De certa forma, a corrida em Monte Carlo deste ano foi bem parecida com a de vinte anos atrás, quando não aconteceu praticamente nada nas primeiras voltas, mas devido a circunstâncias, a corrida ficou emocionante nas voltas finais. Em 1992, um furo de pneu misterioso fez Nigel Mansell, piloto dominante em todo o final de semana e nas primeiras 70 voltas da corrida em Monte Carlo, ir aos boxes e voltar à prova em segundo, colado em Ayrton Senna, que fez o básico para não ser ultrapassado em Mônaco: não errar. E o brasileiro o fez de forma emocionante, segurando um Mansell doidinho para fazer besteira, mas Graças a Deus não o fez. Por isso, colocarei as imagens das últimas voltas, que são a que importam na corrida de vinte anos atrás, mas vale comentar duas coisas sobre a prova. Primeiro, foi que o pit-stop do líder Mansell nunca foi mostrado, num erro imperdoável da transmissão da época. E a outra foi o jovem Cléber Machado inventando uma quebra de motor de Senna após a corrida. Ai Meu Deus...
quinta-feira, 31 de maio de 2012
terça-feira, 29 de maio de 2012
Teve isso também...
Dentre as pistas antigas, Mônaco é umas que não há muitas mortes em seu currículo, onde, pensando de cabeça, só me lembro do Lorenzo Bandini. A baixa velocidade ajuda, mas quando jovens pilotos entram numa pista apertada, o resultado pode não dar muito certo. Conor Daly que o diga...
segunda-feira, 28 de maio de 2012
Figura(MON): Felipe Massa
Webber finalmente conseguiu sua primeira vitória em 2012, mas o australiano não estava tão pressionado como Felipe Massa em Monte Carlo. O piloto da Ferrari recebeu um ultimato em carta por Luca di Montezemolo antes da corrida, cobrando-o resultados imediatos e Felipe conseguiu dar a resposta num circuito onde historicamente não se dá tão bem assim. Porém, Monte Carlo se mostrou agradável ao problemático F2012 e Massa aproveitou para ter o primeiro final de semana decente do ano, conseguindo andar na frente de Alonso nos treinos livres e superado por muito pouco pelo espanhol na Classificação. Durante a corrida, Massa chegou a andar mais rápido do que Alonso no começo, mas logo a maior categoria do espanhol fez com que Massa não o ameaçasse mais, porém o brasileiro permaneceu na mesma balada dos líderes, fechando o emocionante trenzinho dos seis primeiros colocados no final, chegando apenas 6s atrás do vencedor Webber. A saída de Massa da Ferrari em 2013 é quase certa, até pelo conjunto da obra, mas Felipe necessita mostrar aos outros chefes de equipe que tem condições de ser o mesmo piloto que quase foi campeão em 2008 e de antes do acidente em 2009, talvez o grande marco de sua carreira. E com uma temporada incrivelmente equilibrada, se tudo der certo, uma vitória não estaria fora de cogitação que, talvez não garanta Massa na Ferrari no que vem, mas ao menos carimbe o passaporte do paulistano na F1 em 2013.
Figurão(MON): Jenson Button
O que passa com Jenson? Vencedor da primeira corrida da temporada e apontado como favorito pelo fato dos novos pneus Pirelli serem nervosos a qualquer movimento em falso, 2012 parecia ter a cara de Button, piloto muito cuidadoso com os pneus por causa de sua tocada suave e sua inteligência tática. Porém, o inglês entrou num declínio técnico absurdo, culminando com o final de semana medonho em Monte Carlo, pista onde venceu quando se tornou campeão mundial em 2009. Button até andou bem na quinta-feira e foi o único a utilizar os pneus supermacios antes da chuva aparecer, mas isso parece não ter ajudado muito o piloto da McLaren, que teve uma classificação pífia, ficando no Q2 pela segunda corrida seguida, muito longe de Lewis Hamilton. Na corrida, o mico foi ainda maior, pois Button perdeu muito tempo na confusa primeira curva e acabou se vendo atrás da Caterham de Heikki Kovalainen, uma presa fácil na teoria. Na teoria. O que se viu foi a repetição da edição de Mônaco em 2001 quando David Coulthard passou boa parte da prova atrás da Arrows de Enrique Bernoldi, mas nesse ano teve outros agravantes. Coulthard tinha sido o pole e ficara parado no grid por problemas em seu McLaren. Estava bem até o momento. E a Arrows não era um carro tão ruim como o Caterham que tinha Kovalainen em mãos, mas o finlandês foi capaz de segurar Button por quase 50 voltas e o pior foi que Button não conseguiu a ultrapassagem, acabando por rodar enquanto tentava deixar o finlandês para trás. Porém, o fato de ultrapassar Kova não diminuiria a péssima corrida de Button, que em nenhum momento esteve próximo de marcar pontos e desde sua vitória em Melbourne, não se destacou mais e mesmo a McLaren, hoje, não tendo o melhor carro do pelotão, pelo menos é possível andar no mesmo ritmo dos líderes, como fez Hamilton. Tendo problemas na Classificação, Button foi na corrida o que os ingleses gostam de dizer: Absolutamente patético.
domingo, 27 de maio de 2012
Agressivo na hora certa
Recentemente Dario Franchitti reclamou que a Indy estava
desequilibrada, com muitos circuitos mistos e poucos ovais, ainda em
decorrência do trauma pela morte de Dan Wheldon. Hoje, o escocês e sua equipe
mostraram o porquê dessa reclamação. Dario Frachitti e a Chip Ganassi foram
formidáveis nas 500 Milhas de Indianápolis de hoje e o escocês vai cavando seu
nome na história do automobilismo americano e mundial ao vencer pela terceira
vez a principal corrida da Indy.
Franchitti teve que enfrentar um motor Honda inferior aos
Chevrolet durante todo o ano, uma mês inteiro discreta de sua equipe em maio e
até mesmo um toque nos boxes durante a primeira rodada de paradas que o mandou
para o final do pelotão. Porém, a Ganassi escondeu o jogo durante os treinos e
rapidamente Scott Dixon saiu de uma posição intermediária no grid para as
primeiras posições, ameaçando o domínio dos pilotos da Andretti,
particularmente de Marco Andretti. Quando Dixon assumiu a ponta e Franchitti
veio logo depois numa recuperação empolgante, a corrida foi amplamente dominada
pela Ganassi e seus dois pilotos fizeram um verdadeiro jogo de equipe, com
Dixon e Franchitti trocando de posição a cada volta, economizando combustível e
seus carros para a hora decisiva da prova, que é sempre nas 50 milhas finais.
E nesse momento os dois carros vermelhos continuaram
dominando, contando com a sorte de várias bandeiras amarelas terem aparecido
nas voltas finais e truncado a prova, ajudando não apenas Franchitti e Dixon,
mas os demais pilotos a economizar combustível suficiente para não terem que se
preocupar no final. Na penúltima relargada, Tony Kanaan deu um show de dribles
e tomou a ponta dos carros da Ganassi, mas Franchitti e Dixon retomaram a ponta
na última relargada, mas muito pior do que ter o experiente Kanaan ameaçando,
era ver o afoito Takuma Sato se aproximando. Sato foi outro que largou muito
atrás, mas assim como o duo da Ganassi, aproveitou bem o ótimo desempenho do
motor Honda em corrida e sempre andou entre os primeiros. Na penúltima volta,
Franchitti deu o bote em cima de Dixon, mas o neozelandês não contava com Sato
que o ultrapassou por dentro, acabando momentaneamente com a dobradinha da Ganassi.
Os pilotos japoneses são conhecidos pela agressividade extrema, que algumas
vezes o levam a cometer verdadeiros destroços na pista. E Sato, desde a F1, foi
assim e ainda é considerado o melhor japonês na categoria, mesmo com o
surgimento de Kobayashi. Porém, não dá para culpar Sato pela sua manobra
extrema na abertura da última volta, assim como Franchitti não deu o mínimo
espaço ao japonês, que perdeu o controle do seu carro na curva 1 e bateu,
acabando sua corrida e definindo a prova.
