quinta-feira, 3 de abril de 2008

História: 20 anos do Grande Prêmio do Brasil de 1988

"Agora vai!" Era o que os brasileiros esperavam de Ayrton Senna em sua quinta temporada na F1 e primeira numa equipe realmente grande. Após três anos relativamente bons na Lotus, mas não o suficiente para o "Padrão de qualidade Senna", o brasileiro aportava na McLaren. Apesar da equipe de Ron Dennis ter perdido de forma categórica o título de 1987 para a Williams, a equipe patrocinada pela Marlboro tinha um ás na sua manga para 1988. E não era Senna. O motor Honda era o melhor da F1 já fazia no mínimo três temporadas e com a chegada de Senna na McLaren, os japoneses se debandaram juntamente com o brasileiro e saíram da Williams, que tinha se sacrificado muito no início da parceria, e a equipe de Working passava a ser uma das favoritas. Durante a pré-temporada, a ansiosidade dos brasileiros era grande com a chegada de Ayrton na McLaren, mas ainda havia um pequeno detalhe francês: Alain Prost.

Prost já estava na McLaren desde 1984 e já tinha vencido dois títulos pela equipe. A briga prometia ser forte entre os pilotos da McLaren, mas Senna e Prost foram muito cordiais no início do relacionamento dentro do mesmo teto, mas as coisas piorariam mais tarde. Porém, nada cordial era o relacionamento entre Senna e o tricampeão Nelson Piquet naquele momento. O brasileiro ocupou o lugar de Senna na Lotus por um salário milionário e ainda teria o excelente motor Honda à sua disposição. Mesmo com o título de Piquet, todos só falavam de Senna, que estava de férias. No dia 6 de março um teste coletivo de pneus foi marcado em Jacarepaguá e Senna deu uma entrevista ao Jornal do Brasil e explicou o motivo do seu desaparecimento: "Eu tinha que dar a outros uma chance de aparecer um pouco. Afinal, não tem sentido um cara ser tricampeão e eu continuar sendo assunto. Já que ninguém gosta muito dele, o único jeito era eu sumir para que ele pudesse aparecer um pouco".

Piquet foi rápido no gatilho e a resposta veio na lata: "Senna desapareceu esses meses não foi para deixar eu aparecer. Foi para não ter que explicar à imprensa brasileira por que não gosta de mulher". A guerra estava declarada! Em pouco tempo, esse bate-boca ganhou contornos mundiais, com matérias de revistas na Itália, na França e, claro, aqui no Brasil. Até os outros pilotos que também estavam no Brasil deram sua opiniões. Quando Senna estava prestes a processar Piquet, um acordo foi feito entre os advogados dos dois e a coisa saiu da justiça, mas nunca Piquet e Senna se falariam novamente.

Voltando às pistas, outra novidade era o processo gradual de morte dos motores turbo, agora com a pressão limitada em 2.5 bar. Isso forçou a algumas equipes a procurarem motores aspirados, como foi o caso da Williams, que migrou para o motor Judd, porém o motivo foi a falta de motores disponíveis no mercado e Nigel Mansell sabia que dificilmente teria chances de brigar pelo título contra os potentes motores Honda turbo, ainda muito fortes. A Ferrari tinha terminado muito bem em 1987 e havia uma forte expectativa em cima da equipe italiana, que continuaria com Berger e Alboreto.

O novo carro da McLaren, o MP4/4, ficou pronto muito tarde e apenas um teste coletivo foi feito em Ímola e foi lá que se percebeu que o título ficaria entre Senna e Prost. Nos primeiros treinos livres no Brasil Prost superou Senna por muito pouco, mas na Classificação da sexta-feira, Senna ficou em primeiro, com seu companheiro de equipe apenas em quarto e no sábado, com muitos "Sennistas" em Jacarepaguá, o piloto da McLaren consolidou sua décima sétima pole na carreira e teria ao lado Mansell, no Williams-Judd. Seria apenas uma doce ilusão para o inglês, que largaria na primeira fila pela última vez em 1988.

