Hoje não foi a corrida com mais ultrapassagens do ano e das
mais emocionantes no seu todo, mas Monte Carlo foi palco de marcas históricas
para a F1 e nos lembrar chegadas marcantes. Mark Webber venceu praticamente de
ponta a ponta, se tornando o sexto piloto diferente a vencer nessa temporada em
seis corridas, marcando um recorde nos 62 anos de história da F1. Porém, o
australiano não teve vida fácil ao longo das 78 voltas da longa corrida de
Mônaco e sempre teve Nico Rosberg fungando no seu cangote, que sempre teve
alguém mordendo seus calcanhares. Os puristas podem reclamar a vontade da F1
atual, mas os seis primeiros colocados separados por 6s nos fez lembrar, mesmo
que sem a mesma emoção, a famosa chegada do Grande Prêmio da Espanha de 1981,
onde Gilles Villeneuve, recentemente homenageado pelos 30 anos do seu
passamento, segurou quatro carros nas voltas finais em Jarama. Webber segurou
cinco e ainda havia uma garoa para tornar as coisas mais emocionantes e
dramáticas. Foi um final eletrizante!
Fazia tempo que a largada não protagonizava batidas e hoje
quem fez o strike, mesmo involuntário, foi Romain Grosjean. O francês da Lotus
largou muito mal e Alonso foi para cima dele e tocou nele. Espremido, Grosjean
foi para a esquerda e acabou espremendo Schumacher no guard-rail e o francês
acabou quebrando a suspensão traseira esquerda e rodando no meio do pelotão,
atingindo a Sauber de Kobayashi, enquanto Maldonado atingia De La Rosa. O
safety-car veio a pista e essa foi a única emoção da corrida em seus momentos
iniciais. Mark Webber manteve a ponta, seguido por Rosberg, Hamilton, Alonso,
Massa e Vettel. E assim andaram por várias voltas, com esses pilotos ganhando e
perdendo rendimento na medida em que seus pneus ganhavam ou perdiam rendimento.
Porém, Webber se manteve intocável na frente e só não liderou de ponta a ponta
por causa da estratégia diferente do seu companheiro de equipe Vettel. Havia
uma previsão de chuva para o meio da corrida e Vettel resolveu iniciar a prova
com os pneus macios e postergar ao máximo sua parada, mas a chuva, anunciada a
todo o momento pelo rádio aos pilotos nunca veio de verdade. Pelo menos, não no
meio da prova. Com Vettel parando, Webber reassumiu a ponta e parecia que
venceria com a mesma tranqüilidade de 2010, quando dois anos atrás tinha Kubica
próximo, mas por causa de um safety-car nas últimas voltas. Então, a chuva veio
no final da prova em forma de garoa e Rosberg encostou em Webber, mas o alemão
da Mercedes trouxe uma fila de pilotos atrás dele, tornando as últimas voltas
da corrida eletrizante, pois qualquer erro poderia causar mudanças de posições
e a chuva, afinal, poderia aumentar a qualquer momento. Foram momentos de tirar
o fôlego, mesmo sem troca de posições ou disputas mais acirradas por posição. No
final Webber recebeu a bandeirada em primeiro e empatava em pontos com Vettel
em pontos no segundo lugar do campeonato, apenas três atrás de Alonso, o líder
do campeonato. Mark Webber havia até reclamado da grande divisão de pontos e
vitórias da atual temporada, mas o australiano acabou se beneficiando por uma
F1 sem domínio e imprevisível e escreveu a temporada de 2012 nos livros como
uma das mais emocionantes da história da F1.
E também de altíssimo nível, ao contrário do que dizem os
saudosistas dos anos 70 e 80. Vettel foi o quarto colocado, mas recebeu a
bandeirada apenas 1.3s atrás do companheiro de equipe, talvez até o diretor de
prova tenha dado a bandeirada no mesmo movimento entre os quarto primeiros.
Vettel fez uma corrida inteligente e largando em décimo, postergou sua parada
ao máximo sem perder tanto desempenho e quando voltou à pista, estava logo à
frente de Hamilton, em quarto, sendo que antes das paradas, era sexto. Havia a
expectativa de o alemão pressionar os primeiros colocados, pois era o único ali
com pneus supermacios, mas o ambiente inóspito em ultrapassagens de Mônaco não o
ajudou e Seb ficou fora do pódio. Rosberg fez uma prova sólida, onde sua
diferença para Webber nunca foi muito superior a 2s e andou no mesmo ritmo de
Webber, o atacando quando a garoa apareceu nas últimas voltas, mas Nico
preferiu não fazer nenhum ato de heroísmo e ficou ali mesmo, segurando os
ataques de Alonso. Schumacher se envolveu no acidente de Grosjean e ficou atrás
de um estranhamente lento Kimi Raikkonen, só se livrando do finlandês quando
parou nos boxes, mas o toque com Grosjean pode ter causado seu abandono no
final da prova, acabando outra prova de forma frustrante ao heptacampeão, pois
Schummy tinha tudo para estar na briga pela vitória se tivesse largado
realmente na pole. A Ferrari esteve muito bem em Monte Carlo e Alonso assumiu a
liderança do campeonato com um pódio no lugar mais baixo, porém, quem poderia
imaginar o espanhol na liderança na sexta prova do campeonato após um início de
campeonato tão desapontador? A Ferrari cresceu muito, sem dúvida, mas as
características de Monte Carlo ajudaram bastante o time de Maranello e como
sempre faz nessas situações, Fernando Alonso aproveitou bem. A novidade foi o
quanto Felipe Massa andou no mesmo ritmo de Alonso e no começo da prova, até
mais do que o espanhol. Esperar que a Ferrari pedisse a Alonso, líder do
campeonato, deixar Felipe passar era exagero global, mas Massa fez sua melhor
corrida desde 2010 e não há nada do que reclamar de sua atuação de hoje, pois mesmo
fechando os seis primeiros que lideraram a corrida inteira, ele recebeu a
bandeirada 6s atrás de Webber, mostrando que estava no mesmo ritmo dos líderes.