Franchitti agora se junta a Helio Castroneves com três vitórias
em Indianápolis e se recupera no campeonato, pois até o pódio em São Paulo, o
escocês estava fazendo um campeonato sofrível. A Ganassi volta a vencer em
Indianápolis e aos poucos encosta nas grandes equipes tradicionais da
categoria, mesmo que ainda muito longe da Penske, extremamente discreta hoje,
particularmente com Castroneves, talvez a maior esperança de vitória da equipe,
mas que decepcionou e penou para ficar entre os dez. Porém, com o perigoso
acidente de Will Power, onde teve Mike Conway também envolvido, o brasileiro
encostou no australiano no campeonato, contudo, a posição intermediária de
Helio na corrida onde ele se da melhor não deixa de ser uma derrota para o
paulista. Bem ao contrário de Rubens Barrichello, que em sua primeira experiência
em ovais, conseguiu ficar no top-10 com uma corrida madura e sólida, onde não cometeu
erros e jamais andou nas últimas posições, podendo curtir com o amigo, quase
irmão, Tony Kanaan o terceiro lugar do soteropolitano, seu melhor resultado no
ano. Bia Figueiredo entra cada vez mais na turma da Danica Patrick, onde só
anda por que é mulher e somente este fato chama a atenção de patrocinadores,
não seus resultados. Enquanto seus três companheiros de equipe da Andretti
andavam entre os primeiros colocados, Bia ficava abaixo do 20º lugar até rodar
e bater, de leve, sozinha. Muito fraca essa garota. Assim como é fraco Marco
Andretti, que liderou boa parte da prova, mas errou sozinho no final,
continuando a ‘Maldição Andretti’ em Indianápolis, sendo que isso continua pelo
fato de Marco ser desastrado demais.
Não poderia deixar de falar na transmissão da Band. O
pessoal gosta muito de criticar a Globo, que hoje aumentou seu espaço para a
F1, mas Luciano do Valle inventando Michael Jordan (Michel Jourdain Jr.) foi
muito engraçado. Fora o Jester (Justin) Wilson e o acidentado Mike Conaway
(Conway). Gostava muito do Luciano no auge da Indy, mas está na cara que o
veterano narrador cai totalmente de pára-quedas na transmissão e seus erros chegam
a ser constrangedores, assim como a torcida da Band pelos brasileiros. Quando
Marco bateu faltando doze voltas para o fim, a torcida de Luciano para que a
corrida acabasse com bandeira amarela somente por que Tony Kanaan liderava foi
ridícula. Teo José é a melhor opção para os comentários certeiros de Felipe
Giaffone. É nessa hora que sinto falta da Globo.
Foi uma boa 500 Milhas de Indianápolis, que hoje bateu o
recorde de calor (34°C), teve um final emocionante e Franchitti mostrou que
quando precisa ser agressivo, pode colocar alguém na grama e vencer na marra.
Nem que isso lhe garanta seu terceiro anel de vencedor das 500 Milhas de
Indianápolis.
O sexto homem
Hoje não foi a corrida com mais ultrapassagens do ano e das
mais emocionantes no seu todo, mas Monte Carlo foi palco de marcas históricas
para a F1 e nos lembrar chegadas marcantes. Mark Webber venceu praticamente de
ponta a ponta, se tornando o sexto piloto diferente a vencer nessa temporada em
seis corridas, marcando um recorde nos 62 anos de história da F1. Porém, o
australiano não teve vida fácil ao longo das 78 voltas da longa corrida de
Mônaco e sempre teve Nico Rosberg fungando no seu cangote, que sempre teve
alguém mordendo seus calcanhares. Os puristas podem reclamar a vontade da F1
atual, mas os seis primeiros colocados separados por 6s nos fez lembrar, mesmo
que sem a mesma emoção, a famosa chegada do Grande Prêmio da Espanha de 1981,
onde Gilles Villeneuve, recentemente homenageado pelos 30 anos do seu
passamento, segurou quatro carros nas voltas finais em Jarama. Webber segurou
cinco e ainda havia uma garoa para tornar as coisas mais emocionantes e
dramáticas. Foi um final eletrizante!
Fazia tempo que a largada não protagonizava batidas e hoje
quem fez o strike, mesmo involuntário, foi Romain Grosjean. O francês da Lotus
largou muito mal e Alonso foi para cima dele e tocou nele. Espremido, Grosjean
foi para a esquerda e acabou espremendo Schumacher no guard-rail e o francês
acabou quebrando a suspensão traseira esquerda e rodando no meio do pelotão,
atingindo a Sauber de Kobayashi, enquanto Maldonado atingia De La Rosa. O
safety-car veio a pista e essa foi a única emoção da corrida em seus momentos
iniciais. Mark Webber manteve a ponta, seguido por Rosberg, Hamilton, Alonso,
Massa e Vettel. E assim andaram por várias voltas, com esses pilotos ganhando e
perdendo rendimento na medida em que seus pneus ganhavam ou perdiam rendimento.
Porém, Webber se manteve intocável na frente e só não liderou de ponta a ponta
por causa da estratégia diferente do seu companheiro de equipe Vettel. Havia
uma previsão de chuva para o meio da corrida e Vettel resolveu iniciar a prova
com os pneus macios e postergar ao máximo sua parada, mas a chuva, anunciada a
todo o momento pelo rádio aos pilotos nunca veio de verdade. Pelo menos, não no
meio da prova. Com Vettel parando, Webber reassumiu a ponta e parecia que
venceria com a mesma tranqüilidade de 2010, quando dois anos atrás tinha Kubica
próximo, mas por causa de um safety-car nas últimas voltas. Então, a chuva veio
no final da prova em forma de garoa e Rosberg encostou em Webber, mas o alemão
da Mercedes trouxe uma fila de pilotos atrás dele, tornando as últimas voltas
da corrida eletrizante, pois qualquer erro poderia causar mudanças de posições
e a chuva, afinal, poderia aumentar a qualquer momento. Foram momentos de tirar
o fôlego, mesmo sem troca de posições ou disputas mais acirradas por posição. No
final Webber recebeu a bandeirada em primeiro e empatava em pontos com Vettel
em pontos no segundo lugar do campeonato, apenas três atrás de Alonso, o líder
do campeonato. Mark Webber havia até reclamado da grande divisão de pontos e
vitórias da atual temporada, mas o australiano acabou se beneficiando por uma
F1 sem domínio e imprevisível e escreveu a temporada de 2012 nos livros como
uma das mais emocionantes da história da F1.
E também de altíssimo nível, ao contrário do que dizem os
saudosistas dos anos 70 e 80. Vettel foi o quarto colocado, mas recebeu a
bandeirada apenas 1.3s atrás do companheiro de equipe, talvez até o diretor de
prova tenha dado a bandeirada no mesmo movimento entre os quarto primeiros.
