Soberba

A palavra soberba, segundo o dicionário Michaelis, significa "Manifestação ridícula e arrogante de um orgulho às vezes ilegítimo" . Brawn e, principalmente, Ferrari usaram isso nesta sexta e nesse sábado na Malásia. A primeira, com um treino livre discreto, onde muitos chegaram a dizer que a equipe só havia vencido em Melbourne por causa das peculiaridades de um circuito de rua, mas a Brawn provou que usou a sexta apenas para um teste para a corrida e marcou sua segunda pole seguida. Ou seja, uma soberba do "bem". Já a Ferrari, com seu carro que dominou na sexta, pensava que podia brigar pela ponta do grid e mandou seus pilotos fazerem o "arroz-com-feijão" para ir com facilidade ao Q2, exatamente como ocorria no ano passado. Porém, 2009 é um ano novo, mas os estrategistas da Ferrari continuam os mesmos e o resultado foi Felipe Massa cair logo no Q1, ficando numa incômoda décima sexta posição, com Raikkonen escapando por pouco. Ou seja, uma soberba para lá de má!

A Classificação em Sepang foi marcada pela ameaça de chuva e alguns pingos foram vistos, mas para a alegria de todos, a chuva esperada ficou ao largo da pista malaia e os treinos ocorreram na maior tranquilidade. E isso significa Brawn, Toyota, Red Bull e a Williams de Rosberg dominando os treinos em todas as três partes da Classificação, com o melhor tempo sendo sempre decidido entre Button e Trulli, separados por meros milésimos. Trulli venceu o primeiro round (Q1), mas Button voou no Q2 e marcou o melhor tempo do final de semana, corroborando com a performance de Melbourne e o inglês marcou o tempo que lhe daria a pole logo no início do Q3, deixando todos os demais pilotos bem atrás. Button foi frio e... soberbo (!) ao esperar que alguém batesse seu tempo, algo que não ocorreu, apesar de Trulli ter ficado bastante próximo na sua última tentativa. Brawn e Toyota dominaram os treinos, com Barrichello e Glock em boas posições, só não ficando logo atrás dos seus companheiros de equipe por obra de Sebastian Vettel, com o alemão surpreendendo ao posicionar seu Red Bull em terceiro. O que foi transformado em décimo terceiro com a besteira de Vettel na Austrália. Algo que também ocorrerá com Rubinho, que perderá cinco posições e largará em nono.

A Brawn deu mostras de sua força e Button poderá ter um desempenho bem parecido de oito dias atrás, quando largou na ponta, se estabeleceu na liderança e não foi incomodado até receber a bandeirada. Até o momento em que as equipes ditas grandes se recuperarem, Button vai aproveitando e terá que conseguir o maior número de pontos possíveis se quiser algo a mais no campeonato, pois, como todos sabem, a grana da Brawn é curta e o desenvolvimento do carro não terá o mesmo ritmo das demais. Enquanto isso, Barrichello sofre com seus primeiros pequenos problemas em seu carro, com o brasileiro ficando para trás do inglês no grid novamente, apesar de que deverá largar mais pesado pela punição previamente conhecida. Rubens terá que ter cabeça com o sucesso do companheiro de equipe, algo que mostrou não ter em sua carreira quando começou a tomar pau do vizinho de box e largando mais atrás amanhã, espero que ele não se afobe e tente manobras agressivas demais, como na primeira curva de Albert Park. A Toyota vem sendo uma força capaz de brigar, ao menos desta vez, com a Brawn e tem boas chances no domingo. Trulli ficou a menos de um décimo de Button e deverá ser o maior adversário do inglês, enquanto Glock, com as punições a Barrichello e Vettel, largará em terceiro, podendo dar um apoio a Trulli nas primeiras voltas ou se aproveitando de um enrosco entre os protagonistas da primeira fila na curva 1. Não devemos nos esquecer que a Toyota é a única equipe de fábrica a se destacar nesse início de campeonato e que terá mais chances, leia-se dinheiro, de desenvolver seu carro ao longo da temporada.

A Red Bull é a melhor equipe dos "sem-difusor mágico" e poderá ser a maior beneficiada em caso da Corte de Apelação da FIA ser contra o famoso difusor. Vettel deu mais um show e ficou em terceiro, mas como perdeu dez posições pela pataquada no final da prova australiana, será interessante ver a corrida de recuperação do alemão. Ou um acidente, pois Vettel não completou várias corridas no ano passado ao se envolver em acidentes na primeira volta. Webber mostrou a velocidade de que lhe é peculiar quando foi mais rápido que Vettel no Q2, mas o australiano foi novamente superado no Q3 e deverá estar mais pesado que o alemão. O australiano está vivendo uma situação bastante peculiar, pois nos anos anteriores, era sempre mais rápido que o companheiro de equipe da ocasião e praticamente manobrava as estratégias da equipe, largando sempre mais leve. Com um piloto tão rápido como Vettel, Webber está tendo que se conformar com a sombra do carismático alemão. Já na Toro Rosso ocorre algo parecido, com o novato superando o experiente. Buemi foi sempre mais rápido do que Bourdais em todos os treinos, mas um erro do suíço em sua última volta o pôs na última posição do grid de amanhã. A forma como Buemi lamentou nos boxes mostra que ele tinha chances de derrotar Bourdais, que conseguiu colocar seu carro no Q2, onde apenas fez figuração.

