Jenson Button nunca foi um piloto brilhante e mesmo quando foi campeão, muitos diziam que seus méritos eram apenas pelo bom carro que tinha em mãos. Não faltou quem o chamasse de "campeão medíocre". Sua ida para a McLaren seria a comprovação dessa tese, pois seria massacrado por Lewis Hamilton, mesmo piloto que, novato, conseguiu derrotar (e expulsar) o bicampeão Fernando Alonso da McLaren. Rescaldado pela história de Alonso e vendo que não tem como derrotar Hamilton apenas na velocidade pura, Button passou a utilizar das táticas para conseguir um diferencial para derrotar o companheiro de equipe. Foi assim que Jenson ganhou na Austrália mais cedo e conseguiu a liderança do campeonato hoje, com uma vitória estratégica em Xangai. Com duas vitórias a zero sobre o queridinho da McLaren, Jenson Button prova que sua inteligência tática, combinada com sua delicadeza no volante para conservar melhor os pneus, pode ser um fator crucial para que brigue pelo título desse ano e conquiste um improvável bicampeonato.
Pela terceira vez em quatro corridas, a chuva foi um fator importante na decisão da prova, sendo que em Xangai as precipitações foram ainda mais influentes. Se na Austrália só choveu no comecinho da corrida e na Malásia a chuva só apareceu para embaralhar a Classificação, na China foi exatamente a natureza que nos prestou o serviço de melhorar a corrida chinesa, provocando grandes procissões aos boxes na medida em que a chuva diminuía ou aumentava de intensidade. Mesmo com as equipes esperando pela chuva, não faltaram trapalhadas nas decisões e nos pit-stops e foram nessas confusões em que Button se sobressaiu. A largada foi dada com garoa que aumentou de intensidade ainda na primeira volta. Com a entrada do safety-car por causa da batida entre Liuzzi, Kobayashi e Buemi, parecia que era a hora apropriada para colocar o mais rápido possível os pneus intermediários. Praticamente todos os pilotos fizeram isso, menos alguns poucos abnegados que pareciam querer provar que eram machos em condições claramente adversas. Será? Entre esses 'machões' estava Jenson Button, que com isso subia para 2º, atrás de Nico Rosberg. A relargada provou que os 'machões' estavam certos e que os demais foram afobados. A chuva não tinha sido suficiente para molhar a pista a ponto de se usar os pneus intermediários e poucas voltas depois houve outra peregrinação aos boxes, enquanto Rosberg, Button e Kubica disparavam frente aos demais. O piloto da McLaren apenas acompanhava o ritmo de Nico, mas o piloto da Mercedes acabaria por errar e praticamente jogou fora sua chance de vencer pela primeira vez na F1. Com pista livre, Button disparou na frente e tinha tudo para vencer a corrida de forma tranquila.
Porém, uma entrada de safety-car para lá de suspeita compactou todo o pelotão e o maior perigo para Button estava mais próximo do que nunca. Lewis Hamilton vinha fazendo outra corrida sensacional, cheia de ultrapassagens e manobras arriscadas, como a entrada e saída dos pits lado a lado com Vettel. O inglês era novamente o mais rápido na pista e relargaria em sexto, apenas com as Renault e Adrian Sutil o separando da briga pela ponta. Hamilton ultrapassou Sutil, Petrov e Kubica com certa facilidade, mas encontrou mais resistência em Rosberg, que só ultrapassou quando os pneus intermediários acabaram. Em segundo e mais rápido, era apenas questão de tempo para Hamilton brigar com seu companheiro de equipe, mas então ficou claro uma vantagem que Button tem com relação ao vizinho de box. Não demorou para Hamilton, com a pista tendo um claro trilho seco, ter problemas com seus pneus e então Button disparou rumo a vitória, apesar de um erro no finalzinho e uma tentativa de aproximação de Hamilton. Jenson consegue sua décima vitória na carreira na F1 no auge de sua forma técnica e contra todos os prognósticos, entra de vez na briga pelo título desta temporada. Vendo seu companheiro de equipe com duas vitórias em quatro provas e na liderança do campeonato, Lewis Hamilton deve estar desesperado para vencer uma prova e colocar ordem na sua casa, pois a McLaren, que sempre vibrava quando o inglês fazia uma ultrapassagem, ainda é seu feudo.