Vettel fez uma corrida inteligente e largando em décimo, postergou sua parada
ao máximo sem perder tanto desempenho e quando voltou à pista, estava logo à
frente de Hamilton, em quarto, sendo que antes das paradas, era sexto. Havia a
expectativa de o alemão pressionar os primeiros colocados, pois era o único ali
com pneus supermacios, mas o ambiente inóspito em ultrapassagens de Mônaco não o
ajudou e Seb ficou fora do pódio. Rosberg fez uma prova sólida, onde sua
diferença para Webber nunca foi muito superior a 2s e andou no mesmo ritmo de
Webber, o atacando quando a garoa apareceu nas últimas voltas, mas Nico
preferiu não fazer nenhum ato de heroísmo e ficou ali mesmo, segurando os
ataques de Alonso. Schumacher se envolveu no acidente de Grosjean e ficou atrás
de um estranhamente lento Kimi Raikkonen, só se livrando do finlandês quando
parou nos boxes, mas o toque com Grosjean pode ter causado seu abandono no
final da prova, acabando outra prova de forma frustrante ao heptacampeão, pois
Schummy tinha tudo para estar na briga pela vitória se tivesse largado
realmente na pole. A Ferrari esteve muito bem em Monte Carlo e Alonso assumiu a
liderança do campeonato com um pódio no lugar mais baixo, porém, quem poderia
imaginar o espanhol na liderança na sexta prova do campeonato após um início de
campeonato tão desapontador? A Ferrari cresceu muito, sem dúvida, mas as
características de Monte Carlo ajudaram bastante o time de Maranello e como
sempre faz nessas situações, Fernando Alonso aproveitou bem. A novidade foi o
quanto Felipe Massa andou no mesmo ritmo de Alonso e no começo da prova, até
mais do que o espanhol. Esperar que a Ferrari pedisse a Alonso, líder do
campeonato, deixar Felipe passar era exagero global, mas Massa fez sua melhor
corrida desde 2010 e não há nada do que reclamar de sua atuação de hoje, pois mesmo
fechando os seis primeiros que lideraram a corrida inteira, ele recebeu a
bandeirada 6s atrás de Webber, mostrando que estava no mesmo ritmo dos líderes.
A McLaren não deixou de decepcionar na corrida de hoje e
mesmo Hamilton pontuando mais uma vez, a bolsa de apostas indicavam Lewis como
o sexto vencedor diferente de 2012, mas o piloto da McLaren não estava em
condições de brigar mais do que fez e o quinto lugar foi o máximo do inglês, se
mantendo na briga pelo campeonato. Porém, o que foi assustador foi o terrível
desempenho de Jenson Button em Monte Carlo. Nem se pode acusar Button de não se
dar bem em Mônaco, pois ele venceu lá em 2009, mas a curva descendente de
Jenson foi tão acentuada, que o inglês passou boa parte da prova atrás da
Caterham de Kovalainen (!), não conseguindo ultrapassar o finlandês, algo que
Sérgio Pérez conseguiu em uma única volta! Foi patético, como dizem os
ingleses. A Force India marcou pontos com seus dois carros num esforço muito
bom dos seus dois pilotos, que fizeram uma prova sem erros e isso, em Mônaco,
normalmente garante frutos na bandeirada. A Lotus foi a grande desilusão do
final de semana, com um ritmo de corrida absolutamente terrível de Kimi
Raikkonen. O finlandês não foi a pálida sombra do que fora nas duas últimas
corridas, sendo superado de longe por Grosjean e na corrida, onde seu ritmo
poderia ser melhor, se tornou uma chicane ambulante, causando a diminuição do
ritmo de vários pilotos que tiveram o azar de tê-lo à sua frente. Grosjean,
coitado, não dá nem para avaliar se estava ou não na briga pela vitória, apesar
das indicações dizerem que sim. Bruno Senna marcou um pontinho, mas passou a
prova inteira atrás (ou atrapalhado) por Raikkonen e teve que se conformar com
sua posição, mas foi um final de semana paradoxal para a Williams e
principalmente para Maldonado. Após sua vitória duas semanas atrás, Maldonado
largou em último em Monte Carlo, onde sempre se deu bem em outras categorias, e
se envolveu num acidente ainda na primeira curva, ao atingir a traseira de
Pedro de La Rosa.
Jean-Eric Vergne perdeu a chance de ter o seu melhor
resultado na F1 quando resolveu inventar e colocar pneus intermediários nas
voltas finais, mas a garoa era tão fina que o francês nem se aproveitou das
condições variáveis da pista e caiu de sétimo a décimo segundo, bem mais lento
todos os outros. É a velha história de ser melhor tem alguns pontinhos na mão,
do que vários voando... Daniel Ricciardo abandonou quando vinha logo atrás de
Senna e Kobayashi se envolveu nos toques da primeira curva, enquanto Sérgio
Pérez foi o homem que conseguiu ultrapassar hoje, mesmo que seja nas últimas
posições e os carros fossem das nanicas, porém, Jenson Button com uma McLaren não
conseguiu isso, então palmas para Pérez, que ainda sofreu uma punição por ir
aos boxes na hora em que Raikkonen ia lhe ultrapassar e ainda ficou em 11º. Seu
ritmo era tão bom, que após ser ultrapassado pelos líderes, ficou colado na
traseira de Massa, provando que se não fossem os problemas durante o final de
semana, Pérez poderia ter chegado nos pontos e, quiçá, na acirrada briga pela
vitória, onde poderia ter dito: Não contavam com minha astúcia! Heikki
Kovalainen teve a melhor atuação das nanicas em sua história ao largar bem e
segurar a McLaren de Jenson Button a corrida toda, só perdendo posições quando
teve que encarar a astúcia de Sérgio Pérez e quebrou a asa dianteira, mas Kova
já tinha feito uma belíssima prova, enquanto Petrov abandonava quando estava em
último, os dois pilotos da Marussia foram bons retardatários e Karthikeyan
atrapalhou alguns pilotos com seu ritmo lento em demasia.
Foi uma corrida em que os pneus não foram fatores
determinantes, mas o equilíbrio se manteve intacto, pois seis pilotos de quatro
equipes diferentes se digladiaram nas últimas voltas de forma sensacional, fazendo
uma F1 eletrizante e que valha a pena acordar cedo para ver Alonso, Vettel,
Webber, Hamilton e outros fazer história à nossa frente.
sábado, 26 de maio de 2012
Ganhou, mas não levou
Michael Schumacher é depois de Felipe Massa o alvo preferencial para críticas e especulações de quem ocupará seu lugar em 2013, devido ao mau desempenho nesta temporada. Sinceramente, nunca fui muito simpático a essa volta de Schummy a F1 pois ele se aposentara por cima no final de 2006 e três anos fora da F1, com mais de 40 anos não era um bom cartão de visita para equipe qualquer, mesmo a Mercedes tendo sido campeã em 2009 com outro nome (e menos dinheiro). O tempo mostrou um Schumacher com lampejos raríssimos de sua genialidade e um piloto até mesmo trapalhão, o que acabou estragando seu lampejo dessa manhã.
Schumacher necessitava de uma exibição dos bons e velhos tempos e o heptacampeão o conseguiu de forma exuberante em Monte Carlo, um dos seus palcos favoritos. O piloto da Mercedes foi o mais rápido de uma classificação muito acirrada, onde os cinco primeiros ficaram separados por apenas 0.25s, mas como Schumacher fez besteira em Barcelona quinze dias atrás, ao bater na traseira de Bruno Senna, o alemão já sabia que largaria com cinco posições e justo quando foi o mais rápido, terá que amargar a sexta posição no grid, fazendo com que Mark Webber ficasse com a pole e se tornar automaticamente o favorito para a corrida de amanhã. O australiano chegou a reclamar da competitividade desta temporada, talvez por estar mal acostumado com o domínio de sua equipe, mas Webber ficou bem à frente de Vettel neste sábado, com o alemão tendo que emular seu compatriota e voltar a fazer uma boa exibição.
A Mercedes se provou muito bem em Mônaco e Nico Rosberg pode fazer as vezes do time e ficar com a vitória, basta uma largada melhor do que a de Webber, seu companheiro na primeira fila e que várias vezes não saiu bem no apagar das cinco luzes vermelhas. A McLaren vive um paradoxo de uma boa classificação de Hamilton e ver Button, mais uma vez, falhar em passar ao Q3. E pela segunda vez consecutiva! Button é outro que precisa de uma reviravolta. A Lotus não foi tão bem quanto o esperado, mas ainda colocou seus dois carros no Q3, algo que a Ferrari fez pela primeira vez este ano, na melhor exibição de Felipe Massa esse ano, com o brasileiro ficando próximo de Alonso no Q3, mas em outras oportunidades ficando à frente do espanhol. A Williams esteve longe de repetir o ótimo desempenho de Barcelona e Maldonado ainda sofreu com uma punição de dez posições, fazendo com que este final de semana não seja muito bom para o time inglês.
