quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

História: A última vitória de Jim Clark na F1

A piada pode ser velha, mas é sempre usada no primeiro dia de ano. "Rapaz, faz tanto tempo que não te vejo. A última vez que te vi foi ano passado!" Para o Grande Prêmio da África do Sul de 1968, essa piada poderia servir bem para a programação dessa corrida em particular. Marcada para o dia primeiro de janeiro, a primeira etapa do Mundial de 1968 da F1 deve ter conversas como essa acima, como o pole ter sido definido num ano e a corrida ter sido realizado no outro...

O ano de 1968 foi um marco para a história da F1, mas as principais mudanças que caracterizariam esse ano ainda não tinham aparecido em Kyalami. A temporada se iniciaria com a mesma cara de 1967 e o favoritismo destacado eram dos Lotus 49-Cosworth DFV de Jim Clark e Graham Hill. Após um período de adaptação ao novo carro, a Lotus já tinha mais experiência tanto com a nova criação de Colin Chapman, como também com o novo motor Cosworth DFV, que a essa altura já era o melhor da categoria. Clark tinha vencido as duas últimas etapas de 1967 na América do Norte e partia com tudo para o tricampeonato. Outro fator que favorecia a Lotus era a estabilidade da equipe, ao contrário dos seus adversários, que tinham várias mudanças. O atual campeão Denny Hulme abandonava a Brabham (depois de derrotar o patrão...) para se juntar ao compatriota e amigo Bruce McLaren, na equipe McLaren, e tentava imitar o sucesso que os dois pilotos kiwis vinham conquistando na Série Can-Am.

Para o lugar de Hulme, Jack Brabham trouxe para sua equipe a grande revelação da época Jochen Rindt, da equipe Cooper, e também teria um novo motor Repco V8, na tentativa de se manter como a melhor equipe da época. A Ferrari manteve Chris Amon e trouxe o atual campeão da F2 Européia Jacky Ickx, que no dia da corrida completou 23 anos de idade. A Honda construíra um carro totalmente novo para John Surtees e a BRM trouxe da Cooper o vencedor do Grande Prêmio da África do Sul de 1967, Pedro Rodriguez. A principal novidade era a entrada da equipe Matra em duas frentes. A Matra Sports era uma equipe genuinamente francesa com chassi e motor construído pela empresa francesa e Jean-Pierre Beltoise como piloto. Como o motor V12 não ficou pronto, Beltoise teve que andar com o motor Cosworth FVA de F2, com apenas 1,6 litro de capacidade. Já a Matra International teria o comando de Ken Tyrrell e seu único piloto seria Jackie Stewart, que já teria a sua disposição o novo motor Cosworth DFV no chassi da Matra.

No último dia de 1967, Clark comprovou seu favoritismo com uma espetacular trigésima terceira pole em sua carreira, exatamente 1s na frente do seu companheiro de equipe Graham Hill. Corroborando com a afirmativa de que o motor Cosworth DFV era o melhor da F1, Jackie Stewart completou a primeira fila em terceiro lugar, mostrando o potencial de sua nova equipe.

Grid:
1) Clark(Lotus) - 1:21.6
2) Hill(Lotus) - 1:22.6
3) Stewart(Matra) - 1:22.7
4) Rindt(Brabham) - 1:23.0
5) Brabham(Brabham) - 1:23.2
6) Surtees(Honda) - 1:23.5
7) De Adamich(Ferrari) - 1:23.6
8) Amon(Ferrari) - 1:23.8
9) Hulme(McLaren) - 1:24.0
10) Rodriguez(BRM) - 1:24.9

A essa altura todos sabiam que Jackie Stewart tinha talento para ser campeão e o que faltou nos últimos anos para o escocês fora um carro competitivo que pudesse competir contra os seus principais rivais. Stewart era o candidato natural para tomar a alcunha de "Escocês Voador" de Jim Clark. Na largada do Grande Prêmio da África do Sul, no primeiro dia de 1968, Stewart e Clark largaram bem e disputaram a liderança na primeira curva, com vantagem inicial do piloto da Matra. Graham Hill largara muito mal e caiu para sétimo, atrás de Rindt, Surtees, Brabham e Amon. Jochen Rindt fazia uma excelente estréia da Brabham, demonstrando a "Old Jack" que ele também sofreria com seu companheiro de equipe em 1968.

Como que colocando ordem na casa, Clark ultrapassou seu compatriota Stewart ainda na segunda volta e começou a imprimir seu conhecido ritmo devastador de corrida e desapareceu na frente. Enquanto isso, Brabham ultrapassava Surtees, que também era superado por... Hill! O piloto da Lotus demonstrava a superioridade do seu carro e em uma volta ultrapassou Amon e Surtees e partia para cima das duas Brabhams. Mais atrás, Ludovico Scarfiotti, que estreava na equipe Cooper, sofreu um vazamento de água no seu motor Maserati e se tornou o primeiro abandono do ano. Contudo, o vazamento acabou atingindo Scarfiotti e o italiano se queimou seriamente, sendo mandado para o hospital com queimaduras de primeiro grau.

Na sexta volta Brabham ultrapassou seu companheiro de equipe (e empregado...) Jochen Rindt, mas o australiano começou a ter problemas com o seu novo motor Repco e abandonou algumas voltas mais tarde. Rindt segurava heroicamente Hill, enquanto Clark disparava na frente e Stewart vinha num solitário segundo lugar. O austríaco da Brabham segurou as pontas até a volta 13 quando foi superado por Hill, enquanto que na mesma volta, Amon ultrapassava Surtees e assumia a quinta posição. Sem mais ninguém a sua frente, Graham Hill começou a usufruir do seu ótimo carro e passou a se aproximar do segundo colocado Jackie Stewart. Hill assumiu a segunda posição na volta 27, completando uma esperada dobradinha da Lotus. O Matra-Ford de Stewart vinha se comportando de forma explêndida para um carro que estreava, mas na volta 43 o escocês encostou seu carro com um problema na biela do seu motor Cosworth, dando o terceiro lugar a Jochen Rindt.

Quando Hill ultrapassou Stewart, já estava muito longe de Clark e o escocês pode conquistar sua vigésima quinta vitória na F1 de forma tranqüila, se igualando a Juan Manuel Fangio como o maior vencedor da F1 até então. Tudo indicava que Clark venceria o terceiro título da mesma forma que vencera os dois primeiros, ou seja, com uma dominação impressionante. Porém, o destino não quis assim. A próxima etapa de F1 seria apenas em maio e os piloto não podiam ficar tanto tempo assim sem correr e, principalmente, ganhar dinheiro. A Lotus participava de várias categorias, entre ela, a F2. No dia sete de abril, mais uma etapa da F2 Européia seria realizada em Hockenheim e Colin Chapman recrutou Clark a andar no novo Lotus 48 de F2. Infelizmente, essa seria a última corrida do escocês voador. Jim Clark foi morto ao atingir uma árvore e a F1 ficou menos bela sem a condução artística e o ritmo devastador de Clark.

Chegada:
1) Clark
2) Hill
3) Rindt
4) Amon
5) Hulme
6) Beltoise

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