições e várias tentativas. É o que esperamos de uma corrida de F1, não ultrapassagens constantes e até mesmo banalizadas, como ocorre na Nascar e na Indy. Claro que Ferrari e McLaren lá atrás ajudou um pouco isso, mas houve Button ultrapassando Alonso na pista e o inglês foi ultrapassado por Massa, tendo que se defender de Alonso no final. Alguersuari ultrapassou de forma magnífica Hulkenberg, seguido por Buemi, que também ultrapassou Barrichello. Essas ultrapassagens ocorreram entre pilotos que usam carros do mesmo nível e em piso seco. Ou seja, dependendo da pista e de como estão os pilotos em determinados momentos, as ultrapassagens são possíveis. Quem só ultrapassou retardatários, como Vettel, o que importa é que sua vitória o colocou bem no olho da disputa ferrenha pelo título. Hoje, temos sete pilotos separados por nove pontos. Um campeonato emocionante se aproxima!
Nenhum comentário:
Postar um comentário