domingo, 27 de maio de 2012

O sexto homem


Hoje não foi a corrida com mais ultrapassagens do ano e das mais emocionantes no seu todo, mas Monte Carlo foi palco de marcas históricas para a F1 e nos lembrar chegadas marcantes. Mark Webber venceu praticamente de ponta a ponta, se tornando o sexto piloto diferente a vencer nessa temporada em seis corridas, marcando um recorde nos 62 anos de história da F1. Porém, o australiano não teve vida fácil ao longo das 78 voltas da longa corrida de Mônaco e sempre teve Nico Rosberg fungando no seu cangote, que sempre teve alguém mordendo seus calcanhares. Os puristas podem reclamar a vontade da F1 atual, mas os seis primeiros colocados separados por 6s nos fez lembrar, mesmo que sem a mesma emoção, a famosa chegada do Grande Prêmio da Espanha de 1981, onde Gilles Villeneuve, recentemente homenageado pelos 30 anos do seu passamento, segurou quatro carros nas voltas finais em Jarama. Webber segurou cinco e ainda havia uma garoa para tornar as coisas mais emocionantes e dramáticas. Foi um final eletrizante!

Fazia tempo que a largada não protagonizava batidas e hoje quem fez o strike, mesmo involuntário, foi Romain Grosjean. O francês da Lotus largou muito mal e Alonso foi para cima dele e tocou nele. Espremido, Grosjean foi para a esquerda e acabou espremendo Schumacher no guard-rail e o francês acabou quebrando a suspensão traseira esquerda e rodando no meio do pelotão, atingindo a Sauber de Kobayashi, enquanto Maldonado atingia De La Rosa. O safety-car veio a pista e essa foi a única emoção da corrida em seus momentos iniciais. Mark Webber manteve a ponta, seguido por Rosberg, Hamilton, Alonso, Massa e Vettel. E assim andaram por várias voltas, com esses pilotos ganhando e perdendo rendimento na medida em que seus pneus ganhavam ou perdiam rendimento. Porém, Webber se manteve intocável na frente e só não liderou de ponta a ponta por causa da estratégia diferente do seu companheiro de equipe Vettel. Havia uma previsão de chuva para o meio da corrida e Vettel resolveu iniciar a prova com os pneus macios e postergar ao máximo sua parada, mas a chuva, anunciada a todo o momento pelo rádio aos pilotos nunca veio de verdade. Pelo menos, não no meio da prova. Com Vettel parando, Webber reassumiu a ponta e parecia que venceria com a mesma tranqüilidade de 2010, quando dois anos atrás tinha Kubica próximo, mas por causa de um safety-car nas últimas voltas. Então, a chuva veio no final da prova em forma de garoa e Rosberg encostou em Webber, mas o alemão da Mercedes trouxe uma fila de pilotos atrás dele, tornando as últimas voltas da corrida eletrizante, pois qualquer erro poderia causar mudanças de posições e a chuva, afinal, poderia aumentar a qualquer momento. Foram momentos de tirar o fôlego, mesmo sem troca de posições ou disputas mais acirradas por posição. No final Webber recebeu a bandeirada em primeiro e empatava em pontos com Vettel em pontos no segundo lugar do campeonato, apenas três atrás de Alonso, o líder do campeonato. Mark Webber havia até reclamado da grande divisão de pontos e vitórias da atual temporada, mas o australiano acabou se beneficiando por uma F1 sem domínio e imprevisível e escreveu a temporada de 2012 nos livros como uma das mais emocionantes da história da F1.

E também de altíssimo nível, ao contrário do que dizem os saudosistas dos anos 70 e 80. Vettel foi o quarto colocado, mas recebeu a bandeirada apenas 1.3s atrás do companheiro de equipe, talvez até o diretor de prova tenha dado a bandeirada no mesmo movimento entre os quarto primeiros. Vettel fez uma corrida inteligente e largando em décimo, postergou sua parada ao máximo sem perder tanto desempenho e quando voltou à pista, estava logo à frente de Hamilton, em quarto, sendo que antes das paradas, era sexto. Havia a expectativa de o alemão pressionar os primeiros colocados, pois era o único ali com pneus supermacios, mas o ambiente inóspito em ultrapassagens de Mônaco não o ajudou e Seb ficou fora do pódio. Rosberg fez uma prova sólida, onde sua diferença para Webber nunca foi muito superior a 2s e andou no mesmo ritmo de Webber, o atacando quando a garoa apareceu nas últimas voltas, mas Nico preferiu não fazer nenhum ato de heroísmo e ficou ali mesmo, segurando os ataques de Alonso. Schumacher se envolveu no acidente de Grosjean e ficou atrás de um estranhamente lento Kimi Raikkonen, só se livrando do finlandês quando parou nos boxes, mas o toque com Grosjean pode ter causado seu abandono no final da prova, acabando outra prova de forma frustrante ao heptacampeão, pois Schummy tinha tudo para estar na briga pela vitória se tivesse largado realmente na pole. A Ferrari esteve muito bem em Monte Carlo e Alonso assumiu a liderança do campeonato com um pódio no lugar mais baixo, porém, quem poderia imaginar o espanhol na liderança na sexta prova do campeonato após um início de campeonato tão desapontador? A Ferrari cresceu muito, sem dúvida, mas as características de Monte Carlo ajudaram bastante o time de Maranello e como sempre faz nessas situações, Fernando Alonso aproveitou bem. A novidade foi o quanto Felipe Massa andou no mesmo ritmo de Alonso e no começo da prova, até mais do que o espanhol. Esperar que a Ferrari pedisse a Alonso, líder do campeonato, deixar Felipe passar era exagero global, mas Massa fez sua melhor corrida desde 2010 e não há nada do que reclamar de sua atuação de hoje, pois mesmo fechando os seis primeiros que lideraram a corrida inteira, ele recebeu a bandeirada 6s atrás de Webber, mostrando que estava no mesmo ritmo dos líderes.