Assisti boa parte do treino no mute, pois estava em aula, mas no finalzinho deu para pegar a transmissão desesperada de Galvão Bueno com a pole de Schumacher. Para quem não sabe, o alemão da Mercedes está apenas uma vitória atrás de Ayrton Senna no quesito de triunfos em Monte Carlo e com a possibilidade de Schummy igualar Senna, Galvão quase teve um piripaque. Seria até bem feito se Schumacher vencesse. Tanto para ele, como para seus críticos. Afinal, rei nunca perde a majestade!
sexta-feira, 25 de maio de 2012
História: 15 anos do Grande Prêmio da Espanha de 1997
Se havia uma pista em que todos os pilotos e equipes
conhecem há tempos é o de Barcelona. Com um circuito repleto de variáveis, como
uma reta longa, curvas enormes de alta e baixa velocidade, Montmeló costuma
definir quem tem o melhor carro da temporada ou quem sofrerá pelo resto do ano,
já que desde 1992 a etapa espanhola é realizada praticamente na abertura da
temporada européia. Isso aconteceu em 1997, com a Williams dominando os testes
na semana anterior à corrida na Espanha, mas tendo problemas nos treinos livres
de sexta-feira. Os pilotos reclamaram bastante do desgaste dos pneus,
principalmente os usuários da Goodyear, com a Bridgestone se mostrando com
menos desempenho, mas com mais durabilidade. Na corrida, isso definiria muitos
rumos.
A Benetton havia sido a mais rápida na sexta-feira, mas a
Williams, notadamente o melhor carro do pelotão, voltou a dominar no sábado e
Jacques Villeneuve ficou novamente com a pole, quase 1s na frente do terceiro
colocado. Porém, Frentzen deu trabalho ao canadense ao ficar 0.26s atrás do
companheiro de equipe de Williams. A McLaren tinha um novo motor de
classificação e por isso seus carros apareceram muito bem, seguindo os ótimos
carros da Williams. Adryan Newey ainda assinava os carros da Williams em 1997,
mas o inglês já trabalhava na McLaren naquele ano e provavelmente deu dicas
como melhor aproveitar o circuito espanhol. A Ferrari teve uma péssima
classificação, enquanto o bom resultado da Stewart em Monte Carlo se provava
fortuito com seus dois pilotos ficando no fim do grid em Barcelona. O primeiro piloto Bridgestone era Olivier Panis, apenas em 12º.
Grid:
1) Villeneuve(Williams) - 1:16.525
2) Frentzen(Williams) - 1:16.791
3) Coulthard(McLaren) - 1:17.521
4) Alesi(Benetton) - 1:17.717
5) Hakkinen(McLaren) - 1:17.737
6) Berger(Benetton) - 1:18.041
7) M.Schumacher(Ferrari) - 1:18.313
8) Fisichella(Jordan) - 1:18.385
9) R.Schumacher(Jordan) - 1:18.423
10) Herbert(Sauber) - 1:18.494
O dia 25 de maio de 1997 estava nublado e frio quando os
carros se dirigiam ao grid de largada com uma previsão de corrida mais
apertada, pois se Villeneuve dominou na Classificação, o canadense teve uma
vida mais dura no velho warm-up, com os oito primeiros carros separados por 1s,
provavelmente pela condição mais fria de pista. Apenas na segunda tentativa a
largada foi dada e Villeneuve largou de forma esplêndida, ao contrário de
Frentzen, que foi engolido pelo pelotão. Quem também fez uma largada
sensacional foi Michael Schumacher, pulando de sétimo para segundo ainda na
primeira curva.
Como normalmente acontece em Barcelona e naquela temporada
em questão, os primeiros colocados andavam próximos, com 4s separando os seis
primeiros na terceira volta, mas não havia tentativas de ultrapassagem, com
todos os pilotos se estudando. Com um carro desequilibrado, Schumacher foi o
primeiro usuário da Goodyear a sofrer com os pneus e o alemão perdeu rendimento
de forma abrupta frente a Villeneuve, com a diferença entre os dois pilotos
chegando a 20s na volta 14. Isso causou um verdadeiro congestionamento atrás da
Ferrari de Schumacher, mas com os pilotos não podendo efetuar a ultrapassagem
sobre o alemão, que fechava a porta sem o menor pudor. Desesperados e sem ter muito
que fazer, pilotos como Ralf Schumacher antecipavam suas paradas, até Coulthard
finalmente deixar Schummy mais velho para trás. Algumas voltas depois, começou
a primeira rodada de paradas e de forma surpreendente, Coulthard havia
encostado em Villeneuve, enquanto Olivier Panis permanecia em terceiro e sem
paradas, mas havia um dado a ser colocado nesse caldeirão estratégico: o
francês da Prost usava pneus Bridgestone. Isso faria toda a diferença!
Alesi e Schumacher ultrapassam Mika Hakkinen numa bonita
briga pelo terceiro lugar, já que Panis havia parado nos boxes e estava agora
em sexto. Frentzen fazia uma corrida medíocre, desgastando seus pneus de forma
absurda e seu desempenho não fazia jus ao carro que tinha, igual ao do líder
inconteste até então, Jacques Villeneuve, que apenas administrava a vantagem
sobre Coulthard. Com a segunda rodada de paradas para troca de pneus e
reabastecimento, Panis voltou a crescer e o francês ultrapassou Coulthard na
volta 39 pela terceira posição, já que o piloto da McLaren não teve um pit-stop
muito feliz. Estava claro que os pilotos com Goodyear iriam parar três vezes,
enquanto os usuários de Bridgestone parariam apenas duas vezes. Panis fazia uma
ótima corrida e enquanto os pilotos à sua frente faziam uma terceira parada,
ele estava numa estratégia de duas paradas e era definitivamente o mais rápido
na pista. Após a terceira rodada de paradas para quem estava numa estratégia de
três pit-stops, Panis liderava a corrida, mas com uma parada a fazer. O piloto
da Prost andou forte o suficiente para retornar de sua segunda visita ao Box em
2º, apenas 11s atrás de Villeneuve. E ele era o mais rápido da pista!
A idéia da Bridgestone de fazer um pneu mais resistente
parecia que daria frutos e Panis se aproximava lentamente da Williams de
Villeneuve, até um dos momentos mais vergonhosos dos anos 90 aconteceu. Panis
vinha logo à frente de Alesi e Schumacher, mas os dois veteranos viam impotente
o francês ir para cima do líder Villeneuve. Contudo, a Ferrari queria que
Schumacher atacasse Alesi e, quem sabe, Panis na briga pelo segundo lugar. Numa
manobra triste, a equipe mandou Eddie Irvine, retardatário, segurar Panis e,
por conseguinte Alesi para que Schumacher se aproximasse dos dois. Até mesmo
Alesi se irritou e gesticulou para o diretor de prova para tomar uma
providência. O irlandês ficou várias voltas à frente de Panis numa cena triste
e de pouca repercussão hoje em dia, mas que cinco anos depois não surpreenderia
ninguém. Irvine foi penalizado com um stop-and-go de 10s e só assim desobstruiu
a passagem dos líderes. Como castigo, Schumacher manteve seu quarto lugar e essa
manobra praticamente garantiu a vitória de Jacques Villeneuve, o que acabaria
lhe ajudando bastante no final do ano, na contagem final do campeonato. Foi o
último pódio em que todos os pilotos falavam francês, mas a dúvida ficava se
Panis poderia ou não alcançar Villeneuve e garantir a primeira e merecida
vitória da Bridgestone. Ninguém saberá, mas a manobra da Ferrari com Irvine
seria penalizada, como seria visto mais tarde, com a vitória de Villeneuve,
soberano a corrida inteira.
