A F1 tinha pressa em começar sua temporada nos anos 70 e se aproveitava do verão que assolava o hemisfério sul para começar o campeonato ainda em janeiro. Assim, equipes e pilotos podiam testar suas novidades em condições mais adequadas e longe do frio do inverno europeu. E ainda aproveitavam o calor sul-americano para pegar um bronze e se divertir nos países que normalmente estavam passando por um período de férias.
Ao final da temporada de 1977 estava na cara que a Lotus tinha o melhor carro e após o fim do campeonato, Colin Chapman aperfeiçoou sua inovação: o efeito-solo. O Lotus 79 fora construído para ser o ponto de referência em termos de efeito-solo na F1, mas o carro só ficaria pronto na temporada européia e assim a equipe resolveu usar o velho Lotus 78 nas três primeiras etapas, modelo que deu quatro vitórias à Andretti em 1977. E também muita dor de cabeça ao americano pelas suas constantes quebras. A Lotus tinha dispensado Gunnar Nilsson no final de 1977 e procurava um segundo piloto para ajudar Andretti a ser campeão. Há anos sem brigar pelo título, Ronnie Peterson foi contratado por Colin Chapman por causa de um patrocinador que o sueco tinha trazido para a equipe. Porém, Chapman disse à Peterson que ele seria o segundo piloto da equipe, não importava o que acontecesse. Talvez Chapman não acreditasse mais que Peterson ainda fosse o piloto que encantou o mundo em seus carros no começo da década de 70...
Nilsson tinha assinado com a nova equipe Arrows, mas o sueco foi diagnosticado com câncer nos testículos e teve que encerrar a carreira pramaturamente para se tratar de sua grave enfermidade. A Arrows era na verdade um dissidência da equipe Shadow, tendo inclusive trazido os desenhistas Tony Southgate e Dave Wass. A Shadow acusaria a Arrows de plágio e para aumentar ainda mais o rancor entre as duas escuderias, a Arrows também trouxe da Shadow para o lugar de Nilsson a revelação italiana Riccardo Patrese. Com poucos recursos, a Arrows tinha um carro totalmente branco, mas aceitou usar o logotipo da Varig nas corridas sul-americanas. O bicampeão mundial Niki Lauda tinha saído da Ferrari logo após conquitar o título matematicamente no Grande Prêmio dos Estados Unidos em 1977 e se unia à Brabham-Alfa Romeo, numa espetacular trasação orquestrada por Bernie Ecclestone. A Brabham já tinha demonstrado velocidade, mas ainda quebrava muito e Lauda se juntaria à John Watson, primeiro piloto em 77, mas segundo piloto em 1978.
Outra novidade na temporada era o fim do monopólio da Goodyear na F1, com a entrada da Michelin com a equipe Renault, mas como a equipe francesa não participaria das etapas sul-americanas, a Michelin seria representada pela Ferrari, que tinha apostado nos pneus franceses. Carlos Reutemann continuaria na equipe e garantia toda a torcida argentina a seu favor. No lugar de Lauda entraria um canadense baixinho e abusado que tinha impressionado a todos em suas primeiras corridas na F1 em 1977: Gilles Villeneuve. A McLaren manteria James Hunt como primeiro piloto e após anos mantendo em suas fileiras Jochen Mass, a equipe de Teddy Mayer dispensou o alemão e trouxe o francês Patrick Tambay para fazer sua primeira temporada completa na F1. Patrick Depailler partiria para a sua quinta temporada seguida na Tyrrell e agora teria um carro convencional de quatro rodas, após dois anos usando o modelo P34 de seis rodas. Para o lugar de Peterson, a Tyrrell trouxe outra esperança francesa que tinha se destacado na F2 Européia: Didier Pironi. O então atual vice-campeão Jody Scheckter permaneceria sozinho na equipe sensação Wolf, enquanto Jacques Laffite também permaneceria sozinho na Ligier. Emerson Fittipaldi completaria o seu centésimo Grande Prêmio na Argentina e apresentou o novo Copersucar-Fittipaldi F5A. A equipe Williams teria novidades com a contratação do jovem projetista Patrick Head, que desenhou o novo FW06. Frank Williams tinha trazido para sua equipe o australiano Alan Jones, que tinha conseguido sua primeira vitória na F1 no Grande Prêmio da Áustria de 1977. O trio Williams-Head-Jones ainda daria muito o que falar no futuro, mas na Argentina ainda estavam se conhecendo.
