terça-feira, 5 de junho de 2007

História: 30 anos da única vitória de Gunnar Nilsson


Poucos pilotos tiveram uma passagem tão curta na F1, mas ao mesmo tempo tão marcante como Gunnar Nilsson. A grande ironia da vida de Nilsson foi ter corrido na época mais perigosa da F1, mas sua prematura morte não ter nada a ver com o automobilismo. Nilsson vinha de uma família muito rica da Suécia e mesmo com 23 anos, decidiu tardiamente entrar no automobilismo a revelia de sua família. Logo de cara Nilsson mostrou talento e em 1975 foi campeão inglês de F3 na equipe oficial da March. Conta a lenda, que para derrotar seu companheiro de equipe, o brasileiro Alex Dias Ribeiro, Nilsson presenteava os mecânicos da equipe com revistas pôrnos, enquanto Alex presentava os mecânicos com bíblias. Precisa dizer quem os mecânicos gostavam mais? Essa carreira metéorica chamou a atenção do seu famoso compatriota Ronnie Peterson, que o ajudou a entrar na F1. Peterson estava tremendamente decepcionado com a Lotus e queria sair da equipe de qualquer maneira no começo de 1976. Peterson acertou com a March e em troca, indicou Nilsson a Colin Chapman. Juntamente com Mario Andretti, Nilsson desenvolveu o até então problemático Lotus 77 em um carro competitivo. Logo na sua terceira corrida, na Espanha, Nilsson conseguiu um pódio e repetiria a terceira posição na Áustria. Em 1977, a Lotus introduziu o Lotus 78, mais conhecido por ser o primeiro carro dotado com o inovador efeito-solo. O carro era muito bom, mas como todo carro novo, também quebrava bastante. Andretti já havia vencido duas corridas em 77, mas o líder do campeonato era Jody Scheckter, que surpreendia ao levar a estreante equipe Wolf a duas vitórias, inclusive em Mônaco, a última corrida antes da F1 chegar a Zolder. Niki Lauda vinha fazendo um campeonato discreto, mas já havia vencido em Kyalami. Nilsson era bem mais lento do que Andretti nas Classificação, contudo Gunnar era mais eficiente durante as corridas, mas o carro quebrava muito e o sueco só contava com dois quinto lugares.

Havia algumas novidades para o Grande Prêmio da Bélgica, sétima etapa do campeonato. James Hunt estava usando o novo McLaren M26 e Emerson Fittipaldi já teria o novo FD5 a sua disposição. Como era comum na Bélgica, as condições climáticas não eram das melhores durante o final de semana e a chuva atrapalhou as atividades na pista. A Classificação aconteceu com pista molhada e muito nublado, resultando numa pole imperial de Mario Andretti no Lotus 78, 1.5s mais rápido que a Brabham-Alfa Romeo de John Watson. Era a segunda pole de Andretti no ano e a quarta da carreira. Nilsson apareceu em terceiro, com Jody Scheckter ao seu lado na segunda fila. Na sua centésima apararição em Grandes Prêmios, Peterson ficou em oitavo no grid, enquanto James Hunt sofria para colocar sua nova McLaren em nono e Niki Lauda era 11º na Ferrari.

Grid:
1) Andretti(Lotus) - 1:24.64
2) Watson(Brabham) - 1:26.18
3) Nilsson(Lotus) - 1:26.45
4) Scheckter(Wolf) - 1:26.48
5) Depailler(Tyrrell) - 1:26.71
6) Mass(McLaren) - 1:26.81
7) Reutemann(Ferrari) - 1:26.85
8) Peterson(Tyrrell) - 1:26.95
9) Hunt(McLaren) - 1:27.04
10) Laffite(Ligier) - 1:27.05

Estava chovendo na tarde de domingo enquanto a largada se aproximava, mas a chuva não era muito forte e a precipitação poderia acabari a qualquer momento, mas enquanto a maioria dos pilotos escolheram os pneus para chuva, Hunt arriscou colocando pneus slicks. Watson largou melhor e tomou a ponta de Andretti. Os outros carros passaram pela primeira curva sem muitos problemas, embora Ian Scheckter e Harald Ertl rodassem e voltassem à pista, mas na chicane atrás do paddock Andretti cometeu um erro e acertou a traseira de Watson. Ambos rodaram e abandonaram. Nilsson teve que desviar para evitar o incidente e isto permitiu para Scheckter ficar em primeiro. Nilsson era segundo seguido por Mass, Reutemann, Depailler, Laffite, Peterson e Lauda. A escolha arriscada de Hunt foi um desastre e ele estava perdendo várias posições rapidamente.

