sábado, 19 de janeiro de 2008

História: 50 anos do Grande Prêmio da Argentina de 1958

O Grande Prêmio da Argentina já era tradicionalmente a abertura do Campeonato Mundial de F1 ao longo dos anos 50, mas se em outros oportunidades isso era uma honra, em 58 foi uma grande dor de cabeça. O novo regulamento para 1958 previa que todos os carros seriam abastecidos com combustível Avgas, sendo que nenhuma equipe usava esse fornecedor. As principais equipes tiveram enormes dificuldades de se adaptar ao novo combustível e assim apenas 10 pilotos viajaram para a Argentina para a primeira etapa do campeonato, mas apenas a Ferrari foi com sua equipe oficial. A escuderia de Maranello usaria um legítimo Ferrari depois de um tempo, já que nos dois anos anteriores usou um modelo da Lancia, que foi herdado da montadora italiana depois que esta abandonou a F1 em 1955. O modelo Dino 246 estava pronto para Mike Hawthorn, Peter Collins e Luigi Musso. A Maserati estava tendo sérios problemas financeiros e se retirou de forma oficial da F1, mas vários pilotos, incluindo o pentacampeão Juan Manuel Fangio, usou do lendário modelo 250F em Buenos Aires. Nada menos que seis dos dez carros eram Maserati.

Stirling Moss seria um dos prejudicados com o problemas do combustível Avgas, já que sua equipe, a Vanwall, ficou na Inglaterra tentando fazer com que o motor funcionasse direito. Corredor nato e já com três vice-campeonato mundiais nas costas, Moss resolve correr na Argentina com um Cooper-Climax na tentativa de marcar pontos no campeonato. Seu empresário Ken Gregory tinha arrendado o pequeno carro da equipe Rob Walker e Moss estrearia em 1958 com um carro de motor traseiro.

O carro era basicamente um F2 adaptado, com motor Climax central e pesando 370 kg, nada menos do que 280 kg mais leve do que as Ferraris. O carro tinha um déficit de 100 cavalos com relação aos carros italianos, mas Moss ainda conseguiu o sétimo lugar no grid, 2s mais lento que o pole. Fangio já estava pensando em aposentadoria, mas ainda assim mostrava sua magia ao ficar com a pole em uma equipe particular, à frente de um pelotão de Ferraris.

Grid:
1) Fangio(Maserati) - 1:42.0
2) Hawthorn(Ferrari) - 1:42.6
3) Collins(Ferrari) - 1:42.6
4) Behra(Maserati) - 1:42.7
5) Musso(Ferrari) - 1:42.9
6) Menditeguy(Maserati) - 1:43.7
7) Moss(Cooper) - 1:44.0
8) Schell(Maserati) - 1:44.2
9) Godia-Sales(Maserati) - 1:49.3
10) Gould(Maserati) - 1:51.7

O dia 19 de janeiro de 1958 estava bastante quente e os pilotos sofreriam por 80 voltas no conhecido forte calor do verão sul-americano. Fangio não larga muito bem e o primeiro colocado no final da volta de abertura era Behra, que tinha saído da primeira fila e supreendeu seus mais conhecidos companheiros de fila. Moss surpreende ao pular para terceiro, mas logo é superado pelos potentes carros italianos. Por enquanto. Peter Collins se constituiu no primeiro e único abandono logo na primeira volta com o semi-eixo quebrado.

Na segunda volta Hawthorn ultrapassou Behra, enquanto Fangio já vinha na perseguição ao francês. Não demorou e o argentino pulou para a primeira posição em três voltas e voltava ao seu habitat natural na décima volta. Tudo parecia normal se não fosse por um único detalhe. Por causa do forte calor, todos os pilotos optaram por uma estratégia de um pit-stop e isso significava que os carros estavam com meio tanque assim muito rápidos no início de corrida, mas teriam que fazer uma parada para trocar os desgastados pneus e tomarem uma água para se refrescarem. Moss vinha num discreto quinto lugar, mas no decorrer da corrida ficou aparente as enormes vantagens do que seu pequeno carro. O Cooper não estava desgastando seus pneus tanto quanto os grandes carros italianos e controlá-lo exigia muito menos esforço físico de Moss. Além disso, o carro não era tão mais lento nas retas, graças à ausência de área frontal. Nas freadas, o Cooper era amplamente superior.

Como um cavalheiro inglês, Moss começou a deixar seus adversários para trás com classe, para espanto do público local. Na volta 9 Moss ultrapassou a Ferrari de Musso. Na volta 17 a vítima foi a Maserati de Behra e na vigésima passagem, Moss deixou a poderosa Ferrari de Hawthorn comendo poeira e já aparecia em segundo lugar, atrás da Maserati de Fangio. Tendo verdadeira adoração por Fangio, Moss preferiu não forçar muito seu Cooper e esperou que os seus rivais fizessem suas paradas. E isso não demorou a acontecer. A Ferrari do terceiro colocado Hawthorn visitou os boxes na volta 26 e o líder Fangio fez sua parada na volta 34. Moss assumia a liderança, à frente de Behra e Musso. Porém, a corrida do francês foi estragada na volta 48 quando este deu uma grande rodada e se atrasou bastante.

Fangio vinha numa grande recuperação, mas o motor do seu Maserati apresentou problemas no instante em que se aproximava de Luigi Musso. Fangio começou uma briga feroz com Hawthorn pela terceira posição, mas o problema estava cada vez pior e o veterano campeão resolveu aliviar e deixar o inglês da Ferrari sumir à sua frente. Musso não vinha forçando muito, pois a Ferrari lhe informou que Moss estaria para fazer uma parada. Na verdade, a equipe arrendada de Rob Walker pregou uma peça na Ferrari, deixando os quatro pneus prontos para uma parada que nunca se realizaria. Quando a equipe italiana se deu conta, Moss estava muito à frente e venceu a corrida com pouco mais de 2s à frente de Musso.

A vitória de Moss foi histórica por que foi a primeira de um carro com motor traseiro. Ao longo do tempo ficou provado que os carros com motor traseiro eram mais ágeis que os pesados carros com motor dianteiro e que desgastavam menos os pneus. Isso causou uma extinção dos pit-stops programados nos próximos 25 anos. Moss voltaria para a Vanwall na corrida seguinte, enquanto a equipe oficial de Cooper ainda não brigaria verdadeiramente pelo título em 1958. Mas uma revolução tinha acabado de começar!

Chegada:
1) Moss
2) Musso
3) Hawthorn
4) Fangio
5) Behra

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