A McLaren não deixou de decepcionar na corrida de hoje e mesmo Hamilton pontuando mais uma vez, a bolsa de apostas indicavam Lewis como o sexto vencedor diferente de 2012, mas o piloto da McLaren não estava em condições de brigar mais do que fez e o quinto lugar foi o máximo do inglês, se mantendo na briga pelo campeonato. Porém, o que foi assustador foi o terrível desempenho de Jenson Button em Monte Carlo. Nem se pode acusar Button de não se dar bem em Mônaco, pois ele venceu lá em 2009, mas a curva descendente de Jenson foi tão acentuada, que o inglês passou boa parte da prova atrás da Caterham de Kovalainen (!), não conseguindo ultrapassar o finlandês, algo que Sérgio Pérez conseguiu em uma única volta! Foi patético, como dizem os ingleses. A Force India marcou pontos com seus dois carros num esforço muito bom dos seus dois pilotos, que fizeram uma prova sem erros e isso, em Mônaco, normalmente garante frutos na bandeirada. A Lotus foi a grande desilusão do final de semana, com um ritmo de corrida absolutamente terrível de Kimi Raikkonen. O finlandês não foi a pálida sombra do que fora nas duas últimas corridas, sendo superado de longe por Grosjean e na corrida, onde seu ritmo poderia ser melhor, se tornou uma chicane ambulante, causando a diminuição do ritmo de vários pilotos que tiveram o azar de tê-lo à sua frente. Grosjean, coitado, não dá nem para avaliar se estava ou não na briga pela vitória, apesar das indicações dizerem que sim. Bruno Senna marcou um pontinho, mas passou a prova inteira atrás (ou atrapalhado) por Raikkonen e teve que se conformar com sua posição, mas foi um final de semana paradoxal para a Williams e principalmente para Maldonado. Após sua vitória duas semanas atrás, Maldonado largou em último em Monte Carlo, onde sempre se deu bem em outras categorias, e se envolveu num acidente ainda na primeira curva, ao atingir a traseira de Pedro de La Rosa.

Jean-Eric Vergne perdeu a chance de ter o seu melhor resultado na F1 quando resolveu inventar e colocar pneus intermediários nas voltas finais, mas a garoa era tão fina que o francês nem se aproveitou das condições variáveis da pista e caiu de sétimo a décimo segundo, bem mais lento todos os outros. É a velha história de ser melhor tem alguns pontinhos na mão, do que vários voando... Daniel Ricciardo abandonou quando vinha logo atrás de Senna e Kobayashi se envolveu nos toques da primeira curva, enquanto Sérgio Pérez foi o homem que conseguiu ultrapassar hoje, mesmo que seja nas últimas posições e os carros fossem das nanicas, porém, Jenson Button com uma McLaren não conseguiu isso, então palmas para Pérez, que ainda sofreu uma punição por ir aos boxes na hora em que Raikkonen ia lhe ultrapassar e ainda ficou em 11º. Seu ritmo era tão bom, que após ser ultrapassado pelos líderes, ficou colado na traseira de Massa, provando que se não fossem os problemas durante o final de semana, Pérez poderia ter chegado nos pontos e, quiçá, na acirrada briga pela vitória, onde poderia ter dito: Não contavam com minha astúcia! Heikki Kovalainen teve a melhor atuação das nanicas em sua história ao largar bem e segurar a McLaren de Jenson Button a corrida toda, só perdendo posições quando teve que encarar a astúcia de Sérgio Pérez e quebrou a asa dianteira, mas Kova já tinha feito uma belíssima prova, enquanto Petrov abandonava quando estava em último, os dois pilotos da Marussia foram bons retardatários e Karthikeyan atrapalhou alguns pilotos com seu ritmo lento em demasia.

Foi uma corrida em que os pneus não foram fatores determinantes, mas o equilíbrio se manteve intacto, pois seis pilotos de quatro equipes diferentes se digladiaram nas últimas voltas de forma sensacional, fazendo uma F1 eletrizante e que valha a pena acordar cedo para ver Alonso, Vettel, Webber, Hamilton e outros fazer história à nossa frente.

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