A Williams mostra que tem um bom carro, mas apenas um piloto capaz de andar na ponta. Nico Rosberg fez o que dele se esperava e largará na segunda fila em quarto, com o alemão sempre andando no pelotão da frente no final de semana malaio. Já Kazuki Nakajima nunca andou próximo o suficiente de Rosberg e novamente caiu no Q2. Numa equipe sem verbas como a Williams, uma boa posição no Mundial de Construtores é essencial e os pontos perdidos por Nakijima, que até anda bem em ritmo de corrida, poderá fazer falta no futuro. A BMW foi a grande decepção do dia, com Kubica, possível segundo colocado em Melbourne, sofrendo para conseguir um lugar no Q3 e sendo um dos últimos na pequena classificação. Já Heidfeld, sempre à sombra do polonês, foi o primeiros dos degolados no Q2 e vê, com o passar do tempo, sua situação se complicando dentro da equipe. Fica cada vez mais aparente que o tempo de Heidfeld, há dez anos na F1, já passou...

A Ferrari terá Raikkonen largando em oitavo amanhã, o que pelo desempenho da equipe em Melbourne não chega a ser uma grande surpresa. Porém, a Ferrari teve a mesma performance com relação a 2008 quando se fala em estratégias para Felipe Massa. O brasileiro foi o principal prejudicado com a presepada dos estrategistas da Ferrari, que usaram como paramêtro o ótimo desempenho da equipe na sexta e prepararam o mesmo cardápio do ano passado, quando a Ferrari ia ao Q1 apenas para uma saída de pista e a volta rápida que Kimi e Felipe faziam era mais do que suficiente para lhes garantir entre os quinze mais rápidos. Porém, 2009 está totalmente diferente e o que vimos foi um atônito Felipe Massa, fora do carro, vendo seu nome caindo pelas tabelas até ser superado por Bourdais e cair para décimo sexto, primeira posição dos degolados. Uma situação até constrangedora para o brasileiro, que tentará uma corrida de recuperação à la Hamilton em Melbourne, algo bastante possível com o F2008, mas muito mais difícil com a F60. Segunda, Montezemolo terá que tomar muitos calmante para não demitir ninguém. Falando em Hamilton, hoje vimos a real situação da McLaren, com os prateados ficando na constrangedora situação de ficarem de fora do Q3. Teremos mais uma chance de ver Hamilton fazer uma grande corrida de recuperação no domingo, mas Kovalainen está muito mais próximo esse ano.

Quando a Renault não vai bem, todos esperam pelo fator Alonso, mas com o espanhol debilitado por uma infecção no ouvido, foi sorte dos franceses verem Nano conseguir ir para o Q3, mas o desempenho do R29 é tão pífio, que preferiram deixar Alonso de fora do que arriscar um motor e até mesmo a saúde do espanhol. Enquanto Nelsinho vai despencando em um desempenho ruim, bastante parecido com ano passado, quando ainda tinha a desculpa de ainda ser um novato e não conhecer a maioria das pistas. O brasileiro, que quase não renovou para 2009, corre o mesmo risco para este ano e a presença de Romain Grosjean, terceiro piloto da equipe e grande promessa francesa, põe o emprego de Nelsinho em risco. A Force India fez o seu papel de sempre ficar lá atrás e só não figurará em último pelo erro de Buemi na Classificação, com Fisichella superando Sutil na base dos milésimos.

A corrida de amanhã poderá ter uma dinâmica totalmente diferente do que foi semana passada. A primeira curva promete ser ainda mais apertada do que na Austrália, pois em Sepang a reta é muito largada, para um esse bastante apertado, algo bem destrutivo com bons pilotos largando atrás com asas dianteiras largas e frágeis. Isso sem contar com a chuva, que na Malásia sempre vem forte, e pode embaralhar bastante as posições que vimos hoje. Ótimo para Barrichello, especialista em pista em pista molhada, péssimo para Massa, com comprovadas difiuculdades em pisos escorregadios. Se antes, pilotos de Ferrari e McLaren rezavam por sol para não ter dificuldades na sua soberania nas pistas, hoje quem está está nessa situação são Button, Trulli, Glock e Rosberg, atuais dominadores da F1.