quarta-feira, 13 de junho de 2007

História: 25 anos da morte de Riccardo Paletti

Neste domingo faltou muito pouco para que o circuito Gilles Villeneuve fosse novamente palco de uma tragédia. O já muito falado acidente de Robert Kubica provou que a segurança da atual F1 chega próximo da perfeição, mas a 25 anos atrás a história era bem diferente. Muitos consideram o ano de 1982 pior até mesmo que 1994, em termos de drama, acidentes e mortes. Montreal recebia a oitava etapa do campeonato de F1 de 1982 já chamando seu charmoso circuito de rua de Gilles Villeneuve, numa homenagem ao ídolo da casa morto somente um mês antes. Os organizadores estavam receosos com a queda de público e o clima bastante instável atrapalhou ainda mais. O grid mostrava uma cada vez melhor Ferrari pilotada por Didier Pironi na pole, superando a dupla da Renault René Arnoux e Alain Prost. Nelson Piquet, não tendo se classificado na etapa anterior, ficou em quarto e o motor BMW que empurrava sua Brabham dava sinais de melhora. No final do pelotão, de forma quase imperceptível, Riccardo Paletti conseguia colocar sua péssima Osella em vigésimo terceiro. Se tudo desse certo, essa seria sua segunda largada na F1 e um resultado positivo seria um belo presente de aniversário para Paletti, que seria na terça-feira pós-Grande Prêmio do Canadá. Ele faria 24 anos.

Riccardo Paletti nasceu em 15 de Junho de 1958 em Milão e somente aos 19 anos ele estreou no automobilismo, disputando o campeonato italiano de Fórmula Super Ford em 1977. Já no ano seguinte ele subiu para a F3 e mesmo sem grande destaque, Paletti estreou no prestigiado Campeonato Europeu de F2 no final de 1979, mas ele só faria um campeonato completo em 1981. Já nessa época Paletti conseguiu o forte patrocínio da Pioneer e graças ao suporte financeiro, o italiano assinou contrato com a Onyx, principal equipe de F2 na época. Paletti começou a temporada 1981 muito bem, conseguindo dois pódios seguidos em Silverstone e Thruxton, mas esses foram os únicos resultados conquistados pelo italiano e no final do ano ele fechou o campeonato num discreto décimo lugar. Mesmo sem nenhum resultado mais relevante, a Pioneer resolveu investir no seu pupilo e Paletti conseguiu um lugar na F1, na pequena equipe Osella. Mesmo tendo como companheiro de equipe o experiente Jean Pierre Jarier, Paletti sabia que seu carro era muito ruim e teria grandes dificuldades para se classificar nas corridas e assim foi. Foram três decepções seguidas na África do Sul, Brasil e Long Beach. Porém, a briga FISA-FOCA fez com que um boicote das equipes inglesas fosse feito no Grande Prêmio de San Marino e Paletti pôde estrear em casa, no circuito de Ímola, mas a experiência foi bastante curta: a suspensão de seu Osella se partiu na sétima volta. Com a volta das equipes inglesas, Paletti voltou a ficar de fora dos Grandes Prêmios da Bélgica e de Mônaco. Porém, a Osella vinha melhorando seus carros e em Detroit, tanto Jarier como Paletti conseguiram se classificar para a corrida, mas a sorte não estava no lado do italiano. Durante o warm-up, no domingo pela manhã, Jarier e Paletti bateram seus carros e como Jarier destruiu também o carro reserva, Paletti teve que ceder seu carro para Jarier e ficou de fora da corrida americana.