Grid:
1) Senna(McLaren) - 1:28.096
2) Mansell(Williams) - 1:28.632
3) Prost(McLaren) - 1:28.782
4) Berger(Ferrari) - 1:29.026
5) Piquet(Lotus) - 1:30.087
6) Alboreto(Ferrari) - 1:30.114
7) Boutsen(Benetton) - 1:30.140
8) Patrese(Williams) - 1:30.439
9) Capelli(March) - 1:30.929
10) Nakajima(Lotus) - 1:31.280

O dia 3 de abril estava diferente no Rio de Janeiro. Ao contrário dos anos anteriores, o forte calor carioca deu lugar a um dia frio e nublado, mas não havia chuva. A torcida esperava por mais uma largada forte de Senna, uma de suas marcas registradas, mas quando os carros já estavam preparados para a largara, o piloto da McLaren levanta seus braços e os balança, indicando que seu carro estava com problemas. Mais atrás, a March de Ivan Capelli também estava soltando muita fumaça. Um engrenagem do câmbio da McLaren de Senna tinha engripado quando o brasileiro colocou a primeira marcha e o sonho de uma vitória de Senna em sua estréia ficava muito distante. Ayrton correu para os boxes com o intuito de pegar o carro reserva. Essa situação era claramente irregular e já tinha acontecido durante o Grande Prêmio da Itália de 1986, quando Alain Prost ficou parado no grid e pegou a McLaren reserva para largar e acabou levando a bandeira preta. Enquanto ninguém lembrava Senna desse detalhe, ele estava no final dos boxes esperando a segunda largada.

Com Senna fora, Mansell assumia a pole-position do Grande Prêmio do Brasil, mas o inglês não aproveitou a situação e foi ultrapassado por Prost e Berger ainda antes da primeira curva. Aquela imagem era bem conhecida na retina do carioca: Prost na frente e disparando. Enquanto o francês escapava na frente, as posições no pelotão dianteiro eram as mesmas, com Berger cada vez mais distante em segundo, seguido por Mansell, Piquet, Alboreto e Boutsen. Mais atrás, Senna fazia sua obrigação com um carro nitidamente superior aos demais. Após levar um susto quando saía dos boxes, já que Maurício Gugelmin estreou na F1 vendo seu câmbio quebrar poucos metros após a largada e Senna quase atingiu o piloto da March quando ele encostava na grama, Ayrton começa uma impressionante corrida de recuperação.

Senna completou a primeira volta em 21º lugar, enquanto uma volta depois ele já aparecia em 18º. Na volta 13 ele tinha Alboreto na sua alça de mira. Senna ultrapassou o italiano na curva 1 e depois de outras três voltas ele já tinha deixado para trás Boutsen. Foi uma ultrapassagem reveladora, como que mostrando o quanto a McLaren era superior ao resto, quando Senna ultrapassou o piloto da Benetton ainda no meio da reta oposta e ainda dando tempo para ultrapassar um retardatário.

A próxima vítima era o inimgo Piquet. Apesar das brigas e confusões envolvendo os dois mitos, Senna e Piquet nunca se enroscaram dentro da pista, havendo até um grande respeito mútuo entre eles. Sabendo que Senna tinha um carro infinitamente superior ao seu, Piquet não coloca grandes obstáculos e deixa a McLaren ir embora. Quando Mansell abandona na volta 18, Senna já aparecia numa incrível terceira posição e se aproximando da Ferrari de Berger. Os pilotos começam a entrar nos boxes para trocarem os seus pneus e Senna caí para sexto. Quando se preparava para um novo ataque, Senna recebeu a bandeira preta na volta 31 e o brasileiro foi aos boxes cumprir a penalização.

Se Prost estava inalcansável naquele dia frio de abril e Berger estava num tranqüilo segundo lugar, ainda havia briga pelo lugar mais baixo do pódio. Piquet, ainda se aclimatando ao péssimo Lotus 100T, parou uma segunda vez quando estava em terceiro e saiu dos boxes em quinto, logo atrás de Boutsen e Derek Warwick, da Arrows. Boutsen começava a ter problemas com seu carro e era alcançado por Warwick. Que era alcançado por Piquet. Quando o inglês ia dar o bote no piloto da Benetton, Piquet se aproveita e faz uma dupla ultrapassagem no final da reta oposta, na frente do público, que urrava com a manobra do tricampeão!

Porém, esse foi o último ato de relevância do Grande Prêmio do Brasil daquele ano. Prost fez apenas o necessário para chegar em primeiro lugar pela quinta vez no circuito de Jacarepaguá e se transformava no "Rei do Rio". Berger reclamava da sua Ferrari pelo domínio exercido pela McLaren, mas nada podia ser feito, enquanto Piquet completava o pódio. Mal sabia o tricampeão que esse seria um dos poucos pódios na sua defesa pelo título. E mal sabíamos nós que após um início tão ruim de campeonato, Senna ainda daria um show no resto do ano!

Chegada
1) Prost
2) Berger
3) Piquet
4) Warwick
5) Alboreto
6) Nakajima

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