Nico Rosberg foi corajoso em permanecer na pista com pneus slicks quando a maioria dos pilotos foi aos boxes colocar pneus intermediários, mas o alemão da Mercedes perdeu uma chance dourada de vencer pela primeira vez quando saiu da pista e praticamente entregou a vitória para Button, que não se fez de rogado e executou a ultrapassagem metros depois. Mesmo com a boa briga que teve com Hamilton pela 2º posição, a saída de pista representou um golpe na moral de Nico e a 3º posição significou um prêmio de consolação ao alemão. Um bom prêmio até, pois Rosberg subiu para a 2º posição do Mundial de Pilotos, mesmo sem nenhuma vitória, mas se a Mercedes não evoluir logo, essa posição será tão ilusória como a liderança de Massa até o início da prova chinesa. A Ferrari teve uma corrida de extremos e provavelmente com um pepino para resolver. A queimada de largada de Alonso foi tão sutil que só percebi quando a câmera focando em Charlie Whiting mostrou a Ferrari saindo do lugar antes da hora e o dedo acusador de Whiting. O espanhol liderou a primeira volta, mas sua punição não tardou a acontecer. Alonso então partiu para outra corrida de recuperação, mas quando retornou aos boxes para colocar pneus slicks, estava logo atrás do companheiro de equipe Massa e o espanhol não quis saber muito de regalias e ultrapassou o brasileiro na entrada dos boxes, tendo a primazia de fazer o pit-stop primeiro do que Massa e ter uma melhor posição na pista após as paradas. Alonso também foi outro a fazer uma belíssima corrida de recuperação e terminou em quarto, colado em Rosberg, com a sensação de que na única corrida normal desta temporada, ele acabou vencendo. Mal colocado na pista e com sua conhecida aversão por pistas escorregadias, Felipe Massa não fez uma boa corrida e acabou em nono, despencando de líder do campeonato para sexto. Pelo o que vinha fazendo até agora, essa posição reflete mais o que Massa vinha fazendo, pois em nenhum momento o brasileiro fez uma corrida digno de nota e mesmo com uma parada a menos do que Alonso, chegou cinco posições atrás, mas ele terá direito de reclamar a polêmica entrada da sua segunda parada de box.
A Red Bull começou o domingo com pinta de favorita absoluta a vitória, mas novamente se atrapalhou quando a estratégia foi mais uma vez utilizada e os pit-stops decidiriam a corrida. A equipe austríaca me faz lembrar a Williams do próprio Adrian Newey, quando tinha o melhor carro, mas se estabanava quando a estratégia era primordial para vencer ou não uma corrida. Vettel e Webber preferiram usar a via segura e trocaram os pneus slicks pelos intermediários, mas isso foi início dos erros, pois o pit de Webber, que desta vez largou melhor do que Vettel, demorou demais e atrapalhou ainda mais o alemão, que já tinha retardado o seu ritmo para não perder tanto tempo. Mesmo com o carro mais rápido do final de semana, os pilotos da Red Bull não ultrapassavam com tanta facilidade e ficavam cada vez mais distantes dos líderes. Novamente perdendo tempo nos pit-stops, Vettel e Webber ficavam no meio do pelotão e de lá não conseguiam sair. Apesar da dobradinha no grid, mais uma vez a Red Bull sai da corrida sem vitórias e poucos pontos a contar no campeonato, que estava pintando com sua cara nessa fase inicial, mas que vai escapando por culpa da equipe. Ao contrário da Red Bull, sua fornecedora de motores foi mais esperta na estratégia e conseguiu melhores resultados. Kubica e Petrov resolveram permanecer na pista com pneus slicks e isso foi fundamental para que os pilotos da Renault tivessem uma posição privilegiada quando a chuva cessou e os demais pilotos foram forçados a recolocar pneus sclicks. Enquanto Kubica não surpreendia ao acompanhar de perto os líderes Rosberg e Button, Petrov fazia a melhor corrida dele até então. Seguro em condições traiçoeiras, o russo fazia uma corrida para chegar em 4º, mas a entrada do safety-car fez com que todo o pelotão ficasse atrás dele e Vitaly segurou a posição enquanto deu, chegando até a rodar. Quando trocou seus pneus, o russo veio para cima de Schumacher e Webber nas voltas finais e garantiu, com duas belas ultrapassagens, a sétima posição e os primeiros pontos russos da história da F1 e a certeza que, mesmo numa comparação injusta contra o ótimo Kubica, que acabou em quinto, Petrov não é apenas um piloto-pagante. É um piloto de verdade!