Uma semana mais tarde, Paletti resolveu levar seus pais para Montreal com o intuito de ver a corrida e comemorar seu aniversário. Paletti conseguiu se classificar para a corrida, não se envolveu em acidentes no warm-up e estacionou seu Osella na penúltima fila do grid de largada. Lá na frente, o pole position Pironi deixou sua Ferrari morrer no grid quando a luz verde apareceu. O terceiro colocado Alain Prost desviou da Ferrari parada e assim fez todos os pilotos a seguir, porém Raul Boesel não conseguiu desviar de Pironi a tempo e tocou de leve na Ferrari. Foi o começo da tragédia. Paletti, que vinha logo atrás de Boesel, teve sua visão encoberta pelo carro do brasileiro e quando Boesel foi para à esquerda, era tarde demais para Paletti. O italiano bateu de frente na traseira da Ferrari de Pironi à 160 km/h. O impacto foi tão forte que a Ferrari desviou para a direita e atingiu o Theodora de Geoff Less, que escapava do acidente. Pironi saiu de sua Ferrari ileso e quando viu a situação da Osella de Paletti foi ajudar o italiano. Pironi foi o primeiro a chegar na cena do acidente, um mês após ter parado seu carro para ver a situação de Gilles Villeneuve. O carro do médico Sid Watkins estava atrás da última fila na hora da largada e rapidamente estava tentando ajudar o italiano. Quando vê a gravidade da situação, Pironi coloca as mãos na cabeça. Então... fogo!

Um vazamento de gasolina faz com que o tanque de combustível, que estava cheio, explodisse e atrasasse ainda mais a tentativa de salvamento de Paletti. Watkins ainda teve tempo de fechar a viseira de Paletti para que ele não se queimasse e mesmo com a cena chocante, o fogo foi extindo rapidamente, inclusive com a ajuda de Pironi. Como se não bastasse tudo isso, a mãe de Paletti conseguiu entrar na pista e vendo seu filho desfalecido dentro do carro, ficou totalmente histérica. Foi preciso longos 24 minutos para que o carro fosse cortado, Paletti fosse retirado e levado de helicóptero para o hospital Sacré Cour. Duas horas depois ele foi declarado oficialmente morto. Mesmo com o incêndio, Paletti foi morto na hora do impacto, quando a barra de direção ficou cravada no seu peito e a causa mortis foi hemorragia interna.

Depois de mais essa tragédia, a corrida ficou em segundo plano, mas contou com alguns fatos interessantes. Mesmo envolvido na tragédia, Pironi teve muita coragem para pegar o carro reserva e ir para a segunda largada, mas como a Ferrari subssalente não estava bem acertada, assim como a cabeça de Pironi, o francês não fez muita coisa durante a corrida e acabou em nono. Arnoux ficou em primeiro na largada à frente de Nelson Piquet, mas na nona volta o brasileiro roubou a primeira posição do francês e liderou por toda a corrida, conseguindo a sua primeira vitória após ter sido campeão de 1981. Foi o primeiro triunfo da BMW na F1. Novamente as Renaults não tivarem a confiabilidade necessária e tanto Arnoux como Alain Prost abandonaram antes da metade da corrida. Patrese levou a segunda Brabham, com motor Ford, ao segundo lugar, enquanto o líder do campeonato John Watson completou o pódio, se aproveitando dos problemas de Andrea de Cesaris e Derek Daly, que eram terceiro e quarto respectivamente, mas ficaram sem gasolina na última volta. No pódio, os três protagonistas estavam com cara de velório e Nelson Piquet não ocupou a lugar mais alto do pódio. Após o acidente de Paletti, a F1 demorou 12 anos para ver um piloto morrer em um fim de semana de Grande Prêmio e por uma coinscidência sinistra, o carro de Roland Ratzenberger tinha o mesmo número 32 que estampava a Osella da Riccardo Paletti no fatídico dia 13 de Junho de 1982. Mesmo não tendo sido em piloto de ponta, Paletti é até hoje lembrado na Itália e como homenagem póstuma, o pequeno circuito de Varano, perto de Parma, se chama Autodromo Riccardo Paletti.

Eis o vídeo do acidente: http://www.youtube.com/watch?v=L6TLRKsAyd4

Um comentário:

João Carlos Viana disse...

Configurei para que todas as pessoas possam postar um comentário no blog.