A McLaren não deixou de decepcionar na corrida de hoje e
mesmo Hamilton pontuando mais uma vez, a bolsa de apostas indicavam Lewis como
o sexto vencedor diferente de 2012, mas o piloto da McLaren não estava em
condições de brigar mais do que fez e o quinto lugar foi o máximo do inglês, se
mantendo na briga pelo campeonato. Porém, o que foi assustador foi o terrível
desempenho de Jenson Button em Monte Carlo. Nem se pode acusar Button de não se
dar bem em Mônaco, pois ele venceu lá em 2009, mas a curva descendente de
Jenson foi tão acentuada, que o inglês passou boa parte da prova atrás da
Caterham de Kovalainen (!), não conseguindo ultrapassar o finlandês, algo que
Sérgio Pérez conseguiu em uma única volta! Foi patético, como dizem os
ingleses. A Force India marcou pontos com seus dois carros num esforço muito
bom dos seus dois pilotos, que fizeram uma prova sem erros e isso, em Mônaco,
normalmente garante frutos na bandeirada. A Lotus foi a grande desilusão do
final de semana, com um ritmo de corrida absolutamente terrível de Kimi
Raikkonen. O finlandês não foi a pálida sombra do que fora nas duas últimas
corridas, sendo superado de longe por Grosjean e na corrida, onde seu ritmo
poderia ser melhor, se tornou uma chicane ambulante, causando a diminuição do
ritmo de vários pilotos que tiveram o azar de tê-lo à sua frente. Grosjean,
coitado, não dá nem para avaliar se estava ou não na briga pela vitória, apesar
das indicações dizerem que sim. Bruno Senna marcou um pontinho, mas passou a
prova inteira atrás (ou atrapalhado) por Raikkonen e teve que se conformar com
sua posição, mas foi um final de semana paradoxal para a Williams e
principalmente para Maldonado. Após sua vitória duas semanas atrás, Maldonado
largou em último em Monte Carlo, onde sempre se deu bem em outras categorias, e
se envolveu num acidente ainda na primeira curva, ao atingir a traseira de
Pedro de La Rosa.
Jean-Eric Vergne perdeu a chance de ter o seu melhor
resultado na F1 quando resolveu inventar e colocar pneus intermediários nas
voltas finais, mas a garoa era tão fina que o francês nem se aproveitou das
condições variáveis da pista e caiu de sétimo a décimo segundo, bem mais lento
todos os outros. É a velha história de ser melhor tem alguns pontinhos na mão,
do que vários voando... Daniel Ricciardo abandonou quando vinha logo atrás de
Senna e Kobayashi se envolveu nos toques da primeira curva, enquanto Sérgio
Pérez foi o homem que conseguiu ultrapassar hoje, mesmo que seja nas últimas
posições e os carros fossem das nanicas, porém, Jenson Button com uma McLaren não
conseguiu isso, então palmas para Pérez, que ainda sofreu uma punição por ir
aos boxes na hora em que Raikkonen ia lhe ultrapassar e ainda ficou em 11º. Seu
ritmo era tão bom, que após ser ultrapassado pelos líderes, ficou colado na
traseira de Massa, provando que se não fossem os problemas durante o final de
semana, Pérez poderia ter chegado nos pontos e, quiçá, na acirrada briga pela
vitória, onde poderia ter dito: Não contavam com minha astúcia! Heikki
Kovalainen teve a melhor atuação das nanicas em sua história ao largar bem e
segurar a McLaren de Jenson Button a corrida toda, só perdendo posições quando
teve que encarar a astúcia de Sérgio Pérez e quebrou a asa dianteira, mas Kova
já tinha feito uma belíssima prova, enquanto Petrov abandonava quando estava em
último, os dois pilotos da Marussia foram bons retardatários e Karthikeyan
atrapalhou alguns pilotos com seu ritmo lento em demasia.
Foi uma corrida em que os pneus não foram fatores
determinantes, mas o equilíbrio se manteve intacto, pois seis pilotos de quatro
equipes diferentes se digladiaram nas últimas voltas de forma sensacional, fazendo
uma F1 eletrizante e que valha a pena acordar cedo para ver Alonso, Vettel,
Webber, Hamilton e outros fazer história à nossa frente.
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