Tradicionalmente o Grande Prêmio da Inglaterra era realizado entre as provas da França e na Alemanha, no auge do verão europeu. No ano 2000, decidiu-se que a corrida britânica seria realizada em abril, no domingo de páscoa. Apesar da tradição, não havia nenhum problema, a não ser que a Inglaterra se caractariza por chover em praticamente todos os dias no final de abril e acabou causando um caos que entrou para a história da F1. Na sexta-feira, choveu tanto que os treinos foram várias vezes interrompidos e numa escapada de pista de David Coulthard, o carro que foi resgatar o carro do escocês ficou atolado. E não foi o único. O estacionamento de Silverstone, coberto de grama, se transformou num mar de lama e os próprios organizadores pediam para que as pessoas não fossem ao autódromo ver Jenson Button, que havia virado uma estrela do dia para a noite na Inglaterra. O jovem de 20 anos era uma espécie de sexto spice girl e ele foi capa em todos os jornais e revistas daquela semana.
Se a chuva trouxe o caos para o final de semana inglês, trouxe grande emoção para a Classificação no sábado, com a pista melhorando de condições ao longo da sessão e vários pilotos ficaram com a pole em determinado momento. Era uma loteria, pois um erro ou acerto poderia derrubar ou levantar algum piloto. Rubens Barrichello, reconhecidamente um ótimo piloto em condições traiçoeiras, conseguia sua primeira pole na Ferrari e segunda na carreira, superando por apenas três milésimos de segundo Heinz-Harald Frentzen. Schumacher havia errado na sua última volta e por isso era quinto, logo à frente de Button, para delírio das poucas pessoas que se aventuraram a ir para Silverstone naquele dia. Para Rubens, além da alegria pela pole, também havia sido um forma de comemorar os 500 anos de descobrimento (meus professores de história sempre falavam em roubo) do Brasil naquele dia, mas a grande manchete era o resgaste do menino cubano Elián da casa de parente em Miami.
Grid:
1) Barrichello (Ferrari) - 1:25.703
2) Frentzen (Jordan) - 1:25.706
3) Coulthard (McLaren) - 1:25.741
4) Hakkinen (McLaren) - 1:26.088
5) M.Schumacher (Ferrari) - 1:26.161
6) Button (Williams) - 1:26.733
7) R.Schumacher (Williams) - 1:26.786
8) Verstappen (Arrows) - 1:26.793
9) Irvine (Jaguar) - 1:26.818
10) Villeneuve (BAR) - 1:27.025
Para surpresa geral, o dia 23 de abril de 2000 estava ensolado e até mesmo quente para os padrões ingleses. Isso possibilitou que o público fosse sem muitos atropelos a Silverstone e a corrida, que prometia movimentada pela possibilidade de chuva e a forte emoção do treino de Classificação, perdeu um pouco do brilho, já que Silverstone é uma ótima pista para se pilotar, mas nem tanto para se ultrapassar. Com um chance de ouro ao largar não apenas na frente, mas longe do seu companheiro de equipe Michael Schumacher, Rubens Barrichello tenta se aproveitar ao máximo da pole e larga bem na sua corrida rumo a sonhada primeira vitória. Na verdade, as primeiras filas não mostram surpresas, mas lá atrás as coisas estavam animadas com mais uma largada relâmpago de Jacques Villeneuve, passando entre Irvine e Verstappen e se colocando a direita da Williams de Ralf Schumacher. O irmão mais velho de Ralf tinha problemas quando ficou sem espaço e para não bater, foi para a grama e caiu de 5º para 8º.
Logo na segunda volta, Ralf retomou a posição de Villeneuve e o canadense tratou de segurar seu arqui-rival Schumacher na briga pela sétima posição, então lá na frente, uma corrida sem graça se desenvolvia lá na frente entre a Ferrari de Barrichello, a Jordan de Frentzen, as duas McLarens e as duas Williams. Os seis carros estavam próximos, mas sem nenhuma possibilidade de ataque. Na verdade, a corrida ficou sem uma única ultrapassagem nas próximas 23 voltas! Ferrari e McLaren brigando pela ponta de uma corrida não chegava a ser surpresa, mas o ritmo de Frentzen e das Williams impressionava, contudo, logo se descobriu o motivo. Na volta 24, Frentzen foi o primeiro a ir aos boxes e como sua parada foi rápida, ficou claro que o alemão pararia duas vezes. As duas Williams pararam nas duas voltas posteriores. A verdade da corrida estava feita e Barrichello teria que enfrentar, sozinho, as duas McLarens.
Próximo da metade da corrida e de suas paradas programadas, Barrichello fica repentinamente lento na reta Hangar. Quando parecia que iria abandonar, a Ferrari retomou seu ritmo, mas Rubens havia perdido a liderança para Coulthard, mas o escocês pararia duas voltas depois, com Hakkinen tendo feito isso uma volta antes. Barrichello ainda liderava, mas seu ritmo oscilava muito e para surpresa geral Michael Schumacher já aparecia em segundo, retardando ao máximo sua única parada. Porém, na volta 35, Barrichello roda estranhamente nas lentas curvas antes da reta dos boxes. O brasileiro volta à pista e imadiatamente vai aos boxes para abandonar. Novamente problema hidráulico e rapidamente começaram as brincadeiras. José Simão dizia que deveriam colocar uma válvula Hydra na Ferrari de Rubinho. Rárárá!
Por causa da estratégia, Frentzen liderou algumas voltas, mas todos sabiam que o alemão pararia por uma segunda vez e por isso Coulthard retomou a ponta para não mais perdê-la. Apesar de um grande susto. Faltando dez voltas para o fim, o escocês diminui sua velocidade repentinamente na reta dos boxes e Hakkinen se aproxima rapidamente. Todos pensaram que era um jogo de equipe a favor do finlandês, mas na verdade era um pequeno problema de câmbio na McLaren de Coulthard e mesmo com a sombra de Hakkinen, Coulthard recebeu a bandeirada em primeiro e para delírio da McLaren, Hakkinen completou a dobradinha. Schumacher havia confessado que não estava a vontade na pista em que havia quebrado a perna em 1999, mas o receio terminou com um ótimo terceiro lugar e os pontos conquistados seriam vitais no futuro. Para alegria da torcida, Button terminou a corrida em quinto e marcava pontos novamente. O jovem se tornava o queridinho da torcida inglesa, mas ele só mostraria seu verdadeiro potencial dez anos mais tarde.
Chegada:
1) Coulthard
2) Hakkinen
3) M.Schumacher
4) R.Schumacher
5) Button
6) Trulli
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