Chegada:
1) Villeneuve
2) Panis
3) Alesi
4) M.Schumacher
5) Herbert
6) Coulthard
quarta-feira, 23 de maio de 2012
História: 30 anos do Grande Prêmio de Mônaco de 1982
Uma quinzena havia se passado, mas as feridas abertas pela
morte de Gilles Villeneuve ainda não haviam cicatrizado quando a F1 chegou ao
seu mais charmoso Grande Prêmio, em Mônaco. Gilles era um piloto querido por todos
dentro da F1, bem ao contrário de Didier Pironi, que todos acusavam de querer
ser o primeiro piloto francês a ser campeão na F1 de qualquer jeito, não importando
muitos os meios. A Ferrari já havia acertado com Patrick Tambay para substituir
Villeneuve, mas a equipe preferiu manter apenas um carro em Monte Carlo em respeito
ao canadense, mas Pironi se tornara uma pessona non-grata dentro do paddock.
A Renault tinha uma enorme dificuldade em circuitos de rua
ou apertados por causa do turbo, que só funcionava a contento após certa
rotação, mas o time francês, querendo fazer bonito na frente do seu público,
preparou um novo turbo para que a potência pudesse surgir com rotações um pouco
mais baixas, ideais para Mônaco. René
Arnoux, um verdadeiro ás em ritmo de classificação, ficou com a pole com meio
segundo de vantagem sobre Patrese, que utilizava o Brabham com motor Ford
Cosworth, enquanto Piquet ainda tentava desenvolver o motor BMW turbo e não repetia
a exibição de 1981, onde fora pole, e em 1982 largaria apenas em 13º. Como em
Mônaco só se largavam vinte carros na época, Raul Boesel e Chico Serra ficariam
de foram e Piquet seria o único brasileiro a largar no domingo.
Grid:
1) Arnoux(Renault) - 1:23.281
2) Patrese(Brabham) - 1:23.791
3) Giacomelli(Alfa Romeo) - 1:23.939
4) Prost(Renault) - 1:24.439
5) Pironi(Ferrari) - 1:24.585
6) Rosberg(Williams) - 1:24.649
7) De Cesaris(Alfa Romeo) - 1:24.928
8) Daly(Williams) - 1:25.390
9) Alboreto(Tyrrell) - 1:25.449
10) Watson(McLaren) - 1:25.583
O dia 23 de maio de 1982 estava ensolarado em Monte Carlo, mas
havia previsão de chuva. Assim como acontece hoje, uma boa largada seria
essencial para uma boa corrida em Mônaco e Arnoux sabia disso, conseguindo uma
ótima saída no apagar da luz verde, deixando a confusão para o segundo colocado
em diante. Ainda com a famosa largada de 1980 em mente, todos os pilotos se
comportaram bem nas primeiras curvas, mas não deixaram de haver trocas de
posição, notadamente com Bruno Giacomelli ultrapassando o compatriota Riccardo
Patrese para ficar em segundo. A Alfa Romeo se comportaria otimamente durante
toda a prova.
Porém, o melhor carro nas primeiras voltas era a Renault.
René Arnoux abriu uma boa diferença para Giacomelli ainda na primeira volta e
sumia na frente. Prost deixou Patrese para trás ainda durante a volta de
abertura e passou a pressionar Giacomelli para lhe tomar a segunda posição.
Querendo manter o posto, Giacomelli acabaria batendo com força numa zebra alta
e isso lhe custaria caro mais tarde, quando teve que abandonar na quarta volta
com a transmissão danificada pelo toque. Com isso, a Renault liderava em Mônaco
com direito a dobradinha, para delírio do público presente e até mesmo dos
comissários de pista, que comemoravam a cada passagem dos carros amarelos.
Mesmo tendo Prost na liderança do campeonato, Arnoux não queria saber de ordens
de equipe e tinha 7s de vantagem na 14º volta quando entrou no Esse da Piscina.
De forma até bisonha, Arnoux perdeu o controle do seu Renault e ficou
atravessado, sem bater em nada. O francês deixou o motor morrer e morria ali
também sua corrida. Arnoux saiu do carro claramente decepcionado com a besteira
feita. Ainda mais com o seu desafeto Prost assumindo a ponta e se consolidando
como primeiro piloto da Renault.
Nesse momento, a corrida fica chata e monótona. Prost
liderava com conforto à frente de Patrese, Pironi e De Cesaris. Nada acontecia
na pista, mas acima dela, havia um grande movimento. O tímido sol que havia nas
primeiras voltas dava lugar as nuvens escuras que se aproximavam do principado.
Faltando cinco voltas para o fim de uma corrida que não tinha acontecido nada
demais, o clima fica escuro, sombrio até. Na volta 74, uma garoa fina chegou
para tornar a pista um pouco escorregadia. Os comissários imediatamente mostraram
a bandeira bicolor em amarelo e vermelho, mostrando que a pista tinha uma
aderência menor do que o normal. Quando Prost cruzava a Portier, um comissário não
apenas lhe mostrava a bendita bandeira, como ainda apontava para o céu, como que
lhe indicando o óbvio: a chuva deixou a pista ligeiramente molhada. Se Prost
viu ou não a bandeira e os avisos do comissário, a verdade foi que o francês
destruiu sua corrida alguns metros adiante, quando bateu forte no guard-rail e
até machucou sua perna, mas tirando o orgulho, Prost nada havia sofrido. Isso
fazia com que Patrese assumisse a primeira posição. Quando passou pelos
destroços do carro de Prost e viu a garoa aumentar de intensidade, o italiano
da Brabham tirou o pé completamente. Patrese completou a 74º volta tão
lentamente, que o retardatário Marc Surer, várias voltas atrás e acenando para
Patrese passar, se tornava um adversário do italiano em termos de velocidade.
Patrese parecia nervoso, mesmo com toda a torcida vibrando com ele, mas isso não
foi o suficiente para acalmar o italiano, que rodou ridiculamente no hairpin
Loews. Com isso, Pironi assumia a ponta. Porém, havia problemas.
O francês da Ferrari também se arrastava na pista, sem bico,
arrancado quando ia colocar uma volta no retardatário Elio de Angelis, e com
problemas em sua Ferrari. Quando iniciou a última volta, Pironi acenava
loucamente para o diretor de corrida encerrar a prova ali. Não sendo atendido,
Pironi parecia conhecer o seu destino. Quando o piloto da Ferrari passava pelo
túnel, seu carro morreu. Pane Seca. Era o terceiro líder a abandonar a corrida
em seu final! Então todos os olhos se voltaram a Andrea de Cesaris, quarto
colocado poucas voltas antes, mas que seria o líder naquele momento. Seria.
Quando a câmera achou o italiano, seu carro estava estacionado na subida do
Cassino, também sem gasolina. Parecia que os deuses das corridas queriam nos
desculpar pela monotonia do começo da corrida e simplificar toda a emoção
apenas no final. O quinto colocado era Derek Daly, piloto que havia sido
contratado para o lugar de Carlos Reutemann na Williams e tinha sido uma das
vítimas da garoa no final da prova e tinha batido de traseira no guard-rail,
deixando a asa traseira no local e parte do câmbio dependurada. O irlandês
poderia estar a caminho da glória, mas o câmbio acabou quebrando na última
volta. James Hunt, comentando a prova pela BBC, se irritava com a falta de
piloto querendo ganhar a corrida em sua última volta. E aliás, quem poderia ser
o vencedor?
