Não vou mentir que teve um tempo em que me interessava mais pela Indy do que a F1. O auge da Cart foi inesquecível para quem teve a oportunidade de ver Rick Mears dominando os ovais, Emerson Fittipaldi ainda mostrando sua elegância nas pistas, a agressividade juvenil de Michael Andretti, a agressividade natural de Nigel Mansell, a experiência de Mario Andretti, a frieza de Bobby Rahal e por aí vai.
Claro que para uma criança acostumada com a F1, assistir uma corrida no oval era muita adrenalina, fora a emoção que poduziam as bandeiras amarelas, que naquela época eram usadas com muito mais critério do que hoje. As chegadas apertadas também chamavam a atenção dos meus jovens olhos e ainda percebia que havia um charme todo especial nos boxes, por causa dos chefes de equipe, como Roger Penske e Carl Hass, com aquele charutão na boca. Havia equipes fortes como a própria Penske e a Newman-Hass. Além das grandes feras da categoria, havia os grandes coadjuvantes, como Al Unser Jr, Danny Sullivan, Raul Boesel, Scott Pruett e Goodyear, Roberto Guerrero, Arie Luiendyk, o ainda jovem Paul Tracy, Robby Gordon e etc. Tudo isso fez com que o interesse pela categoria fosse enorme por minha parte, principalmente por ver que todos esses caras podiam ganhar a corrida, indenpendentemente de onde largariam. Naqueles inícios dos anos 90, a McLaren dominava a F1 e Senna era o grande ídolo. Ou Senna ganhava, ou a corrida não prestava, para os olhos da maioria, apesar deu continuar achando a F1 um máximo, mas a então F-Indy me cativava muito. A transmissão de Luciano do Valle pela TV Bandeirantes também era muito chamativo, com o Luciano sempre que podia tirando um sarro do Elia Jr, que ficava nos boxes.
Vi com muita emoção a categoria crescer ainda mais e pude acompanhar com muito gosto o surgimento de Jacques Villeneuve, Alessandro Zanardi, Juan Pablo Montoya, Dario Franchitti e toda a invasão brasileira capitaneada por Christian Fittipaldi, Maurício Gugelmin e, principalmente, por Gil de Ferran, na minha modesta opinião, o melhor piloto brasileiro pós-Senna. Sinceramente, vibrava quando algum piloto de porte ia para a Indy, apesar de Piquet cansar de dizer que era para se aposentar.
Porém, como disse John Lennon, o "sonho acabou". Como acontece nas épocas de bonança, a política e o dinheiro acabaram por estragar o que estava dando muito certo. A Cart resolveu internacionalizar a categoria e aos poucos saía dos circuitos ovais, partindo cada vez mais para os circuitos de rua. A velha guarda da categoria começou a chiar, principalmente o dono do Indianapolis Motor Speedway, Tony George. O que parecia algo contornável, se tornou uma ruptura, que foi comendo a grande categoria que foi a F-Indy, que aqui no Brasil ficou conhecida como F-Mundial.
A Cart, mesmo sem Indianápolis, parecia estar por cima exatamente por ainda contar com as principais equipes e pilotos. A IRL parecia um cemitério de elefantes, com vários pilotos velhos ou simplesmente ruins mesmo. Mas tinha Indianápolis. E foi esse diferencial que acabou com a Cart aos poucos, tendo como ponto crucial a ida da Penske para a IRL no final de 2001. Ali, o sonho estava acabando. No final de 2002, se foram Chip Ganassi, Green (hoje conhecida como Andretti-Green), Patrick e Rahal-Letterman. Somente a Newman-Hass, das equipes tradicionais, permaneceu na Cart, talvez como tentando manter vivo os bons tempos da categoria. Contudo, o golpe de misericórdia já tinha sido dado. Era só questão de tempo e no início de 2008, menos de um ano depois da Cart ter mostrado a público o novo chassi Panoz, a "unificação" com a IRL foi anunciado e a Cart, que já nem se chamava mais Cart, acabaria no seu palco mais charmoso: Long Beach.
O australiano Will Power teve a honra de ser o vencedor na última prova da Cart neste domingo. Não resta dúvida que foi o fim de uma era. Tenho certeza que as categorias de monopostos nos Estados Unidos irão crescer muito daqui para frente, porém nunca chegará aos pés do que a F-Indy já foi. Completando 26 anos na última sexta-feira, percebo que o tempo passou rápido demais, pois a categoria que mais me cativava na infância, com seus rebastecimentos (na época a F1 não tinha), aquele velhinho de cabeça branca entrevistando os vencedores, com seus acidentes a alta velocidade nos ovais, aqueles aros cromados, as disputas sensacionais... agora é tudo um passado para lá de distante.
4 comentários:
Belo post. Tinha escrito algo semelhante na sexta-feira, quando fiz o "elogio fúnebre" da CART.
Quanto à Danica... um dia tinha que acontecer. Contudo, não acho que ela seja tão rium mesmo. Ter uma mulher competindo com os homens é tão raro, que qualquer classificação é de louvar. Agora, no cômputo geral, se fosse homem, seria do meio do pelotão. Um Sam Hornish Jr, talvez.
Jà agora, dá lá um salto. O fim de semana foi movimentado para as minhas bandas...
Bom texto..., E agora vamos partir para a nova fase da categoria....
Desculpa Speeder, mas a Danica leva pau (não me entenda mal...) do Hornish desde o kart. Ele é muito melhor do que ela!
Belo post. Concordo com tudo que você disse. Interessante voce comentar algo simples que também me chamava a atenção nos carros da Indy, os aros cromados, que eu sempre achei bonito.
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