Se eu tivesse os poderes mediúnicos da Mãe Dinah, com certeza não estarria acordando antes das cinco da manhã para ir trabalhar, mas há algumas coisa que estão tão evidentes, que só cego não enxerga! Na sexta-feira havia comentado aqui na possibilidade de uma chuva forte, algo que ocorre todo dia em Kuala Lumpur, interromper a prova pela largada tardia neste ano, quase ao pôr do sol. O céus malaios indicavam uma chuva iminente e ela veio com a força que os manauras conhecem e o lógico aconteceu. A bandeira vermelha veio e a bela corrida que ocorria terminou pelo simples fato de que não havia mais luz natural para se ter uma relargada. O pódio foi realizado à 08:00 no horário brasileiro, e absurdos 19:00 na Malásia, com a pista já totalmente escura. Ou seja, como a corrida se iniciou às 17, havia apenas duas horas de manobra para se ter a corrida completa, ao contrário do que ocorre normalmente quando a largada é realizada entre 13 e 15 horas da tarde, não pensando em qualquer eventualidade ocorrer durante a prova, como uma chuva forte, com direito a raios e uma pista alagada, algo que sempre ocorre na Malásia... depois das 5 da tarde! Quem não tem nada a ver com as bobagens ecclestonianas é Jenson Button, que conquistou sua segunda vitória consecutiva.
Pela primeira vez em anos, nunca se torceu tanto para que não chovesse com o intuito de continuar a ter uma bela corrida de F1. Num circuito com duas retas longas, o Kers mostrou serviço pela primeira vez, começando pela largada, com o próprio Timo Glock, terceiro no grid, não acreditando quando viu Raikkonen passando pela esquerda e Alonso pela direita. Tem explicação sim, Timo. Os dois apertaram o botãozinho mágico no volante que lhes garante oitenta cavalos a mais de potência e deixou seu Toyota sem pai, nem mãe. Por sinal, pela segunda vez consecutiva um carro da Brawn não larga de forma perfeita e desta vez quem sofreu com um carro patinando na largada foi Button, facilmente ultrapassado por Rosberg, Trulli, que também não largou tão bem, e Alonso. A partir de então, foi briga para tudo quanto foi lado. Button passava Alonso, que segurava um trenzinho, que tinha Vettel passando todo mundo e chegando nesse trenzinho...
Foi uma corridaça, mas as nuvens ao redor do circuito indicavam que a chuva, que chegou a ser anunciada a Hamilton para os próximos dez minutos, demorou a ocorrer, mas veio bem no momento em que todos faziam suas primeiras paradas. Foi um pandemônio. A chuva que prometia forte, veio fraca. Quase todos colocaram pneus para piso muito molhado, mas tiveram que voltar aos boxes para colocar pneus intermediários, mas então a tempestade veio e lá foram todos em peregrinação rumo aos pits. O problema é que a tempestade veio com tanta força, que nem a Mercedes pilotado por Bernd Maylander foi possível de evitar as rodadas e abandonos que, por sinal, foram poucos pela quantidade de água que havia na pista. A bandeira vermelha foi mostrada e uma intensa espera ocorreu para ver o que ocorria. Mark Webber, ainda mancando pelo seu acidente de bicicleta em novembro, falava com vários pilotos como representante da GPDA e me pareceu ter uma resposta negativa com relação a Lewis Hamilton. A resposta do inglês deve ter sido a mesma resposta egoísta que Felipe Massa deu a Carlos Gil quando perguntado se queria correr. "Agora não tem condições, mas por mim relargaria para eu conseguir alguns pontos." Antes que crucifiquemos o piloto da Ferrari, muitos ali pensavam a mesma coisa. Talvez o único que não pensasse dessa maneira era Jenson Button, que mostrou isso quando foi anunciado que a corrida não seria reiniciada após quase uma hora de espera. O inglês comemorou timidamente, acenando para o público com a cara de "Fazer o que, né?", mas o piloto da Brawn consegue sua segunda vitória na temporada de forma bem diferente da primeira. Além de ter que passar Alonso no início, Button teve que esperar Rosberg e Trulli fazerem suas paradas para voar e conseguir ultrapassar os dois, conquistando a liderança antes do caos que se formou quando a chuva veio. Button mostrou calma quando as condições de pista mudavam a cada curva e sempre se manteve na liderança nas molhadas últimas voltas. Mesmo sem capacete, Button não saiu de seu carro e sua equipe chegou a alinhar o bólido para uma possível relargada, que não se realizou. Mesmo não tendo conquistado os 100% de pontos, Button é mais líder do que nunca e já tem cinco pontos de vantagem sobre Barrichello, que teve sua corrida estragada quando demorou demais para ultrapassar Alonso nas primeiras voltas. Mesmo andando no mesmo ritmo de Button, o brasileiro estava a léguas de distância do companheiro de equipe e quando completou sua primeira parada, apenas encostou em Trulli, mas pelas circunstâncias que teve a corrida, ele acabou surpreendido por outros carros. O quinto lugar pode parecer ruim à primeira vista, mas ao menos se manteve na pista...
