sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

História: 55 anos do Grande Prêmio da Argentina de 1953

Após três temporadas em que a F1 praticamente só corria na Europa, o Mundial de Automobilismo ficaria com cara de Mundial em 1953 com a adição do Grande Prêmio da Argentina. Até 1952 os pilotos regulares da F1 corriam apenas no continente europeu as provas válidas pelo campeonato e mesmo com as 500 Milhas de Indianápolis incluídas no calendário do certame, nem os pilotos "europeus" se manifestavam em correr no oval americano, nem os pilotos ianques sabiam que a glamorosa prova valia pontos para um "Campeonato Mundial". Em janeiro muitas das estrelas do automobilismo nos anos 50 participavam da "Temporada Argentina", uma espécie de torneio de verão da F1 e quando o país portenho passou a fazer parte do calendário mundial, o circuito de Buenos Aires não era novidade para a maioria dos pilotos e até mesmo equipes.

A Argentina tinha entre seus ídolos dois grandes pilotos e o público estava bastante entusiasmado com a presença da F1 no velho autódromo de Buenos Aires. A principal novidade da temporada era exatamente a volta do argentino Juan Manuel Fangio às corridas, após ficar um ano afastado devido a um acidente em Monza no começo de 1952. Ele estaria ao volante de um Maserati, que demonstrou bastante potencial na última etapa do campeonato de 1952 nas mãos do outro argentino, José Froilan Gonzalez. A equipe italiana ainda teria Oscar Galvez, principal rival de Fangio nas carreras argentinas nos anos 40, que daria seu nome ao autodrómo de Buenos Aires no futuro.

Mesmo com essa armada argentina, a principal favorita ainda era a Ferrari com o campeão reinante Alberto Ascari. A Ferrari tinha se aproveitado de uma mudança do regulamento em 1952, quando a F1 passou a correr com carros de F2, e dominou a temporada anterior. Com a continuidade dos mesmos regulamentos, a combinação Ferrari-Ascari tinha tudo para manter o domínio do ano anterior e se confirmou com a pole do italiano. Os outros pilotos da Ferrari eram Giuseppe Farina, campeão em 1950, Luigi Villoresi e o recém-contratado Mike Hawthorn. Fangio mostrou que não tinha perdido a velha forma e logo de cara foi o mais rápido entre os carros da Maserati no grid. A corrida prometia ser uma briga entre Ascari e Fangio.

Grid:
1) Ascari(Ferrari) - 1:55.4
2) Fangio(Maserati) - 1:56.1
3) Villoresi(Ferrari) - 1:56.5
4) Farina(Ferrari) - 1:57.1
5) Gonzalez(Maserati) - 1:58.5
6) Hawthorn(Ferrari) - 1:59.4
7) Trintignant(Gordini) - 2:00.4
8) Manzon(Gordini) - 2:00.9
9) Galvez(Maserati) - 2:01.3
10) Menditeguy(Gordini) - 2:01.8

O verão argentino estava no auge em 18 de janeiro de 1953 e os pilotos teriam que enfrentar uma maratona de 97 voltas debaixo de um calor sufocante. E isso numa época em que a preparação física não fazia parte da rotina dos pilotos. Querendo promover a corrida, o presidente Juan Perón decretou que a corrida teria entrada gratuita. Foi um grande erro do chefe de estado. Entusiasmados com seus pilotos, uma multidão invadiu o autódromo de Buenos Aires e várias pessoas ficaram na beira da pista, fazendo uma espécie de "muro humano". A morte rondava o circuito, mas a largada foi mesmo assim.

Ascari larga muito bem, perseguido de perto por Fangio. Porém Gonzalez faz uma largada espetacular e pula para segundo ainda na primeira volta e o duo da Maserati partiu para cima de Ascari. Mesmo com tanto perigo à espreita, o público não se importou muito, pois dois argentinos brigavam fortemente pela liderança. Durante a segunda volta Fangio ultrapassou seu compatriota e partiu para cima de Ascari, enquanto Gonzalez já era pressionado pela outra Ferrari de Farina, que vinha se recuperando de uma largada ruim. Na nona volta o campeão de 1950 deixou Gonzalez para trás e estava num distante terceiro lugar. Ascari começava a se distanciar de Fangio, demonstrando toda a superioridade da Ferrari. Então, o que todos temiam aconteceu.

Na volta 31, Farina ainda tentava se aproximar de Fangio quando perdeu o controle do seu carro. O italiano atingiu em cheio uma multidão que estava à beira da pista, matando uma criança na hora e outras nove pessoas nas horas seguintes. Farina se machucou com alguma gravidade no acidente, mas voltaria a correr ao longo do ano. Contudo, a carreira do primeira campeão da F1 não seria mais a mesma e ele se aposentaria dois anos mais tarde. Mesmo com toda essa comoção, a corrida continuou com Ascari à frente de Fangio e um surpreendente terceiro lugar ficando para a Gordini de Robert Manzon. Logo depois a liderança de Ascari ficaria ainda mais tranqüila quando Fangio abandonou a corrida na volta 36 com a transmissão quebrada. Manzon vinha fazendo uma corrida excepcional quando outra tragédia quase aconteceu. O Gordini do francês perdeu uma roda e o objeto partiu para cima da multidão, que ainda permanecia ao largo da pista. Por sorte ninguém se machucou.

Com a corrida já decidida à favor de Ascari, a disputa pelo segundo lugar se tornou a principal atração para multidão, com a briga entre Gonzalez e as Ferraris de Villoresi e Hawthorn. Faltando 25 voltas Villoresi fez a ultrapassagem definitiva sobre Gonzalez, enquanto o argentino se distanciava do novato da Ferrari. A Ferrari conseguiu uma tranqüila dobradinha com o seu campeão Ascari à frente, mas essa primeira corrida na Argentina não teve nada para se comemorar.

Chegada:
1) Ascari
2) Villoresi
3) Gonzalez
4) Hawthorn
5) Galvez

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