A resposta aparece no carro branco e azul de... Patrese! Sem
muita gente perceber, o italiano fizera seu carro pegar no tranco e partiu para
as voltas finais sem muita esperança e até mesmo bravo consigo mesmo, pela
chance perdida de conseguir a sua primeira vitória na F1. Quando recebeu a
bandeirada, Patrese nem comemorou muito. Ele não sabia em que posição estava,
mas quando chegou no túnel e viu Pironi lhe congratulando, ele percebeu que
tinha sido o vencedor! Era sua primeira vitória na F1. A confusão continuou no
pódio. Nigel Mansell e Elio de Angelis haviam levado suas Lotus até o fim, mas
muitas voltas atrasados e como houvera tantos abandonos no final, eles pensavam
que eram segundo e terceiro colocados respectivamente e foram ao pódio pegar
seus troféus, mas a organização fez a contagem de voltas e percebeu que na
verdade fora Pironi e De Cesaris, que iniciaram a última volta, que eram
segundo e terceiro, respectivamente, mesmo abandonando. De Cesaris, que poderia
ter dado a primeira vitória para a Alfa Romeo em mais de trinta anos, estava
com cara de poucos amigos no pódio, enquanto Patrese vibrava como se não
acreditasse no que estava acontecendo. Sua primeira vitória num final dos mais
caóticos da história. Na verdade, ninguém na F1 acreditava no que tinha visto
nas três últimas voltas daquele Grande Prêmio de Mônaco.
Chegada:
1) Patrese
2) Pironi
3) De Cesaris
4) Mansell
5) De Angelis
6) Daly
terça-feira, 22 de maio de 2012
História: 35 anos do Grande Prêmio de Mônaco de 1977
Após a vitória de Mario Andretti em Jarama, começou uma
contagem regressiva para quem teria a honra de conceder a Cosworth sua
centésima vitória na F1. Os ingleses se animaram a tal ponto de prepararem um
motor especial, com peças novas construídas em titânio, magnésio e alumínio, para
a prova em Mônaco, mas apenas três pilotos teriam a honra de usar o novo
propulsor, escolhidos a dedo pela Cosworth: Mario Andretti, James Hunt e Ronnie
Peterson. Niki Lauda estaria de volta à Ferrari após seus problemas na costela
depois de um acidente em Jarama, ainda resquício do acidente em Nürburgring. Na
Shadow, ainda traumatizada pela trágica morte de Tom Pryce, o italiano Renzo
Zorzi, involuntário envolvido no acidente do galês, perdia a confiança do seu
patrocínio e seu lugar na equipe e para substituí-lo, estrearia o promissor italiano
Riccardo Patrese. Ninguém sabia no momento, mas Patrese, então com 23 anos,
iniciaria uma longe carreira de dezesseis anos na F1.
Os treinos para o Grande Prêmio de Mônaco foram atrapalhados
pela chuva e o mais rápido na quinta-feira foi Hans-Joachim Stuck, que
substituía muito bem José Carlos Pace. No sábado, a chuva se fez presente
novamente, mas antes que o alemão pudesse comemorar o que seria sua única pole,
a pista secou na meia hora final e seu companheiro de equipe, John Watson,
ficou com a pole, com Jody Scheckter ficando em segundo, mas tendo que
recuperar seu carro para corrida, pois no afã de conseguir superar Watson, o
sul-africano acabou batendo seu Wolf no guard-rail. A Brabham fez vários testes
antes da corrida e o time de Bernie Ecclestone sonhava em adiar o sonho da
centésima vitória da Cosworth com seus motores Alfa Romeo. O piloto melhor
colocado com os novos motores Cosworth era Peterson, em quinto lugar, separando
as duas Ferraris, mas com Reutemann à frente. Lauda ainda mostrava cautela após
o seu acidente.
Grid:
1) Watson(Brabham) - 1:29.86
2) Scheckter(Wolf) - 1:30.27
3) Reutemann(Ferrari) - 1:30.44
4) Peterson(Tyrrell) - 1:30.72
5) Stuck(Brabham) - 1:30.73
6) Lauda(Ferrari) - 1:30.76
7) Hunt(McLaren) - 1:30.85
8) Depailler(Tyrrell) - 1:31.16
9) Mass(McLaren) - 1:31.36
10) Andretti(Lotus) - 1:31.50
O dia 22 de maio de 1977 estava nublado no principado de
Mônaco, mas não havia a chuva que tanto atrapalhou os pilotos nos dias
anteriores. John Watson escolheu largar à esquerda no grid, o que acabaria
sendo um grande erro. Naquele local, havia faixas de pedestres e mesmo sem
estar chovendo, as faixas ainda estavam úmidas pelas chuvas dos últimos dias. Quando
os carros se aproximavam do grid, fizeram um ziguezague estranho na época, mas
que depois ficaria conhecido como ‘balé da F1’, com os pilotos tentando aquecer
seus pneus para a largada. Como esperado, Watson patinou bastante no seu lugar
do grid e Scheckter passou voando pelo piloto da Brabham, mas os demais pilotos
na ponta mantiveram suas posições para iniciarem sua longa jornada na pista de
Monte Carlo.
Querendo reaver seu lugar, Watson grudou na traseira de
Scheckter e andou colado na traseira do sul-africano nas primeiras cinco
voltas, tentando pressionar o piloto da Wolf a cometer um erro. Que nunca
viria. Com o motor Alfa Romeo superaquecendo, Watson aliviou um pouco, mas
jamais esteve mais de 1s longe de Scheckter. Um dos primeiros abandonos
importante foi de Peterson, quando o sueco da Tyrrell parou seu carro nos boxes
na décima volta com o câmbio quebrado. Reutemann fazia uma corrida solitária na
terceira posição, enquanto Stuck se mostrava duro de ceder sua quarta posição a
Lauda, que ainda tinha as duas McLarens de Hunt e Mass logo atrás. Porém, na
vigésima volta Stuck estacionou seu Brabham com um princípio de incêndio e para
melhorar ainda mais a vida de Lauda, Hunt, que vinha imediatamente atrás do
austríaco, abandonou cinco voltas depois com o motor quebrado.
Agora correndo sozinho, Lauda ganhou a confiança necessária
para aumentar seu ritmo e partiu para cima do seu companheiro de equipe
Reutemann. O argentino estava tendo problemas de desgaste no pneu traseiro
esquerdo e para não piorar o problema, não brigou muito com Lauda e cedeu
facilmente a terceira posição ao vizinho de box. Porém, Scheckter e Watson
tinham uma boa diferença para Lauda, quando o irlandês começou a diminuir seu
ritmo. Watson estava tendo sérios problemas de câmbio e na 49º volta abandonou
após ter sua caixa de marcha travada e rodar em plena pista de Mônaco.
Com 15s de vantagem sobre Lauda, a corrida estava nas mãos
de Scheckter, mas o sul-africano passaria por um momento de verdadeiro drama
nas últimas voltas. Quando vinha na pequena reta entre a curva do Cassino e da
Mirabeau, o motor Cosworth de Scheckter apagou e o piloto da Wolf pensou rápido
em utilizar a bomba de gasolina elétrica para fazer o motor ressuscitar.
Scheckter diminuiu seu ritmo, pois pensava que o seu problema era na bomba de
gasolina e passou a perder mais de 1s por volta para Lauda nas últimas dez
voltas. Quando abriu a última volta, Scheckter já tinha Lauda enchendo seus
retrovisores, mas o sul-africano segurou a pressão e recebeu a bandeirada com o
austríaco já colado atrás dele. Após a corrida descobriu-se que o problema era
na verdade de ignição do motor Cosworth ‘convencional’ de Scheckter, que teve a
honra de ser o piloto a vencer pela centésima vez com o motor anglo-americano.
Mais atrás, Massa chegava em quarto após ter que segurar a pressão de Andretti,
a quem ultrapassou no meio da prova, mas não foi capaz de abrir diferença. No
último lugar pontuável, Alan Jones conseguia seu primeiro de muitos pontos na
carreira. O sul-africano não ficou contente em não receber o novo motor da
Cosworth, mesmo estando na luta pelo título, mas Jody Scheckter não teve do que
reclamar e ainda ganhou como prêmio pela vitória a promessa do chefe de polícia
de Mônaco que iria estacionar de graça em Monte Carlo durante um ano. Um troféu
secundário que era a honra de entrar a história gloriosa da Cosworth.
