Após a volta triunfal de Spa-Francorchamps à F1, todos esperavam que o Grande Prêmio da Bélgica fosse realizado na pista que cortava a floresta das Ardennes, mas por razões políticas, os organizadores fariam a corrida em Zolder, de triste lembrança pela última passagem por lá. Dois anos após a morte de Gilles Villeneuve, não faltaram homenagens ao canadense, apesar do clima ruim pela perda do ídolo. A guerra de pneus entre Goodyear, Michelin e Pirelli seria um fator essencial para toda a temporada e em Zolder não seria diferente. Se nas duas primeiras corridas os pilotos com pneus Michelin se sobressaíram, principalmente as McLarens, em Zolder a vantagem foi toda dos pneus Goodyear, em especial a Ferrari, que mal tinha aparecido durante o ano.
Como numa homenagem póstuma a Gilles, a Ferrari completou uma dobradinha na primeira fila, liderado por Michele Alboreto, que começava a superar constantemente René Arnoux, outrora conhecido como um excelente piloto em treinos. Ainda se aproveitando dos pneus, Keke Rosberg consegue uma boa terceira posição, com Derek Warwick sendo o melhor piloto da Michelin em quarto e Elio de Angelis sendo o melhor piloto da Pirelli em quinto. A vantagem dos pneus Goodyear era tal, que Manfred Winkelhock, com um ATS, e Riccardo Patrese, num Alfa Romeo, ficaram entre os dez primeiros. O contigente de motores BMW estavam tendo muitas dificuldades durante o final de semana, com várias quebras de motor acontecendo de forma espetacular. Os engenheiros de Munique acharam que o problema estava no combustível e foi um feito um enorme esforço de logística para trazer um grupo novo de motores da Alemanha, fazendo com que Piquet colocasse seu Brabham entre os dez primeiros. E a McLaren? De grande dominadora nas primeiras etapas, a equipe de Ron Dennis amargou posições intermediárias, com Niki Lauda largando apenas em 14º.
Grid:
1) Alboreto (Ferrari) - 1:14.846
2) Arnoux (Ferrari) - 1:15.398
3) Rosberg (Williams) - 1:15.414
4) Warwick (Renault) - 1:15.611
5) De Angelis (Lotus) - 1:15.979
6) Winkelhock (ATS) - 1:16.130
7) Patrese (Alfa Romeo) - 1:16.431
8) Prost (McLaren) - 1:16.587
9) Piquet (Brabham) - 1:16.604
10) Mansell (Lotus) - 1:16.720
O dia 29 de abril de 1984 estava bom e tranquilo para uma corrida de F1. O circuito de Zolder tinha uma reta muito estreita e isso já havia ocorrido pequenos problemas ao longo dos anos. As duas Ferraris largam forte, trazendo consigo Warwick, mas Rosberg larga muito mal, quase deixando seu Williams-Honda morrer. Vários carros passam próximo do finlandês, inclusive com Nelson Piquet tendo que passar pela grama, mas todos passaram incólumes rumo a primeira curva. Warwick consegue a ultrapassagem sobre Arnoux e mesmo com o francês pressionando muito, o piloto da Renault se sustenta na segunda posição, enquanto Alboreto começava a disparar na frente. Na quinta volta, o então líder do campeonato Alain Prost vinha numa sólida quinta posição, mas após ultrapassar a Lotus de Elio de Angelis, o piloto da McLaren deixa a prova com um problema no distribuidor.
Mais atrás, Rosberg entretia o público com uma corrida de recuperação espetacular, chegando a ultrapassar até dois carros numa mesma volta! Manfred Winkelhock estava impressionando com a quarta colocação que mantinha, o fazendo ficar à frente de vários carros apoiados por montadoras, inclusive o Brabham-BMW de Piquet, que tinha o mesmo motor da pequena equipe do alemão. Enquanto isso, Alboreto e Warwick estavam destacados na frente, enquanto Arnoux tinha ficado para trás na terceira posição, sendo perseguido de perto por Winkelhock e Piquet, que tinha ultrapassado De Angelis e partia para cima do piloto da ATS, efetuando a ultrapassagem na volta 23. Quando Piquet se aproximava de Anroux, o francês foi aos boxes trocar seus pneus, o mesmo fazendo Alboreto após o italiano ter exagerado na curva 1 e Warwick, com os dois primeiros mantendo suas posições. Após uma corrida avassaladora de recuperação, Rosberg já aparecia em segundo quando foi aos boxes trocar seus pneus. O pit-stop foi demorado demais e o finlandês perdeu várias das posições conquistadas.
Com isso, Wawick voltava à segunda posição, seguido por Piquet, De Angelis e um impressionante Stefan Bellof. Virtuose no Campeonato Europeu de F2 e do Mundial de Esporte-Protótipo, o alemão começava a impressionar o mundo da F1 com seu talento num raquítico Tyrrell, único carro a usar o antiquado motor Cosworth aspirado. Porém, num circuito apertado como Zolder, Bellof podia tirar um algo mais do seu carro e de forma surpreendente pressionava De Angelis pela quarta posição. No entanto, os dois não se atentaram para a aproximação de Arnoux e Rosberg. Com carros bem melhores, ambos se aproximaram rapidamente dos carros à frente, mas Rosberg não teve tanta paciência e acabou ultrapassado pelo Ferraris, que logo deixou De Angelis e Bellof para trás. Furioso com o erro, Rosberg partiu para cima de ambos com mais gana do que o normal e efetuou a ultrapassagem da corrida. Com o forte motor Honda, Rosberg não tomou conhecimento do carro de Bellof e ainda antes da metade da reta dos boxes efetuou a ultrapassagem, mas o finlandês não estava satisfeito e como se fizesse uma chicane virtual, cortou na frente de Bellof e colocou por dentro de Elio e efetuou a ultrapassagem em cima da Lotus. Sensacional!
Mesmo com todos os problemas no final de semana, Piquet se mantinha num honroso terceiro lugar, quando o motor BMW começou a falhar e o brasileiro foi facilmente ultrapassado por Arnoux e Rosberg, com o finlandês efetuando a ultrapassagem sobre a Ferrari na volta seguinte em que deixou Piquet para trás. As suspeitas de problemas no motor de Piquet se confirmaram momentos depois quando este explodiu, deixando o então campeão mundial zerado na pontuação do campeonato. A corrida de Rosberg foi cheia de lances espetaculares e grandes recuperações, mas num tempo em que economizar combustível estava na ordem do dia, este tipo de pilotagem não costumava dar certo e Keke acabou sofrendo uma pane seca na última volta, deixando o terceiro lugar para Arnoux, fazendo com que a Ferrari ficasse com duas posições no pódio. Alboreto desfilou pelo circuito de Zolder e recebeu a bandeirada com 40s de vantagem sobre a Renault de Warwick. Era a primeira vitória de um italiano pela Ferrari desde 1966 com Ludovico Scarfiotti no Grande Prêmio da Itália daquele ano. Alboreto ficou tão entusiasmado com o desempenho da Ferrari que afirmou que estaria brigando pelo campeonato, mas o tempo provou que aquela prova em Zolder, que receberia pela última vez a F1, seria apenas um erro de percurso da Ferrari.
Chegada:
1) Alboreto
2) Warwick
3) Arnoux
4) Rosberg
5) De Angelis
6) Senna
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