Na nona volta Reutemann ultrapassou Mass e subiu para terceiro, mas cinco voltas depois ele rodou e abandonou, trazendo a McLaren de Mass novamente para terceiro. Mais atrás, Vittorio Brambilla era o grande destaque ao levar seu limitado Surtees a quarta posição em apenas 15 voltas depois de largar em décimo segundo! A pista estava secando rapidamente e os pilotos tiveram que ir boxes e colocar pneus slicks. Lauda foi um dos primeiros a parar e quando as paradas estavam terminadas na volta 23, ele estava em primeiro com Mass em segundo e Alan Jones em terceiro em seu Shadow. Nilsson tinha perdido muito tempo em sua parada quando a porca de um dos pneus ficou preso e ele estava apenas em oitavo atrás de Brambilla, Scheckter, Laffite e Peterson. Foi então que começou o show de Nilsson!

Ele ultrapassou Laffite na volta 25, Peterson na volta 26 e Brambilla na volta 30. E havia outro problema. Começava a chover novamente! Scheckter foi aos boxes trocar seus pneus na volta 35 e quando Jochen Mass rodou na volta 40, Nilsson estava novamente em segundo e se aproximando da Ferrari do líder Niki Lauda. Para desespero de Scheckter, a chuva cessou e a pista começou a secar novamente. Enquanto isso, Peterson e Brambilla brigavam de forma agressiva pela terceira posição, enquanto a escolha de Hunt começava a lhe conceder um pouco mais de desempenho e ele vinha ganhando posições na medida que a pista ficava mais seca.

Faltando vinte voltas para o fim da corrida, Nilsson encosta na Ferrari de Lauda e numa manobra sensacional por fora, ele assumiu a liderança para não perder mais. Para provar que sua vitória não foi puro acaso, Nilsson também marcou a volta mais rápida da corrida. Sem muitos sustos Lauda terminou em segundo e ainda permitiu uma aproximação do terceiro colocado Ronnie Peterson, que havia superado Vittorio Brambilla na briga pelo último lugar no pódio. Foi um grande dia para a Suécia, com seus dois principais pilotos no pódio. Porém, o destino seria cruel para o país escandinavo.

Apesar da grande vitória na Bélgica, Nilsson não ficaria na Lotus para 1978. Porém, o sueco vinha sentindo constantes dores de cabeça e mesmo já tendo assinado com a nova equipe Arrows, Nilsson foi ao médico para diagnosticar o que lhe acontecia. O resultado foi totalmente devastador para a Nilsson e todo o circo da F1 que o adorava: um câncer terminal nos testículos. Nilsson se internou no Hospital Chaning Cross em Londres, um dos melhores do mundo no tratamento de câncer, na tentativa de se recuperar, mas as hipóteses de sobrevivência eram mínimas. A Arrows contratou Riccardo Patrese para o lugar de Nilsson. Os seus colegas de F1 o homenageavam como podiam e quando Andretti venceu em Zolder um ano depois da vitória de Nilsson, ele dedicou o triunfo ao seu amigo. Outra ironia na história de Nilsson na F1 foi que seu amigo Ronnie Peterson ficou em sua lugar na Lotus, mas o destino de ambos pareciam traçados. Em Monza, no Grande Prêmio da Itália de 1978, a Arrows de Patrese, cujo carro seria de Nilsson, tocou na Lotus de Peterson na largada, fazendo com que Ronnie batesse na lateral da pista e o carro explodisse em chamas. Peterson morreu no dia seguinte. Durante o funeral do amigo, Gunnar Nilsson fez sua última aparição pública, já muito fraco e sem cabelos. Nilsson morreu cinco semanas depois, menos de um mês antes de completar 30 anos.

Um ano depois da sua morte, a sua mãe Elisabetha lançou o Gunnar Nilsson Cancer Foundation, que se dedica à investigação e tratamento do câncer. Quando a sua mãe morreu, alguns anos mais tarde, toda a fortuna da família Nilsson reverteu-se para a Fundação, que se tornou uma das mais poderosas do seu país e graças as pesquisas dessa fundação, o índice de mortandade do cancêr nos testículos caiu de 90 para 10 por cento.

Classificação
1) Nilsson
2) Lauda
3) Peterson
4) Brambilla
5) Jones
6) Stuck

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