Chegada:
1) Scheckter
2) Lauda
3) Reutemann
4) Mass
5) Andretti
6) Jones
domingo, 20 de maio de 2012
Igual a F1 2010
Dois anos atrás, as corridas da F1 estavam tão chatas e sem graça, que antes mesmo dos carros irem para os primeiros treinos livres, umas das atrações era pesquisar como seria a condição climática no domingo, pois somente a chuva poderia animar as insossas corridas daquela temporada. A MotoGP ainda não entrou nessa rotina, mas pelo o que vimos hoje e nas três provas anteriores de 2012, a chuva sempre será bem vinda para animar um pouco as corridas da principal categoria do Mundial de Motovelocidade, mesmo que o vencedor não mude muito.
Quem não aproveitou muito a animação da prova de hoje foi Jorge Lorenzo. O espanhol da Yamaha largava apenas em quarto, pela primeira vez em muito tempo longe da primeira fila, mas Lorenzo largou muito bem, partiu para cima das duas Hondas oficiais e no final da primeira volta já estava em primeiro. E desapareceu. As condições de pista traiçoeiras não favoreceram a melhor moto que é a Honda e tanto Stoner como principalmente Pedrosa, sucumbiram diante do talento de Lorenzo e de Valentino Rossi, magistral na corrida de hoje. Vale pulou do nono lugar no grid para quinto na largada e brigou intensamente com as duas Yamahas de Doviziozo e Carl Cruthlow, os deixando para trás após longa briga, onde os dois acabaram caindo, mas sozinhos. Depois Rossi partiu em perseguição a Stoner nas últimas voltas e contando com a ajuda do retardatário Yonny Hernandez, o piloto da Ducati deixou o australiano para trás na abertura da última volta para conseguir um segundo lugar com cheiro de vitória para uma claudicante Ducati.
Com sua aposentadoria anunciada, Stoner perdeu muitos pontos com relação a Lorenzo na briga pela liderança do campeonato, mas com certeza gostou da boa briga que teve com Rossi, apesar de ter saído perdedor. O australiano chegou a esboçar uma aproximação a Lorenzo, mas Stoner continua a sofrer com a queda de rendimento que sempre lhe atinge nas voltas finais das corridas. Apesar da péssima narração no SporTV (volta Sérgio Maurício!), duas participações do telespectador foram precisas hoje. Daniel Pedrosa é um piloto totalmente sem sal, um 'arroz de festa', 'picolé de chuchu', e mesmo tendo sua vaga praticamente garantida na Honda no ano que vem com a aposentadoria de Stoner, Marc Márquez deverá ser o novo queridinho da Honda a partir do próximo ano quando subir da Moto2 e dificilmente Pedrosa, mesmo com seu talento, será campeão. Seu problema é na cabeça. Outra intervenção via mídia interessante foi que Ben Spies está para Jorge Lorenzo na Yamaha oficial como Felipe Massa está para Fernando Alonso na Ferrari. A diferença entre Spies e Lorenzo é abissal e a quase-queda do americano na largada (!) mostra bem o quão mal está Spies, principalmente com seu companheiro de equipe liderando o campeonato e ele amargando as últimas posições.
A MotoGP ainda não produziu corridas como na Moto2 ou Moto3, mas a chuva deu a apimentada que faltava a categoria, que até a corrida em Le Mans tinha nos proporcionado corridas monótonas, com motos espaçadas e o pódio sendo dominado pelo trinômio Stoner-Lorenzo-Pedrosa. Com a chuva, Lorenzo venceu de forma categórica, mas houve briga e emoção nas demais posições. Como sempre deveria ser!
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Aposentadoria precoce
No Brasil, para se aposentar precisam anos de serviços prestados na carteira ou atingir a marca dos 65 anos de idade. Casey Stoner, aos 26, surpreendeu o mundo do esporte ao anunciar hoje que está se aposentando no final de 2012 por estar descontente com os rumos seguidos da MotoGP. De personalidade forte e muito habilidoso, Stoner não estava gostando das novos motos CRT e como seu contrato com a Honda terminará no final de 2012, resolveu não renová-lo para 2013 e curtir sua filhinha, que nasceu no começo deste ano. Isso será uma motivação extra ao australiano para perseguir seu terceiro título mundial da MotoGP, mas também servirá de reflexão a todos os esportistas. Como um bicampeão mundial querer sair do esporte tendo apenas 27 anos (ele completará em outubro)? As feras estão chegando cedo demais? A pressão está grande demais? Difícil dizer...
O dia em que Nigel Mansell endoidou
Hoje fazem 25 anos de uma das cenas que eu mais queria ver na história na F1, mas que particularmente não vi nem foto ou imagem do acontecido. Se alguém a tiver, por favor, me avisa. Mansell tinha um ar de pateta inglês com sua cara de choro eterno e jeitão de andar desengonçado, com sua altura, alta para os padrões da F1, aumentando essa sensação. Desde que começou a vencer na F1, no final de 1985, Mansell se tornou uma estrela da categoria e começou a ter encrencas com as demais estrelas do circo, em particular seu então companheiro de equipe Nelson Piquet e Ayrton Senna. Ambos pilotos muito agressivos e perseguindo seu primeiro título no momento, Mansell teve várias brigas homéricas com Senna e no Grande Prêmio da Bélgica em 1987, a briga atingiu seu ápice.
Mesmo sem chuva, a corrida em Spa começou complicada, quando um acidente envolvendo os dois pilotos da Tyrrell, Jonathan Palmer e Philippe Streiff, paralisou a corrida na segunda volta. Mansell havia largado melhor na primeira tentativa, mas quando a luz verde apareceu pela segunda vez em Spa, Senna atacou o inglês e assumiu a ponta. Mansell imediatamente partiu para cima do brasileiro, mas Senna já havia mostrado algumas vezes que não se intimidava muito com o inglês e ambos acabaram se tocando e a rodada dupla foi inevitável. Senna abandonou ali mesmo, enquanto Mansell tentou retornar à pista, mas abandonaria voltas mais tarde.
Vendo seu odiado companheiro de equipe Nelson Piquet na ponta, após este ter sofrido um sério acidente em Ímola, e podendo ter sua liderança dentro da equipe Williams perdida, Mansell ficou possesso. Era a terceira vez em menos de dois anos que Mansell se dava mal em uma disputa com Senna. Juntando tanta frustração junta, Nigel partiu feito um touro furioso rumo ao box de sua antiga equipe atrás de Senna. Tendo abandonado algumas voltas atrás, Senna foi pego de surpresa, enquanto Mansell partiu para cima do brasileiro lhe dando um empurrão e errando um soco na cara por pouco antes de ser contido pelos seus antigos mecânicos e engenheiros da Lotus. Infelizmente, não há um único registro da cena, que certamente seria sucesso do youtube. Dias mais tarde, Mansell diria que Senna 'era a peste da F1'. Quando ambos conquistaram seus títulos, a tensão entre eles diminuiu e houve até certa camaradagem entre eles no final.
terça-feira, 15 de maio de 2012
Cuidado: cenas fortes
Meio que já me acostumei a ver acidentes feios e trágicos, mas este de Gordon Smiley é impressionante na forma como o carro se desfaz por completo durante os treinos para as 500 Milhas de Indianápolis. Smiley teve morte instantânea e muito se falou que ele teve TODOS os ossos quebrados, tamanha a força do impacto que o matou exatamente 30 anos atrás. Essa informação nunca foi confirmada, mas não me admiraria se isso fosse verdade.