Nick Heidfeld, um dos pilotos mais discretos da F1, fez uma corrida quieta e teve a paciência de se manter na pista com pneus de chuva forte enquanto todos voltavam aos boxes para colocar pneus intermediários. Quando os mesmos voltavam aos boxes para refazer a troca, Heidfeld já estava com os pneus certos e permaneceu na seguda posição, num final de semana em que todos já começavam a questionar o alemão. O problema de Heidfeld não é sua pilotagem, eficiente ao pontos de lhe dar mais um pódio na base da esperteza, mas a falta de garra que o alemão tem. Garra essa que o fez não ter conquistado nenhuma vitória mesmo estando numa das melhores equipes da F1 há três temporadas. A corrida de Kubica foi curta, com o polonês já sentindo problemas em seu motor na volta de apresentação, que facilmente explica sua péssima largada e o carro pegando fogo ainda na segunda volta. Mesmo considerado o melhor piloto da BMW, o polonês ainda se encontra sem pontos, enquanto Heidfeld já tem um pódio para mostrar. A Toyota voltou a mostrar que tem carro para conquistar sua primeira vitória, mas Glock só subiu ao pódio pela segunda vez consecutiva graças a mais uma arriscada estratégia, bem parecida com a que quase deu o título a Massa ano passado. Pensando rápido, a Toyota viu que a chuva não estava tão forte quanto as nuvens indicavam e puseram pneus intermediários no carro de Glock, que passou a andar 7s mais rápido do que qualquer piloto na pista, apesar de ter que fazer uma ultrapassagem em Webber, que estava na mesma situação. Quando o aguaceiro veio, o alemão estava colado em Button, mas a vantagem subiu para 23s de antes da interrupção da prova, quando o alemão estava a ponto de ultrapassar Heidfeld, indicando que Glock é mesmo um ótimo piloto na chuva. É o segundo pódio na carreira do alemão e a segunda consecutiva da Toyota, que se não tivesse ali com Glock, estaria com Trulli, que fez uma corrida regular até a primeira parada de box, quando teve que lutar com Barrichello. Na sua corrida de número 200, o italiano da Toyota mostrou sua velha valentia e se manteve à frente do piloto da Brawn, reconhecidamente um ótimo piloto na chuva. A Toyota é, hoje, a única equipe capaz de brigar com a Brawn em condições de corrida.
Hoje Mark Webber lavou (literalmente) a alma a fazer uma de suas melhores exibições na F1. Bastante combativo, protagonizou disputas de tirar o fôlego com Alonso e Hamilton. Vale aqui indicar como a F1 mudou para melhor, que até as disputas ficaram mais longas, às vezes se extendendo por toda a volta, com os pilotos trocando de posição a cada curva, como o australiano fez com Alonso. O australiano tentou a mesma estratégia de Glock, mas não teve como segurar o alemão e acabou perdendo algumas posições, mas marcou seus primeiros pontos nessa temporada, ficando bem à frente de Vettel, que não fez a corrida de recuperação que dele se esperava e o alemão ainda foi um dos pilotos a rodar no temporal. Hoje também vimos outro lado de Mark Webber, o de líder dos pilotos com relação a segurança, falando com a maioria com relação a relargada ou não. Muitos me dizem que sou do contra, mas simpatizo com o australiano. Não sei o motivo... A Toro Rosso fez uma corrida discreta, mas Bourdais pôde andar no mesmo ritmo da Williams de Nakajima e no final das contas, ficou próximo da zona de pontuação, terminando em décimo. Talvez pelos anos correndo nos Estados Unidos e pela experiência que tem em provas longas, Bourdais vem ganhando uma enorme visão tática das corridas e por isso vem levando seu carro ao final das provas bem colocado. Buemi teve sua corrida estragada logo no início quando teve que trocar o bico por motivos não mostrados pela TV. Andando sempre nas últimas posições, o suíço foi um dos que abandonaram quando a chuva veio forte, mas a sorte de Buemi foi que Vettel teve o mesmo destino. A grande sina de Buemi é ser comparado a Vettel...