Falando no alemão, Michael Schumacher teve hoje a prova definitiva de que seus tempos aúreos ficaram mesmo na história da F1 e que sua volta a categoria foi uma ação motivada pela emoção do que pela razão. O alemão ainda foi ajudado pela estratégia, com suas paradas claramente na hora certa, mesmo sendo um dos que foram aos boxes colocar pneus intermediários enquanto Rosberg ficou na pista. Porém, isso não impediu para que o lendário alemão fosse ultrapassado por vários pilotos em vários momentos da corrida. Foi extremamente constrangedor ver Schumacher sendo ultrapassado sem a menor cerimônia por vários pilotos, como se fosse um velho campeão em decadência e no momento, a realidade triste e cruel é exatamente essa.
Rubens Barrichello fez uma corrida em que sempre apareceu brigando pelos últimos lugares pontuáveis, principalmente com Massa, mas o brasileiro vê de forma clara que seu Williams não está em condições de brigar, com todos os carros de ponta na pista, por pontos. Nico Hulkenberg só apareceu quando colocou pneus slicks no momento que a pista estava mais molhada e perder ainda mais tempo com relação aos rivais, terminando na última posição dos pilotos que correm em equipes tradicionais. Para quem tem um currículo parecido com o de Hamilton nas categorias de base, Hulkenberg vem decepcionando bastante, principalmente se lembrarmos da temporada de estréia do inglês, guardadas as devidas proporções. Mesmo sendo um ótimo piloto na chuva, Sutil amargou uma corrida fora dos pontos, mas o alemão provou ser um piloto de enorme potencial quando brigou de igual para igual com Hamilton, Vettel e Alonso. Mesmo a Force India estando em outro nível, Sutil já merece um melhor carro. Já Liuzzi, após ter pagado o mico de ter ficado no Q1, provocou a primeira entrada do safety-car quando errou sozinho e bateu forte em Kobayashi e Buemi. Mesmo já tendo marcado pontos esse ano, o italiano faz uma temporada pífia em comparação a Sutil.
Alguersuari terminou a corrida após ter entrado nos boxes seis vezes e tentado uma estratégia diferente em vários momentos, acabando a corrida próximo dos pontos. O espanhol faz uma temporada interessante, com vários momentos de velocidade e superando algumas vezes seu companheiro de equipe, que neste final de semana só deu prejuízo a sua equipe. Mesmo que involutariamente. Na sexta, Buemi protagonizou o lance da temporada até aqui quando perdeu as duas rodas dianteiras enquanto freiava. Já no domingo, foi atingido por Liuzzi na primeira volta, acabando com sua corrida naquele momento. Um início de temporada azarado para o suíço. Kobayashi, assim como Buemi, pela segunda vez nesse ano se envolvendo em um acidente na primeira volta. Pedro de la Rosa foi um dos pilotos a apostarem em ficar na pista com pneus slicks, mas o espanhol foi enganado, mais uma vez, pelo motor Ferrari, em mais um show de pirotecnia do propulsor italiano. Nas minhas contas, são sete motores Ferrari explodidos esse ano. Das novatas, destaque para Kovalainen, que ocupou posições entre os top-10 ao ser o único das nanicas a ficar na pista no começo, mas o finlandês logo foi engolido pelos demais. A Virgin continuou sua via-crucis com um carro que não consegue completar as corridas, enquanto Bruno Senna finalmente superou seu companheiro de equipe Karun Chandhok, com ambos terminando a corrida, enquanto Lotus e Virgin não viram a bandeirada.
A quarta etapa do Mundial de F1 marca o final da primeira fase da temporada, com as equipes saindo da Ásia (se o vulcão islandês deixar...) rumo a Europa com um saldo interessante até o momento. O grande equilíbrio das quatro grandes realmente existe, pois Red Bull, McLaren, Ferrari e Mercedes apareceram bem até o momento e brigarão até o final do campeonato pelo título. A Red Bull parece ter o melhor carro, mas ainda peca na estratégia, enquanto a Ferrari começa a viver momentos tensos com um carro que parecia ser o melhor na pré-temporada, mas parece ser engolido por Red Bull e McLaren. Para piorar, algo que os italianos temiam pode estar acontecendo com a briga entre Alonso e Massa, mesmo com o espanhol sendo muito melhor do que o brasileiro até agora. Na McLaren e na Mercedes, os patinhos feio da equipe vem superando os favoritos, com a equipe inglesa tirando proveito dos erros das demais para liderar os Mundiais de Pilotos e Construtores. Enquanto Hamilton vem dando show, Button vem arriscando de outras formas. Por enquanto, está dando certo.
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