História: 40 anos do Grande Prêmio de Mônaco de 1972
Após a dominante vitória de Emerson Fittipaldi em Jarama, a
F1 iria para outro circuito apertado, mas muito charmoso: o seu mais famoso
Grande Prêmio, em Mônaco. A Lotus vinha em ótima fase e Emerson, mesmo ainda não
liderando o campeonato sozinho, pois estava empatado com Denny Hulme, se
tornava aos poucos um desafiante real ao título mundial de 1972. O final de
semana monegasco normalmente é simultâneo ao de Indianápolis e isso causou
algumas baixas entre os pilotos, principalmente os americanos. Mario Andretti e
Peter Revson desfalcariam Ferrari e McLaren, respectivamente, o mesmo
acontecendo com Carlos Reutemann, este ainda se recuperando do seu acidente de
F2 em Brands Hatch mais cedo.
A quinta-feira, primeiro dia de treinos, começou com um
bonito dia de sol e os treinos foram polarizados entre a Lotus de Emerson
Fittipaldi e a Ferrari de Jacky Ickx. Os dois brigaram o dia inteiro pelo
melhor lugar no grid e no afã de conseguir o que seria sua primeira pole numa
corrida válida pelo campeonato, Emerson acabaria rodando no final da sessão,
fazendo-o voltar aos boxes pensando que havia perdido a pole provisória para o
belga. Porém, Ickx não voltou mais a pista, pois pensava em retomar a briga com
o piloto da Lotus no sábado. Contudo, Ickx errou totalmente na hora de prever o
tempo e a chuva veio forte o dia inteiro no sábado, impedindo-o de brigar pela
pole e Emerson Fittipaldi comemorava sua primeira pole na F1.
Grid:
1) E.Fittipaldi(Lotus) - 1:21.4
2) Ickx(Ferrari) - 1:21.6
3) Regazzoni(Ferrari) 1:21.9
4) Beltoise(BRM) - 1:22.5
5) Gethin(BRM) - 1:22.6
6) Amon(Matra) - 1:22.6
7) Hulme(McLaren) - 1:22.7
8) Stewart(Tyrrell) - 1:22.9
9) Pescarolo(March) - 1:22.9
10) Redman(McLaren) - 1:23.1
O dia 14 de maio de 1972 amanheceu escuro e a previsão era
de tempestade a qualquer momento. Um mini-treino de dez minutos foi realizado
antes da largada e quando faltavam quarenta minutos para a hora marcada da
largada, às 15h, a chuva veio com tudo. Ao contrário da Espanha, estava na cara
que os pneus a serem utilizados seriam os de chuva. Na segunda fila do grid,
Jean-Pierre Beltoise se regozijava por estar largando na frente da Matra, sua
antiga equipe que havia o substituído por Chris Amon em 1971, que largava duas
posições atrás dele. A BRM estava surpreendentemente bem em Mônaco e Peter
Gethin largava em quinto lugar, mas quem largaria melhor quando a bandeirada
foi dada foi Beltoise. Fittipaldi dava sua tradicional má largada e foi
ultrapassado por dentro por Beltoise e por fora por Ickx. Fittipaldi tirou o pé
para não bater em Ickx na St Devote e acabou ultrapassado pela outra Ferrari de
Regazzoni, caindo para quarto.
Durante a primeira volta Jacky Ickx, considerado por muitos
como um dos melhores pilotos de todos os tempos debaixo de chuva, errou na
freada da Rascasse e permitiu a Regazzoni e Fittipaldi ganharem sua posição.
Isso deu um grande refresco a Beltoise, que estava sendo perseguido de forma incessante
por Ickx e agora tinha mais de 2s de vantagem sobre Regazzoni, com Emerson
colado. O problema era que as condições naquele dia de maio em Monte Carlo eram
terríveis. A pista estava extremamente escorregadia e a visão era quase nula.
Emerson guiava apenas seguindo a sombra da Ferrari de Regazzoni e a luz
vermelha do carro vermelho do suíço, enquanto Beltoise aumentava a diferença lá
na frente com uma pilotagem soberba. As condições de pista eram tão ruins em
Mônaco, que uma cena pastelão desenrolou na quinta volta. Regazzoni errou na
freada da chicane do porto e passou reto. Apenas acompanhando o suíço, Emerson
passou reto também, numa das histórias mais conhecidas da história da F1.
Isso deu ainda mais tempo para Beltoise, pois se Rega e
Fittipaldi não perderam tanto tempo voltando a pista em terceiro e quarto
respectivamente, Ickx estava longe em segundo, mas o ferrarista representava um
risco, pois todos conheciam as habilidades do belga em pista molhada. Porém,
Beltoise estava iluminado naquele dia e aumentava sua vantagem sobre a Ferrari.
Mais atrás, Emerson Fittipaldi continuava se metendo em encrencas. Na volta 17
o brasileiro ainda perseguia Regazzoni quando ambos foram ultrapassar o
retardatário Mike Beutler na curva da Estação. Rega passou sem problemas, mas
Fittipaldi freou forte, travou seus pneus e saiu rapidamente da pista,
permitindo a Peter Gethin e Jackie Stewart ganharem sua posição. Para piorar as
coisas, Reine Wisell quebrou o motor do seu BRM, espalhando óleo em boa parte
da pista, fazendo com que a condução dos carros de 400 cavalos se tornasse
ainda mais difícil. Gethin rodou no óleo de Wissel e acabaria saindo da
corrida, permitindo a Stewart assumir o quarto lugar e partir para cima de
Regazzoni. O escocês era outro especialista no molhado e todos ainda tinham em
mente sua épica corrida em Nürburgring em 1968, quando venceu numa condição
ainda pior do que essa.
Mesmo assim, os pilotos sofriam com a falta de visibilidade,
a ponto de José Carlos Pace ir aos boxes uma vez para trocar a viseira do seu
capacete, imunda com a combinação de óleo, água e borracha. Continuando sua boa
recuperação, Stewart ultrapassou Regazzoni na 32º volta e partiu para cima de
Ickx para brigar pelo segundo lugar. Porém, o escocês escapou com seu Tyrrell
onze voltas mais tarde no óleo de Wisell e Rega recuperaria sua posição. Para
perdê-la apenas dez voltas mais tarde ao perder o controle de sua Ferrari e
bater no guard-rail. Nem mesmo o líder inconteste da corrida, Beltoise,
escapava de incidentes e em certo momento, teve que bater no eterno
retardatário Beutler para conseguir manter seu magnífico avanço rumo a uma
vitória que ninguém esperava. As posições se mantiveram até que Stewart tem
problemas com o motor Cosworth do seu Tyrrell e tirar o pé completamente. Tanto
que quase provoca um sério acidente. Stewart estava tão lento, que estava a
ponto de tomar uma volta de Ickx, nas voltas finais. O belga vinha muito mais
rápido do que Stewart e acabou surpreendido pela parca velocidade do rival e
teve que frear forte, mas Ronnie Peterson, também retardatário, não viu e
acabou acertando com força a traseira de Ickx. Peterson abandonou na hora, mas
Ickx conseguiu levar sua Ferrari rumo a bandeirada. Emerson Fittipaldi
ultrapassou Stewart faltando três voltas para o fim e garantiu um lugar no
pódio, mesmo com tantas atribulações e assumia a liderança isolada do
campeonato. Porém, o brasileiro já estava uma volta atrás de Beltoise. O já
veterano francês fez a corrida de sua vida em Mônaco e marcava seus primeiros
pontos em 1972 justo com uma vitória histórica, onde mostrou um talento que
nunca havia desabrochado antes. E nunca mais o faria. Beltoise não marcaria
mais pontos em 1972 e sairia da F1 no final de 1974 sem nunca mais repetir a
atuação naquele dia no chuvoso GP em Monte Carlo, mas aquela exibição entrou
para a história e Beltoise entrou como um dos grandes, mesmo que por apenas uma
corrida.
Chegada:
1) Beltoise
2) Ickx
3) E.Fittipaldi
4) Stewart
5) Redman
6) Amon
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