A McLaren começou o final de semana quente pela desclassificação de Hamilton na Austrália, mas o inglês, grande piloto que é, tirou tudo o que o péssimo MP4/24 tem e conquistou alguns pontinhos que poderão lhe ajudar caso a McLaren melhore seu carro ao longo da temporada. Porém, o clima na equipe esquentou com as declarações nada amistosas do Sr. Anthony Hamilton, pai e empresário de Lewis, que disse ter ficado insatisfeito com toda a confusão armada pela McLaren em Melbourne. Não devemos nos esquecer que Hamilton era protegido por Ron Dennis, não pela McLaren-Mercedes e que o "big boss" não está mais na mureta dos boxes da McLaren... Kovalainen seguiu com seu destino de algo lhe acontecer ainda na primeira volta, nos impossibilitando de ver algo mais do finlandês. Porém, se na Austrália pareceu não ter muita culpa, Heikki errou sozinho na Malásia, pondo ainda mais pressão em si. Após vários anos, a Williams liderou uma corrida por méritos próprios e Rosberg dominou o primeiro terço de corrida, mesmo sabendo que pararia antes de Button e provavelmente perderia a liderança, algo confirmado mais tarde. Quando a chuva veio, o alemão desapareceu e só apareceu quando seu nome estava ao lado da oitava posição, ganrantindo meio ponto. Muito pouco pelo potencial do carro e do próprio alemão, que vem andando rápido em todos os treinos, mas sempre acontece algo na corrida para que Rosberg não confirme uma boa quantidade de pontos que podem fazer falta a Williams quando as equipes grandes tiverem desenvolvido seus carros. Nakajima foi anônimo em toda a corrida, sempre andando no pelotão de trás e só apareceu dando tchauzinho quando estava fora do seu carro, esperando o reinício ou não da corrida. Mesmo pesado, o japonês não tinha carro para sofrer pressão de Bourdais pela décima terceira posição e suas atuações vem comprometendo seu futuro na F1.
Não satisfeita em fazer a besteira com Massa ontem, a Ferrari aprontou de novo, desta vez com Raikkonen. Quando a chuva era iminente, a equipe resolveu arriscar e pôs pneus para chuva forte no carro do finlandês. Ok, se estivesse chovendo, nem que fosse um pouquinho, ainda poderia valer a pena. O problema que ainda estava fazendo sol! Como resultado, quando a chuva finalmente veio, Kimi estava nas últimas posições e com os pneus tão destruídos, que não pôde usufruir de nenhuma vantagem que poderia ter. Já está passando da hora da Ferrari ver quem são as pessoas por trás destas besteiras que vem debitando pontos tanto no Mundial de Pilotos como no de Construtores. Quem não deve estar ligando para isso é o próprio Raikkonen, que foi visto chupando picolé e tomando Coca-Cola, de roupa trocada, enquanto todos se preocupavam se largaria ou não. Massa fazia uma corrida convencional, já que era o segundo mais pesado do pelotão. Quando a chuva veio, Massa chegou a entrar na zona de pontuação, mas sua costumeira dificuldades em piso molhado não o fez conquistar mais posições e Felipe não pontuou mais uma vez, ficando zerado no campeonato até o momento, mesma situação ocorrida no ano passado. Contudo, a Ferrari tinha muito mais carro do que agora...
Alonso fez uma corrida limitada pelo seu equipamento, mas o espanhol deu um show com a ajuda do Kers. Dono de uma excelente largada, Alonso chegou a ocupar o terceiro posto e brigou com carros muito mais rápido do que o seu no início da prova. Ajudado pelo dispositivo, Alonso se defendeu como pôde, mas a ruindade do R29 não o ajudou muito e espanhol foi o primeiro a sair da pista quando o asfalto ficou molhado, fazendo com que Alonso não conquistasse mais posições por ser um ótimo piloto na chuva. Nelsinho fez uma boa corrida, andando no mesmo ritmo de Massa e não rodando quando a chuva veio. Pelas baixas expecativas que hoje nós temos para com Piquetzinho, ter terminado a prova já está bom demais! A Force India não se aproveitou das condições lotéricas da corrida e viu seus dois carros rodando. Fisichella ainda teve condições de retornar e completar a corrida, algo que Sutil não pôde fazer.
A F1 termina sua primeira rodada dupla no oriente com a certeza de que acertou com as novas regras, pois as corridas estão muito mais emocionantes e as surpresas já não são tão surpresas assim, como provou a Brawn e a Toyota. No entanto, a política ainda supera alguns aspectos esportivos, como esse horário estúpido de correr na Malásia e pelas constantes punições a pilotos. São 9:30 quando escrevo isso e corro o risco de publicar um post errado pelo o que acontece fora das pistas. Um verdadeiro caos!
Um comentário:
Caos sim.
Mas antes tivemos uma prova memoravel, pela primeira vez na Malasia.
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