segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

História: 35 anos do Grande Prêmio da Argentina

Mesmo com graves problemas políticos e ter chegado a ser cancelado no final de 1972, o Grande Prêmio da Argentina abriria o campeonato de 1973 em janeiro do mesmo ano. A segurança pessoal dos pilotos foi reforçada, pois havia o medo de seqüestros pelas mãos de radicais que desejavam a volta do presidente Juan Péron ao seu exílio. O clima estava, literalmente, quente na América Latina!

Por causa desses problemas, poucos pilotos compareceram à Buenos Aires para a primeira etapa do ano. Emerson Fittipaldi defenderia o seu título de Campeão Mundial pela primeira vez e agora teria um companheiro de equipe de verdade. Se o inofensivo Dave Walker pouco fez em 1972, o novo contratado da equipe Lotus prometia dar muito mais trabalho ao campeão. Ronnie Peterson já era considerado um excepcional piloto, mas estava limitado pela pequena equipe March. Agora em uma equipe grande, a expectativa era de que o sueco finalmente pudesse cumprir o que se esperava dele. A Ferrari também teria mudanças ao dispensar Clay Regazzoni e trazer para o seu lugar Arturo Merzario, piloto italiano que disputava o Mundial de Esporte-Protótipos pela Ferrari, para correr com Jacky Ickx.

Regazzoni se mudou para a BRM e lá encontrou um jovem austríaco com quem iria fazer uma das duplas mais famosas da história da F1: Niki Lauda. McLaren e Tyrrell permanecia com os mesmos pilotos. Bernie Ecclestone começava a pavimentar o seu nome dentro da F1 ao assumir cada vez mais o controle da equipe Brabham e uma das suas primeiras atitudes foi demitir o bi-campeão Graham Hill. Ecclestone fundara junto com os demais donos de equipes inglesas a FOCA (Sigla inglesa para Associação de Construtores da Fórmula Um) e começavam as primeiras brigas pelo dinheiro na F1.

Logo nos primeiros treinos ficou claro que Lotus e Tyrrell tinham o melhor carro, com Emerson Fittipaldi e Jackie Stewart ficando com a pole a cada volta que davam na Classificação no quente circuito de Buenos Aires. Porém, no final da Classificação a grande surpresa se fez presente. Como que querendo dar uma resposta à sua antiga equipe, Clay Regazzoni faz uma excelente volta e fica com a pole-position, levando um carro da BRM a pole-position pela primeira vez desde 1971 com Jo Siffert. Completando a primeira fila, Emerson superou Stewart e Ickx, que tiveram que se contentar com a segunda fila. Peterson mostrava que seria um dos postulantes ao título, mas teve problemas de câmbio durante a Classificação e não brigou pela pole mais seriamente.

Grid:
1) Regazzoni(BRM) - 1:10.54
2) Fittipaldi(Lotus) - 1:10.84
3) Ickx(Ferrari) - 1:11.01
4) Stewart(Tyrrell) - 1:11.03
5) Peterson(Lotus) - 1:11.06
6) Cevert(Tyrrell) - 1:11.46
7) Beltoise(BRM) - 1:11.48
8) Hulme(McLaren) - 1:11.70
9) Reutemann(Brabham) - 1:12.08
10) Hailwood(Surtees) - 1:12.13

Com mais de 100.000 espectadores no autódromo Oscar Gálvez, os 19 pilotos que se classificaram para a corrida foram para o grid debaixo de muito calor. Para Emerson em especial, os 10.000 brasileiros que atravessaram a fronteira para vê-lo lhe dava ainda mais motivação. Na largada, quem surpreende é o sexto colocado François Cevert, que imediatamente fica lado a lado com Regazzoni e Fittipaldi na disputa pela liderança na primeira curva, com o francês levando vantagem. Rega, conhecido pela sua agressividade, não deixou barato e partiu para cima de Cevert ainda na segunda curva, o deixando para trás e assumindo a liderança!

Quem largara muito mal foi Stewart, caindo para o oitavo lugar, mas não demorou para que o escocês encostasse nos líderes. Regazzoni liderava à frente de Cevert, Fittipaldi, Peterson, Beltoise, Ickx, Hulme e Stewart ao final da primeira volta. Como era uma corrida com 96 voltas e muito calor, a maioria dos pilotos preferiram fazer uma corrida de espera. Os pneus seriam um fator crucial e quem cuidasse melhor deles poderiam colher frutos mais tarde. Stewart não pensa assim e parte para cima dos seus adversários, ultrapassando Hulme na volta 2, Ickx na 6 e Beltoise na 12. Regazzoni era outro que resolveu forçar o ritmo e começou a se distanciar de Cevert, que não era atacado pelas Lotus.

