Sem contar as 500 Milhas de Indianápolis, o Grande Prêmio da Argentina foi a primeira corrida fora da Europa a entrar no calendário da Fórmula 1 e por isso a prova portenha tinha uma enorme tradição, principalmente com as vitórias de Fangio. Quando o argentino se retirou no final da década de 50, a corrida argentina foi perdendo o fôlego até perder seu lugar em 1961, retornando dez anos depois para uma das mais animadas corridas do ano, com os torcedores argentinos dando show nas arquibancadas, como se a corrida fosse uma autêntica partida de futebol, tentando empurrar outro ídolo, desta vez Carlos Reutemann. Por causa das graves crises políticas e econômicas, mais uma vez a Argentina perderia sua corrida em 1981, porém a saída das ditaduras militares somado ao avanço econômico promovido por Domingos Cavallo, a Argentina pôde mais uma vez sediar uma corrida de Fórmula 1. Se desta vez não haveria um único piloto argentino para se torcer, os apaixonados portenhos lotaram as arquibancadas para verem os melhores carros e pilotos do mundo para provar que eles eram fanáticos por corridas.
Se em São Paulo faz muito calor, seguido por muita chuva, em Buenos Aires a chuva vinha com um frio polar e as equipes se sentiam nas mesmas condições que enfrentaram na pré-temporada européia. O famoso circuito Oscar Galvez, com suas várias facetas, dava para a F1 um circuito travado e sem muitas emoções, decepcionando quem esperava os famosos circuitos 9 e 15. A chuva atrapalhou demais os pilotos, mas no fim o domínio dos motores Renault se repetiu e David Coulthard conquistava sua primeira pole na F1, derrotando seu companheiro de equipe em quase 1s. Mostrando mais uma vez que seu Benetton ainda estava longe de ser o melhor do pelotão, Michael Schumacher amargava a 3º posição no grid, mas provando seu talento, principalmente na chuva, o alemão colocou 2.8s em cima do seu companheiro de equipe. Eddie Irvine surpreendia ao colocar seu Jordan em 4º, também superando por muito seu companheiro de equipe Barrichello. Na época, se vendia bastante que o irlandês não limpava os sapatos de Rubens e quando Irvine foi para a Ferrari no final de 1995, o motivo era que Schumacher teria 'medo' de Barrichello. O tempo (e a performance de Irvine em 1995) nos encarregaria de desmentir isso...
Grid:
1) Coulthard (Williams) - 1:53.241
2) Hill (Williams) - 1:54.057
3) Schumacher (Benetton) - 1:54.272
4) Irvine (Jordan) - 1:54.381
5) Hakkinen (McLaren) - 1:54.529
6) Alesi (Ferrari) - 1:54.637
7) Salo (Tyrrell) - 1:54.757
8) Berger (Ferrari) - 1:55.276
9) Frentzen (Sauber) - 1:55.583
10) Barrichello (Jordan) - 1:56.114
O dia 9 de abril de 1995 finalmente não tinha chuva e pilotos e equipes teriam que quebrar a cabeça para achar um bom acerto para piso seco, algo que pouco viram no final de semana argentino. Porém, o céu ainda estava ameaçador e a chuva poderia cair a qualquer momento, mas o público não ligou muito para as ameaças de chuva e lotou mais uma vez o Autódromo Oscar Galvez, inclusive com a presença do presidente Carlos Menem. A reta de largada não era tão estreita como Interlagos, mas uma boa partida seria essencial, vide o circuito travado dificultar as ultrapassagens. Coulthard larga bem, mas Schumacher fica praticamente parado e causa uma grande confusão para os que viam logo atrás, com Alesi rodando e provocando pequenos acidentes, fazendo com que a bandeira vermelha fosse mostrada. Na relargada, Schumacher faz uma largada inversamente proporcional a primeira e toma a segunda posição de Hill, enquanto Coulthard usufruiu muito bem da sua posição no grid e permanece na ponta.
Enquanto Coulthard impunha seu ritmo, Hill era claramente atrasado por Schumacher, que estava nitidamente mais lento, mas não tirava o pé para o seu rival. Escaldado pelo acidente em Adelaide, Damon Hill também não forçava muito, já que Mika Salo, que tinha feito uma estupenda largada, pulou de 7º para 4º e não ameaçava o inglês. As duas Jordans largam de forma terrível, com Irvine sendo tocado por Hakkinen na primeira curva e Barrichello tendo que desviar dos dois. Os pupilos de Eddie Jordan caíram para as últimas posições. Ainda na quarta volta, quando já tinha uma vantagem considerável para Schumacher, Coulthard perde rendimento de forma brutal e vê o alemão encostar na sua traseira. O escocês resiste por alguns instantes, chegando-se a suspeitar que aquilo seria uma manobra premeditada da Williams para atrapalhar Schumacher, mas o piloto da Benetton conseguiria a ultrapassagem na volta seguinte, com Hill realizando a manobra quase ao mesmo instante. Apesar dos problemas, Coulthard permanecia em 3º, mas agora teria que se preocupar com Alesi, que acabara de ultrapassar Salo. Para um circuito travado, a corrida estava tendo bastante troca de posições nas primeiras voltas.
Hill permanecia atrás de Schumacher, com o alemão fazendo das tripas coração para permanecer na frente, mas nem todo o enorme talento de Schummy poderia fazer milagres e na 11º volta Hill consegue a ultrapassagem que lhe daria a liderança. Com a possibilidade de chuva iminente, as equipes resolvem colocar pouco combustível na tentativa de economizar uma parada caso a chuva retornasse e por isso, as primeiras paradas não tardaram a acontecer. A Benetton, acusada no ano anterior de ter modificado ilegalmente a mangueira de combustível, tem problemas na parada de Schumacher e o alemão perde muito tempo quando a mangueira se recusava a se conectar ao bocal de reabastecimento. O prejuízo só não foi maior porque Coulthard finalmente abandonaria com problemas de motor, mas Alesi capitalizava os problemas do alemão e assumia a 2º posição.
Após primeiras voltas frenéticas, a corrida fica completamente estática, com pouco ou nada ocorrendo nas primeiras posições. Frentzen era o 4º colocado até ter que fazer sua tardia parada programada, fazendo com que Johnny Herbert ficasse apenas uma posição atrás do companheiro de equipe, mas todos sabiam da diferença de ritmo entre os pilotos da Benetton. Salo ficou boa parte da corrida na zona de pontuação, mas abandonaria, para fazer com que Jos Verstappen, em sua raquítica Simtek, chegasse ao 6º posto, mas o holandês abandonaria com o câmbio quebrado. Com isso, Gerhard Berger, numa corrida anônima, marcasse o último ponto do dia, mesmo bastante pressionado pela Ligier de Olivier Panis. Damon Hill vence com enorme tranquilidade, com Alesi e Schumacher bem atrás, completando o pódio. Mostrando o quanto o circuito escolhido em Buenos Aires era lento, mesmo tendo praticamente o mesmo perímetro de Interlagos e o mesmo número de voltas, por sete minutos a corrida não estourava o limite de duas horas. A torcida estava feliz com a volta do Grande Prêmio da Argentina, mas não demoraria para outra crise econômica e política tirar a prova do calendário mais uma vez.
Chegada:
1) Hill
2) Alesi
3) Schumacher
4) Herbert
5) Frentzen
6) Berger
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