Reutemann sempre andava muito bem em Buenos Aires e a torcida argentina estava eufórica com a primeira posição do seu compatriota até os momentos finais da Classificação. Os pneus Michelin mostravam que em condição de treinos, tinha um pneu tão bom quanto o Goodyear das demais equipes. Porém, como num triste tango de Carlos Gardel, a alegria de Reutemann e do público argentino se esvaiu no último minuto do treino com um tempo espetacular de Mario Andretti em seu Lotus 78. Reutemann teve que se conformar em completar a primeira fila. Comprovando a ótima fase da Lotus, Peterson ficou em terceiro à frente das duas Brabhams, mas com Watson superando seu novo companheiro de equipe Lauda.
Grid:
1) Andretti(Lotus) - 1:47.75
2) Reutemann(Ferrari) - 1:47.84
3) Peterson(Lotus) - 1:48.39
4) Watson(Brabham) - 1:48.42
5) Lauda(Brabham) - 1:48.70
6) Hunt(McLaren) - 1:48.72
7) Villeneuve(Ferrari) - 1:48.97
8) Laffite(Ligier) - 1:49.13
9) Tambay(McLaren) - 1:49.47
10) Depailler(Tyrrell) - 1:49.69
Um dia bonito marcaria a abertura da temporada 1978 da F1. Na largada, Andretti sai muito bem e dispara dos seus adversários, com Reutemann e Peterson mantendo suas posição, perseguidos de perto pelas Brabhams, mas com Lauda à frente de Watson. Andretti voava na pista de Buenos Aires e na segunda volta, o piloto da Lotus já tinha 3s de vantagem sobre Reutemann. Na quarta volta Lauda tenta ultrapassar a Lotus de Peterson, mas ambos acabam sendo surpreendidos por Watson, que assumia a terceira posição e partia para cima da Ferrari de Reutemann.
Não demorou muito e os pneus Michelin começaram a sofrer com o calor que fazia em Buenos Aires e Reutemann começou a perder rendimento. Era o preço do noviciado. Na sétima volta Watson ultrapassa o argentino e na volta seguinte finalmente Lauda ultrapassava Peterson, assumindo a quarta posição e na volta 13 deixou a Ferrari de Reutemann para trás. Mesmo com esse bom rendimento da Brabham, nada poderia superar Andretti, que na volta 20 já tinha 14s de vantagem em cima de Watson. Mais atrás quem vinha fazendo uma excelente corrida era o francês Patrick Depailler. O francês da Tyrrel estavam imprimindo um ritmo muito forte e na volta 14 já estava na quarta posição, tendo ultrapassado vários carros.
Na volta 25 Reutemann vai aos boxes trocar seus pneus. Ao contrário dos dias de hoje, um pit-stop não era programado e o argentino caiu para a décima-quinta posição. Ao contrário do seu companheiro de equipe, Ronnie Peterson vinha tendo problemas de estabilidade em seu Lotus e na volta 30 já aparecia na sexta posição, sendo ultrapassado pela McLaren de James Hunt mais cedo. O inglês vinha fazendo uma corrida segura, sem grandes arroubos de velocidade e talvez sabendo da inferioridade de equipamento que tinha em mãos na comparação com Lotus e Brabham. A corrida fica bem estática até que Watson tem problemas de superaquecimento na volta 38 e abandona três voltas depois.
Nas últimas voltas, Lauda também perde rendimento e começa a ser atacado por Depailler e Hunt, mas o austríaco mostrava por que era bicampeão mundial. Mesmo não conhecendo totalmente o novo carro, Lauda resistia maravilhosamente bem às várias tentativas de ultrapassagem de Depailler. No final da prova, Andretti diminui bem o ritmo para cuidar do seu Lotus que tanto quebrou nos finais de corrida de 1977 e assegurar a vitória na Argentina, mas a diferença era grande o bastante para o americano não ser incomodado pela briga pelo segundo lugar envolvendo Lauda, Depailler e Hunt. Como era comum no Grande Prêmio da Argentina, o pentacampeão Juan Manuel Fangio dava a bandeirada quadriculada para o vencedor da prova em Buenos Aires. Mas até os mitos cometem besteira inacreditáveis!
Quando Andretti completou a penúltima volta, Fangio ficou esperando a Lotus negra aparecer e lhe mostrar a bandeirada. Peterson, com vários problemas e apenas em quinto, estava mais de um minuto atrás de Andretti e isso deve ter confundido o pentacampeão, que mostrou a bandeira quadriculada para o sueco. E para os demais carros que vinham atrás da Lotus. Foi um caos! Para não cometer nenhuma injustiça, a direção de prova resolveu anular a última volta. Mario Andretti foi perfeito na quente tarde de 15 de Janeiro de 1978 em Buenos Aires e mesmo tendo o melhor carro do pelotão nas mãos, mereceu amplamente a vitória e falou em tom ameaçador: "Estou preparado para disputar o título." E estava mesmo!
Chegada:
1) Andretti
2) Lauda
3) Depailler
4) Hunt
5) Peterson
6) Tambay
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