Como era de se esperar, os pneus de Regazzoni começaram a superaquecer e o suíço começou a perder rendimento. Logo a BRM liderava uma fila de carros atrás de si, com Stewart ultrapassando Peterson na volta 24. Completamente sem aderência, Regazzoni foi perdendo posição em cima de posição até cair para o final do pelotão. Na confusão, Stewart ultrapassou Fittipaldi e assim a Tyrrell fazia uma dobradinha, com as duas Lotus logo atrás. Cevert, claramente segundo piloto da Tyrrell e aprendendo tudo o que podia do seu amigo Stewart, se distanciava do seu companheiro de equipe. Stewart começava a ter problemas com seus pneus após ter forçado tanto no início de corrida, mas o escocês era um piloto difícilimo de ultrapassar e Emerson, mesmo tendo um carro mais rápido, não conseguia deixar a Tyrrell para trás.

Emerson começava a perder a paciência, pois sempre que tentava a ultrapassagem no hairpim no meio do circuito, após uma curva rápida à direita, Stewart fechava a porta. A Tyrrell estava mais rápida nas retas e assim Emerson não conseguia pegar o vácuo de Stewart, dificultando a manobra. O brasileiro começou a gesticular com Stewart, mostrando toda a sua frustração e tentava, numa possibilidade pouco provável, fazer o escocês errar. Muitas vezes Emerson era criticado no Brasil pela sua pilotagem cartesiana e sua passividade na briga por posições, dando sempre a impressão de que estava mais lento do que podia. Contudo, naquela ocasião, Fittipaldi teria que sair de suas características e tentar uma manobra kamikase, totalmente fora dos padrões do piloto brasileiro. E assim Emerson fez na volta 76! Ele freou no último momento no hairpin e conseguiu uma linda ultrapassagem sobre Stewart, que ainda expremeu o brasileiro para a grama.

Com toda essa briga, Emerson estava longe de Cevert e somente um milagre faria com que o brasileiro conseguisse uma vitória. Como ainda faltavam vinte voltas, Emerson resolveu forçar o ritmo e tentar ao menos se aproximar do piloto da Tyrrell, levando consigo Stewart. Nesse momento Peterson já tinha abandonado a corrida com problemas no motor. A corrida seria decidida a três! O brasileiro conseguiu nada menos do que seis voltas mais rápidas seguidas! E colou em Cevert! O francês já tinha passado três anos debaixo da asa de Stewart e essa briga com Fittipaldi era uma espécie de prova final para o francês. O piloto da Tyrrell colocaria tudo que aprendera com Stewart em prática. Emerson teria sua vida dificultada quando Beltoise quebrou o motor bem no local aonde tinha ultrapassado Stewart anteriormente. O hairpin estava com muito óleo por dentro e os pilotos tinham que fazer a curva por fora. Cevert também tinha noção de como Emerson ultrapassara Stewart mais cedo e dificilmente ele abriria a porta para o brasileiro.

Mesmo sabendo de todas essas dificuldades, Fittipaldi repetia a tática que fizera com Stewart e colocava o seu Lotus por dentro da Tyrrell sempre que possível, agitando o pulso e desestabilizando Cevert. Tudo isso com Stewart na espreita, só esperando uma brecha para assumir a liderança. Na volta 86, Emerson saiu da curva do Tobogã colado na Tyrrell de Cevert e colocou o bico da Lotus ao lado do carro do francês. Cevert tentou desesperadamente fechar Emerson e fez com que o brasileiro completasse a freada com duas rodas na grama! Mas Emerson conseguiu controlar seu Lotus e assumir a liderança da corrida faltando menos de dez voltas. Com Stewart perdendo rendimento paulatinamente, Cevert passou a se concentrar unicamente em tentar o revide em cima de Emerson, mas o brasileiro usou a sua experiência de campeão mundial e conseguiu uma vitória memorável. E Fittipaldi sabia disso. "Foi certamente a corrida mais difícil da minha vida. Carros e pilotos estavam emparelhados. Eu fiquei orgulhoso em vencer com tal companhia."

Chegada:
1) E.Fittipaldi
2) Cevert
3) Stewart
4) Ickx
5) Hulme
6) W.Fittipaldi

2 comentários:

SAVIOMACHADO disse...

Grande Speedway!!! Fantástico!! Fantástico!! Ótima narrativa!! Acabei de ler o seu post e na minha cabeça estava passando um Grande Premio da Argentina, com uma incrivel vitória de Emerson Fittipaldi. Como é bom ler essas coisas! Muito bom cara! Meus parabéns!
Um grande abraço!

SAVIOMACHADO

ronaldo nazar disse...

Bela reportagem. Mas tem um erro ai. O Regazzoni não foi perdendo posições por causa dos pneus , mas sim por uma folha de papel que ficou grudada na entrada de ar de refrigeração do bico da BRM. Ele foi obrigado a parar nos boxes, e não conseguiu mais se recuperar.A ultrapassagem do Emerson em cima do Cevert foi na curva chamada La Orquilla.

De qualquer forma é uma boa lembrança, dessa que foi uma das maiores vitórias do rato.