terça-feira, 22 de abril de 2008

História: 5 anos do Grande Prêmio de San Marino de 2003


Os dois irmãos Schumacher não estavam numa boa fase quando a F1 entrou na fase européia da temporada 2003. Após conquistar o título de 2002 de forma tão massacrante, Michael passava por algo em que não estava acostumado. Nas três primeiras corridas de 2003, o piloto da Ferrari não tinha subido ao pódio nenhuma vez e, pela primeira vez na parceria com Rubens Barrichello, estava atrás do seu companheiro de equipe. Para piorar, o modelo F2003-GA (de Gianni Agnelli, morto no início daquele ano) não ficaria pronto para Ímola, apesar do piloto de testes Luca Badoer estivesse fazendo hora extra na pista de Fiorano, na tentativa de levar o novo carro à pista de corridas o mais rápido possível. Já Ralf sofria com a excelente fase do seu companheiro de equipe Juan Pablo Montoya, que era mais rápido do que ele até o momento. Porém, o que atormentava os irmãos estava fora das pistas. A matriarca da família estava muito doente num hospital da Alemanha e exatamente no primeiro dia do final de semana em Ímola, dona Elizabeth tinha piorado.

Deixando os sentimentos de lado, os irmãos Schumacher fizeram um excepcional trabalho na Classificação e ocuparam a primeira fila. Michael dava alegria para os tifosi, mas por dentro sofria pela angústia da agonia de sua mãe. Logo após o treino, o Schumacher mais velho pegou seu irmão numa Maserati e se dirigiu ao aeroporto de Bologna, para poderem visitar sua mãe no hospital.

Grid:
1) M.Schumacher (Ferrari) - 1:22.327
2) R.Schumacher (Williams) - 1:22.341
3) Barrichello (Ferrari) - 1:22.557
4) Montoya (Williams) - 1:22.789
5) Webber (Jaguar) - 1:23.015
6) Raikkonen (McLaren) - 1:23.148
7) Villeneuve (BAR) - 1:23.160
8) Alonso (Renault) - 1:23.169
9) Button (BAR) - 1:23.381
10) Panis (Toyota) - 1:23.460

O dia amanheceu nublado e carrancudo no dia 20 de abril de 2003, um domingo de páscoa, mas as notícias vindo do leste não eram nada boas. Elizabeth Schumacher, mãe de Michael e Ralf, morrera naquela mesma madrugada. Logo se instalou a dúvida: os irmãos de Schumacher correriam? Demonstrando grande sensibilidade, Ferrari e Williams liberaram seus pilotos daquela corrida, mas de forma surpreendente, tanto Michael como Ralf foram à Ímola naquele dia. "Correr é uma forma de aliviar a dor que sentimos", era o que dizia uma nota a imprensa. Michael colocou uma tarja negra no braço direito, enquanto o caçula Ralf parecia mais sentido, só saindo do seu motor-home em cima da hora e usando óculos escuros. Seu capacete teria uma faixa negra.

Com Michael e Ralf alinhados na primeira fila, outra questão surgiu: como eles reagiriam durante a prova? Na largada, o profissionalismo de ambos ficou claro. Largaram forte como sempre e o piloto da Williams levou vantagem sobre o adversário vermelho. Michael, agressivo como sempre, partiu para cima de Ralf numa luta forte como nunca tiveram antes. Barrichello, em terceiro, apenas acompanhava e talvez até esperasse por um acidente, tamanha a tenacidade da briga entre os irmãos. Montoya vinha em quarto, mas um pequeno erro na Acqua Minerale o fez perder contato com os líderes e quando fez seu primeiro pit-stop, um problema em um dos pneus o fez perder ainda mais tempo, tirando-o da corrida.

Como esperado, Michael estava mais pesado e quando não conseguiu ultrapassar Ralf na pista, esperou o irmão parar nos boxes e andar o mais rápido possível quando tiver pista livre. Uma história antiga, com um resultado conhecido. Michael emergiu dos boxes à frente de Ralf e Barrichello, mas ainda havia um perigo a primeira vitória do piloto da Ferrari. Como tinha acontecido na maioria das vezes até aquele momento, a McLaren sempre treinou com muito combustível e parava uma vez menos. Quando os pilotos de Ferrari e Williams completaram suas primeiras paradas, Raikkonen e Coulthard lideravam a corrida. Na segunda parada, Ralf ficou preso atrás de Raikkonen e isso possibilitou a ultrapassagem de Barrichello nos boxes, enquanto Michael continuava andando forte, chegando a sair da pista na Acqua Minerale, mas sem grandes danos.

Como tinha parado duas vezes, contra três da maioria, Raikkonen assumiu a segunda posição e foi perseguido no final por Rubens Barrichello, mas o brasileiro não conseguiu a ultrapassagem. Mais à frente, Michael Schumacher continuava sua marcha rumo à vitória e conseguiu o primeiro triunfo do ano. Aquela seria apenas mais uma vitória na carreira espetacular do alemão, mas as circunstâncias fizeram dessa corrida especial. Quando chegou aos boxes, Michael abraçou longamente Jean Todt e todos os pilotos o cumprimentaram. Schumacher demorou a tirar o capacete e de forma até mesmo heroíca, foi ao pódio receber o seu trófeu de vencedor. Claro que ele não sorriu, a festa foi para lá de contida, mas Michael Schumacher e seu irmão mostraram que são um modelo de profissionalismo e de amor ao esporte, pois ao sair dos seus respectivos carros, foram ao enterro de sua amada mãe.

Chegada:
1) M.Schumacher
2) Raikkonen
3) Barrichello
4) R.Schumacher
5) Coulthard
6) Alonso
7) Montoya
8) Button

3 comentários:

Arthur Simões disse...

Apesar de ter preconceito com Michael Schumacher tenho que admitir que ele é um dos maiores esportistas de todos os tempos e que Ralf era um ótimo piloto apesar de ser tão questionado.

Valeu JC!!
Belo texto!!

SAVIOMACHADO disse...

Concordo com Arthur. Realmente, tanto Michael, quanto Ralf sempre foram extremamente profissionais. Enquanto estiveram na Fórmula 1 foram exímios pilotos. Fizeram uma história impressionante. Parabéns pelo post.
Um grande abraço.
SAVIOMACHADO

Anônimo disse...

Me lembro bem desta corrida, e me lembro bem de gente criticando o cara porque ele correu no dia em que sua mãe havia morrido.
Ele não só correu como ganhou, mostrando que era mesmo um desportista, não houve homenagens à mãe do alto do podio, e nem hupocresia de parte alguma.
A dor do homem Shumacher, ele guardou para si. O mundo que o admirasse.